quinta-feira, novembro 18, 2004

A casa dos barões continua caindo


Manhã agitada na sede da superintendência da Polícia Federal de Roraima. Por conta das investigações do Caso dos Gafanhotos, vários figurões de Boa Vista foram presos, entre eles um ex-secretário de Fazenda, o ex-responsável pelo Tesouro Estadual e os sócios da empresa que fazia os pagamentos dos servidores públicos.

Do lado de fora da superintendência, sob o sol, os representantes da imprensa, ávidos e de óculos escuros. Estavam acompanhados de algumas pessoas que gritavam 'ladrão", "bem feito" e coisas do tipo a cada sujeito que chegava na parte de trás dos camburões da Federal.

Das três rádios FMs da cidade (o sinal das AMs estava péssimo), apenas uma deu cobertura à movimentação. Em certo momento, uma delas falava sobre melancias e outra mandava abraços aos ouvintes.

Na emissora que ficou de plantão, comentários exaltados sobre a ladroagem, sobre a corrupção, sobre justiça sendo feita. Um radialista se revoltou por ter entrado no prédio da Federal algemado, depois que foi pego contrabandeando gasolina da Venezuela, mas não viu os figurões tendo o mesmo tratamento. Falaram em justiça desigual.

Outras pessoas falaram em fortalecimento da democracia, moral e ética.

Como de costume, também se falou (e vai ser escrito, com certeza) em vergonha para o Estado, exposição desnecessária, constrangimento.

Parece que todos querem ver presas as pessoas acusadas de desviar cerca de 230 milhões de reais dos cofres públicos, mas de preferência sem alarde, afinal, todos se conhecem em Boa Vista, todos freqüentam as mesmas festas e aparecem nas mesmas colunas sociais, têm a mesma pinta de boa gente, usam quase sempre as mesmas marcas de carros e motos importadas.

É sempre a mesma reação. Os servidores-fantasmas, ou gafanhotos, por serem os devoradores da folha de pagamento, não são uma novidade. Nas eleições de 1998, o extinto jornal O Diário, ligado intimamente ao governador Ottomar Pinto, publicou uma listagem dos deputados e secretários estaduais e a cota de gafanhotos de cada um. No outro dia, na mídia escrita, apenas as defesas do grupo do então governador Neudo Campos. Ninguém questionou muito, talvez para não perder as cotas de publicidade, talvez por acreditar que eram mentiras criadas pela imaginação de um grupo de descontentes.

E assim se faz a história em Roraima.

Nenhum comentário: