sexta-feira, novembro 26, 2004

Cenas românticas


Olhe para mim. Sinta minha fome de você.
Chegue mais.
Sorria, que eu te olho fascinado.
Cheiro teu rosto inteiro.
Se quiser rir, faça isso.
Ainda te cheiro, desta vez no cabelo. Minha mão direita na tua nuca.
Volto de teu cabelo, tocando teu rosto com meu nariz e minha boca.
As duas mãos na tua cintura.
Roço meus lábios nos teus e busco sentir tua respiração, teu hálito.
Os lábios se tocam, se molham.
O beijo, de fato.
As mãos, na nuca. As mãos no corpo.
O beijo lembra o primeiro do nosso namoro.

O restante é o de sempre. Você me lembra que hoje é quarta, diz que está com dor de cabeça e que prefere ler um livro. Eu vou pegar uma cerva enquanto te xingo mentalmente e depois ligo a TV para ver uma partida de futebol.

quarta-feira, novembro 24, 2004

Bomba mata promotor que investigava adversários de Chávez

"O promotor disse à agência de notícias Reuters há menos de duas semanas que esperava completar em breve o indicamento formal de todos os acusados."

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Na Venezuela, quem se mete a besta com as elites que dominaram o país durante 43 anos morre.

Foi esse o destino do promotor de justiça Danilo Anderson, que investigava as pessoas envolvidas no, por enquanto, último golpe de estado do país vizinho, em 2002.

O governo Hugo Chávez Frias, incluído no eixo do mal pelo reeleito Bush Júnior, já está adiantado na caça dos assassinos que explodiram uma bomba no carro de Danilo e movimenta sua bancada parlamentar para aprovar uma lei anti-terrorista que limite a ação dos paramilitares supostamente treinados pela CIA para desestabilizar a V República.

Alguns desses homens já foram presos neste ano a poucos quilômetros da residência oficial do presidente. E de vez em quando aparece um líder oposicionista dizendo que a solução para os problemas da Venezuela está numa arma de precisão com mira telescópica apontada para a cabeça de Chávez.

Chávez, falastrão e altaneiro quando se trata de defender o que considera ser o melhor para os venezuelanos, não poupa críticas à política externa dos Estados Unidos da América (sic) de levar a democracia e a paz a todos os rincões do planeta, citando sempre o Iraque, Afeganistão e Colômbia, entre outros países.

O que será do futuro político do país vizinho é uma incógnita.

De certo, só que na Venezuela se leva muito a sério o refrão "quien a hierro mata, a hierro muere", amaciado em português para "quem com ferro fere, com ferro será ferido."

segunda-feira, novembro 22, 2004

Da série "Redatores da Fronteira", um texto de Ricardo "Pcapuleto" Amaral, estudante de jornalismo da UFRR, jogador de futsal e integrante do Orkut, escrito num dia não muito distante de sua adolescência.


Depois de tudo, sempre viverei no limite
No limite extremo
Que a determinação me permite.
Com os olhos talvez perdidos
No desejo de querer-te,
Envoltos em lágrimas
Que escorrem pelo chão,
Formando um oceano infinito,
Mar de paixão...
Talvez nem mesmo me encontre
Neste labirinto,
Mistura de emoções que trituram meu coração,
E me fazem morrer por dentro...
Mesmo assim,
Talvez sem estarmos presentes
A esses encontros que duram para sempre...
Nossas almas persistam em viver
Nos desencontros casuais de nossos destinos...
Talvez nossos pensamentos se busquem mutuamente
Para juntos recordarem todos os momentos.
Lembranças guardadas junto de suas existências são como o tempo,
Nunca terminam e não morrem jamais.

sexta-feira, novembro 19, 2004

Euzébio, o contador

(De G. Guarabyra, publicitário, jornalista e amante de futebol e da boa cozinha)


Em seu quarto alugado, Euzébio era o retrato da solidão. Sozinho desde que a mulher confessou, em lágrimas, que não agüentava mais aquilo, passou a viver com a metade do coração. Procurava um emprego, desesperadamente, ainda alimentando a esperança de que um dinheirinho - pouco, mas certo - seria o suficiente para arrumar as camisas no guarda-roupa e a vida nos trilhos. Calças e camisas amarrotadas se espalhavam sobre a cama sempre desarrumada, a pia do banheiro repleta de cuecas mergulhadas na água.

Acordara cedo, disposto a arriscar na passagem de ônibus os últimos trocados emprestados por um amigo. Não é possível que nessa cidade ninguém esteja precisando de um contador habilidoso e experiente com eu, injetava confiança em si mesmo. Tentava desamarrotar a camisa usando as mãos como se fossem um ferro de engomar.

A barriga não cabia mais dentro da calça. Em todas as peças romperam os botões. Havia encontrado um grande alfinete que servira para prender as fraldas da pequena Camila, quando ele, a filha e a mulher, Marilza, ainda viviam juntos. As duas partes da calça que precisavam ficar presas corriam para os lados, mas acabavam contidas pelo grande alfinete, uma peça formada por duas hastes de metal, uma delas presa por uma presilha na ponta.

Na parte mais abaixo o zíper permanecia aberto até o meio da braguilha, mas as bordas da camisa encobriam o alfinete, um detalhe, para ele, fundamental. A exibição daquele arranjo seria o mesmo que anunciar publicamente o estado de humilhação em que vivia. Por isso mesmo, habituara-se a caminhar pelas ruas sempre com uma das mãos segurando a camisa na altura do alfinete, de modo a impedir que um vento levantasse a roupa e expusesse aos passantes sua penúria.

Ônibus cheio, como sempre, ficou em pé bem no meio, pronto para avançar quando se aproximasse o ponto onde deveria descer. Uma mão segurando o suporte colado ao teto, a outra impedindo que a camisa levantasse muito.

- É um assalto!
O grito veio do fundo do ônibus. A freada brusca jogou algumas pessoas sobre Euzébio, ele segurou firme o corrimão do teto e, mais firme ainda, manteve a camisa no lugar. Duas portas de emergência foram abertas num piscar de olhos, passageiros caíam no asfalto e corriam em desespero, dois policiais militares surgiram não se sabe de onde, armas em punho, um entrando pela porta da frente, outro pela porta de trás.

No ônibus praticamente vazio os policiais avistaram Euzébio com uma cara suspeita. No empurra-empurra, ele percebeu que o alfinete se abrira. Rápido, meteu a mão por baixo da camisa para impedir que a calça fosse ao chão.
- Ele tá armado!
O cabo Oliveira, campeão de tiro da 8ª Companhia, não teve dificuldade para acertar um disparo bem no meio do peito gordo do contador.
- O elemento ia atirar, Oliveira!
- Se eu não sou ligeiro, hein, sargento!

quinta-feira, novembro 18, 2004

A casa dos barões continua caindo


Manhã agitada na sede da superintendência da Polícia Federal de Roraima. Por conta das investigações do Caso dos Gafanhotos, vários figurões de Boa Vista foram presos, entre eles um ex-secretário de Fazenda, o ex-responsável pelo Tesouro Estadual e os sócios da empresa que fazia os pagamentos dos servidores públicos.

Do lado de fora da superintendência, sob o sol, os representantes da imprensa, ávidos e de óculos escuros. Estavam acompanhados de algumas pessoas que gritavam 'ladrão", "bem feito" e coisas do tipo a cada sujeito que chegava na parte de trás dos camburões da Federal.

Das três rádios FMs da cidade (o sinal das AMs estava péssimo), apenas uma deu cobertura à movimentação. Em certo momento, uma delas falava sobre melancias e outra mandava abraços aos ouvintes.

Na emissora que ficou de plantão, comentários exaltados sobre a ladroagem, sobre a corrupção, sobre justiça sendo feita. Um radialista se revoltou por ter entrado no prédio da Federal algemado, depois que foi pego contrabandeando gasolina da Venezuela, mas não viu os figurões tendo o mesmo tratamento. Falaram em justiça desigual.

Outras pessoas falaram em fortalecimento da democracia, moral e ética.

Como de costume, também se falou (e vai ser escrito, com certeza) em vergonha para o Estado, exposição desnecessária, constrangimento.

Parece que todos querem ver presas as pessoas acusadas de desviar cerca de 230 milhões de reais dos cofres públicos, mas de preferência sem alarde, afinal, todos se conhecem em Boa Vista, todos freqüentam as mesmas festas e aparecem nas mesmas colunas sociais, têm a mesma pinta de boa gente, usam quase sempre as mesmas marcas de carros e motos importadas.

É sempre a mesma reação. Os servidores-fantasmas, ou gafanhotos, por serem os devoradores da folha de pagamento, não são uma novidade. Nas eleições de 1998, o extinto jornal O Diário, ligado intimamente ao governador Ottomar Pinto, publicou uma listagem dos deputados e secretários estaduais e a cota de gafanhotos de cada um. No outro dia, na mídia escrita, apenas as defesas do grupo do então governador Neudo Campos. Ninguém questionou muito, talvez para não perder as cotas de publicidade, talvez por acreditar que eram mentiras criadas pela imaginação de um grupo de descontentes.

E assim se faz a história em Roraima.

terça-feira, novembro 16, 2004


Depois de uma semana de surrealismo político, O Crônicas da Fronteira tem o prazer de apresentar mais uma edição de sua série de maior sucesso: Escritos para mulheres especiais.


Acuerdo

(para ler ouvindo "Il postino" ou "Beatrice", da trilha sonora d?O Carteiro e o Poeta)

Hagamos un trato:
Si quieres me voy.
Si no, me pongo donde mandes,
Me vuelvo un polo sur
Uma aldea a orillas del Amazonas.

Hagamos un trato:
Yo me quedo tranquilo
Si me dejas dormir en paz
Acompañado solamente de la luna.
Acéptalo, por favor,
Mis lágrimas te lo imploran
Lo necesitam como cielo azul al sol
Como isla al oceano.

Déjame vivir lejos
O recibe mis poemas
Y leelos por las noches.
Cuando amanezca, miénteme
Si es necesario y dime que
Se parecen a los de Neruda.

Hagamos un trato:
Dime que trato quieres
Para arreglar esta situación
Y echar el barco al mar
Para ver en que lugar podemos navegar.

Hagamos la paz o la guerra
Hagamos distancia o amor.
Pero tiene que ser ahora.
Lo siento, pero soy así.
Como agua sin sed
Com letra sin papel.
Soy así, sin ti.

Por eso te lo pido
Por la vida, por Dios en el cielo,
Antes que sea tarde
Y todo sea imposible,
Hagamos un trato.

sexta-feira, novembro 12, 2004

De novo, política.

Não deu pra aguentar...Leia na tarde de sexta o que sairá no sábado n'O Globo. Depois, lá embaixo, clique no link que te leva para um artigo no site do Marlen sobre a situação da política roraimense. Até semana que vem.
(Sobre o post anterior, mudou tudo na Assessoria de Comunicação, com o descarte do nome anunciado em plena cerimônia de posse. É o jeito Ottomar de ser.)


Ottomar consegue recuperar R$ 12 milhões
desviados de convênios federais em Roraima

Humberto Silva
Especial para O GLOBO



BOA VISTA (RR). O novo governador de Roraima, Ottomar de Sousa Pinto (PTB), empossado na quarta-feira após decisão do Tribunal Superior Eleitoral que confirmou a cassação do mandato de Flamarion Portela (licenciado do PT) anunciou ontem que encontrou nos cofres do estado pouco mais de R$ 1 milhão, porém, numa operação entre a Secretaria da Fazenda e a rede bancária, conseguiu recuperar mais R$ 12 milhões, que segundo ele, ?através de manobra conseguiram desviar os recursos de convênio federal para fazer pagamentos que não correspondiam ao convênio?.

Ottomar disse que com a recuperação dos aproximadamente R$ 12 milhões, de convênios federais, recebeu o governo com um caixa de R$ 14 milhões. ?Tivemos que agir rápido para que não fossem descontadas as ordens bancárias?, afirmou o governador negando-se a informar em nome quem eram os pagamentos, para não atrapalhar a auditoria que determinou em todas as secretarias.

Dívidas

Além da tentativa de desvio de R$ 12 milhões, de convênios federais, Ottomar Pinto herda diversos acordos de renegociação de dívidas junto ao INSS, Eletronorte e ainda o empréstimo concedido pela CAF ? Corporação Andina de Fomento ? no valor de US$ 23 milhões, ainda na administração do ex-governador Neudo Campos, cujos recursos deveriam ser destinados a interiorização da energia de Guri.

A obra de interiorização não foi realizada na administração de Neudo Campos nem na de Flamarion Portela e a partir de 2004, o governo de Roraima tem que pagar duas parcelas por ano no valor de R$ 7 milhões cada, sendo uma em junho e outra em dezembro.
Junto ao INSS, antes de sair do governo, Flamarion Portela fez uma renegociação da dívida reconhecida no valor de R$ 232 milhões. Hoje o Estado paga R$ 600 mil por mês.

Além do empréstimo com a CAF e a renegociação com o INSS, Roraima tem outro acordo, junto com a Eletronorte e tem que desembolsar mensalmente R$ 1 milhão. Desde que o Estado foi implantado em 1991, nunca se pagou a energia consumida pelos prédios públicos.

Lula

Durante entrevista ao jornal O Globo Ottomar Pinto disse que vai ter uma relação respeitosa com o Palácio do Planalto, alertando que ?não vamos ser alinhados com tudo que o presidente Lula queira. Teremos relação respeitosa?, disse ele acrescentando após ter o levantamento das dívidas do estado com a União, vai buscar o Poder Central para discutir a situação.

Gafanhotos

Após a posse de Ottomar Pinto no governo de Roraima, o Tribunal Regional Eleitoral anunciou para o dia 23 de novembro o julgamento de uma Investigação Judicial Eleitoral impetrada por Pinto contra o ex-governador Flamarion Portela e mais cinco deputado reeleitos em 2002 ? Chico Guerra (atual vice-presidente da Assembléia), Mecias de Jesus (presidente da Assembléia), Berinho Bantin, Urzeni Rocha e Sérgio Ferreira, além 11 ex-deputados e um vereador de Boa Vista.

O processo é pautado no Escândalo dos Gafanhotos, que em novembro de 2003 levou mais de 57 pessoas para a prisão, inclusive o ex-governador Neudo Campos.
Na pauta da sessão do TRE-RR do dia 23 de novembro serão julgadas três Investigações Judiciais Eleitorais movidas por Ottomar Pinto contra Flamarion Portela, deputados e ex-deputados. O processo já está com relatório final elaborado pelo Corregedor-Eleitoral, desembargador José Pedro Fernandes que não se encontra em Boa Vista.

Na Investigação, os advogados de Ottomar Pinto acusam o ex-governador e parlamentares de sua base aliada de terem utilizado um grupo de 20 pessoas para receberem de janeiro a julho de 2002, por meio de procuração, o salário que o governo de Roraima pagou para 319 servidores ?fantasmas?.

O TRE-RR cassou em 2004 os mandatos dos deputados estaduais Flávio Chaves (PV) e Jálser Renier (PFL). Chaves conseguiu voltar ao mandato por decisão do Tribunal Superior Eleitoral que por sua vez manteve a cassação de Renier. Ambos foram acusados de compra de votos.

Juristas ouvidos no Tribunal Regional Eleitoral não adiantam qual pode ser a decisão de relator as investigações, antecipando apenas que no caso dos ex-deputados envolvidos a pena pode ser apenas de inelegibilidade. Quantos aos parlamentares detentores de mandatos, podem ser cassados.

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Muito bem, já que vc aguentou a leitura e deve estar pensando como diabos Roraima chegou a este ponto, vale a pena ler a versão do Marlen:


E ASSIM TUDO COMEÇOU

Eduardo Levischi, então ex-diretor geral e todo poderoso do DER foi exonerado e abandonado pelo Reizinho de Coreaú. Estando entregue a própria sorte e tendo o Ministério Público em seu calcanhar, o matreiro Levischi tomou a decisão mais sensata para sua vida. Assim pensou...'entrego tudo o que sei e o que tenho de documentos, tendo em troca privilégios no processo do roubo de milhões de reais...'. (Leia o artigo completo)


Ainda sobre o novo governo

(Infome da gerência: Voltaremos da surrealidade na próxima semana)


Em tempos de mudança de governo, o melhor informativo a ser lido não é da iniciativa privada, mas sim o Diário Oficial do Estado.

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Nem nas festas feitas pelo ex-governador Flamarion Portela tantos carros ficavam parados por tantas horas na área de estacionamento da sede do Executivo.

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O mundo da política não é lógico. Quem estava à frente, fica para trás. Quem estava nos bastidores, ganha um holofote só para ele. Ou, no caso, a Assessoria de Comunicação.

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Ottomar resgatou do ostracismo o dono do jingle mais lembrado das campanhas políticas de Roraima: Belgerrac Batista, que nas primeiras eleições diretas para governador de Roraima, no início da década de 90, com a slogam: tá tudo bem, tudo Bell!

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O secretariado do novo governo é formado por antigos colaboradores e uma turma que se aliou e acompanhou o brigadeiro mais recentemente. Entre os cargos que já distribuiu, beneficiou um cunhado, a esposa (ex-senadora Marluce Pinto), um genro e um sobrinho. Alguém falou em nepotismo?

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O governador já disse a que veio: é sim candidato a reeleição e vai trabalhar para que a reserva Raposa ? Serra do Sol não seja homologada em área única, com seus 1,8 milhão de hectares. O CIR que se dane.

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O PT nacional disse à Agência Folha que aceitar Flamarion no partido foi um erro que poderia ter sido evitado, um alerta, para ser mais exato. Mas só agora eles perceberam, depois de dezenas de denúncias de corrupção, um ano de afastamento da sigla, vários julgamentos na Justiça e cassação do mandato do homem?




quarta-feira, novembro 10, 2004

TSE nega recurso e governador de Roraima deve deixar cargo (Folha Online)

TSE afasta o governador de Roraima (Agência Estado)

Ottomar será diplomado à tarde no TRE e empossado à noite na ALE (Brasil Norte)

A queda do governador Flamarion Portela e o retorno de Ottomar Pinto ao governo estadual deixou muita gente suando em Roraima. E não foi por conta dos mais ou menos 40 graus de temperatura ambiente que estamos passando em Boa Vista.
Ottomar no poder significa a total reengenharia da política roraimense, com mudanças óbvias nos cargos de chefia do governo e o revigoramento do grupo do velho brigadeiro, que passou os últimos quatro anos à mingua e está com fome, muita fome.
Significa também que o foco dos investimentos estaduais deve mudar, com novas empresas sendo beneficiadas pelos contratos e novas prioridades sendo estabelecidas.
A decisão da justiça é um tapa na cara do PT local, partido do qual Flamarion estava licenciado desde o ano passado.
Com o novo governador, o PT perde a liderança do governo na Assembléia Legislativa e a chefia de secretarias importantes como a de Educação, com 900 cargos comissionados e 12 mil postos de trabalho.
O retorno doerá principalmente para algumas empresas de comunicação, a exemplo do grupo Folha de Boa Vista, cujo dono é irmão do ex-vice-governador Salomão Cruz e redator de uma coluna que nunca poupou críticas ao brigadeiro, além de desqualificar a batalha judicial vencida na noite de terça-feira.
Mas será fantástica para outras, como a retransmissora da Rede TV!, pertencente à esposa de Ottomar, ex-senadora Marluce Pinto. Quem sabe, até surja um novo jornal na cidade.

Este cronista só quer saber, caso não haja nenhuma reviravolta judicial:
1) Será que Ottomar, principal denunciante do esquema dos servidores fantasmas, vai montar cooperativas e criar novos cargos comissionados para contratar seus seguidores ou vai chamar com mais celeridade as pessoas que foram aprovadas no concurso de preenchimento das vagas do quadro funcional do Estado?
2) Quais serão as prioridades administrativas do novo governador, conhecido como homem de priorizar grandes obras?
3) Como será a relação com os deputados, que o renegaram desde que deixou o governo estadual em 1992, depois de eleger Neudo Campos, o herdeiro malvado?
4) Como fica a questão dos cargos federais à disposição do PT local (aliás, perderam nesta quarta a superintendência do Incra)?
5) Como será a disputa eleitoral daqui a dois anos, caso o grupo de Ottomar entre em confronto direto com o do senador Romero Jucá, atualmente o mais estruturado de Roraima?
6) Onde vão enfiar as caras aqueles que passaram dois anos andando de salto alto por conta dos postos e benefícios recebidos pelo governo de Flamarion Portela?
7) Será que o brigadeiro vai agüentar o tranco de governar um Estado que deve muitos de seus problemas a ele, conforme sempre disse a oposição?
8) Será que Flamarion continua vivendo no Estado?

terça-feira, novembro 09, 2004

Conversas



Ela disse:
- Conta-me um segredo teu.
Ele respondeu:
- Eu não. Vai que o usas depois contra mim.
Ela retrucou:
- Não sou dessas. Quem age assim é jornalista ou político. Eu sou apenas uma psicóloga.
Ele sorriu:
-Então chega mais...

segunda-feira, novembro 08, 2004

Coisas de jornalismo

Ricardo Kotscho limpa as gavetas para deixar a Assessoria de Imprensa do governo Lula, mas ainda é possível encontrar nas bancas a edição da Caros Amigos com o jornalista falando sobre o seu trabalho nos últimos dois anos.

A Agência Câmara noticia a retirada de tramitação do projeto de lei que cria o Conselho Federal de Jornalismo, apoiado por quem acredita que alguma coisa deve ser feita para quebrar a censura praticada pelos barões da mídia e criticado pelos que acreditam que o governo quer apenas determinar o que é bom ou ruim para ser veiculado. Nos dois lados, perceba-se, o discurso do acesso livre à informação.

No site do Marlen, um artigo sobre o CFJ questiona se vale a pena que exista e também outros assuntos referentes à profissão de jornalista.

Em Roraima, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais elege nova diretoria.

Enquanto isso, uma nova revolução parece estar a caminho. É o jornalismo na web renovando-se, conforme o Observatório da Imprensa. Agora é a vez de um jornal planetário, multilíngüe e sem donos.

sexta-feira, novembro 05, 2004

Profissões

Quem nasceu para pichador nunca chega a Howard Pyle, muito menos a Basquiat.

quarta-feira, novembro 03, 2004

Às mestras

Olha só, se és daqueles que acha que blog bom é aquele que é asséptico como um jornal, melhor pular este post e ir direto para os que estão lá embaixo. Ou então fecha a janela. O texto a seguir é repreensivelmente pessoal.
Continuas aí? Então agüenta, que hoje está quase brega.
Depois de um final de semana esticado, de ler o Cláudio falando de seus 26 felizes anos de casamento e o Nei comentando no mesmo post sobre como os amores nos ajudam a transpor obstáculos; de tomar ciência que meus pais completam 31 anos de casados em dezembro (com uma pausa para o almoço, que ninguém é de ferro); que meus avós maternos já completaram 55 anos de união; e conhecer a De falando sobre experiências de vida, comecei a pensar no que aprendi com meus romances.
Percebi, finalmente, o quanto as mulheres que beijei são responsáveis por parte do que sou (nada como poder jogar a culpa de nossos erros em mais alguém além de nossos pais).
Se não fossem elas, como poderia saber que há momentos para amar ao som de Bach ou de Mozart e outros em que Zeca Baleiro, Alcione ou uma salsa das antigas fazem muito bem as honras da casa? Ou então, aprender que ciúme é coisa tola, de quem não tem confiança em si mesmo?
Houve romances que me deram lições de cidadania, mostrando-me na prática que vale a pena caminhar alguns metros e colocar o copo ou a garrafa vazia na lixeira e não jogá-los na rua. Outros demonstraram que dizer bom dia todos os dias vale a pena, mesmo quando não há reciprocidade.
De tanto ensinar-me a ouvir, aprendi com elas que um "não" às vezes não é um "sim" (contrariando a lógica popular), mas quem sabe um "talvez" e que para desfrutar de alguns amores é preciso dividi-los com outras pessoas. Afinal, nem tudo na vida é feito de exclusividade.
Estas moças-professoras me ensinaram que marcar encontros com duas pessoas distintas na mesma hora nunca dá certo e que beijar amigas pode ser bom, mas às vezes pode ser uma batalha na qual se perde a amiga e não se ganha a mulher.
Elas me mostraram ser o silêncio necessário em certas ocasiões, principalmente quando choram e desmancham a imagem construída de mulheres quase insensíveis.
Entre as lições mais difíceis, a necessidade da confiança, do saber baixar a guarda para dar uma chance aos outros, mesmo que isso signifique expor alguns medos e segredos. Entre as fáceis, descobrir que amor não é tudo e que para alguns relacionamentos basta haver um pouco de carinho em encontros esporádicos.
Os romances afetaram até meu paladar (ah, te vi agora pensando em cenas de morango e chantilly como as do filme 9 semanas e meio de amor. Tsc, tsc, pega leve, leitor), fazendo-me descobrir que vez ou outra é sempre bom abastecer a geladeira com frutas, torradas e gelatina Royal para espantar a fome depois de rir e brincar.
Enfim, pensando um pouco mais, lembraria de muitas outras contribuições (e de algumas mágoas, com certeza), mas, bah, o que nunca conseguiram foi ensinar-me a dançar.
E tu, me diz aí nos comments, o que aprendestes com teus romances?

sábado, outubro 30, 2004

Sobre os concursados do governo de Roraima

Com toda a alegria que consegue transmitir por estar cumprindo suas obrigações, o governador Flamarion Portela (licenciado há cerca de um ano do PT , ou como diz o André, vítima de uma expulsão branca, por conta de um suposto envolvimento no Caso dos Gafanhofotos) convocou mil pessoas que havia sido aprovados no concurso público do Estado.
O total de vagas ofertadas no concurso passou das oito mil em diversas áreas. Com validade de dois anos, muitas pessoas têm medo de que o prazo expire e ninguém mais seja chamado.
O medo, a princípio injustificado se Roraima tivesse um histórico político diferente, baseia-se no aparente receio do governo em chamar os profissionais aprovados. As convocações vêm sendo feitas à base de pressão e reclamações, muitas reclamações na mídia.
Vale lembrar que Flamarion tem a seu favor o fato de ter quebrado com uma omissão que durava 12 anos. Os ex-governadores Ottomar Pinto e Neudo Campos (outro citado no escândalo dos servidores-fantasmas) preferiram deixar de lado essa bobagem de cumprir o que determina a lei e montar esquemas de contratações precárias que a Justiça considerou como feitos à medida para uso político-eleitoreiro.
Ao assumir e fazer o concurso, Flamarion ordenou uma limpa de mais de 12 mil nomes nos quadros do funcionalismo estadual, gerando revolta entre os aliados e os demitidos, mas encorpando o discurso do ajuste da máquina governamental ao que manda a Lei.
Mesmo assim, tem-se a impressão de que a coisa não foi bem assim.
Nesta semana, dois dias antes da convocação feita pelo petista licenciado, as informações de reportagem veiculada no jornal Folha de Boa Vista demonstram a quantas anda a vontade do governo em organizar a casa. Ou falta alguém que informe melhor e controle a secretária estadual de Educação, conhecida pela postura firme com que defende seus posicionamentos, na hora das entrevistas ou o concurso foi de fato uma balela.
Na matéria "Concursados denunciam ocupação ilegal de cargos na Educação", algumas pessoas reclamam da demora em serem chamados e da preferência dada a outras que sequer aprovaram no concurso e não teriam a escolaridade necessária para tanto.
Diz a matéria da Folha:
"Não fizemos concurso para quadro de reserva, mas para provimento de vagas", disse Matheus, lembrando que a elaboração do concurso público teve todo um custo para o Estado. "Inclusive, houve gastos com o assessor técnico que elaborou o planejamento por mais de R$ 250 mil, demonstrando a necessidade da contratação para o quadro do Estado", reforçou. "E agora dizem que não tem sequer local de trabalho para esses funcionários".

Aí vem a parte engraçada:

SECRETÁRIA - A Folha procurou a secretária estadual de Educação, Lenir Veras, que informou de início não ter nada a responder. Questionada sobre os direitos que estão pleiteando, ela disse que os concursados têm apenas "expectativa de direito".

Logo em seguida, a paulada:

Quanto à necessidade de mais servidores, Lenir disse que esse número está dentro do orçamento disponível na secretaria, embora tenha afirmado que o cargo sequer exista no quadro atual.
"Esse profissional será muito bem-vindo na secretaria, mas teremos que fazer algumas adaptações já que a função da qual eles fizeram o concurso não existe na secretaria, e acredito que farão mais o papel de assessoria", afirmou.
Sobre ao fato do concurso ter oferecido 201 vagas para essa função, Lenir Veras ressaltou que ela não estava à frente da secretaria e nem participou da comissão que aprovou o planejamento.
"Não sei qual o ânimo da comissão quando elaborou esse número, mas hoje o Estado tem a necessidade de diminuir o número de funcionários e de potencializar os recursos humanos, e uma pessoa fazer o serviço de dez", afirmou.
Ao ser questionada sobre as declarações de que funcionários estavam exercendo ilegalmente o cargo de analista educacional, ela foi incisiva: "Não existe ninguém, porque esse cargo não existe e não vamos inventar cargos para 201 pessoas", afirmou.
Diante das afirmações, ela foi indagada então do porquê de contratar os dez funcionários. "Por respeito à sociedade e à comissão que elaborou o planejamento. Mas que fique claro que não foi por pressão de ninguém e, como já falei, eles estão na expectativa de direito e temos que chamar alguém para dar satisfação à sociedade", frisou.

A matéria é isso. A parte interessante de tudo é esta declaração: "esse cargo não existe e não vamos inventar cargos para 201 pessoas", afirmou (a secretária).

Desorganização? Falta de comunicação entre quem pagou pelo concurso e as secretarias de Planejamento, Administração e Educação? Quem poderá saber, se todos estão satisfeitos com a convocação?

Em tempo, nenhum dos reclamantes na matéria está entre as 10 pessoas que foram convocadas pelo Governo para o tal cargo inexistente.

(este cronista foi um dos convocados. Mas como o salário é muuuiiiiiito baixo e não dá para bancar as contas fixas de cada mês, vai esperar a chamada para o cargo de nível superior em que foi aprovado. Outros jornalistas estão organizando uma campanha judicial para serem chamados rapidamente. Afinal, todas as vagas de Analistas de Comunicação Social estão ocupadas por não-concursados mas o atual governo insiste em falar que precisa primeiro organizar a casa para depois contratar quem vai tomar conta de sua imagem)

quinta-feira, outubro 28, 2004

De Zanny Adairalba, inspirada no post anterior.

O suicida

Um homem prestes a cometer suicídio.
CENÁRIO:
Janela de um apartamento no 27º andar.
O PENSAMENTO:
Minha mulher não liga mais pra mim!!
Minha mãe não liga mais pra mim!!!
Minha amante não liga mais pra mim!!!
Meus amigos não ...
O TELEFONE TOCA:
Por coincidência está em cima de sua mesa de estudo; bem próximo de suas mãos.
O PENSAMENTO:
Bolas!!! Quem inventa de ligar pra mim numa hora dessas???
UMA VOZ DESCONHECIDA:
Sr Djalma??
Sim!!???
Aqui quem está falando é Karla, do Serviço de telemarketing SPS (Salvamento a Possíveis Suicidas ) NÃO VÁ AGORA. O CÉU É APENAS UMA POSSIBILIDADE. O INFERNO SIM É UMA CERTEZA S.A.
Se o senhor está tentando suicídio com arma de fogo, tecle o número 1. Se for com arma branca tecle o número três. Se for no trilho do trem, tecle o número 5. Se for pular de algum edifício, tecle o número 7. Para outras opções mais criativas, tecle o número 9.
UMA AÇÃO:
O dedo inquieto aperta imediatamente o número nove.
A MESMA VOZ DESCONHECIDA:
Aguarde um momento. Vamos encaminhar o senhor para uma de nossas atendentes.
A MÚSICA DE ESPERA:
Tururururururulalaalalrurururtututu
UMA VOZ:
Serviço de telemarketing SPS (Salvamento a Possíveis Suicidas ) NÃO VÁ AGORA. O CÉU É APENAS UMA POSSIBILIDADE. O INFERNO SIM É UMA CERTEZA S.A., Bete, Booooom diaaaa!!!
UM SUÍCIDA CONFUSO:
B-bom di-a.
A PERGUNTA:
No que posso lhe ajudar???
UM INDÍVÍDUO INDIGNADO:
Ma...Mas foram vocês que ligaram para mim, ué!!!!!
A FORMALIDADE DAS ATENDENTES DE TELEMARKETING
Com quem estou falando Sr, por gentileza??
A IRA:
Djalma!!!!!!
Sr. Djalma, a sua vizinha nos ligou dizendo que o senhor está prestes a cometer suicídio. O senhor confirma?
A CALMA:
Sim. É ... é verdade!!!!
O senhor pretende fazer isto como, Sr. Djalma??
Pulando da janela de meu apartamento, ué!!!
Sr Djalma, eu estou aqui para lhe ajudar .... o Sr. está me ouvindo bem???
A ÚLTIMA ESPERANÇA:
Sim, minha filha. Estou lhe ouvindo muito bem.
Sr. Djalma, não se desespere. Confie em mim.
AS LÁGRIMAS:
Minha filha... então me dê um bom motivo para eu continuar vivo!!Todos me abandonaram!!!
Sr Djalma. Tenha fé. Eu não vou lhe abandonar. Acre...
O SOM:
Tu tu tu tu....
UMA LIGAÇÃO QUE CAI
UM OLHAR DE DESESPERO
UMA ÚLTIMA FRASE:
Ninguém liga pra mim. E quando liga...desliga na minha cara.

terça-feira, outubro 26, 2004

Coisas da vida

Há dias em que o corpo e a alma ficam mais suscetíveis a uma paixão.

Nesses dias, nem sequer as atendentes de telemarketing ligam para você.

segunda-feira, outubro 25, 2004

Domingo de teatro na praça

Por pouco, a oficina de interpretação realizada pela turma do Erro Grupo não acabou na delegacia. Os catarinenses, que estiveram em Roraima a convite do Sesc, promotor do projeto Palco Giratório, levaram os alunos para mostrar na rua à noite o que haviam aprendido durante a tarde.
Após receberam chamadas de supostos pais inconformados com a performance do ator Anderson, um dos participantes da oficina, Policiais Militares e Guardas Municipais apareceram no Portal do Milênio, uma das praças mais freqüentadas de Boa Vista, para saber qual o motivo daquele rapaz estar deitado sem camisa no chão e gritando como um louco na noite de domingo.
Convencer os Guardas foi fácil. Eles só queriam saber se aquilo ali era mesmo teatro. Pergunta até justificável no contexto, pensariam, afinal, gritar é atuar? Uma das atrizes do Erro, a (ai, ai) bonitona Dayana Zdebsky, já enfezada com a discussão, ameaçou mostrar a registro da DRT para provar a verdade de sua profissão. Não precisou.
Ao lado, um dos rapazes do grupo, com uma barba à Los Hermanos, travava um debate com um dos sujeitos que aluga carrinhos elétricos para as crianças passearem na praça. O rapaz queria a retirada dos atores, alegando que estavam assustando as crianças e que os pais haviam reclamado da performance. Com a sensatez de quem estava perdendo fregueses para o teatro, invocou a bíblia para justificar seu pedido-ordem. "Isso é coisa do diabo. As crianças não podem olhar isso", disse. O catarina barbudinho, coitado, ainda tentou ter uma conversa racional, citando arte, liberdade de ir e vir, direito de escolha...
Nesse momento, dois Policiais Militares já estavam a perigosos centímetros do ainda deitado no chão e berrante Anderson, que espertamente olhava para a noite de lua crescente em vez de encará-los.
Os PMs queriam parar tudo, sob a alegação de perturbação da ordem pública. Mas quem havia reclamado, além dos donos dos carrinhos? Pais, vários pais, respondeu o policial, sem ter em conta que estava rodeado por adultos e crianças em êxtase querendo saber o que estava acontecendo. As mesmas crianças que alguém alegara estarem com medo minutos atrás.
É um projeto teatral, é arte, alguém explicou. Isso é arte?, inquiriu com um sincero ar de desconhecimento. A explicar que comedia dell arte não é Casseta & Planeta e coxia nunca foi parente de quibe, é melhor ser pragmático na argumentação. É sim, é o encerramento de um curso, responderam outro clone de Los Hermanos, ops, ator do Erro, e Rosana, do Sesc Roraima. "Ah, mas então vocês deviam avisar as pessoas, explicar o que estão fazendo. É melhor parar e explicar", pediu.
Dayana, você, que tem uma voz forte, pede um segundo para o Anderson parar e grita bem alto que isso aqui é teatro? Ah, não. Não tenho como fazer isso, respondeu a (ai, ai) enfezada bonitona.
Quase nesse momento, o berrante Anderson, que talvez nunca tivesse visto tantos pés e pernas em torno dele, levantou como se nada, saiu andando com calma, não sem antes fazer uma debochada pose de Madame Satã, e foi aplaudido por todos os presentes. Fim do espetáculo, que ficou mais rico com a participação dos representantes da lei.
As outras intervenções transcorreram tranquilamente. Ninguém ameaçou o Renato (louco orientador), a Lidiane e o Marcos (a chorosa e o filósofo), a Joelma (noiva abandonada), a Kywsi e a Carol (animadoras) ou o restante dos 17 participantes da oficina.

Conclusões:

Deveríamos ter deixado os PMs levar o Anderson e a turma do Erro. Ia ser engraçado ler/ouvir a justificativa da idiota prisão na mídia. Sem contar que poderia ter vendido a matéria para o Diário Catarinense (manchete: atores catarinas são presos em Roraima por apresentar-se na praça) ou para o Diarinho do Litoral (Fim do mundo: Em Roraima, meganhas enfiam caras do teatro catarinense no xadrez).
No final, foi concluído que tudo pareceu uma briga do capital contra a arte. Venceu a arte, graças a Deus.
Surpreendeu-me como as pessoas questionaram os atores sobre o conhecimento, fé e obediência às leis de Cristo. Pus-me a pensar que ou o Filho do Homem não gostava de teatro ou fazia performances muito melhores de que as apresentadas no domingo.

sexta-feira, outubro 22, 2004

Declarações noturnas




Chega a noite na terra de ninguém
Batem sinos e botas. Hora de ir.
O cheiro de borracha mancha a mão.
Um velho fumante encosta a cabeça na parede.
Garrafas de aguardente tiram a sede.
Soldados com frio pagam por amar.
O som de carros vem de longe.
A moça mostra à irmã como enganar o pai.
Sorrisos falsos reforçam o combate.
Adjetivos declaram guerra a substantivos.
A queda d'água é como a queda da bolsa.
Crianças jogam basquete no cesto de lixo.
Completa-se a morte do sol.
Termina o tempo dos escritórios.
Gente contente mostra para todos:
Chegou a noite na terra de ninguém.

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Comerciais da Fronteira

O companheiro Marlen Lima republicou o post "Conversas Possíveis" no seu site. Alguns comentários dos leitores deste blog estão lá, além de uns acréscimos que podem ajudar a desvendar um pouco sobre a personalidade de Orib Ziedson.

Ainda na linha divulgação gratuita, recomendo lerem o fotolog da Adenice, integrante do desfeito Trio Barraco, para lerem suas reflexões sobre minha querida pessoa.

quarta-feira, outubro 20, 2004

Histórias

Patrícia é uma garota de família decente. Nunca transa com estranhos. Por isso sempre pergunta antes o nome das meninas e meninos com quem se relaciona.

Airton é contumazmente religioso. Ele conta que cada vez que queima um baseado, está a conversar com Deus.

Pedro está decepcionado com a indisposição juvenil para o estudo. Há dias não consegue convencer nenhum rapaz a estudar sua anatomia.

Helena é um poço de dúvidas. Não sabe se volta para o antigo namorado ou assume o romance com o colega de trabalho. Na incerteza, optou pelo rapaz que conheceu no pagode de domingo.


segunda-feira, outubro 18, 2004

Aplausos na noite quente de Boa Vista

Calor. Boa Vista abafada. Os próximos se afastam. Os distantes morrem. Pouco a pouco. Ou de vez. Mas todos os dias e sem deixar saudade.
Baudelaire, Marx, Milton Santos. Um pouco de The Commitments, The Doors e cinema peruano.
Vírus de computador. Placas-mãe defeituosas. Filhos problemáticos. Arquivos e vidas corrompidas. Memórias apagadas.
Religião. Fé. Intermediações entre o abstrato e o real...player.
Interpretações. Correções. Ciência. Racionalização. Novos tempos.
Teorias. Pragmatismo. Evolucionismo. Positivismo. O nada coletivo. Etnocentrismo. E histórias fantasiosas sobre relações harmoniosas entre os desiguais nos lavrados de Roraima.
Projetos. Ambições. Preços. Cada um, um preço. De preferência em dólar ou em euro. Melhor proposta. Melhor negócio. Aplausos. Coletivas. Um ébrio na noite aplaudido pelas baratas.
E Boa Vista continua quente. Até nas madrugadas.