sexta-feira, maio 31, 2019

Diário de um mestrando - 16° mês

04.05.19 sábado

Por não ter conseguido fazer antes o que deveria ter pesquisado e escrito, cá estou às 9h09 sentado na frente do computador. Não queria estar aqui. Talvez pedalando fosse uma boa situação, mas está nublado e tenho preguiça de pedalar em dias assim.

Estou cansado mentalmente falando. Tudo se repete e a rotina angustia. Se não fosse a delicada cobrança da professora, marcando prazos, prorrogando as metas quando necessário, talvez eu largasse mão por algumas semanas disto aqui.

E então atrasaria tudo.

Bonito para mim, que não conseguiria avançar.

Estou cansado. Tão cansado que ainda não publiquei a edição do Diário de um Mestrando do mês passado.

Vou tentar fazer hoje. Antes, vamos ler mais um pouco do Giddens.

10.05.19 sexta

Trabalhei feito bicho esta semana.





Hoje tem encontro de orientação com a professora Leila. Consegui adiantar muita coisa teórica neste mês, mas acho que posso acrescentar ainda mais.

Ontem organizei livros e apóstilas por temáticas e fiz montinhos com o material. Semana que vou subir monte a monte cada um deles e extrair o que for interessante para reforçar o embasamento do trabalho.

Está bem frio. As paredes da casa já não quentes. O céu está nublado e até desligando os ventiladores estamos. Nada que ver com o mês passado, quando às 9h estava tudo fervendo já.

16.05.19 quinta-feira

A professora elogiou os avanços na redação. Contei-lhe meus sofrimentos, ela riu e deu seu apoio, orientou, passou novas coisas a serem feitas e marcamos para mês que vem um novo encontro. Botei essas coisas em uma página para ir riscando o que for concluindo. Até agora risquei apenas uma linha e meia.

Ontem teve protestos em todo o Brasil contra os cortes no orçamento da Educação feitos pelo governo Bolsonaro. Boa Vista também fez o seu, com a turma saindo da UFRR (somente ela vai perder 22 milhões) em direção ao Centro Cívico. Eu divulguei muito nas minhas redes sociais, mas não pude ir. Justamente ontem meu pedreiro reapareceu para terminar um serviço na varanda e na cozinha. Como não podia sair, aproveitei para tirar entulhos do quintal. Resultado: não fiz uma linha de estudo ontem. Possivelmente será o mesmo hoje, pois o trabalho continua.





O dia amanheceu com o céu aberto e entre 8h e 8h20 ficou lindo para dormir, assustador para quem vai fazer obra com cimento. 9h23 estava aberto de novo.



27.05.19 segunda




Recomeça a jornada. Café na xícara grande eu gosto, anotações aqui e lá no outro caderno e também no computador. Sono, acordei ainda escuro estava. Lento, muy lento. Vamos, devagar. Sempre. Até os jabutis correm quando ninguém os vê. Passarinhos já estão na varanda, ainda temos frio na manhã, todos dormem na casa, o vento conversa comigo e a penumbra diz obscenidades que me atiçam.

31.05.19 sexta

Hoje até quis dormir até tarde, mas faltou mais uma vez energia elétrica (esta semana foi uma rotina incômoda isso) e lá pelas 5h40 me levantei suado e fui fazer café. Depois naveguei em todas as redes, pedalei 10 km (sim, sou quase um atleta e pela primeira vez em muito tempo estou abaixo dos 78 kg - mensagens de "ai, que delícia" vão ganhar emojis de coração), varri a varanda, lavei louça e cá estou, banhado e cheiroso para fechar o 16° desta jornada rumo ao mestrado...

Ontem teve protestos para lembrar ao governo Bolsonaro que a educação deve ser prioridade. Divulguei nas redes sociais e obviamente apareceu gente nelas querendo fazer pouco caso, usando os argumentos das milícias digitais (segurei minhas vontades de mandar todos eles comer cocô).


Lá pelas 17h apareci no Centro Cívico para fortalecer o movimento. Foi bonito, foi intenso. Muito bom ver a molecada consciente da importância do ensino público para o desenvolvimento da sociedade.








A turma Yanomami participou também das manifestações

A semana foi de muita leitura: vários artigos, duas teses, um livro e, para relaxar, mais leitura, só que de HQs em scan (boas porque dá para ampliar as imagens e superar assim minha cegueira) e uma impressa sobre hip hop, que comprei mês passado numa campanha de financiamento colaborativo da editora Draco. Ah, e um livro muito engraçado do mestre Afonso Rodrigues de Oliveira, ambientando o Gênese bíblico nos lavrados de Roraima.












Poderia apenas escrever agora que vou tentar passar para o arquivo da dissertação o que entendi de todas as leituras acadêmicas da semana, mas prefiro citar três outras histórias que têm a ver com a jornada mestranda. Vamos lá. Só que antes, vejam a quantas andava o texto no dia 24 de maio:






Lógico que nesses números temos incluídos os anexos, apêndices, bibliografias e outras coisas. Mesmo assim, me parece robusta a parada.












Bueno, vamos lá agora sim valendo dos vera:


22.05.19 - Fui acompanhar a defesa da dissertação do colega Antonio Lisboa, que por sinal mora a duas casas da minha, aqui na distante Muralha, vulgo final do Paraviana. Nas imagens abaixo vemos o agora mestre com louvor no início dos trabalhos - estava sendo apresentado pela professora orientadora Deborah Freitas - e, embelezando a plateia, Alessandra Cruz, Eduany Siqueira e eu, seus colegas de curso.





Na noite de 24.05 foi realizado o lançamento de dois livros no Colégio de Aplicação. As obras trazem artigos de professores e alunos da UFRR e outras instituições abordando a a formação de professores e o ensino de artes. Já li o que me interessava e peguei material do verdinho.










Bueno, agora sim. Tchau, que venha junho, que eu tenha agilidade mental para acrescentar bem o que deve ser acrescentado e vamos que vamos.

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sexta-feira, maio 10, 2019

Diário de um mestrando - 14° mês


04.04.19 quinta

De sexta passada (29.03) até hoje de manhã sem pegar em nada acadêmico. Motivo: acompanhar os pedreiros aqui em casa, deixar o carro no lanterneiro para arrumar a traseira, limpar a sujeira da casa após a saída dos trabalhadores... Fiquei tão cansado que nestes dias estava me deitando às 21h30, como se estivesse doente. Hoje é dia de retomar tudo e atualizar a vida.

08.04.19

Atualiza as metas da semana, do dia. Cumpre o que der. Despacha mensagens pelo WPP e pelo e-mail. Verifica as finanças. O calor já chegou. São 10h44. O céu está nublado. Já leu o material do curso EAD? Que calor. Que falta de concentração. Uma infecção estomacal não ajuda. A geladeira não tem nada. Será que me entregam o carro hoje? Saiu a fatura do cartão. Que calor.

11.04.19
Duas boas notícias:

1. Começou a chover. Chegou o inverno amazônico. As temperaturas vão baixar, o que significa mais possibilidades de não ficar desconcentrado (morre o calor, mas persistem outros fatores. Fazer o que?)


2. Consegui destravar o trabalho. Era uma bobagem na introdução, mas passei dias parados nelas. Estou bem contente comigo mesmo. Coincidentemente, vi esta imagem em um status do WPP hoje. Falava justamente sobre meu estado travado:

16.04.19 terça


Hoje fui cedo na UFRR procurar um livro do Waly Salomão. Quando entrei na parte das estantes de literatura brasileira, tive uma surpresa: alguém havia estado lendo um dos exemplares de meu livro que estão no acervo da biblioteca central. Foi aquele momento de abrir um sorriso e pensar "Olha só você por aqui, seu lindo". Fiz a foto do jeito que achei o livro e deixei lá, torcendo para que outro usuário o visse e lesse também.



Fofinho meu livro de contos

Lambes de resistência na frente da Biblioteca Central da UFRR. Arte é luta



30.04.19 terça
Não acredite na data acima, leitor ou leitora deste blog. Na verdade estou escrevendo este pedacinho do diário no dia 10 de abril. Motivo: me deu imensa preguiça ir anotando as coisas no mês passado. Finja, no entanto, que foi no último dia do mês passado que você acessou o blog para ler coisas vagas como as seguintes:
1. Houve várias reuniões este mês no PPGL. Fui na condição de representante dos alunos. As pautas giraram em torno de quantos e quais professores iriam ficar, a reformulação do edital de ingresso de novos alunos e outros detalhes que basicamente eram de funcionamento interno para garantir que o programa aumente sua nota e não feche.


Numa das reuniões cheguei depois do horário e cheguei antes de todo mundo.

Parte dos professores do PGGL 


2. Sobre o edital, as inscrições vão até 15 de maio. Tem vagas de ampla concorrência e vagas para Ações Afirmativas. Confere aqui.

3. Trunquei, avancei, trunquei, avancei. A redação foi sofrida este mês.


4. Eu adoro minha orientadora. Justamente no dia em que me disse "Basta de ser derrotado pelo tempo, pela preguiça, pela procrastinação! Tenho meu prazo pessoal agora: até quinta dou conta destes partes aqui!". Bem, justo nessa manhã chegou mensagem da profe em nosso grupo de orientandos cobrando material até justamente a data que eu havia me proposto. Juntaram meu "eu estudante que precisa ser cobrado para não enrolar" com o "eu orientadora cobradora de desempenho" dela e trabalhei feito um condenado. Não cumpri o prazo, mandei pela metade, disse-lhe que até X dia mandaria mais, ela falou que esperaria o todo, dei conta"...


(Peraí. Estou falando coisas que aconteceram - ou terminaram de acontecer - na verdade em maio. É como se estivesse adiantando o tempo aqui no meu Diário de um Mestrando... Estou confuso...)


Tentarei não adiar os registros de meu cotidiano acadêmico.


É isso. Abril foi tenso, preguiçoso, quente, de muita dificuldade para superar as leituras, mas acabou. Depois de maio, por sinal, vem meu aniversário, o que não tem nada a ver com nada do que escrevi até agora.


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sexta-feira, maio 03, 2019

Los dias desta semana


 Esta semana yo não te vi e nem por isso senti tua falta, mas se te hubiera dito algo será que teria chovido? Era de café o bombom que recusei só que mais tarde escutei uma música bonita. Não lembro o que dizia e o senhor de la esquina estaba orinando en la rua. Quatro bolas de sorvete por um real, quatro meses sin comprarme uma ropa nueva. Soy un nuevo ser ou apenas não tenho como pagar as contas antigas, de el tempo em que poderia fazer nuevas contas?

Gritava sempre que podia e agora gosto mais de escuchar los carros passando. Si todos los viernes vengo a verte, será que você poderia abrir su puerta y darme un trago de vinho? É que é tanta saudade que já no sé, no sé, en sério, no sé.


Esta semana te besé duas vezes. Paguei somente uma, a outra era tarde e não tinha nada para decir. Ouvi no rádio alguém diciendo poesias como a las 11h  y esta hambre que te tengo me llenó de angustias. Lloro, lloro como uma criança e no banheiro nadie lo sabe. Todo dia es eso: yo camino, tu ni pendiente, hija de la gran... Disculpa, velhas manias são difíceis de dejar para trás. Na lateral habia algo para sentir, pero talvez seja melhor para cuando volvamos. Baja la sierra, dejate de eso, baja la sierra, dejate de eso, baja la sierra, deja ese peso.

Esta noche hizo frio. Amanheceu nublado e al mismo tempo, que te digo, o sol estava dourado lá no nascente. Yo no vi nada, pero me contaron que segun y qué foi assim, foi diferente. Quando voltar, te procuro, estaba escrito no bilhete. Me recordó um viejo samba, te acuerdas? De aquellos que bailávamos pegaitos, pegaitos, pegaitos, como en los buenos tempos em Buenos Aires. Ya, pues, un dia vamos ir de verdade, no reclames tanto. Apurate, pues, apurate...é que acaso no ves o tanto de soledad que está llegando? Hay que trabalhar, fazer por merecer cada um de los pedazos de desespero que vão distribuir hoy. Vamos a darle com fúria, con ganas.

Tás viendo? Ya no te siento aqui. Mi tempo es otro y dijeron en la esquina que o próximo feriado não tá tendo, mas quando llegar vão
reservar um pra gente lá da rua de baixo.

Esta semana quise chorar y os compañeros de la avenida me dieron un cigarro para que me afogasse en humo. Te lo juro: hasta este momento estoy en eso.  

segunda-feira, abril 29, 2019

#02 #CulturaDeRoraima: Lindomar Bach declama cordel de Zanny Adairalba

Registramos o cordelista Lindomar Bach declamando o texto "Calango, a revanche de Pipoca" , de autoria da poeta e cordelista Zanny Adairalba. A leitura aconteceu na edição de abril de 2019 do projeto Coreto Cultural, ação organizada pelo próprio Bach, que também é artista plástico.


   

 A hastag #CulturaDeRoraima serve para nomear a playlist de meu canal no Youtube com os registros que fazemos dos agentes culturais que atuam em Roraima. 

 Cultura de Roraima também é o nome de um blog que mantive ativo entre 2010 e 2018, publicando matérias e colunas sobre a cultura em Roraima: www.culturaderoraima.blogspot.com.br.

sexta-feira, abril 26, 2019

Notas da última sexta de abril de 2019


1. Começaram ontem as chuvas de fato e de direito. Choveu um pouquinho à tarde aqui no Paraviana, dando aquela sensação posterior de que estamos em uma panela de pressão liberando todo o vapor do mundo. Na verdade, a frase correta seria: “choveu (...) no final do Paraviana. Lá em cima, mais perto do Caçari e do Bairro dos Estados, não pingou nada. De madrugada choveu tanto que a terra amanheceu empapada. O céu amanheceu nublado e as paredes da casa estão bem mais frias que ontem.  


2. Enquanto escrevo, chuvisca. Agora será assim até julho, agosto. A chuva traz conforto para estar em casa. Some com as praias, é verdade, mas não dá para ter tudo ao mesmo tempo. 




3. Esta semana fiz algo que há tempos não fazia: comprei e li uma HQ impressa. Me criei fazendo isso, aprendi a ler em português por conta das histórias em quadrinhos, mas havia um tempo que só estava lendo em formato Scan nos sites piratas. Nunca gostei de ler muito em computador, mas desde o mestrado e seus infinitos PDFs, me acostumei a passar horas na frente da tela. Daí foi só ir buscar os Scans e me maravilhar com a possibilidade de ampliar a página até o ponto em que as palavras fiquem ao meu gosto de olho de velho meio cego. Foi essa impossibilidade de ampliar os balões o que mais me incomodou na leitura. Agora que uso óculos para quase tudo ficou meio complicado até ler em local mais escuro. Mesmo assim encarei o título Batman – Veneno. Gostei da história, que é começo dos anos 1990, com uma arte característica daquele tempo (leia-se um monte de quadros por página). 

Batman - Veneno: as quatro edições em uma só publicação

4. Estreou Vingadores e nos grupos de WPP todo mundo fala nisso. Nem um pio sobre os direitos que vamos perder com a reforma da previdência que o Bolsonaro vai enfiar na nossa goela, mas tudo bem, o foco não é mesmo esse nesses grupos. Até concordo e se fosse diferente eu saísse, porque as discussões costumam ser bem rasas. Enfim, sabe um lance que me incomoda mesmo nessas horas? Essa idiota coisa do medo do spoiler. Gente, que confusão que a galera forma por conta de um comentário qualquer feito por quem já viu o filme. Eu não entendo mesmo isso. Quando alguém me conta algo de um filme, série, livro ou HQ, fico prestando atenção para depois comparar o que a pessoa disse com o que de fato foi apresentado. Daí faço uma avaliação sobre a capacidade narrativa do “spoileiro” para saber se é confiável ou não nesse sentido. Acho muito divertido isso. Vou atrás até de cena vazada se tiver rolando fácil. Já o resto do mundo, inclusive o povo aqui de casa, morre de raiva. Eu, heim, gente doida. Imagina essa galera pegando spoiler da Bíblia, por exemplo, com alguém falando que lá no Novo Testamento vai rolar a crucificação de Jesus. Ou que lá no Velho tem uma parte bem The Walking Dead chamada as sete pragas do Egito?



5. Até ontem a gasolina estava custando R$ 4,29 no dinheiro na maioria dos postos que estão em minha rota comum de deslocamento. Acho bom anotar isso para jogar na cara do povo que vive dizendo que o PT quebrou a Petrobras e que por isso estavam certos o Temer, ao autorizar, e o Bolsonaro, ao manter, a política do preço subir o tempo todo conforme a movimentação do mercado. Parece até que isso se traduz em ganho para cada eleitor desse povo. Eu fico aqui preocupado com o gasto mensal, fazendo contas para ver se não vou ficar no prego no meio da rua e o povo bolsominion elogiando e feliz com essa política de preços. Ou sou muito ranzinza e pobre ou todo mundo está ganhando bem mais do que eu. 

Estou em crise energética

segunda-feira, abril 22, 2019

#CulturaDeRoraima: cantoria à capela com o cordelista Otaniel Souza


Otaniel Souza é um cordelista de origem maranhense radicado há décadas em Roraima. 

O gravamos em abril de 2019 cantando, à capela, a música Os Brutos Também Amam, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos. 

A gravação aconteceu na edição de abril do projeto Coreto Cultural, organizado pelo também cordelista Lindomar Bach.




A hastag #CulturaDeRoraima servirá para nomear a playlist de meu canal no Youtube com os registros que fizermos  dos agentes culturais que atuam em Roraima. 

Cultura de Roraima também é o nome de um blog que mantive ativo entre 2010 e 2018, publicando matérias e colunas sobre a cultura em Roraima. Se quiser conferir, clique aqui. 

sexta-feira, abril 19, 2019

Registros sobre o que já ganhei com a literatura


O fato de eu não ser um escritor profissional (minha subsistência é garantida pelo emprego de funcionário público) ou um escritor focado em ser escritor
profissional (passo semanas sem produzir textos literários e meses sem participar de editais, concursos ou prêmios, muito menos submetendo livros a editoras), bem, esses fatos nublam a minha visão sobre o quanto já ganhei escrevendo.

Muitas vezes me perguntaram se a profissão de escritor dava para pagar pelo menos parte das contas, se havia ganhado algo com literatura. De meu suposto lugar de fala, descrito acima, falei que não. Na verdade, ia além, demostrando ingratidão com a vida: respondi várias vezes que nunca ganhei nada escrevendo. Exagerando, errei. Ganhei sim e muito.

Tentarei resumir isso a seguir, como uma espécie de registro confessional para que não volte a falar nunca ter recebido nada escrevendo ou trabalhando com contos, crônicas e poemas (essa descrição aqui é para distingui-los dos textos jornalísticos que me sustentam desde o ano de 1998, quando comecei a trabalhar como repórter).

Vamos aos fatos:

1.    Viagens: participei de bienais, feiras de livros, eventos literários e debates sobre política cultural nos estados Amazonas, Amapá, Pernambuco, Alagoas, Ceará, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte e Distrito Federal. Em Roraima conheci várias comunidades indígenas e trabalhei nos municípios de Pacaraima, Alto Alegre, Boa Vista, Cantá, São João da Baliza e Bonfim. Quem lê viaja e quem escreve também. 

2.    Plata. Sim, plata. Várias vezes ganhei grana como escritor, como organizador de atividades focadas em literatura, livro eleitura, como parecerista, como palestrante e até apenas como participante. Ganhei algum dinheiro também em concursos, prêmios e editais. Consegui pagar contas, economizar, comprar coisas que estavam faltando para a casa e coisas que queria comprar apenas por querer. A grana da literatura me sustentou ou sustenta? Não, mas já ajudou um bocado.

3.    Trófeus, certificados livros e afins: no momento tudo o que é meu está encaixotado. Em alguma caixa estão esses objetos citados acima, deixando claro que houve retorno do mundo para mim, sim.

4.    Amizades, risadas e bebidas: desde moleque, o ato de escrever (e de ler) sempre trouxe boas pessoas ao meu convívio. Aprendi um bocado com a diversidade de pensamentos que carregavam, ri muito, me emocionei muito. São amigos e parceiros presencialmente perto, alguns bem longe, outros nunca vistos cara a cara, mas sempre disponíveis nas redes digitais. Gente que já me convidou para atividades que renderam boas conversas, renda e conhecimento. Gente boa.

5.     Beijos na boca e na bochecha: considerem que escrevo textos desde a adolescência. Considerem que sempre tive a sorte de tropeçar com gente sensível à arte e à literatura. Considerado e anotado? Então... Beijo na boca é algo que se deve levar em conta na hora de fazer o levantamento daquilo que se ganhou ao longo da carreira. Por sinal, o beijo mais importante foi o que consegui da moça que depois virou minha minha esposa, encantada - digo eu - com as minhas poesias e prosas. Este beijo e atos afins resultaram em meu filho, luz de meus dias, P do meu samba, senhor de mim, dono do beijo na bochecha mais gostoso do mundo.

Então é isso. Eis o resumo de minhas conquistas como escritor e agente cultural da área literária. Se algum leitor um dia tropeçar comigo em algum lugar e me ouvir dizer que nunca ganhei nada como escritor, faça o favor de jogar o link em minha cara.

Obrigado, de nada.

terça-feira, abril 16, 2019

Trilha de bicicleta pelo meio do Cauamé: entre os banhos da Polar e dos Gnomos

A postagem de hoje é o registro de um passeio de bicicleta que fiz no rio Cauamé em maio de 2019. 

Parti do meio do bairro Paraviana rumo à Praia dos Gnomos. No meio do caminho, um desastre aconteceu.




sexta-feira, abril 05, 2019

Sabores da noite passada

Meu hálito nesta manhã me lembra um pouco das alegrias e sabores da noite passada. Bebemos, rimos, cantamos e, sinceramente não tenho certeza, mas acho que também usamos alguma coisa levemente ilegal para adoçar ainda mais a madrugada.

Começamos cedo, com um happy hour que buscava espantar as dores de um dia pesado de trabalho para ambos. Eu não te conhecia. Não, eu já havia te visto uma ou duas vezes por aí. Sim, isso mesmo. Os amigos nos apresentaram formalmente, começamos a falar de filmes, livros, política e jardinagem. Chope vai, tira-gosto vem, desafinamos algumas músicas no karaokê, discordamos sobre os rumos da economia, sorrimos muito e, se não me engana a memória, trocamos uns beijos no estacionamento do bar. 

Quando a mesa começou a ficar vazia e iniciativas mais decisivas passaram a ser exigidas pelo horário, te fiz uma pergunta fundamental para definir os rumos daquela noite: 

- Dorme comigo? 

Então você abriu um sorriso, encostou tua boca em minha orelha e me disse, antes de mordê-la: 

- Claro. Só estava esperando o convite.  

Ainda bebemos mais um pouco e trocamos ideias sobre o futuro da nação antes de chegar em casa. Por sorte, meu companheiro de aluguel havia encontrado lugar melhor para passar a noite e ficamos à vontade para passear com os nossos corpos sem roupa da sala até o quarto. Li com a língua cada uma das tatuagens e sinais da tua pele enquanto lembrava de um som que ouvia quando era moleque: 

“Y yo que nunca tuve
Más religión que un cuerpo de mujer
Del cuello de una nube
Aquella madrugada me colgué”

Pendurado em tuas nuvens estava quando você falou que provavelmente não amanhecerias ao meu lado. Algo como um compromisso logo cedo com o trabalho, amigos, namorado, não sei... Confesso que naquele momento eu só pensava em sentir o teu gosto e isso afetava o meu raciocínio. O depois ficará para depois, pensei.

Amanhece, abro os olhos e fico olhando para o teto do quarto, cantarolando em minha mente a mesma música da madrugada. Só me acompanham teu cheiro grudado em minhas mãos e uma mensagem no celular, na qual dizes ter gostado da noite e prometes um dia talvez repeti-la. 

Enquanto tomo uma xícara de café preto, sorrio e penso em como promessas de noites boas são fundamentais para aguentar os dias cheios de rotina.

quinta-feira, abril 04, 2019

Diário de um mestrando - 13o mês


14.03.19

Os dias têm sido estupidamente quentes e mal aproveitados neste mês de março.

O calor me acaba, deixa sem vontade de estudar. Só penso em ir para a praia (e não vou). Só penso em sair pedalando pelas avenidas, ir para a praia do Caçari, atravessar as praias e me refrescar, como prêmio de melhor esportista amador, na praia dos Gnomos. Não o faço, ou faço menos do que deveria e quero.







 Todos os dias anoto as metas do dia. Todos os dias volto a anotá-las.

Sim, li alguma coisa (bem menos do que deveria).

Sim, hoje isso muda, com certeza. Tenho reunião com a orientadora, professora Leila Baptaglin. A primeira pós qualificação. Separei alguns pontos para discutir. O ritmo deve voltar ao normal.

O que tenho feito então se não tenho estudado como deveria? Quase nada.

Nem a obra avançou neste mês. Este mês só não se perdeu pois fui passear no Lago do Caracaranã e dormimos debaixo dos cajueiros, pegamos bronze, fortalecemos a amizade com Tim, Grazi e Liz. Até gravei uns vídeos para juntar e publicar no Youtube, mas cadê disposição?



Yo, en el lago Caracaranã (Foto: Zanny Adairalba)




Zanny, acordando debaixo dos cajueiros (Foto: Edgar Borges)


Minha avó completa 93 ou 94 anos na sexta. No sábado tem almoço para comemorar a data. O que isso tem a ver com o Diário de um Mestrando? Tudo. Se não fosse o suporte dela e de meu avó ao longo de quase toda a vida que venho vivendo em Roraima, quem sabe o que teria sido de minha vida acadêmica? Ter um apartamento sem pagar aluguel e almoço pronto todo dia quando se chega do trabalho ou da escola/universidade não é para todos. Assim como não é para todos admitir que nem tudo o que se conquistou foi fruto exclusivo do suor e esforço pessoal.


11h36. Vou parar e ir ajudar a Zanny a preparar o almoço. Me diz o Google que a sensação térmica é de 36 graus centígrados, mas sentindo o bafo quente vindo da rua, acho que é o dobro.


22.03.19 Sexta


São mais de 11h. Dediquei a manhã a tomar café, comer bolacha e buscar finalizar um pedaço da dissertação abordando a cena de Rap local. Esta semana foi de buscas e leituras de comentários em redes como o Youtube e Soundcloud.


O que procurava? Saber quantos rappers atuam em Roraima.
O que achei? Uma quantidade muito acima da esperada. Em dois dias e meio localizei mais de 50 rappers em diversos municípios e algumas produtoras de vídeos, bancas, canais de divulgação...


É uma cena bem mais complexa do que parece. Pode não ter o sucesso comercial e midiático que almeja, mas isso não diminui sua extensão. Sobretudo em um estado como Roraima, no qual, apesar de todo o desenvolvimento acumulado na cena artística cultural, ainda tem muito caminho a ser aberto.


Poderia ter sido uma semana bem mais produtiva, mas ontem bateram no meu carro. Estava parado em uma esquina quando a caminhonete amassou a lataria traseira. O motorista desceu, se comprometeu a pagar, o idiota aqui não pegou os dados pessoais, apenas o telefone e saiu cada um para seu lado. Fiz uns orçamentos, liguei pro sujeito e adivinha: um blá-blá-blá imenso sobre eu estar errado, sobre ele estar certo, sobre como a grana tava curta e que ele poderia me ajudar, mas só em muitas parcelas, sobre tudo ter sido minha culpa, sobre só poder pagar no começo do próximo mês se tudo estiver bem...


Gente...que estresse. Se fosse comigo eu tava agoniado querendo me livrar da pessoa, mandando ela logo ir arrumando o carro. Tudo para me soltar desse peso logo. Infelizmente o mundo não é assim...Resultado: vou mais tarde fazer novos orçamentos para decidir se espero pelo sujeito ou eu mesmo faço isso. O pior é que uma das empresas apontou ser um serviço de pelo menos cinco dias.


Cinco dias sem o carro no lugar onde moro, no calor que está fazendo, com as minhas obrigações? Significa dias de muito estresse e correria, principalmente por ter que levar e pegar o Edgarzinho na escola, que fica a uns seis fucking quilômetros de distância...
Enfim...


Avancemos.


25.03.19 segunda


Em ritmo de segunda-feira. Lendo o e-mail da professora Leila com as definições do que vamos acatar da banca. Dor nos olhos (será que os óculos já venceram?). Muito calor. Preguiça. Seis ou sete xícaras de café e ainda com sono. Pensando no conserto do carro e as implicações de ficar sem veículo morando na periferia (ver, antes de reclamar, o conceito original de periferia, plis). Fiz um poema. Quarta de manhã vem o povo para consertar a cerca do vizinho. O João anda sumido e a obra da varanda parou. Meu pai pegou o carro emprestado ontem e me devolveu quase sem gasolina. O que será que tem mais de bom nesse livro do Umberto Eco que peguei semana passada e até agora não abri? Será que quando as chuvas começarem o meu ânimo vai melhorar? Dor de cabeça. Quero deitar, mas deitar não rende.


Muito tarde da noite:




Participei nesta segunda de uma aula da disciplina Literaturas Amazônicas, ministrada pelo professor Roberto Mibielli, do curso de Letras da UFRR. Troquei ideias com os alunos sobre seis microcontos publicados em redes sociais e uma coletânea. 


Acho sempre enriquecedor ouvir as interpretações dos acadêmicos. Me surpreendem. Na atividade de hoje, até o meu filho jogou na roda a sua interpretação de um dos textos. Foi bacana.


Abaixo dois dos textos que limos:

DESFECHO

"E a comeria de novo, sem duvidar um segundo", disse, retirando-se da mesa e deixando só o cheiro da cereja no ar.


INDECISO

E aí ela disse "vem!".
Fiquei naquela: "vou, não vou, vou, não vou...".
Quando decidi ir, ela já estava em outro lugar.
Fiquei, apenas a vontade e a frustração me acompanhando.



27.03.19 quarta

Estou uma preguiça só. Ando puro esse meme aí:




Na verdade não é preguiça, é concentração pouca. Ontem ainda fiz algo para apresentar esta semana à orientadora. Agora de manhã deveria já estar fazendo a segunda coisa que me pediu, pelo menos parte dela para fingir que estou super me esforçando, mas não consigo começar.


O pior é que ontem de madrugada, logo antes de dormir, mil ideias bacanas apareceram para escrever essa parte que agora não sei por onde começar. Fiz até um plano de tomar café e banho mais cedo, sentar e agilizar tudo antes que o povo que ainda não chegou em cada chegasse.
São 8h38 e acho que estou cansado.


Estou, creio, no limite do desconforto provocado pelo calor, pela rotina, pelos inúmeros probleminhas que aparecem sugando a grana que não tenho mais.
Até poemas ando fazendo. Dirão os acadêmicos: em vez de fazer ciência, tái: fazendo textinho poético.


Desse jeito vou acabar...Vou acabar nada. Vou continuar. Partiu agora ativar a playlist de jazz instrumental. Nunca falha na hora de ajudar o cérebro a se aprumar.


15h23 - Fiz algo. Não fiz completo, mas fiz. Custou. Bem muito. Para fazer, sacrifiquei o cochilo. Não está UAU, mas vale algo. E foi quase 85% do que precisava por enquanto. Então tá valendo. Espero. Espero não levar reprimenda da profe por conta de minha aparente procrastinação. Agora é tomar banho e vamos numa reunião de pais e mestres. Afinal, temos várias identidades ao longo do dia.


31.03.19 Domingo




Entre calor e acompanhando mais uma etapa da obra infinita estou desde sexta. Sem condições de sentar e ler alguma coisa para o mestrado.

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