quinta-feira, agosto 30, 2012

Palavras e imagens da viagem a São Paulo




Como disse na postagem anterior, voltei a São Paulo depois de 11 ou 12 anos. Viagem longa, um pouco cansativa, descobrindo, por exemplo, que a Gol não dá mais bolachinha e sucos para os passageiros. Agora tudo lá encima é comprado. 12 reais o sanduíche e você vai fazer o que? Vai na lanchonete ao lado? Claro que não.

São duas opções: comprar ou não comprar e tentar comer algo no aeroporto. Mas chegando em terra você tropeça com um sanduba de atum nesse valor e pensa: saudades daquelas bolachinhas. Era feliz e não sabia.



Espera chegar a copa para ver aonde vão parar o preço das coisas nos aeroportos

Fui tirando fotos com o meu celular furreca para tentar montar depois um roteiro, como dizem os teóricos literatos, um roteiro imagético, fusão de memórias preservadas pela fotografia e complementadas pela textualidade transcendental da percepção do velho indígena na urbe. Ou algo assim.

Cheguei em Sampa por volta das 11h da quarta-feira (22), um dia antes do III Fórum do programa Onda Cidadã. O Itaú Cultural tinha feito o depósito de uma grana para bancar coisas como transporte e comida e eu já havia feito outros planos para esse dinheiro. Para que sobrasse, fui garimpar na web a forma mais barata de ir do aeroporto de Guarulhos à avenida Paulista. Achei boas dicas nesta postagem “A Bóia em: Ponte Aérea para duros :-)”, do blog Viaje na viagem. Optei pela ônibus executivo, que custaria R$ 35 contra os R$ 115 que o táxi ia me pedir.

Só não deu 100% certo a minha escolha porque o busão parou numa das pontas da Paulista e eu ia para a outra. Como não tinha pesquisado bem as rotas de metrô, deixei de pegar o Consolação em direção à Brigadeiro (barato, seguro e, agora sei, a poucos metros do Itaú Cultural) e entrei num táxi que me largou na porta do hotel por uns R$ 20. Com tudo isso, ainda saiu pela metade do preço o deslocamento.

No caminho, vendo aqueles congestionamentos, sentindo o calor da cidade a baixa umidade do ar, que no dia anterior havia estado em 10%, tasquei no Facebook a seguinte frase com pretensões poéticas:

Sampa seca
parada
cheia de fumaça
e gente acelerada
correndo de outras desgraças.


Profunda, né?

Enfim...

Baixei no hotel, tomei um banho, tentei pegar um táxi até o Museu da Língua Portuguesa, o taxista me dissuadiu, informando que o trânsito estava péssimo e ia demorar e gastar menos se fosse de metrô. Achei bacana a postura do cara, que me deixou na estação Paraíso, na linha que vai direto pra Estação da Luz. 
Já nos subterrâneos, vi que estava rolando festa:

Projeto que vende livros em máquinas. Tem em quase todas as estações


Deixando o metrô lá estava a Pinacoteca, mas essa eu havia visitado da outra vez, no começo dos distantes anos 2000. Fui direito ao Museu (R$ 6 o ingresso, caso te interesse) e vi esse painel enorme com um pouco das características da língua portuguesa, uma sala com mesas em que juntamos palavras projetadas e aparece a origem do termo e a linha do tempo do português.






Depois de uma passadinha na Estação da Luz, de ouvir o cara tocando música sertaneja no pano que deixaram lá justamente para que qualquer um toque o que quiser, de ver as meninas da luz vermelha esperando a freguesia chegar e comprar o produto, fui caminhando para o Mercado Municipal.


No caminho, almoço num bar desses que é a cara de Sampa.
Pensa num sanduba gostoso


Cheguei por volta das 17h no Mercado. Foi só entrar que o celular ficou sem energia suficiente para tirar fotos. Mal dava para olhar as horas. Ainda consegui ficar maravilhado com a organização do lugar e a variedade de produtos mas não demorei muito. Tentei ir caminhando à estação São Bento para fazer o retorno ao Itaú Culturall (ninguém me controla agora que já sei que a estação Brigadeiro fica do lado do prédio deles), mas de loja em loja fui chegando perto demais das 18h.

Cheio de medo de perder o transporte que ia nos levar para o sarau da Cooperifa, peguei um táxi. Lá no Instituto esperei, demorou, esperei, entrei na van, encontrei o Fábio Malini, conheci o Ecio Salles, o Fabrício Noronha e o Ivo Azeredo (todo mundo do Onda Cidadã) e acabamos saindo algumas horas depois do combinado.

O sarau da Cooperifa é realizado no bar do Zé Batidão, no Jardim Guarajá,longe que só da Paulista. Tão longe que dormi na van e ao acordar ainda não havíamos chegado. Na verdade, estávamos perdidos. Nenhuma das vans tinha GPS, só aqueles livros/revistas com mapas de cidade dividida por setor. O povo do teatro que estava em outras vans querendo voltar e os celulares de todo mundo ficando sem bateria, o que impossibilitava consultar o Google Maps. No fim, a solução foi linda: acharam um cara que sabia onde rolava a festa, o sujeito se prontificou a ir lá e ainda curtiu a noite.

E que noite. O sarau é muito, muito bacana. Primeiro o que a esquina do bar do Zé Batidão fica lotadaça. Segundo, rola um clima de respeito com a pessoa que está declamando. Terceiro, geral bate palma quando cada declamador termina. Nessa noite ia rolar uma chuva de livros (mais de 500 volumes para levar de graça) e a entrega de um jogo de camisetas para um time de várzea. Festa bonita, poesia no ar e na mesa o escondidinho de carne do Zé. Foi show. No final ainda entreguei dois livros meus ao Sérgio Vaz, organizador da festa, para a biblioteca da Cooperifa (e, salvo engano, no momento que fiz isso troquei o nome dele por Férrez, um escritor das quebradas de São Paulo. Bem, para quem já chamou de Hubert o Hélio de la Peña isso não é nada). Olha aqui umas fotos desse sarau que acabei de descrever. 


Bem, o texto está ficando longo demais e tenho outras coisas mais importantes para fazer, então vou ser mais sucinto a partir de agora.

Na quinta (23) começaram os trabalhos do III Fórum Onda Cidadã. Muita gente legal, com trabalhos interessantes. Da região Norte, este índio aqui foi o único participante, mas como o mundo digital e real é pequeno, ainda encontrei alguns conhecidos: a professora de jornalismo Ivana Bentes, que 'conheço' desde que cheguei no Brasil e ela apresentava o programa Curta na Tela, na TV Brasil; Sandro K, do grupo Somos, turma que esteve em Boa Vista em 2009 ministrando cursos de redação de projetos culturais; Alexandre  Gomes Vila Boas, do Coletivo 308, outro 'conhecido' da web; e Rene Silva, que vi no Rio de Janeiro no começo do ano, durante a entrega do prêmio Anu Dourado, da Cufa. Lógico que nenhum deles sabia quem eu era, mas o importante não é isso.

Neste link você pode ler o perfil dos participantes do fórum. Tem de tudo: movimento ecológicos, novas tecnologias, fotografia, literatura, música, cinema etc.

Aqui, um pouco do mapeamento feito pelo programa. Caso você, incauto leitor, tenha alguma iniciativa que se encaixe no público-alvo da pesquisa, faça parte. Não se perde nada falando do que se faz. Acessa o site deles.


Foram mapeados 253 GIASCs (Grupos, Ações e Iniciativas Autônomas de Comunicação). Dentre a amostra, 56% se concentra na região Sudeste, 14% no Sul, 14% no Nordeste, 8% no Centro-Oeste e 6% no Norte





Cansei e esse troço ficou comprido...

Vou legendar por grupo as fotos. Dá para sentir como foi a passagem por Sampa quando deixava a reunião do fórum:



Casa das Rosas, casarão construído nos anos 1930, hoje sede do Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura. Deixei dois exemplares de meu livro de microcontos Sem Grandes Delongas e um Repoetizando, com poesias de Zanny Adairalba, para serem integrados no projeto Bookcrossing / Campanha "Liberte um Livro". Se alguém de Sampa achar perdido por aí, me avisa.


Programação de agosto e setembro


Sem Grandes Delongas e Repoetizando no projeto Livros Livres

(Fiquei pensando que podiam fazer da Casa de Cultura aqui de Roraima uma espécie de Casa das Rosas. Melhor que deixar o prédio cair.)


Galera do teatro Nós do Morro, que estava em cartaz no Itaú Cultural com a peça Bandeira de Retalhos. Bão que só.




Cartaz da expo Caravaggio e seus seguidores, no Masp. Nele não aparece a fila enorme de lenta para entrar, mas que vale ser enfrentada. As obras do Caravaggio tem 406 de produzidas e são lindas e impactantes. Veja aqui as pinturas que eu vi ao vivo.


Essa pintura foi feita em um escudo que o Caravaggio levava para todo lado.


CENAS DA RUA TEIXEIRA DA SILVA, entre o hotel e a Paulista



CENAS DA AVENIDA PAULISTA



Mosaico no cruzamento da Paulista com a rua Rua Teixeira da Silva
Projeto do Sesc que deixou bonito um tapume na obra que estão tocando na Paulista. Se liga nos minicontos no mural


Avenida Paulista, 9h30, com um trânsito que parece o da rua de minha casa

Outro casarão da Paulista
Quem precisa de Twitter quando se pode ler as manchetes de todos os jornais?
Esse cartaz sempre estava no mesmo lugar. Na primeira vez que o vi, pensei que era o Haddad e um candidato a vereador





Delícia de  bife
Sexta de alegria na Paulista
11 graus. Mesma coisa que estar em Roraima...



 
Memorial à Márcia Prado, no meio da Paulista







Escritor com quem troquei livros no vão do Masp.

R$ 99 na Fnac Paulista. Se não fosse um transtorno de bagagem teria comprado

22 graus. Igual a Roraima

Numa galeria de produtos chineses na Paulista: tudo foi fechado em segundos depois que chegou um alerta da fiscalização se aproximando. Muito, muito rápido eles fecham e depois ficam parados em frente aos boxes, como se ninguém fosse comerciante

Há probreza na Paulista, por onde passam 450 mil pessoas todos os dias, ou uma Boa Vista e um pouco mais de habitantes

Caderno de anotações da professora Beá Meira, relatora do fórum: uma delícia de se ver. Parece uma HQ!




PARA FECHAR, GALERA BACANA QUE ENCAROU A NOITE NA AUGUSTA E NA PAULISTA:


Renato Cafuzo, Pablo Ares, Marcelinho Hora, este cronista, Dudu do Morro Agudo e Rafael Barone. Clique em cada nome para saber qual é a dos caras





MANAUS

Em Manaus, a equipe da Gol mandou os passageiros descerem com os pertences de mão em Manaus pois a tripulação não havia chegado. Eu achei que os nêgos havia se perdido no pagode. Felizmente o reembarque foi rápido.

No trecho MAO-BVB a empresa ficou com pena e ofereceu bolachinhas e bebidas free. O comandante disse que o atraso dele e de sua equipe foi por um congestionamento na ponta Negra causado por um evento cristão. Eu acho que foi pelo pagode, mas tudo bem. O importante é chegar.

Espero não demorar tanto para voltar a São Paulo...11 ou 12 anos é muito tempo para revisitar uma cidade com tantas opções.

6 comentários:

Dudu de Morro Agudo disse...

Bom demais meu camarada, eu viajei no teu texto, cê escreve bem demais.
Quando der vou te enviar meu livro, acho que tu vai curtir.

Edgar Borges disse...

Pô, Valeu, Dudu! Manda esse negócio logo!

jacinta santos disse...

O texto ficou maravilhoso.

Edgar Borges disse...

Valeu, tia Jacinta!

Francinaldo disse...

O texto ficou maravilhoso! meus Parabéns.

Edgar Borges disse...

Obrigado, Francinaldo!