Jornal Hoje, sábado,18 de março
Americanos jogam bombas nos rebeldes iraquianos
Estudantes franceses voltam às ruas para protestar contra uma lei que prejudica trabalhadores.
Gripe aviária. Também chamada de gripe do frango.
Conservação ambiental, moradores envolvidos, refúgio para ecoturistas.
Morte do ex-presidente da Iugoslávia. Imagens ao vivo da Sérvia. 50 mil choram o morte do "carniceiro dos Bálcãs".
Receita Federal libera mais um lote.
Como contribuir: simples ou completo?
PMDB em guerra interna por conta das prévias para escolher se sai com candidato próprio ao governo ou não.
PT discute o quadro político nacional e a crise com o Palocci, o conservador.
Encontro Nacional de Teatro de Rua em Angra dos Reis. Arte e alegria.
Acabou o jornal. Agora vou carregar as compras lá pra casa.
sábado, março 18, 2006
quinta-feira, março 16, 2006
Notícias rápidas da aldeia
O negócio tá corrido por aqui. Por conta do desmatamento para áreas de pastagens e plantio de soja e arroz, a caça está ficando cada vez mais distante. Daí, já viu, os homens da tribo estão saindo de manhã e retornando à noite, sem tempo para postar mais rotineiramente.
A cidade estava menos quente. Depois de um mês e pouco, choveu um pouquinho dia desses. Mesmo assim, às 8h já está insuportável o calor. É por isso que odeio dias de céu azul.
Minha avó completou ontem 80 anos de idade. A língua continua afiada e o corpo crescendo.
A Associação Cultural Angola Palmares conseguiu trazer de Salvador os mestres de capoeira Nô e Lázaro, manda-chuvas do grupo Palmares no Brasil, para uma semana de oficinas de movimentos, canto e instrumentos. Nô, com 61 anos de idade e 55 de roda, ainda agüenta jogar várias vezes seguidas com alunos dezenas de anos mais novos. É impressionante. Será sábado o VIII batizado e troca de cordas do grupo.
Já disse que está quente? É preço que se paga por morar na parte do hemisfério norte que fica perto da Linha do Equador.
A polícia continua fechando pontos de venda de gasolina venezuelana. Ano passado pegaram cerca de cem mil litros na estrada entre Santa Elena de Uairén e Boa Vista. Há quem ironicamente diga que todo esse trabalho coíbe o livre comércio entre os países e que assim não haverá Mercosul que agüente.
Acho que para postar com mais regularidade, vou assumir um costume antigo de homem branco: comprar a carne no açougue e restante da alimentação nos supermercados.
O negócio tá corrido por aqui. Por conta do desmatamento para áreas de pastagens e plantio de soja e arroz, a caça está ficando cada vez mais distante. Daí, já viu, os homens da tribo estão saindo de manhã e retornando à noite, sem tempo para postar mais rotineiramente.
A cidade estava menos quente. Depois de um mês e pouco, choveu um pouquinho dia desses. Mesmo assim, às 8h já está insuportável o calor. É por isso que odeio dias de céu azul.
Minha avó completou ontem 80 anos de idade. A língua continua afiada e o corpo crescendo.
A Associação Cultural Angola Palmares conseguiu trazer de Salvador os mestres de capoeira Nô e Lázaro, manda-chuvas do grupo Palmares no Brasil, para uma semana de oficinas de movimentos, canto e instrumentos. Nô, com 61 anos de idade e 55 de roda, ainda agüenta jogar várias vezes seguidas com alunos dezenas de anos mais novos. É impressionante. Será sábado o VIII batizado e troca de cordas do grupo.
Já disse que está quente? É preço que se paga por morar na parte do hemisfério norte que fica perto da Linha do Equador.
A polícia continua fechando pontos de venda de gasolina venezuelana. Ano passado pegaram cerca de cem mil litros na estrada entre Santa Elena de Uairén e Boa Vista. Há quem ironicamente diga que todo esse trabalho coíbe o livre comércio entre os países e que assim não haverá Mercosul que agüente.
Acho que para postar com mais regularidade, vou assumir um costume antigo de homem branco: comprar a carne no açougue e restante da alimentação nos supermercados.
quinta-feira, março 09, 2006
Elucubrações profissionais
Sou jornalista. Redator. Como não tenho boa dicção e carrego o sotaque da Venezuela, gosto mais das palavras escritas.
Ultimamente reviso mais do que escrevo.
Como revisor, edito diariamente diversos textos de meus colegas, além de outras coisas que chegam. Por isso estou sempre ocupado no MSN. (Sim, você trabalha e fica no MSN? Claro, uso-o com fins profissionais. É possível.)
Nenhum texto é intocável. No jornalismo não existe isso. Às vezes fico assustado com o quanto pode ser mexido numa matéria.
Aquela que há um minuto estava perfeita ou impossível de ser alterada, de repente, por diversos motivos, apresenta um enorme leque de possibilidades.
Tira, altera, acrescenta, ignora. Em caso de necessidade, consegue-se até driblar as leis da física, colocando letras onde não havia espaço.
Nessas horas, bate um orgulho do tipo "cara, foi f#%@ mas consegui!".
Sou jornalista. Redator. Como não tenho boa dicção e carrego o sotaque da Venezuela, gosto mais das palavras escritas.
Ultimamente reviso mais do que escrevo.
Como revisor, edito diariamente diversos textos de meus colegas, além de outras coisas que chegam. Por isso estou sempre ocupado no MSN. (Sim, você trabalha e fica no MSN? Claro, uso-o com fins profissionais. É possível.)
Nenhum texto é intocável. No jornalismo não existe isso. Às vezes fico assustado com o quanto pode ser mexido numa matéria.
Aquela que há um minuto estava perfeita ou impossível de ser alterada, de repente, por diversos motivos, apresenta um enorme leque de possibilidades.
Tira, altera, acrescenta, ignora. Em caso de necessidade, consegue-se até driblar as leis da física, colocando letras onde não havia espaço.
Nessas horas, bate um orgulho do tipo "cara, foi f#%@ mas consegui!".
terça-feira, março 07, 2006
Causos da Universidade
Corredor, intervalo entre uma aula e outra. O Paulinho, colega de sociologia, conta que roubaram sua bicicleta. Digo que já levaram seis minhas e relato cada situação. Pergunto onde o "dono" pegou a dele.
- Foi na biblioteca.
- Mas estava presa no bicicletário?
- Sim.
- Presa, com cadeado?
- Não.
- Pô, Paulinho! Assim também, né?! Pediu pra ser roubado!
- Mas, cara... A gente tá na universidade!
- Paulinho, ô, Paulinho! Fazer um curso superior não tira o instinto de ladrão de ninguém, cara!
- Hum...é mesmo...
(É duro ser o portador de más notícias.)
...................
No final da aula de Formação Sócio-Política e Econômica da Amazônia, o abaixo-assinado para pressionar o Congresso a aprovar um projeto de lei que criar juizados ou algo parecido para combater exclusivamente a violência contra a mulher.
- Ei, tu já assinou o abaixo-assinado?
- Do que é?
- Olha aqui, ô.
- Hum...Sim, vocês querem isso para que mesmo?
- Pra combater a violência contra a mulher. Pára com isso e assina logo.
- Eu não. Quer dizer que agora, além de não poder bater nos filhos, vão me privar do sagrado direito de relaxar com a minha mulher?
- Ai, eu não acredito que você está falando nisso.
- Tudo bem, eu assino. Mas com uma condição: façam um projeto de lei para o que o governo subsidie a compra de sacos de pancadas para todas as famílias.
(E lá fiquei eu, rindo de minha colega, obviamente irritada com o meu péssimo gosto para piadas politicamente incorretas. Do mesmo jeito que as minhas queridas visitantes devem estar agora.)
Corredor, intervalo entre uma aula e outra. O Paulinho, colega de sociologia, conta que roubaram sua bicicleta. Digo que já levaram seis minhas e relato cada situação. Pergunto onde o "dono" pegou a dele.
- Foi na biblioteca.
- Mas estava presa no bicicletário?
- Sim.
- Presa, com cadeado?
- Não.
- Pô, Paulinho! Assim também, né?! Pediu pra ser roubado!
- Mas, cara... A gente tá na universidade!
- Paulinho, ô, Paulinho! Fazer um curso superior não tira o instinto de ladrão de ninguém, cara!
- Hum...é mesmo...
(É duro ser o portador de más notícias.)
...................
No final da aula de Formação Sócio-Política e Econômica da Amazônia, o abaixo-assinado para pressionar o Congresso a aprovar um projeto de lei que criar juizados ou algo parecido para combater exclusivamente a violência contra a mulher.
- Ei, tu já assinou o abaixo-assinado?
- Do que é?
- Olha aqui, ô.
- Hum...Sim, vocês querem isso para que mesmo?
- Pra combater a violência contra a mulher. Pára com isso e assina logo.
- Eu não. Quer dizer que agora, além de não poder bater nos filhos, vão me privar do sagrado direito de relaxar com a minha mulher?
- Ai, eu não acredito que você está falando nisso.
- Tudo bem, eu assino. Mas com uma condição: façam um projeto de lei para o que o governo subsidie a compra de sacos de pancadas para todas as famílias.
(E lá fiquei eu, rindo de minha colega, obviamente irritada com o meu péssimo gosto para piadas politicamente incorretas. Do mesmo jeito que as minhas queridas visitantes devem estar agora.)
quinta-feira, março 02, 2006
Voltando ao normal...
Muito bem, a festa acabou, as colombinas voltaram para seus pierrôs e deve ter muita gente perguntando-se como foi que gastou todo aquele dinheiro na folia.
Em Boa Vista, o carnaval foi o mais tranqüilo dos últimos cinco anos. O policiamento ostensivo, câmeras de segurança e a proibição de vender caipirinha e bebidas em garrafas de vidro ajudaram muito para trazer paz à avenida do samba.
A festa começou na sexta e parou somente na terça-feira, quando desfilou a escola campeã. É, em Boa Vista temos escolas de samba que proporcionam verdadeiros espetáculos, fantásticos shows alegóricos somente comparáveis aos do Rio e Sampa, com tanta beleza que...Ok, exagerei nas tintas. São desfiles pobres, mas limpinhos. Falta organização às agremiações, falta mais iniciativa para deixar de depender dos repasses da prefeitura e do governo (que este ano chegaram a R$ 70 mil), faltam mulheres bonitas na pista, etc. etc.
Aliás, no concurso para escolher a rainha do carnaval, rolou um estresse entre as mães das candidatas. ?Sacumé, mãe de miss do samba também tem seus dias de glória e não vai ser a vagabunda da mãe daquela coisa horrorosa que vai atrapalhar isso?, poderia ter dito qualquer uma delas.
Da minha parte, foi apenas mais um carnaval de trabalho. Desde 1998 não folgo nestas datas. Desta vez, como estaria de plantão apenas no último dia da folia, até poderia ter escapado da cidade, mas a Zanny é da organização da festa e acabei indo todos os dias para tomar conta da morena, que fica eufórica neste período e gosta de cantar até ficar rouca e dançar até os pés incharem. A cada meio-dia, lá estava ela, prometendo, afônica, controlar seu gosto pela dança.
Muito bem, a festa acabou, as colombinas voltaram para seus pierrôs e deve ter muita gente perguntando-se como foi que gastou todo aquele dinheiro na folia.
Em Boa Vista, o carnaval foi o mais tranqüilo dos últimos cinco anos. O policiamento ostensivo, câmeras de segurança e a proibição de vender caipirinha e bebidas em garrafas de vidro ajudaram muito para trazer paz à avenida do samba.
A festa começou na sexta e parou somente na terça-feira, quando desfilou a escola campeã. É, em Boa Vista temos escolas de samba que proporcionam verdadeiros espetáculos, fantásticos shows alegóricos somente comparáveis aos do Rio e Sampa, com tanta beleza que...Ok, exagerei nas tintas. São desfiles pobres, mas limpinhos. Falta organização às agremiações, falta mais iniciativa para deixar de depender dos repasses da prefeitura e do governo (que este ano chegaram a R$ 70 mil), faltam mulheres bonitas na pista, etc. etc.
Aliás, no concurso para escolher a rainha do carnaval, rolou um estresse entre as mães das candidatas. ?Sacumé, mãe de miss do samba também tem seus dias de glória e não vai ser a vagabunda da mãe daquela coisa horrorosa que vai atrapalhar isso?, poderia ter dito qualquer uma delas.
Da minha parte, foi apenas mais um carnaval de trabalho. Desde 1998 não folgo nestas datas. Desta vez, como estaria de plantão apenas no último dia da folia, até poderia ter escapado da cidade, mas a Zanny é da organização da festa e acabei indo todos os dias para tomar conta da morena, que fica eufórica neste período e gosta de cantar até ficar rouca e dançar até os pés incharem. A cada meio-dia, lá estava ela, prometendo, afônica, controlar seu gosto pela dança.
sexta-feira, fevereiro 24, 2006
Ação - Poema
Esconda sua pele embaixo da minha
Beije-me logo depois, fale algo obsceno e sorria.
Seja sincera como só é possível ser na cama
Tatue em minha nuca uma mordida que mostre como você me ama.
Seja minha, seja inteira, seja lua
Mexa-se à minha frente, solta, simplesmente nua...
...........
Para quem vai de festa, boa festa.
Para quem vai trabalhar, bom trabalho.
quarta-feira, fevereiro 22, 2006
Dias de fevereiro
Tanto trabalho que falta ar...E ainda vem o trampo no carnaval...Final de semestre na facul...A busca desesperada por um tema para a monografia...O dinheiro que não aumenta...As necessidades que aumentam... A boneca do livro, que não consigo reencontrar...Reaproximações em andamento de amigos afastados...Estudos extras...
Tanto trabalho que falta ar...E ainda vem o trampo no carnaval...Final de semestre na facul...A busca desesperada por um tema para a monografia...O dinheiro que não aumenta...As necessidades que aumentam... A boneca do livro, que não consigo reencontrar...Reaproximações em andamento de amigos afastados...Estudos extras...
segunda-feira, fevereiro 20, 2006
Recordações
Falando sobre o passado, ela comentou:
- Antigamente, no começo do namoro, o banco de trás do carro era um bom palco para as lutas de amor.
Ele disse, espantado com a revelação:
- É mesmo? Você era disso?
Com um sorriso tímido, ela complementou, :
- É. Já fui meio louca, sabe? Mas hoje, depois de algum tempo de casada e um filho, o banco traseiro é somente um bom depósito de livros, comida e roupa.
terça-feira, fevereiro 14, 2006
Aula básica sobre economia ilegal de Boa Vista, Roraima
Em Boa Vista, compra-se gasolina contrabandeada da Venezuela a R$ 2,30. Nos postos, o combustível nacional custa entre R$ 2, 85 e R$ 2, 89. Na fronteira, a 230 quilômetros, os venezuelanos pagam o equivalente a 15 centavos de real por litro e os brasileiros, R$ 1, 50.
Em Boa Vista, consome-se muita cerveja Polar e Polar Ice, também trazida irregularmente da Venezuela. Há quem diga que causa dor de cabeça. Em quem bebe e em quem é pego pela polícia trazendo a mercadoria.
Boa Vista também importa produtos naturais. A turma da marijuana só consome erva vinda da Guiana, que no século passado só mandava porcelanas e coisas do lar para a cidade.
Já os que gostam de cocaína beneficiam-se de Roraima ser a porta de entrada no Brasil para parte da pasta que vai para a Europa via São Paulo. O produto é Made in Colômbia.
Outra fuga de divisas são as propinas pagas aos militares da Venezuela (e vez ou outra a policiais brasileiros lotados na fronteira) para passar esses produtos.
Roraima e Amazonas equilibram as importações mandando mulheres para serem prostitutas na Venezuela.
Em Boa Vista, compra-se gasolina contrabandeada da Venezuela a R$ 2,30. Nos postos, o combustível nacional custa entre R$ 2, 85 e R$ 2, 89. Na fronteira, a 230 quilômetros, os venezuelanos pagam o equivalente a 15 centavos de real por litro e os brasileiros, R$ 1, 50.
Em Boa Vista, consome-se muita cerveja Polar e Polar Ice, também trazida irregularmente da Venezuela. Há quem diga que causa dor de cabeça. Em quem bebe e em quem é pego pela polícia trazendo a mercadoria.
Boa Vista também importa produtos naturais. A turma da marijuana só consome erva vinda da Guiana, que no século passado só mandava porcelanas e coisas do lar para a cidade.
Já os que gostam de cocaína beneficiam-se de Roraima ser a porta de entrada no Brasil para parte da pasta que vai para a Europa via São Paulo. O produto é Made in Colômbia.
Outra fuga de divisas são as propinas pagas aos militares da Venezuela (e vez ou outra a policiais brasileiros lotados na fronteira) para passar esses produtos.
Roraima e Amazonas equilibram as importações mandando mulheres para serem prostitutas na Venezuela.
sexta-feira, fevereiro 10, 2006
Atitude
Parados em frente ao terreno baldio, ele fala para sua esposa:
- Bonita área, né? Foi uma compra e tanto.
- É meu amor, agora é só meter uma máquina para tirar esse mato.
Ele, num rompante de auto-afirmação masculina, afirmou:
- Que nada! Eu mesmo limpo isso aí. É rapidinho. Pra que pagar se posso dar conta?
Ela apenas o olhou de relance, sem falar nada, e ouviu imediatamente outra afirmação, dita enquanto ele, envergonhado, colocava a cabeça no seu ombro:
- OK, OK, tudo bem, é verdade! Não vou limpar nada mesmo. É muito mato e vou ter que pagar para isso!
Ela, carinhosa, o confortou:
- Isso, meu amor. A verdade é sempre a melhor coisa a se dizer.
quarta-feira, fevereiro 08, 2006
Gostos
Charmosa, aproximou-se de seu professor de inglês e disse:
- Teacher, sabia que eu acho um charme homem de óculos e que fala outra língua?
O professor parou de ler a sua revista, olhou para a moça e respondeu:
- Me too, baby. Me too.
sexta-feira, fevereiro 03, 2006
1991: welcome to the aldeia
Hoje completo 15 anos morando em Boa Vista. Cheguei na maior aldeia de Roraima no dia 3 de fevereiro de 1991. Era domingo e na rua de piçarra de minha casa redemoinhos de poeira se formavam.
No outro dia, já estava em sala de aula, cursando a oitava série sem conhecer ninguém e esforçando-me todos os dias para dominar o idioma. Desde então, visitar a Venezuela, só de ano em ano.
Daquele começo de década até este novo milênio muita coisa boa e ruim aconteceu.
O último laço com Guasipati, minha antiga cidade, foi cortado em dezembro de 2004, quando vendi a casa que tínhamos lá.
Fiz alguns amigos, ganhei muitas inimizades, engordei, emagreci, viajei pelo Brasil e parte da América, passei meses sem sair da cidade, virei jornalista e curso sociologia. (Recordando, jornalismo era a última das opções. As primeiras eram filosofia, psicologia e fisioterapia. Como à época não ofertavam esses cursos no Estado, fiquei dividido entre letras e comunicação social, escolhendo a última.)
Trabalhei como office boy, professor de espanhol, datilógrafo de trabalhos escolares e monitor dos projetos culturais do Sesc. Mas fui bom mesmo como desempregado profissional.
Depois de alguns anos economizando, comprei uma casa para meus pais, uma supermegahipermaxi bicicleta aluminum vermelho-linda com amortecedor frontal e um carro vagabundo para fazer o trecho casa-trabalho-faculdade e carregar as compras do supermercado. No balanço, acho que estou bem, levando em conta que nunca fui de planejar muito o futuro. Espero agora que venham outros dias, com muitas alegras e postagens agradáveis.
quinta-feira, fevereiro 02, 2006
Viagem pela BR 174
Leiam esta historinha digital da Mônica numa viagem à ilha de Margarita, procurada todos os anos por milhares de brasileiros de Roraima e do Amazonas para desfrutar das delícias do Caribe.
A HQ peca quando mostra cenas da família da dentucinha passeando à vontade na área indígena waimiri-atroari. Neste trecho, os carros não podem sequer estacionar, o que é lembrado a cada centena de metros por placas enormes. Também não é permitido fotografar os animais. Depois das 18h, carros particulares não passam, somente ônibus. O tráfego é liberado de manhã.
De qualquer forma, valeu a intenção.
Leiam esta historinha digital da Mônica numa viagem à ilha de Margarita, procurada todos os anos por milhares de brasileiros de Roraima e do Amazonas para desfrutar das delícias do Caribe.
A HQ peca quando mostra cenas da família da dentucinha passeando à vontade na área indígena waimiri-atroari. Neste trecho, os carros não podem sequer estacionar, o que é lembrado a cada centena de metros por placas enormes. Também não é permitido fotografar os animais. Depois das 18h, carros particulares não passam, somente ônibus. O tráfego é liberado de manhã.
De qualquer forma, valeu a intenção.
terça-feira, janeiro 31, 2006
Situações
Estava tão mal no mercado que quando tentou vender a alma, ainda teve que devolver algum ao comprador.
..........
Era um esforçado. A vida lhe deu limões e ele fez limonada para vender, mas não havia açúcar ou adoçante caindo do céu.
.........
Anunciou no jornal: procuro amor e trabalho. Sem experiência comprovada.
.........
Saiu correndo quando viu o rapaz com quem havia marcado um encontro às escuras. Conta que foi espanto a primeira vista.
quinta-feira, janeiro 26, 2006
Dias de janeiro
Ocupado.
Cansado.
Estudando, depois do fim da greve da universidade.
Sem dinheiro (Quando se é assalariado e o pagamento sai antes do prazo, o mês fica mais longo...)
Sem tempo para sonhar, apenas trabalho e leituras de sociologia das organizações, planejamento urbano e formação sócio-econômica da Amazônia.
Fechando mais um informativo de meu local de trabalho.
Vendo a chuva cair em dias inesperados.
Agora no orkut.
Pensando.
Cancelando, por enquanto, os encontros da Confraria Lúpulo com Guaraná, formada pelos Três Mosquiteiros (Nei Costa, Luiz Valério e eu) e Dona Dartanhã (Zanny Adairalba).
Ocupado.
Cansado.
Estudando, depois do fim da greve da universidade.
Sem dinheiro (Quando se é assalariado e o pagamento sai antes do prazo, o mês fica mais longo...)
Sem tempo para sonhar, apenas trabalho e leituras de sociologia das organizações, planejamento urbano e formação sócio-econômica da Amazônia.
Fechando mais um informativo de meu local de trabalho.
Vendo a chuva cair em dias inesperados.
Agora no orkut.
Pensando.
Cancelando, por enquanto, os encontros da Confraria Lúpulo com Guaraná, formada pelos Três Mosquiteiros (Nei Costa, Luiz Valério e eu) e Dona Dartanhã (Zanny Adairalba).
A Confraria
terça-feira, janeiro 17, 2006
Roraima blues
Entra sem avisar, muda a estação da rádio, me leva da bossa nova ao blues, do samba ao rock n' roll. Sorri, pareço um tonto, perco os sentidos ao entrar em seus olhos e notar a diferenças da vida.
Conversa comigo em uma língua estranha - não há dicionário para traduzir seu efeito. Morde minha orelha e diz que vinho bom é vinho quando se ama. Toco suas costas e conto cada poro com a boca. É uma conta sem fim.
De seus dedos, tocando-me, parece sair música. Danço o ritmo que ela quer. A angústia de sua chegada é como a angústia da partida.
Rio, choro, grito, maldigo seu efeito em mim. Não sou mais homem. Sou criança pedindo atenção, pássaro sem asas, sonhador rogando por imaginação.
Esfrega-se em mim e penso que Deus é justo, mesmo sem acreditar em divindades. Um riso em meu peito é um roce na pouca paz que ainda me resta. Depois me aperta, ajudando-me a não fugir de minha condenação. Fecho os olhos e acho que enfim sou feliz enquanto rabisca sua poesia para marcar em mim seu território. E a madrugada vira manhã, tarde, noite, infinito.
De repente, alma entregue, corpo submerso, navego, flutuo, deslizo até o vulcão. Queimo, rio, é janeiro e acho que chove lá fora.
quinta-feira, janeiro 12, 2006
Espirituosa
Ligeiramente cambaleante, depois de ser medicada para normalizar a pressão, que estava em 20 x 10, dona Maria José me diz na saída do hospital, quando a pego pelo braço para irmos até o carro:
- Eu estou bem. Não sei pra que tanta gente me segurando como se eu fosse cair.
- Quer dizer que a senhora está bem? Então vai caminhando até chegar em casa. É só pegar o retão da avenida e pronto.
Língua afiada, mente rápida e corpo cansado, minha avó responde:
- Meu filho, eu iria, mas o médico insistiu que devo repousar...
Ligeiramente cambaleante, depois de ser medicada para normalizar a pressão, que estava em 20 x 10, dona Maria José me diz na saída do hospital, quando a pego pelo braço para irmos até o carro:
- Eu estou bem. Não sei pra que tanta gente me segurando como se eu fosse cair.
- Quer dizer que a senhora está bem? Então vai caminhando até chegar em casa. É só pegar o retão da avenida e pronto.
Língua afiada, mente rápida e corpo cansado, minha avó responde:
- Meu filho, eu iria, mas o médico insistiu que devo repousar...
segunda-feira, janeiro 09, 2006
Aperfeiçoamento
Ao reler seus antigos textos, ele comentou:
- Nossa, como mudei meu estilo de escrever!
Ela não percebeu o auto-elogio implícito na frase e deixou escapar, enquanto assistia a um vídeo-documentário:
- Para mal ou pior?
Um estranho e emburrado silêncio tomou conta da casa por algumas horas.
sexta-feira, janeiro 06, 2006
Oníricos
Na mesma cidade, numa noite qualquer, duas pessoas com pouca amizade sonharam uma com a outra. Acharam absurdas as cenas e riram quando amanheceu e o sol os encontrou em suas camas, distantes vários quilômetros.
Dias depois, encontraram-se numa festa. Nunca trocaram mais de três palavras, o tradicional "olá, como vai?", e não foi neste dia que tudo mudou.
Na mente de cada um, a pergunta: o que aconteceria se contasse o seu sonho ao outro?
quarta-feira, janeiro 04, 2006
Mens sana in corpore sano
Depois de alguns meses, concluí a leitura de Pasajes de la Guerra Revolucionaria, coletânea de artigos escritos por Ernesto Che Guevara sobre o combate contra o regime batistiano em Cuba.
Encaro agora o Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa.
E quando dá tempo, pega minha megahipersuperbike de alumínio com amortecedores frontais e vou preparando o corpo para as primeiras trilhas deste ano.
E você, o que está lendo?
Depois de alguns meses, concluí a leitura de Pasajes de la Guerra Revolucionaria, coletânea de artigos escritos por Ernesto Che Guevara sobre o combate contra o regime batistiano em Cuba.
Encaro agora o Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa.
E quando dá tempo, pega minha megahipersuperbike de alumínio com amortecedores frontais e vou preparando o corpo para as primeiras trilhas deste ano.
E você, o que está lendo?
segunda-feira, janeiro 02, 2006
Metas para 2006
Agora que o ano começou, a euforia de um monte de pessoas já diminuiu e os carnês do IPTU, do IPVA e da escola particular de muito fulano já estão sendo impressos, causando pavor no orçamento, agora sim vale a pena estabelecer metas realistas a cumprir nos próximos dozes meses:
1) Concluir o curso de sociologia. Depois, farei como FHC e me tornarei presidente do Brasil, criando uma nova moeda, derrotando o PT em toda eleição e privatizando o que restar de empresa pública.
2) Reatar laços com algumas pessoas que deixei para trás nos últimos dois anos, especialmente, e cuja convivência me fazia bem. Mas se elas não quiserem, que se danem. Até hoje me virei muito bem sozinho sem elas.
3) Conseguir publicar o meu livro de crônicas e poesias. Já tem o patrocínio no esquema (Salve o Sesc Roraima!) e falta só o Nei entregar a boneca impressa para fazer os últimos ajustes.
4) Comprar um imóvel e construir ou alugar, transformando-me em um miniempresário do setor imobiliário.
5) Reduzir ou pelo menos conter o avanço dos quilos a mais. Essa sim é uma briga entre o corpo e a mente.
Cinco é um bom número. Mais do que isso é exagero. Alguém me lembre delas em dezembro, please.
Agora que o ano começou, a euforia de um monte de pessoas já diminuiu e os carnês do IPTU, do IPVA e da escola particular de muito fulano já estão sendo impressos, causando pavor no orçamento, agora sim vale a pena estabelecer metas realistas a cumprir nos próximos dozes meses:
1) Concluir o curso de sociologia. Depois, farei como FHC e me tornarei presidente do Brasil, criando uma nova moeda, derrotando o PT em toda eleição e privatizando o que restar de empresa pública.
2) Reatar laços com algumas pessoas que deixei para trás nos últimos dois anos, especialmente, e cuja convivência me fazia bem. Mas se elas não quiserem, que se danem. Até hoje me virei muito bem sozinho sem elas.
3) Conseguir publicar o meu livro de crônicas e poesias. Já tem o patrocínio no esquema (Salve o Sesc Roraima!) e falta só o Nei entregar a boneca impressa para fazer os últimos ajustes.
4) Comprar um imóvel e construir ou alugar, transformando-me em um miniempresário do setor imobiliário.
5) Reduzir ou pelo menos conter o avanço dos quilos a mais. Essa sim é uma briga entre o corpo e a mente.
Cinco é um bom número. Mais do que isso é exagero. Alguém me lembre delas em dezembro, please.
quarta-feira, dezembro 28, 2005
Crescimento
Ela disse:
- Amorzinho, vamos discutir o nosso relacionamento?
Ele respondeu, surpreso:
- Mas de novo? Toda semana é praticamente a mesma coisa!
Ela explicou sua atitude:
- Olha só: é tudo para o crescimento de nossa relação. Só isso.
Ele, olhando para baixo e sentando-se, resmungou:
- Se é para crescer, devias me chamar para jogar basquete ou vôlei...
segunda-feira, dezembro 26, 2005
Cenas de Natal
Para o dia 25, o governo estadual prometeu fazer a distribuição de brinquedos para as crianças de famílias carentes. Anunciou isso nas TVs, rádios, jornais e em carros nas ruas.
Os portões do estádio Flamarion Vasconcelos seriam fechados às 8h30, mas desde as 5h30 haveria ônibus rodando pela cidade, catando aqueles que encarassem a fila.
Às 4h30, retornando de uma madrugada de conversa, vinho, água e churrasco na fazenda urbana de Nei Costa, Zanny e eu vimos que já havia fila para receber os mimos do governo.
O governador Ottomar Pinto, que tem o costume de distribuir pintos, biquínis, peixe, iogurte, material de construção e terrenos, chegou às dez horas para fazer a distribuição.
Ao meio-dia, sob o sol forte de um dia de Roraima (só quem esteve aqui, sabe o que isso significa em termos de temperatura e ardência na pele), centenas de pessoas esperavam em frente ao estádio a chance de pegar um ônibus que as levassem de volta aos seus bairros. Aproveitavam a sombra de pequenas árvores para refugiar-se. Sob suas cabeças, as redes serviam de chapéus.
Quando chegava um ônibus, lá estavam crianças e adultos, carregando brinquedos e redes de dormir, empurrando-se para garantir um lugar e o retorno às suas casas.
Na minha cabeça, algo semelhante às cenas de retirantes e vítimas de guerras.
Às 16h, ainda havia pessoas esperando que os ônibus e vans alugadas pelo populista governo roraimense os levassem de volta aos seus bairros.
Mas é claro que também estavam lá famílias de renda maior que a maioria, com seus carros e roupas mais caras, apenas pela mesquinhez de receber algo supostamente dado de graça.
.......
No mesmo dia 25, a família Borges reuniu-se na maloquinha de minha mãe para um almoço. Se não fosse um comentário solto de meu pai, ninguém teria lembrado que os dois completavam 32 anos de casados. Foi flecha para tudo quanto foi lado.
.......
Hoje, 26, é dia de comemorar os 14 anos de Sângela, minha afilhada. Amanhã é dia de missa de um mês de morte do irmão da garota. No último 18, o guri completaria 17 anos. O tempo anda e, como disse Sângela, de tudo temos que tirar uma lição ou a vida fica só naquela coisa besta de ser.
Para o dia 25, o governo estadual prometeu fazer a distribuição de brinquedos para as crianças de famílias carentes. Anunciou isso nas TVs, rádios, jornais e em carros nas ruas.
Os portões do estádio Flamarion Vasconcelos seriam fechados às 8h30, mas desde as 5h30 haveria ônibus rodando pela cidade, catando aqueles que encarassem a fila.
Às 4h30, retornando de uma madrugada de conversa, vinho, água e churrasco na fazenda urbana de Nei Costa, Zanny e eu vimos que já havia fila para receber os mimos do governo.
O governador Ottomar Pinto, que tem o costume de distribuir pintos, biquínis, peixe, iogurte, material de construção e terrenos, chegou às dez horas para fazer a distribuição.
Ao meio-dia, sob o sol forte de um dia de Roraima (só quem esteve aqui, sabe o que isso significa em termos de temperatura e ardência na pele), centenas de pessoas esperavam em frente ao estádio a chance de pegar um ônibus que as levassem de volta aos seus bairros. Aproveitavam a sombra de pequenas árvores para refugiar-se. Sob suas cabeças, as redes serviam de chapéus.
Quando chegava um ônibus, lá estavam crianças e adultos, carregando brinquedos e redes de dormir, empurrando-se para garantir um lugar e o retorno às suas casas.
Na minha cabeça, algo semelhante às cenas de retirantes e vítimas de guerras.
Às 16h, ainda havia pessoas esperando que os ônibus e vans alugadas pelo populista governo roraimense os levassem de volta aos seus bairros.
Mas é claro que também estavam lá famílias de renda maior que a maioria, com seus carros e roupas mais caras, apenas pela mesquinhez de receber algo supostamente dado de graça.
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No mesmo dia 25, a família Borges reuniu-se na maloquinha de minha mãe para um almoço. Se não fosse um comentário solto de meu pai, ninguém teria lembrado que os dois completavam 32 anos de casados. Foi flecha para tudo quanto foi lado.
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Hoje, 26, é dia de comemorar os 14 anos de Sângela, minha afilhada. Amanhã é dia de missa de um mês de morte do irmão da garota. No último 18, o guri completaria 17 anos. O tempo anda e, como disse Sângela, de tudo temos que tirar uma lição ou a vida fica só naquela coisa besta de ser.
terça-feira, dezembro 20, 2005
sexta-feira, dezembro 16, 2005
Um ano lá, um ano aqui
Há um ano, às 16h45, estava em Lima, capital do Peru, entrando em um táxi para dirigir-me a uma estação de embarque da empresa de ônibus Cruz del Sur e viajar até a cidade de Arequipa, a caminho de Machu Picchu.
Passei uma noite e menos de um dia na capital peruana. Olhei pela primeira vez o oceano Pacífico, entrei em igrejas históricas, vi catacumbas cheias de ossos, caminhei no meio de uma cidade cerimonial da tribo Lima, no meio de um bairro residencial, e comi um prato sem gosto em um restaurante vagabundo.
Isso sem contar o péssimo negócio que fiz ao contratar um taxista como guia turístico. E foi um péssimo negócio em dólares.
E hoje, sexta-feira, exatamente um ano depois, estou aqui, numa pesquisa emocionante sobre a loja em que posso comprar latas de tinta por um preço mais baixo.
quinta-feira, dezembro 15, 2005
Imagens de Boa Vista
No sábado, na avenida Jaime Brasil, um dos centros comerciais da cidade, uma mulher com excesso de peso, saia branca curtíssima e botas de couro vermelhas chama a atenção às 10 horas da manhã.
............
Um coral formado por 140 crianças e adolescentes indígenas, moradores de comunidades de outro município, apresenta canções em wapichana no Palácio da Cultura durante a 1ª Mostra de Música Canta Roraima. São aplaudidos de pé.
Na frente do palco, uma indiazinha morta de sono, está como se diz no norte, "pescando um tambaqui". Entre um bocejo e uma fechada de olhos, a menina quase dorme enquanto canta.
............
A mulher sai da igreja, come um salgadinho, lava as mãos e volta para a missa, demonstrando como é limpinha. A água que tira a sua sujeira, por sinal, é a água benta dos fiéis. É ou não vandalismo religioso?
No sábado, na avenida Jaime Brasil, um dos centros comerciais da cidade, uma mulher com excesso de peso, saia branca curtíssima e botas de couro vermelhas chama a atenção às 10 horas da manhã.
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Um coral formado por 140 crianças e adolescentes indígenas, moradores de comunidades de outro município, apresenta canções em wapichana no Palácio da Cultura durante a 1ª Mostra de Música Canta Roraima. São aplaudidos de pé.
Na frente do palco, uma indiazinha morta de sono, está como se diz no norte, "pescando um tambaqui". Entre um bocejo e uma fechada de olhos, a menina quase dorme enquanto canta.
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A mulher sai da igreja, come um salgadinho, lava as mãos e volta para a missa, demonstrando como é limpinha. A água que tira a sua sujeira, por sinal, é a água benta dos fiéis. É ou não vandalismo religioso?
segunda-feira, dezembro 12, 2005
Da Série Ouvidos na Rua: o maior cachê do Brasil
O governo estadual promoveu uma feira agropecuária em um parque de exposições que fica nas redondezas de Boa Vista. Além dos bois e carneiros, umas das atrações mais esperadas era o show de Zezé de Camargo & Luciano. A dupla cantou neste domingo à noite.
A vontade do boa-vistense de assisti-los de graça provocou filas literalmente quilométricas, com as pessoas demorando até duas horas para concluir um trecho feito geralmente em 15 minutos. E isso tanto na ida como no retorno.
Por azar, a instalação elétrica da feira não agüentou a produção do show da dupla.
Hoje pela manhã, ao chegar na lanchonete ao lado do trabalho em busca de um café da manhã rápido, ouço os comentários dos freqüentadores:
- Rapaz, os caras receberam R$ 300 mil para tocar na exposição.
- É mesmo? E só conseguiram tocar três músicas por conta do problema da energia.
- Com certeza, é o maior cachê do Brasil. Cem paus por música.
- Estou admirado. Tanto remédio que dava para comprar com esse dinheiro.
- Tá vendo? Quem manda não saber cantar. Tu não é um dos filhos de Francisco...
O governo estadual promoveu uma feira agropecuária em um parque de exposições que fica nas redondezas de Boa Vista. Além dos bois e carneiros, umas das atrações mais esperadas era o show de Zezé de Camargo & Luciano. A dupla cantou neste domingo à noite.
A vontade do boa-vistense de assisti-los de graça provocou filas literalmente quilométricas, com as pessoas demorando até duas horas para concluir um trecho feito geralmente em 15 minutos. E isso tanto na ida como no retorno.
Por azar, a instalação elétrica da feira não agüentou a produção do show da dupla.
Hoje pela manhã, ao chegar na lanchonete ao lado do trabalho em busca de um café da manhã rápido, ouço os comentários dos freqüentadores:
- Rapaz, os caras receberam R$ 300 mil para tocar na exposição.
- É mesmo? E só conseguiram tocar três músicas por conta do problema da energia.
- Com certeza, é o maior cachê do Brasil. Cem paus por música.
- Estou admirado. Tanto remédio que dava para comprar com esse dinheiro.
- Tá vendo? Quem manda não saber cantar. Tu não é um dos filhos de Francisco...
terça-feira, dezembro 06, 2005
A vida continua
Aos poucos, a rotina volta. Nunca ao normal, isso é impossível, mas volta.
A vida anda e as certezas tornam-se raras. As que sobram, bem, é preciso duvidar se vamos viver muito tempo ou se tudo acaba amanhã.
Enquanto isso, trabalho, muito trabalho. E processo nas costas do Estado, por colocar incapazes nas ruas para tomar conta da insegurança.
Aos poucos vou retomar as visitas aos amigos blogueiros.
Beijos a todos.
Aos poucos, a rotina volta. Nunca ao normal, isso é impossível, mas volta.
A vida anda e as certezas tornam-se raras. As que sobram, bem, é preciso duvidar se vamos viver muito tempo ou se tudo acaba amanhã.
Enquanto isso, trabalho, muito trabalho. E processo nas costas do Estado, por colocar incapazes nas ruas para tomar conta da insegurança.
Aos poucos vou retomar as visitas aos amigos blogueiros.
Beijos a todos.
quinta-feira, dezembro 01, 2005
Lições
A morte de alguém próximo, além de dor, traz outras lições. Para mim, as mais importantes estão sendo valorizar cada momento passado com a família e perceber que é preciso passar mais tempo com ela.
Outra lição é mais uma confirmação sobre a fragilidade da vida.
Acima de todas elas, confirmo outra: pelos que ficaram e choram, é preciso continuar vivendo, caminhando em frente, mesmo sem saber o que nos espera na próxima esquina. Afinal, escreveu Fernando Pessoa, "viver não é preciso".
A morte de alguém próximo, além de dor, traz outras lições. Para mim, as mais importantes estão sendo valorizar cada momento passado com a família e perceber que é preciso passar mais tempo com ela.
Outra lição é mais uma confirmação sobre a fragilidade da vida.
Acima de todas elas, confirmo outra: pelos que ficaram e choram, é preciso continuar vivendo, caminhando em frente, mesmo sem saber o que nos espera na próxima esquina. Afinal, escreveu Fernando Pessoa, "viver não é preciso".
terça-feira, novembro 29, 2005
Imagine a PM matando seus parentes
Imagine acordar às quatro da madrugada ouvindo gritos desesperados na casa ao lado. Imagine perguntar a um rapaz e duas moças com os rostos desfigurados pela dor o que houve e receber como resposta que houve uma desgraça e a Força Tática da Polícia Militar matou Sandro Borges, seu primo de apenas 16 anos.
Imagine levar a sua afilhada, irmã de Sandro, até o 1° DP e depois até o Pronto Socorro dizendo-lhe apenas que o menino levou um tiro e está internado. Imagine seu choro ao ouvir a confirmação da morte pela bala da PM.
Imagine ligar para a mãe do rapaz pedindo para vir ao Pronto Socorro e somente lá, frente a frente, informá-la da morte do filho primogênito.
Imagine a solidão de ser o primeiro da família a ver na "pedra", embrulhado em um saco plástico negro o corpo rígido de seu primo, notar os buracos causados pela bala no braço esquerdo e no tórax, perceber sua palidez, lembrar que o viu na barriga da mãe, das muitas vezes que o carregou no colo, de como falava muito e alto, de sua extroversão, da sua paixão pela informática.
Imagine ter de comunicar a morte aos tios, dividir a responsabilidade de falar com a polícia técnica e ouvir, uma hora e meia depois, o rapaz que o acordou de madrugada dizer que ainda não havia conseguido prestar queixa.
Imagine entrar na casa de seus avós maternos às sete horas da manhã para comunicar-lhes, malditas lágrimas incontidas, que a PM chegou para apartar uma briga sem o devido preparo e atirou para cima, acertando Sandro, que estava escorado no parapeito da pizzaria, bem longe da confusão.
Agora, tente ouvir os gritos desesperados da avó e visualizar o avô caindo no sofá, em estado de choque. Avance um pouco no tempo e tente entender o que dois supostos investigadores da Força Tática tanto insistem em querer conversar com o médico legista, ouvi-los dizer ao pai do rapaz que sabem de sua dor e lamentam o ocorrido.
Abra um parêntese para ouvir e ver o pai do menino lembrando de cada frase dita no seu último encontro, na sexta-feira 25, de como se tratavam, das gírias do filho, de seu tão próprio "valeu, men!", das noites jantando juntos, das confidências, de como quer justiça.
Feche o parêntese, espere seis horas pela liberação do corpo, providencie o velório, tente comer um pouco apenas para não cair de fraqueza, vá até o local da cerimônia e note como o menino era querido pelos colegas de escola e festa. Perceba a estupefação no rosto de dezenas de adolescentes, ouça seu choro, seus questionamentos sobre a ação da polícia, olhe no outro lado da rua, sentado na calçada, ainda desesperado, o rapaz que o levou até o Pronto Socorro e conta ter sido fechado três vezes pelo carro da PM, que não queria que levassem o corpo para ser atendido.
Abra novo parênteses e ouça, na segunda-feira 28, o comandante da PM dizer que há sempre várias versões em todo caso, todas sempre contraditórias, mas a "concreta" é a contada pelos seus subordinados. Tente distinguir aonde vai parar o inquérito da corporação e note as nuances de tendenciosidade.
Enterre seu primo, console seus familiares, ouça as palavras dos amigos antes de fecharem a cova, a voz desesperada do pai. Volte para casa e converse com seu avô, escrivão e delegado de polícia na época do Território Federal de Roraima. Imagine o esforço que ele faz, prostrado na cama, para murmurar que na segunda seguinte iria com o menino checar preços de computadores para presenteá-lo. Acrescente a isso que aquele domingo fatídico era para ser um dia de festa e passeio familiar no sítio de amigos para comemorar o nascimento, no mesmo dia, de mais uma prima de Sandro.
Agora, resuma tudo isso no desconforto trazido pela realidade da morte, na estúpida esperança do retorno da normalidade, de que tudo foi um sonho, na lembrança recorrente de momentos passados juntos com o menino, quando ele falava bobagens ou quando parava ouvir histórias de adultos. Acrescente o medo de que algo assim atinja outros parentes e está o formado o quadro das famílias de Sandro, chamado em casa de Taffarel e na rua de Ômega.
Depois de todo este esforço, lembre que este é o terceiro ou quarto caso de morte envolvendo policiais civis e militares neste ano e pense para onde vai todo o dinheiro investido na capacitação destas pessoas.
Imagine acordar às quatro da madrugada ouvindo gritos desesperados na casa ao lado. Imagine perguntar a um rapaz e duas moças com os rostos desfigurados pela dor o que houve e receber como resposta que houve uma desgraça e a Força Tática da Polícia Militar matou Sandro Borges, seu primo de apenas 16 anos.
Imagine levar a sua afilhada, irmã de Sandro, até o 1° DP e depois até o Pronto Socorro dizendo-lhe apenas que o menino levou um tiro e está internado. Imagine seu choro ao ouvir a confirmação da morte pela bala da PM.
Imagine ligar para a mãe do rapaz pedindo para vir ao Pronto Socorro e somente lá, frente a frente, informá-la da morte do filho primogênito.
Imagine a solidão de ser o primeiro da família a ver na "pedra", embrulhado em um saco plástico negro o corpo rígido de seu primo, notar os buracos causados pela bala no braço esquerdo e no tórax, perceber sua palidez, lembrar que o viu na barriga da mãe, das muitas vezes que o carregou no colo, de como falava muito e alto, de sua extroversão, da sua paixão pela informática.
Imagine ter de comunicar a morte aos tios, dividir a responsabilidade de falar com a polícia técnica e ouvir, uma hora e meia depois, o rapaz que o acordou de madrugada dizer que ainda não havia conseguido prestar queixa.
Imagine entrar na casa de seus avós maternos às sete horas da manhã para comunicar-lhes, malditas lágrimas incontidas, que a PM chegou para apartar uma briga sem o devido preparo e atirou para cima, acertando Sandro, que estava escorado no parapeito da pizzaria, bem longe da confusão.
Agora, tente ouvir os gritos desesperados da avó e visualizar o avô caindo no sofá, em estado de choque. Avance um pouco no tempo e tente entender o que dois supostos investigadores da Força Tática tanto insistem em querer conversar com o médico legista, ouvi-los dizer ao pai do rapaz que sabem de sua dor e lamentam o ocorrido.
Abra um parêntese para ouvir e ver o pai do menino lembrando de cada frase dita no seu último encontro, na sexta-feira 25, de como se tratavam, das gírias do filho, de seu tão próprio "valeu, men!", das noites jantando juntos, das confidências, de como quer justiça.
Feche o parêntese, espere seis horas pela liberação do corpo, providencie o velório, tente comer um pouco apenas para não cair de fraqueza, vá até o local da cerimônia e note como o menino era querido pelos colegas de escola e festa. Perceba a estupefação no rosto de dezenas de adolescentes, ouça seu choro, seus questionamentos sobre a ação da polícia, olhe no outro lado da rua, sentado na calçada, ainda desesperado, o rapaz que o levou até o Pronto Socorro e conta ter sido fechado três vezes pelo carro da PM, que não queria que levassem o corpo para ser atendido.
Abra novo parênteses e ouça, na segunda-feira 28, o comandante da PM dizer que há sempre várias versões em todo caso, todas sempre contraditórias, mas a "concreta" é a contada pelos seus subordinados. Tente distinguir aonde vai parar o inquérito da corporação e note as nuances de tendenciosidade.
Enterre seu primo, console seus familiares, ouça as palavras dos amigos antes de fecharem a cova, a voz desesperada do pai. Volte para casa e converse com seu avô, escrivão e delegado de polícia na época do Território Federal de Roraima. Imagine o esforço que ele faz, prostrado na cama, para murmurar que na segunda seguinte iria com o menino checar preços de computadores para presenteá-lo. Acrescente a isso que aquele domingo fatídico era para ser um dia de festa e passeio familiar no sítio de amigos para comemorar o nascimento, no mesmo dia, de mais uma prima de Sandro.
Agora, resuma tudo isso no desconforto trazido pela realidade da morte, na estúpida esperança do retorno da normalidade, de que tudo foi um sonho, na lembrança recorrente de momentos passados juntos com o menino, quando ele falava bobagens ou quando parava ouvir histórias de adultos. Acrescente o medo de que algo assim atinja outros parentes e está o formado o quadro das famílias de Sandro, chamado em casa de Taffarel e na rua de Ômega.
Depois de todo este esforço, lembre que este é o terceiro ou quarto caso de morte envolvendo policiais civis e militares neste ano e pense para onde vai todo o dinheiro investido na capacitação destas pessoas.
sábado, novembro 26, 2005
Tempo, onde estás que não te vejo?
Tempo pouco, muito trabalho. De manhã, tarde e noite. E hoje, sábado.
Boa Vista hoje está quente, mas choveu no começo da semana.
Começou na quinta a Feira do Empreendedor do Sebrae. Empresário de Roraima e Amazonas, estrutura bacana, muita coisa para se ver no parque Anauá.
Na praça do Centro Cívico, trabalhamos desde quinta, eu e Zanny, cada um na sua área, no primeiro arraial Boa Vista Junina Fora de Época.
Na sexta (28), teve de tudo: grupo folclórico venezuelano, quadrilhas juninas, a banda de reggae Guybraz e as de rock Mr. Jungle, Garden e Lepthos. Devem agradecer à Zanny, que insistiu que o nome da festa, "São João dos Ritmos", deveria justificar-se na variedade de estilos musicais. A noite terminou com forró, claro.
Na frente de uma das barracas de alimentação, a pergunta do senhor:
- Amanhã vai ter?
- O que?
- Amanhã vai ter festa?
- Claro, a partir das sete da noite. Amanhã tem boi-bumbá, com o pessoal do Garantido.
- E vai ser de graça?
Penso se ele notou que é uma festa pública, no meio de uma praça.
- Sim, senhor. Aqui não se paga nada
- Vai ter carne de boi de graça?
- Hã?
Jovens descendentes dos índios da região passeiam pela praça. No rosto e na pele, a origem declarada. No pescoço, um colar de sementes amazônicas. Na orelha, um brinco de ouro. Adoro estas imagens.
Na Ilha do Forró, um palco afastado, capoeira com o grupo Angola Palmares, músicas e teatro cristãos com os jovens do Jocum e forró pé-de-serra com a banda Xaxado da Paraíba. De fato, em vários anos cobrindo as festas municipais, nunca vi tanta diversidade.
Agora, tempo de voltar ao trabalho, sem hora extra, mas rezando para adiantar algo ou a segunda vai ser curta de novo.
Visito quando der.
Tempo pouco, muito trabalho. De manhã, tarde e noite. E hoje, sábado.
Boa Vista hoje está quente, mas choveu no começo da semana.
Começou na quinta a Feira do Empreendedor do Sebrae. Empresário de Roraima e Amazonas, estrutura bacana, muita coisa para se ver no parque Anauá.
Na praça do Centro Cívico, trabalhamos desde quinta, eu e Zanny, cada um na sua área, no primeiro arraial Boa Vista Junina Fora de Época.
Na sexta (28), teve de tudo: grupo folclórico venezuelano, quadrilhas juninas, a banda de reggae Guybraz e as de rock Mr. Jungle, Garden e Lepthos. Devem agradecer à Zanny, que insistiu que o nome da festa, "São João dos Ritmos", deveria justificar-se na variedade de estilos musicais. A noite terminou com forró, claro.
Na frente de uma das barracas de alimentação, a pergunta do senhor:
- Amanhã vai ter?
- O que?
- Amanhã vai ter festa?
- Claro, a partir das sete da noite. Amanhã tem boi-bumbá, com o pessoal do Garantido.
- E vai ser de graça?
Penso se ele notou que é uma festa pública, no meio de uma praça.
- Sim, senhor. Aqui não se paga nada
- Vai ter carne de boi de graça?
- Hã?
Jovens descendentes dos índios da região passeiam pela praça. No rosto e na pele, a origem declarada. No pescoço, um colar de sementes amazônicas. Na orelha, um brinco de ouro. Adoro estas imagens.
Na Ilha do Forró, um palco afastado, capoeira com o grupo Angola Palmares, músicas e teatro cristãos com os jovens do Jocum e forró pé-de-serra com a banda Xaxado da Paraíba. De fato, em vários anos cobrindo as festas municipais, nunca vi tanta diversidade.
Agora, tempo de voltar ao trabalho, sem hora extra, mas rezando para adiantar algo ou a segunda vai ser curta de novo.
Visito quando der.
segunda-feira, novembro 21, 2005
Ouvidos na rua: declaração de amor
No saguão do aeroporto de Boa Vista, depois de uma noite na balada, um casal de amigos e eu comemos alguma coisa enquanto o sol nasce. Ele fala de vários assuntos e comenta sobre o amor. Ela retruca algo sobre ele ser muito seco no relacionamento e olha para a rua. Ele, estudante de química da Universidade Federal de Roraima, passional na vida e na ciência, lhe diz:
- O meu amor por ti não é químico e nem físico, é natural.
Ela continua olhando para a rua e eu, fascinado com a frase, lhe pergunto o que achou de tal declaração de amor. Ela me olha e diz:
- Hã? Declaração de amor? Que declaração de amor? Não ouvi nada. Estava olhando para a rua...Dá para repetir?..
No saguão do aeroporto de Boa Vista, depois de uma noite na balada, um casal de amigos e eu comemos alguma coisa enquanto o sol nasce. Ele fala de vários assuntos e comenta sobre o amor. Ela retruca algo sobre ele ser muito seco no relacionamento e olha para a rua. Ele, estudante de química da Universidade Federal de Roraima, passional na vida e na ciência, lhe diz:
- O meu amor por ti não é químico e nem físico, é natural.
Ela continua olhando para a rua e eu, fascinado com a frase, lhe pergunto o que achou de tal declaração de amor. Ela me olha e diz:
- Hã? Declaração de amor? Que declaração de amor? Não ouvi nada. Estava olhando para a rua...Dá para repetir?..
quinta-feira, novembro 17, 2005
Retrato íntimo
Gotas de euforia
escorrem pelo corpo dos amantes.
Com olhos semi-abertos,
o que vêem pela frente é tudo,
menos real.
Mãos firmes, temerosas, rápidas, lentas.
Viajam nos sentidos.
O movimento e o quarto trancado
aceleram a respiração.
A pele brilha, rostos se contraem.
Para um deve estar próximo o ápice.
Palavras obscenas são ditas.
Juramentos sem nexo são feitos.
As bocas se abrem, unhas pedem carne.
Os corpos se enroscam e as mãos
estão tomadas pelo suor.
Bendito suor.
O coração bate mais forte,
o ato fica mais intenso.
Em segundos, um deles
conhecerá um pouco do paraíso.
Making Of: texto velho, das antigas, literalmente do século passado.
segunda-feira, novembro 14, 2005
Histórias de índio: lançamento musical
Agosto de 2001. Há quase um mês em São Paulo, embarco para Florianópolis para passar uns dias na ilha enquanto não sai o resultado da prova anual promovida pelo Estadão para incluir no seu programa de treinamento estudantes de jornalismo no último ano do curso ou recém formados.
De Floripa, saio direto para a Penha, ciceroneado por Rodrigo, irmão de minha amiga Carla Cavalheiro. Gente muitíssimo boa, o guri, que nunca havia me visto na vida, aceitou o encargo de me mostrar um pouco do litoral de Santa Catarina.
Rodrigo é professor de oceanografia e surfista, daqueles que gosta de morar na beira da praia para pegar onda toda manhã. Bom guia turístico, ele sabe que a Penha não é o melhor local para divertir-se à noite. Por isso, atravessa alguns municípios e vamos cair em Balneário Camboriú, acompanhados pelo Gaúcho, seu colega de faculdade.
Em Balneário, olhando os out-doors, ficamos sabendo que rola num bar uma festa com uma banda que Rodrigo conhece de nome. A casa está lotada para ouvir o roquenrol d?Os Chefes. Bom show, gente bonita, o público e os músicos muito animados. De repente, Os Chefes tocam uma canção em inglês e todos acompanham. Olho para os lados e fico admirado com a resposta do pessoal. Será que é um lançamento, uma música que estourou durante a minha viagem? ? penso, sem conseguir identificar a melodia.
De volta a Roraima, meses depois pego emprestado um CD com os grandes sucessos de uma banda e ouço a música de Balneário Camboriú. O que eu pensava ser uma novidade era na verdade Roadhouse Blues, do The Doors, lançada em 1970.
Santo desconhecimento musical, culpa de uma vida cheia de salsa, merengue, calipso, vallenato, rancheras e outros ritmos mais latinos. A parte boa é que no Grammy Latino consigo perceber as bobagens que o pessoal do SBT fala de vez em quando.
Agosto de 2001. Há quase um mês em São Paulo, embarco para Florianópolis para passar uns dias na ilha enquanto não sai o resultado da prova anual promovida pelo Estadão para incluir no seu programa de treinamento estudantes de jornalismo no último ano do curso ou recém formados.
De Floripa, saio direto para a Penha, ciceroneado por Rodrigo, irmão de minha amiga Carla Cavalheiro. Gente muitíssimo boa, o guri, que nunca havia me visto na vida, aceitou o encargo de me mostrar um pouco do litoral de Santa Catarina.
Rodrigo é professor de oceanografia e surfista, daqueles que gosta de morar na beira da praia para pegar onda toda manhã. Bom guia turístico, ele sabe que a Penha não é o melhor local para divertir-se à noite. Por isso, atravessa alguns municípios e vamos cair em Balneário Camboriú, acompanhados pelo Gaúcho, seu colega de faculdade.
Em Balneário, olhando os out-doors, ficamos sabendo que rola num bar uma festa com uma banda que Rodrigo conhece de nome. A casa está lotada para ouvir o roquenrol d?Os Chefes. Bom show, gente bonita, o público e os músicos muito animados. De repente, Os Chefes tocam uma canção em inglês e todos acompanham. Olho para os lados e fico admirado com a resposta do pessoal. Será que é um lançamento, uma música que estourou durante a minha viagem? ? penso, sem conseguir identificar a melodia.
De volta a Roraima, meses depois pego emprestado um CD com os grandes sucessos de uma banda e ouço a música de Balneário Camboriú. O que eu pensava ser uma novidade era na verdade Roadhouse Blues, do The Doors, lançada em 1970.
Santo desconhecimento musical, culpa de uma vida cheia de salsa, merengue, calipso, vallenato, rancheras e outros ritmos mais latinos. A parte boa é que no Grammy Latino consigo perceber as bobagens que o pessoal do SBT fala de vez em quando.
sexta-feira, novembro 11, 2005
Da série Redatores da Fronteira: Ontem e hoje
Ygara Cauã é o pseudônimo de um companheiro que diz ainda sentir alguma coisa por um amor de seu passado e ao mesmo tempo quer mantê-lo bem longe. Aliás, tão longe que foi embora para o planalto central. Vá entender esse povo.
ONTEM E HOJE, MAS E DAÍ?
Por Ygara Cauã
Te amar foi algo que sempre desejei, e consegui
Não te amar foi algo que nunca quis, mas sempre temi
Te perder foi algo que não sonhei, mas vivi
Quando te perdi, foi tudo que não quis
Hoje sigo em frente, mesmo me achando feliz
Olho para trás e te vejo, talvez nem mais te ame
Quem sabe apenas só queira te ver, talvez...talvez
Só para sentir o que não existe mais
Sonho com você quase todas noites, e que ninguém me reclame
Amo sem querer, apenas deixo o coração bater mais
E sem dúvida deixo tudo só para te ter mais uma vez
Ainda que de nada possa valer, só quero poder te dizer
Mais uma vez, te amo e sinto que sempre te amarei
Nem sei se isso é o certo, mas dentro de mim parece ser o que espero
Mas nem que queira, e você nem foi demais
Foi eu que esperei e sonhei demais, mas não me arrependo
Sigo com a garganta embargada, a voz camuflada
Sonho tudo que não se sonha mais
Mas o que fazer se nada se faz mais
Bem que ensaio e no fim acabo dando só uma risada
Sem medo devo reconhecer que te amo
E quem sabe devo ser o responsável pelos erros
Tolo, sozinho procurei encontrar
Na fome de amar só quis acertar
Ainda que no fundo só queria estar ao teu lado
Sei que tudo agora é mais que um sonho, um belo pesadelo
Vivido todas as noites
Não choro, não nego, não temo
Aceito, disfarço, e ainda saio de lado
Tenho só um leve sorriso, que te dou de graça
Como meu amor, que hoje não tem graça
Mas você nem gosta de poesia, e nem eu gosto de você
Só te amo, mas não te quero
Só quero uma chance, de acordar ao teu lado
Ter teus cabelos desgrenhados ao meu lado
Te olhar com os olhos enlaçados
Te amar ainda que mal amado
Te amo!
Ygara Cauã é o pseudônimo de um companheiro que diz ainda sentir alguma coisa por um amor de seu passado e ao mesmo tempo quer mantê-lo bem longe. Aliás, tão longe que foi embora para o planalto central. Vá entender esse povo.
ONTEM E HOJE, MAS E DAÍ?
Por Ygara Cauã
Te amar foi algo que sempre desejei, e consegui
Não te amar foi algo que nunca quis, mas sempre temi
Te perder foi algo que não sonhei, mas vivi
Quando te perdi, foi tudo que não quis
Hoje sigo em frente, mesmo me achando feliz
Olho para trás e te vejo, talvez nem mais te ame
Quem sabe apenas só queira te ver, talvez...talvez
Só para sentir o que não existe mais
Sonho com você quase todas noites, e que ninguém me reclame
Amo sem querer, apenas deixo o coração bater mais
E sem dúvida deixo tudo só para te ter mais uma vez
Ainda que de nada possa valer, só quero poder te dizer
Mais uma vez, te amo e sinto que sempre te amarei
Nem sei se isso é o certo, mas dentro de mim parece ser o que espero
Mas nem que queira, e você nem foi demais
Foi eu que esperei e sonhei demais, mas não me arrependo
Sigo com a garganta embargada, a voz camuflada
Sonho tudo que não se sonha mais
Mas o que fazer se nada se faz mais
Bem que ensaio e no fim acabo dando só uma risada
Sem medo devo reconhecer que te amo
E quem sabe devo ser o responsável pelos erros
Tolo, sozinho procurei encontrar
Na fome de amar só quis acertar
Ainda que no fundo só queria estar ao teu lado
Sei que tudo agora é mais que um sonho, um belo pesadelo
Vivido todas as noites
Não choro, não nego, não temo
Aceito, disfarço, e ainda saio de lado
Tenho só um leve sorriso, que te dou de graça
Como meu amor, que hoje não tem graça
Mas você nem gosta de poesia, e nem eu gosto de você
Só te amo, mas não te quero
Só quero uma chance, de acordar ao teu lado
Ter teus cabelos desgrenhados ao meu lado
Te olhar com os olhos enlaçados
Te amar ainda que mal amado
Te amo!
quinta-feira, novembro 10, 2005
Um ano
Hoje completo um ano de namoro com a Zanny
12 meses de convivência quase diária
12 meses de risos e conversas
De momentos tensos e momentos felizes
Um ano de muita luta e algumas conquistas
De mudanças literais e comportamentais
De muita reza contra o mau-olhado
De muita surpresa com os comentários alheios
De vadiação nas madrugadas
De meus sermões e os seus "eu sei"
De piadas feitas para deixá-la sem graça
De mostrar que o mundo pode ser visto de outras formas
De muito salsa, pop e reggae
De teatro e dança,
De poesia e arte para alimentar a alma
De sexo e rock and roll para acalmar o corpo
Afinal, ninguém é santo nesta terra.
12 meses de morenidade
12 meses de olhos castanho-claros que ela jurava serem negros
(Vá entender esse tipo de daltonismo que ela tem)
De rir de seus medos e constrangimentos
De constrangê-la para rir.
De inventar diálogos absurdos
E esquecê-los antes que virem textos humorísticos
Perdendo a chance de ganhar dinheiro com eles (arg!!)
12 meses de pensar que cada dia será um bom dia (ou não).
De muitos e-mails e postagens
E alguns indesejáveis quilinhos a mais.
Hoje completo um ano de namoro com a Zanny
12 meses de convivência quase diária
12 meses de risos e conversas
De momentos tensos e momentos felizes
Um ano de muita luta e algumas conquistas
De mudanças literais e comportamentais
De muita reza contra o mau-olhado
De muita surpresa com os comentários alheios
De vadiação nas madrugadas
De meus sermões e os seus "eu sei"
De piadas feitas para deixá-la sem graça
De mostrar que o mundo pode ser visto de outras formas
De muito salsa, pop e reggae
De teatro e dança,
De poesia e arte para alimentar a alma
De sexo e rock and roll para acalmar o corpo
Afinal, ninguém é santo nesta terra.
12 meses de morenidade
12 meses de olhos castanho-claros que ela jurava serem negros
(Vá entender esse tipo de daltonismo que ela tem)
De rir de seus medos e constrangimentos
De constrangê-la para rir.
De inventar diálogos absurdos
E esquecê-los antes que virem textos humorísticos
Perdendo a chance de ganhar dinheiro com eles (arg!!)
12 meses de pensar que cada dia será um bom dia (ou não).
De muitos e-mails e postagens
E alguns indesejáveis quilinhos a mais.
sexta-feira, novembro 04, 2005
Ressurgindo das cinzas, a quase esquecida série Redatores da Fronteira
A seguir, poemas de amor, alegria e vida de Adilia Quintelas, cantora, compositora e mulher apaixonada que descubriu no seu atual amor que a poesia é como a vida: sempre há algo novo a ser descoberto.
Sorriso entre sorrisos
Transparente e preciso
Preciso esse sorriso
Precisamente o teu!
..........
Luz plena
Manhã serena
Verdes campos onde passeio meus olhos
Nada mais doce para se beijar
Que essa brisa que vem do olhar
........
Porta aberta
Rua deserta
Lua meia.
.....................
Meu coração está em paz
Minha alma está em luz
Meu corpo está em mais...mais...mais...
A seguir, poemas de amor, alegria e vida de Adilia Quintelas, cantora, compositora e mulher apaixonada que descubriu no seu atual amor que a poesia é como a vida: sempre há algo novo a ser descoberto.
Sorriso entre sorrisos
Transparente e preciso
Preciso esse sorriso
Precisamente o teu!
..........
Luz plena
Manhã serena
Verdes campos onde passeio meus olhos
Nada mais doce para se beijar
Que essa brisa que vem do olhar
........
Porta aberta
Rua deserta
Lua meia.
.....................
Meu coração está em paz
Minha alma está em luz
Meu corpo está em mais...mais...mais...
quinta-feira, novembro 03, 2005
Pensamentos de feriado...
Quarta, dia dos finados: ?Zanny, lembrando do post da Nanda e vendo o homem que vende açaí e buriti na bicicleta, pensei que a luta contra o peso é injusta. Veja bem: são muitos contra dois. É a pessoa e sua vontade de emagrecer contra o sedentarismo, a preguiça, a falta de tempo para malhar, as calorias da comida, a televisão e a idéia de que amanhã é o melhor dia para começar os exercícios. É muito difícil viver assim?.
...Notícias de quinta:
Lasanha causa intoxicação em 70 policiais argentinos
Quem manda querer mordomia? Deviam estar a pão e água para ficarem alertas durante a 4ª Cúpula das Américas.
Quarta, dia dos finados: ?Zanny, lembrando do post da Nanda e vendo o homem que vende açaí e buriti na bicicleta, pensei que a luta contra o peso é injusta. Veja bem: são muitos contra dois. É a pessoa e sua vontade de emagrecer contra o sedentarismo, a preguiça, a falta de tempo para malhar, as calorias da comida, a televisão e a idéia de que amanhã é o melhor dia para começar os exercícios. É muito difícil viver assim?.
...Notícias de quinta:
Lasanha causa intoxicação em 70 policiais argentinos
Quem manda querer mordomia? Deviam estar a pão e água para ficarem alertas durante a 4ª Cúpula das Américas.
segunda-feira, outubro 31, 2005
Uma reunião
Trabalho, vendas de comerciais, sites informativos, blogues, postagens, comentários, parcerias, colaborações além-mar via internet.
Risadas, sociedade, comportamento, mulheres, paixões desmentidas, reações de dúvida, cerveja, surrealismo, espanto, profissão, relatos sobre o passado e especulações sobre o futuro.
Conversa fiada, conversa séria, análise de mercado, análise de caráter, lembranças, interrupções e novas histórias. Dentro da piscina, um casal fala de sexo, parece, só que bem baixinho.
Frissons, encontros na metrópole, desencontros na cidadezinha, economia e finanças, primeiro emprego, primeiro calote, primeiro e último dia de batente.
Três pessoas, três estados, três formações, três sotaques, três copos, três idades, três filhos um, dois filhos outro, nenhum o último. Uma moça nada cada vez mais rapidamente. Dadaísmo remember.
Nova vida, novos desafios, nova bebida, garçom. Vamos misturar lúpulo com guaraná e ver no que vai dar. Beatles, Janis, quase 10 horas. Já é tarde. Do céu à casa, mulheres e namorada chegando. Lá vão eles, rindo da ficção e da realidade, provocadores, zueiros, bem na linha de frente.
Trabalho, vendas de comerciais, sites informativos, blogues, postagens, comentários, parcerias, colaborações além-mar via internet.
Risadas, sociedade, comportamento, mulheres, paixões desmentidas, reações de dúvida, cerveja, surrealismo, espanto, profissão, relatos sobre o passado e especulações sobre o futuro.
Conversa fiada, conversa séria, análise de mercado, análise de caráter, lembranças, interrupções e novas histórias. Dentro da piscina, um casal fala de sexo, parece, só que bem baixinho.
Frissons, encontros na metrópole, desencontros na cidadezinha, economia e finanças, primeiro emprego, primeiro calote, primeiro e último dia de batente.
Três pessoas, três estados, três formações, três sotaques, três copos, três idades, três filhos um, dois filhos outro, nenhum o último. Uma moça nada cada vez mais rapidamente. Dadaísmo remember.
Nova vida, novos desafios, nova bebida, garçom. Vamos misturar lúpulo com guaraná e ver no que vai dar. Beatles, Janis, quase 10 horas. Já é tarde. Do céu à casa, mulheres e namorada chegando. Lá vão eles, rindo da ficção e da realidade, provocadores, zueiros, bem na linha de frente.
sexta-feira, outubro 28, 2005
quarta-feira, outubro 26, 2005
Firmeza
Ele disse:
- Não sei o motivo de tanta desconfiança nessa minha nova idéia. Tem tudo para ser um sucesso. Você sabe muito bem que o que eu quero, eu consigo.
Ela, delicadamente, sem querer magoá-lo, explicitou suas razões:
- Amor, eu só me preocupo contigo. Se você fizer isso com tanta determinação como a dieta e os exercícios que precisas para perder essa barriga, vai ser o maior desastre da história.
Ele ficou refletindo enquanto tomava uma cerveja e comia mais um pedaço de lasanha.
segunda-feira, outubro 24, 2005
Invasão roqueira
Expulsos pela vizinhança, que chamou a polícia para dar um jeito na zoeira da bateria e das guitarras, bandas e público deixaram na sexta (21) o bar Tribos do Rock, no bairro Liberdade, zona oeste de Boa Vista, e decidiram tomar de assalto o pequeno palco da praça do vizinho bairro Pricumã, a uns dois quilômetros de distância.
Com um som improvisado e muita disposição, as bandas apresentaram-se para um grupo de aproximadamente 80 pessoas, de idades variadas e bastante vontade de ouvir rock na praça, completamente vazia até a chegada dos invasores.
Entre 22 e uma da manhã, tocaram, entre as que me lembro o nome, as bandas Mr. Jungle, Sheep e LN3. Quem passava em frente à praça, logo parava e dizia surpreso "que não estava sabendo do show" e "que estava gostando muito da idéia". Da vizinhança, pouco a pouco apareciam caras novas, surpresas com a movimentação.
As apresentações da Mr. Jungle e da LN3 priorizaram as composições próprias e a turma do gargalo acompanhou as letras mais conhecidas. Na verdade, havia esse pedaço do público, a menos de um metro das bandas, e o que estava a uns 10 metros, bebendo e conversando.
Mr. Jungle: uma das bandas de sábado
O abastecimento de bebidas, doces e salgados para os esfomeados ficou por conta da loja de conveniências do posto de gasolina atrás do palco. Outros já chegaram na festa improvisada com o seu garrafão de vinho, gelo e copos de plástico para manter-se devidamente hidratados.
O bom de o som ser basicamente plugar e cantar, sem muita equalização para fazer, é que os intervalos entre as bandas eram mínimos. Mas a clareza dos vocais não foi essas coisas. Coisas aceitáveis numa invasão de praça para fazer roquenrol e movimentar a cena musical roraimense.
Sobre a hora exata do fim da farra, os que ficaram até o final e foram consultados na outra noite, no show de Tributo a Pink Floyd, não souberam definir com certeza. Mas parece que passou fácil das 2h30 da madrugada.
Para a próxima sexta, segundo foi dito, o encontro está marcado para cedo no Tribos do Rock, lá pelas 17h. Assim haverá tempo para ouvir muita música até que bata o toque de silêncio das dez da noite. E já houve quem falasse também em ocupar novamente a praça do Pricumã.
Expulsos pela vizinhança, que chamou a polícia para dar um jeito na zoeira da bateria e das guitarras, bandas e público deixaram na sexta (21) o bar Tribos do Rock, no bairro Liberdade, zona oeste de Boa Vista, e decidiram tomar de assalto o pequeno palco da praça do vizinho bairro Pricumã, a uns dois quilômetros de distância.
Com um som improvisado e muita disposição, as bandas apresentaram-se para um grupo de aproximadamente 80 pessoas, de idades variadas e bastante vontade de ouvir rock na praça, completamente vazia até a chegada dos invasores.
Entre 22 e uma da manhã, tocaram, entre as que me lembro o nome, as bandas Mr. Jungle, Sheep e LN3. Quem passava em frente à praça, logo parava e dizia surpreso "que não estava sabendo do show" e "que estava gostando muito da idéia". Da vizinhança, pouco a pouco apareciam caras novas, surpresas com a movimentação.
As apresentações da Mr. Jungle e da LN3 priorizaram as composições próprias e a turma do gargalo acompanhou as letras mais conhecidas. Na verdade, havia esse pedaço do público, a menos de um metro das bandas, e o que estava a uns 10 metros, bebendo e conversando.
Mr. Jungle: uma das bandas de sábado
O abastecimento de bebidas, doces e salgados para os esfomeados ficou por conta da loja de conveniências do posto de gasolina atrás do palco. Outros já chegaram na festa improvisada com o seu garrafão de vinho, gelo e copos de plástico para manter-se devidamente hidratados.
O bom de o som ser basicamente plugar e cantar, sem muita equalização para fazer, é que os intervalos entre as bandas eram mínimos. Mas a clareza dos vocais não foi essas coisas. Coisas aceitáveis numa invasão de praça para fazer roquenrol e movimentar a cena musical roraimense.
Sobre a hora exata do fim da farra, os que ficaram até o final e foram consultados na outra noite, no show de Tributo a Pink Floyd, não souberam definir com certeza. Mas parece que passou fácil das 2h30 da madrugada.
Para a próxima sexta, segundo foi dito, o encontro está marcado para cedo no Tribos do Rock, lá pelas 17h. Assim haverá tempo para ouvir muita música até que bata o toque de silêncio das dez da noite. E já houve quem falasse também em ocupar novamente a praça do Pricumã.
quinta-feira, outubro 20, 2005
Pedidos
Foi assim, depois de algumas horas de conversas e risos, de falar sobre super-heróis e direitos humanos. Foi ao acaso, numa vontade crescente e reprimida para evitar pedidos ou gestos impensados. A festa já havia acabado, a madrugada era senhora.
- Posso te beijar?
- Pensei que nunca fosses pedir.
Foi assim, uma vontade de pular no desconhecido, um mergulho em águas profundas. Riam, enquanto pensavam no que o outro devia estar pensando. Àquela hora, somente os ladrões e os boêmios ainda perambulavam pelas ruas do velho bairro. Entraram na casa e brincaram de escrever poemas na pele do outro, com tintas de desejo e versos de descoberta.
- Estamos indo longe demais. Você não acha?
- Não. Vamos até onde você quiser.
Quando o sol decidiu voltar a reinar, mágoas, alegrias, surpresas e desconcertos estavam muito longe do ponto de partida, dos velhos limites do que se era horas atrás. E para todos os fins, para todos os outros e até para eles, o tempo tornou-se senhor de verdades que nunca foram ditas ou admitidas até mesmo entre amigos íntimos.
terça-feira, outubro 18, 2005
Numa tarde de muito trabalho (por incrível que pareça):
- Sinônimo de produto?
- Mercadoria.
- Hum...para melancia?
- Melão!
......
- Como é que eu coloco que tal categoria recebeu um aumento de R$ 500?
- Aumento, ora.
- Não, é sobre um abono.
- Então é um bônus mensal.
- Ou então um abônus mensal.
.......
- O termo "vilão" era aplicado aos pagãos que vinham das vilas antigamente.
- Então lá na Vila Olímpica tem um monte de vilãos também?
- Sinônimo de produto?
- Mercadoria.
- Hum...para melancia?
- Melão!
......
- Como é que eu coloco que tal categoria recebeu um aumento de R$ 500?
- Aumento, ora.
- Não, é sobre um abono.
- Então é um bônus mensal.
- Ou então um abônus mensal.
.......
- O termo "vilão" era aplicado aos pagãos que vinham das vilas antigamente.
- Então lá na Vila Olímpica tem um monte de vilãos também?
segunda-feira, outubro 17, 2005
Depois do amor
Romântica, ela disse, aninhada no colo de seu amado:
- Meu dengo, depois que a gente faz amor, fico um tempão rememorando, lembrando de cada beijo que te dei e ganhei de ti. E tu, ficas pensando em que?
Rápido e estupidamente sincero, ele respondeu:
- Ah, num monte de coisas. Agora mesmo tava pensando que vou ter de acordar bem cedinho para não pegar fila no lava-jato.
Enquanto ela se vestia furiosamente para ir embora, ele tentava entender se havia dito alguma bobagem falando a verdade.
quinta-feira, outubro 13, 2005
Visitas
Um jogo de cartas, um filme na TV. Uma cabeça no ombro, um cheiro na nuca, uma mão sob um vestido, bocas com cheiro de fruta. Roupas jogadas no chão, medos ao alto. E dois corpos se encontram, uma e outra vez.
As horas passam, a descoberta continua. E antigas amizades passam a amores recentes, escondidos de outros, longe das ruas. Surgem beijos em lugares indecentes. E falam de si, dos outros, de nada, perdidos no meio da escuridão da cama. E as palavras são intercaladas com grunhidos e interjeições.
Amanheceu, hora de partir, de voltar à realidade. Mas, bah, já que estão nessa, que tal mais uma vez, antes da visita para o próximo filme?
segunda-feira, outubro 10, 2005
Denominações
Ele disse:
- Você não pode me chamar dessas coisas...
Ela, furiosa, o atacou:
- Posso sim! Tu não passas de um canalha aproveitador sem nenhum caráter!
Ele, indignado, retrucou:
- Alto lá! Vamos esclarecer: até nós, os canalhas, temos caráter. Discutir, tudo bem, mas sem levantar falso testemunho.
sexta-feira, outubro 07, 2005
Acusações - poema
B.O. número duzentos e cinco barra zero zero zero um:
O elemento foi preso enquanto tentava desesperadamente livrar-se do flagrante. Detido para mais investigações, foi encaminhado à delegacia para ser interrogado.
Não, não, eu não fiz nada do que possa ser acusado
Eu juro que estava só olhando para a casa ao lado.
E que culpa eu tenho se lá mora a Felícia
Que ao me ver fez escândalo e chamou a polícia?
Ok, ok, eu sei que já fomos namorados
E ela me deixou por um dentista bonitão
Na real, eu só parei por conta de um pneu furado
E não porque enciumado quis tirar satisfação
Tudo bem, tudo bem, admito,
Aproveitei para pedir minhas coisas de volta
Roupas, presentes, CD?s, livros e meu periquito
O coitadinho quando me viu quase berra ?me solta!?
Mas nego que foi meu o primeiro grito
Não tenho sangue de barata para ouvir desaforo
Eu não deixo que abusem de meu coração aflito
E só por isso vou ser preso por falta de decoro?
Sem roupa, sem mulher e sem emprego
Vou tentando afastar o desespero.
Não fui eu que errei, seu doutor
Entenda: é essa droga de coração
Que insiste em se dar por inteiro.
Ah, e sobre as provas que possam ter
Desminto todas, digo que foram plantadas
E qualquer filmagem que possa aparecer
Só pode ser feita de imagens encenadas
Neste caso, seu doutor, eu sou inocente
Como diz a lei, até aprovarem o contrário
E posso lhe arranjar culpado mais conveniente
Que não sou eu nem quem me deixou por um otário
Acho que posso ser bem convincente
talvez para todos seja até mais bacana
Que a verdade apareça feliz e reluzente
Como quem acabou de sair da cama.
Na real, seu doutor, o senhor pode acreditar
Nas retas da vida, às vezes tudo é uma zona
E nesta noite que não parece terminar
A culpa de tudo é da maldita da azeitona
terça-feira, outubro 04, 2005
Quem é você?
Quem você pensa que é
Para fazer da vida bagunça
Jogar na rua lembranças velhas
Mudar de posição a minha lua?
Acaso te deram licença
Para cantar boleros na rua
Pintar emoções nas praças
Comer de tudo o que queres?
Não adianta falar de leis
Invocar direitos fundamentais.
A única coisa infundada aqui
É teu jeito de ser desbocada.
Aponta logo o nome do culpado
Diz aí quem perdeu a porta da cela
Soltou as rédeas do hospício
E te fez baixar no meu colo.
Achas fácil chegar e virar
Minha alma pelo avesso, ser
Fim, meio, começo, infinita
Fonte de dor e prazer?
Baixa a cabeça. Não é assim
Se abancar e mudar velhas regras
Tumultuar um processo normal.
Só por que teu beijo me tonteia
Só por que teu cheiro me droga
Só por que teu gosto me doma
Pensas ser fácil tomar conta do lugar?
Vai, soletra bem devagar
Quem você pensa que é
Trazendo transtornos, ditando mudanças,
Fazendo um novo filme de cada dia?
Contando vantagens, chegas de mansinho
Me das nova vida, me enches de vinho.
Eu tiro minha roupa, me dou a você
E quando amanhece...nada a dizer.
Ainda te pego, desconto minha raiva
Te faço refém, te enterro na praia
Te jogo no lago, te perco num bar
Ainda te pego, ainda te escrevo.
Quem você pensa que sou
Para comigo mexer assim
Virar meu copo, teu gosto de tequila
Na lista da minha espera, furar a fila.
Vou colocar no out-door
Em letras interrogativas
Pintado de vermelho-espanto
Quem, afinal, eu penso que é você?
Making of:
No segundo semestre de 2003, numa dessas noites chatas investidas estudando, comecei a rabiscar uns versos. De repente, lá estava, quase pronta, esta poesia. Assim, feita para ninguém, sem motivo. Mas quando a mostrava para outros, a reação era: nossa, quem é essa que te perturbou tanto?
Lógico que ninguém acreditou na versão do "não a fiz para ninguém" e continuavam perguntando.
Bem, alguns meses depois a mostrei, sem segundas intenções, para Zanny, que parece ter gostado muito, a ponto de escrever, também sem segundas intenções uma poesia-resposta. Quem quiser conferir o contra-ataque, vá aqui e leia. É muito legal.
Ah, depois disso, acabei dedicando o poema para minha amiga Carla Cavalheiro, à época meio zuretada de paixão pelo seu ainda firme namorado Rubinho.
Ficou assim a dedicatória: Para Carla e sua capacidade invejável de se apaixonar.
segunda-feira, outubro 03, 2005
quinta-feira, setembro 29, 2005
Entendimento
Ela disse:
- Eu não entendo como você pode ser tão canalha.
Ele respondeu, sinceramente preocupado:
- Sabe que eu tenho a mesma dificuldade?
terça-feira, setembro 27, 2005
Destinos
Era um homem triste. Perdera tudo o que a vida havia lhe dado. Ao caminhar pelas ruas de seu bairro, ficava às vezes chorando baixinho, envergonhado de viver. Patético, bebia álcool puro por falta de dinheiro para comprar o uísque antes saboreado na varanda de sua antiga casa. Morreu sozinho, sem parentes que reclamassem seu corpo, encontrado na calçada onde vez ou outra amanhecia dormindo.
segunda-feira, setembro 26, 2005
Resuminho do Overdoze da Mostra Sesc Macuxi de Artes Cênicas
Às 21 horas começou na biblioteca do Sesc a leitura de poesias. Eu, que seria apenas um ouvinte, entrei logo na roda dos falantes. Mas isso só depois de perceber que as três pessoas que havia convidado para ler meus poemas não iam aparecer a tempo (aliás, eles estavam tão ocupados dirigindo, fotografando e lendo contos em outros espaços da mostra que só chegaram de madrugada na biblioteca).
Começamos assim, um pedindo ao outro, outro pedindo ao um. De repente, a timidez saiu da sala e em alguns momentos era preciso pedir mais de uma vez a palavra para garantir a oportunidade. Crianças leram corajosamente e bem baixinho poemas descobertos nos livros da biblioteca, adultos (entre eles a Zanny e este cronista) criaram textos para ler na mesma hora, outros montaram poesias em voz alta, num diálogo com os próximos.
E quando o silêncio queria tomar conta da sala, eu pensava estar em um leilão de palavras e dizia "quem dá mais, quem dá mais?", estimulando uma nova corrida de versos. E se a memória falhava, apelava-se para os escritos de Drummond, Pessoa, Bandeira, Vinicius e outros. Dos escritores locais, apenas George Farias esteve lá.
Essa brincadeira de ler, ouvir, relembrar e poetizar durou três horas seguida. À meia-noite, encerramos o expediente e fomos todos ver as esquetes, os contos eróticos e de terror, os espetáculos de dança, o rock e o som no barzinho com voz e violão.
Era tanta coisa rolando ao mesmo tempo que era um risco ficar aqui ou ali, cantando ou ouvindo atores, vendo a dança ou as exposições fotográficas. Algo seria perdido. E olha que algumas partes da programação não aconteceram.
Eu, por exemplo, perdi o sopão das 3h da manhã por estar na sessão de contos ao pé da cama. Logo depois da 4h da matina, depois de sacar que meu Overdoze não ia rolar, mas sim um simples Overnove, parti, com a imagem de roqueiros em frente a um palco no meio da rua e um coral de alegres amantes da MPB na área do barzinho do Sesc.
Na próxima mostra, vou com vários poemas decorados. E se tudo der certo, ainda levo os exemplares de meu próprio livro.
Às 21 horas começou na biblioteca do Sesc a leitura de poesias. Eu, que seria apenas um ouvinte, entrei logo na roda dos falantes. Mas isso só depois de perceber que as três pessoas que havia convidado para ler meus poemas não iam aparecer a tempo (aliás, eles estavam tão ocupados dirigindo, fotografando e lendo contos em outros espaços da mostra que só chegaram de madrugada na biblioteca).
Começamos assim, um pedindo ao outro, outro pedindo ao um. De repente, a timidez saiu da sala e em alguns momentos era preciso pedir mais de uma vez a palavra para garantir a oportunidade. Crianças leram corajosamente e bem baixinho poemas descobertos nos livros da biblioteca, adultos (entre eles a Zanny e este cronista) criaram textos para ler na mesma hora, outros montaram poesias em voz alta, num diálogo com os próximos.
E quando o silêncio queria tomar conta da sala, eu pensava estar em um leilão de palavras e dizia "quem dá mais, quem dá mais?", estimulando uma nova corrida de versos. E se a memória falhava, apelava-se para os escritos de Drummond, Pessoa, Bandeira, Vinicius e outros. Dos escritores locais, apenas George Farias esteve lá.
Essa brincadeira de ler, ouvir, relembrar e poetizar durou três horas seguida. À meia-noite, encerramos o expediente e fomos todos ver as esquetes, os contos eróticos e de terror, os espetáculos de dança, o rock e o som no barzinho com voz e violão.
Era tanta coisa rolando ao mesmo tempo que era um risco ficar aqui ou ali, cantando ou ouvindo atores, vendo a dança ou as exposições fotográficas. Algo seria perdido. E olha que algumas partes da programação não aconteceram.
Eu, por exemplo, perdi o sopão das 3h da manhã por estar na sessão de contos ao pé da cama. Logo depois da 4h da matina, depois de sacar que meu Overdoze não ia rolar, mas sim um simples Overnove, parti, com a imagem de roqueiros em frente a um palco no meio da rua e um coral de alegres amantes da MPB na área do barzinho do Sesc.
Na próxima mostra, vou com vários poemas decorados. E se tudo der certo, ainda levo os exemplares de meu próprio livro.
sexta-feira, setembro 23, 2005
A melhor coisa da semana
Overdoze
Miscelânea de Espetáculos, performances, esquetes, fragmentos de espetáculos, leitura dramática, música, cinema e artes plásticas. Com início às 20h e se estendendo até às 8h de domingo, em todos os espaços do Sesc, culminando com o encerramento da Mostra no Espaço Multicultural.
Vai rolar um sopão às 3h da madrugada. Algumas poesias de minha autoria serão declamadas. Não por mim, que criei vergonha e sai dos palcos, mas por outros mais corajosos.
Overdoze
Miscelânea de Espetáculos, performances, esquetes, fragmentos de espetáculos, leitura dramática, música, cinema e artes plásticas. Com início às 20h e se estendendo até às 8h de domingo, em todos os espaços do Sesc, culminando com o encerramento da Mostra no Espaço Multicultural.
Vai rolar um sopão às 3h da madrugada. Algumas poesias de minha autoria serão declamadas. Não por mim, que criei vergonha e sai dos palcos, mas por outros mais corajosos.
terça-feira, setembro 20, 2005
sábado, setembro 17, 2005
Homens encapuzados invadem e tocam fogo em Centro Indígena de Formação
Faltando quatro dias para começar a festa da homologação da terra indígena Raposa Serra do Sol, cerca de 150 homens encapuzados e armados com revólveres, espingardas, facões e pedaços de pau, invadiram e tocaram fogo, nesta madrugada, no Centro de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol, antiga Missão Surumu, a cerca de 230 quilômetros de Boa Vista.
Segundo informações colhidas por uma equipe do Conselho Indígena de Roraima ? CIR, que esteve no local hoje pela manhã, o vandalismo foi coordenado, supostamente, pelo vice-prefeito de Pacaraima, Anísio Pedrosa, e pelo vereador do município e tuxaua da aldeia Contão, Genilvaldo Macuxi. Os dois são ligados ao prefeito de Pacaraima, Paulo César Quartiero, maior produtor de arroz da região.
A antiga Missão Surumu também foi invadida e depredada em janeiro de 2004 pelo mesmo grupo comandado por Quartieiro, que ameaça resistência armada a qualquer tentativa de retirada da área, homologada no dia 15 de abril pelo presidente Lula da Silva. Em 2004, três missionários foram seqüestrados e, mesmo a Polícia Federal tendo indiciado arrozeiros e líderes indígenas, até hoje niguém foi punido.
No ataque desta madrugada, as instalações do Centro foram completamente destruídas: igreja, hospital, dormitórios, refeitório masculino e feminino, banheiros, biblioteca, sala e quartos dos professores. (veja fotos no site www.cir.org.br).Durante a invasão, um professor do curso de Mecânica e cerca de 30 alunos estavam no Centro de Formação.
O professor Júlio que trabalha para o Senai, entidade parceira do Centro, foi agredido fisicamente, mas não corre perigo de morte.Um veículo Toyota do Convênio do CIR com a Funasa para Atenção Básica à Saúde no Distrito Sanitário Leste de Roraima, que fazia remoção de um paciente para Boa Vista, também foi interceptado pelo grupo. Os motoristas tiveram armas apontadas para suas cabeças, sofreram humilhações, agressões verbais e o carro foi depredado e o paciente indígena agredido fisicamente.
Após a agressão, uma aeronave foi fretada para remover a vítima. A Polícia Federal foi comunicada dos acontecimentos e nas primeiras horas da manhã de hoje enviou uma equipe para o local. Por volta do meio dia, os agentes chegaram em Boa Vista trazendo alunos, professor e lideranças indígenas para prestarem depoimentos.
O Conselho Indígena de Roraima repudia mais essa atitude covarde dos setores contrários aos direitos indígenas, manipulados por grupos políticos e econômicos, que historicamente usam a violência e valem-se da impunidade para conquistar os seus objetivos.
Conselho Indígena de Roraima
Faltando quatro dias para começar a festa da homologação da terra indígena Raposa Serra do Sol, cerca de 150 homens encapuzados e armados com revólveres, espingardas, facões e pedaços de pau, invadiram e tocaram fogo, nesta madrugada, no Centro de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol, antiga Missão Surumu, a cerca de 230 quilômetros de Boa Vista.
Segundo informações colhidas por uma equipe do Conselho Indígena de Roraima ? CIR, que esteve no local hoje pela manhã, o vandalismo foi coordenado, supostamente, pelo vice-prefeito de Pacaraima, Anísio Pedrosa, e pelo vereador do município e tuxaua da aldeia Contão, Genilvaldo Macuxi. Os dois são ligados ao prefeito de Pacaraima, Paulo César Quartiero, maior produtor de arroz da região.
A antiga Missão Surumu também foi invadida e depredada em janeiro de 2004 pelo mesmo grupo comandado por Quartieiro, que ameaça resistência armada a qualquer tentativa de retirada da área, homologada no dia 15 de abril pelo presidente Lula da Silva. Em 2004, três missionários foram seqüestrados e, mesmo a Polícia Federal tendo indiciado arrozeiros e líderes indígenas, até hoje niguém foi punido.
No ataque desta madrugada, as instalações do Centro foram completamente destruídas: igreja, hospital, dormitórios, refeitório masculino e feminino, banheiros, biblioteca, sala e quartos dos professores. (veja fotos no site www.cir.org.br).Durante a invasão, um professor do curso de Mecânica e cerca de 30 alunos estavam no Centro de Formação.
O professor Júlio que trabalha para o Senai, entidade parceira do Centro, foi agredido fisicamente, mas não corre perigo de morte.Um veículo Toyota do Convênio do CIR com a Funasa para Atenção Básica à Saúde no Distrito Sanitário Leste de Roraima, que fazia remoção de um paciente para Boa Vista, também foi interceptado pelo grupo. Os motoristas tiveram armas apontadas para suas cabeças, sofreram humilhações, agressões verbais e o carro foi depredado e o paciente indígena agredido fisicamente.
Após a agressão, uma aeronave foi fretada para remover a vítima. A Polícia Federal foi comunicada dos acontecimentos e nas primeiras horas da manhã de hoje enviou uma equipe para o local. Por volta do meio dia, os agentes chegaram em Boa Vista trazendo alunos, professor e lideranças indígenas para prestarem depoimentos.
O Conselho Indígena de Roraima repudia mais essa atitude covarde dos setores contrários aos direitos indígenas, manipulados por grupos políticos e econômicos, que historicamente usam a violência e valem-se da impunidade para conquistar os seus objetivos.
Conselho Indígena de Roraima
quarta-feira, setembro 14, 2005
Comprei uma casa...
Olhando nos classificados, um
anúncio me chamou a atenção:
Vende-se casa no Tepequém.
Excelente localização, sem vizinhos chatos,
gramado amplo. Toda de madeira.
Preço de ocasião num dos pontos turísticos
mais legais de Roraima.
Não tive dúvidas e pensei: taí minha
casa de campo. Comprei sem ver.
Deu nisso aí do lado.
Pior do que isso é a entrada do terreno, erodida até dizer basta pela ação de garimpeiros atrás de diamantes.
Não tem como convidar nenhum amigo
que sofra de labirintite ou esteja fora de forma.
Mas o que interessa é que estou em casa
e posso dormir tranquilo (quando conseguir fazer a picape pegar):
Olhando nos classificados, um
anúncio me chamou a atenção:
Vende-se casa no Tepequém.
Excelente localização, sem vizinhos chatos,
gramado amplo. Toda de madeira.
Preço de ocasião num dos pontos turísticos
mais legais de Roraima.
Não tive dúvidas e pensei: taí minha
casa de campo. Comprei sem ver.
Deu nisso aí do lado.
Pior do que isso é a entrada do terreno, erodida até dizer basta pela ação de garimpeiros atrás de diamantes.
Não tem como convidar nenhum amigo
que sofra de labirintite ou esteja fora de forma.
Mas o que interessa é que estou em casa
e posso dormir tranquilo (quando conseguir fazer a picape pegar):
segunda-feira, setembro 12, 2005
Mudança
(Escrito em parceria com Zanny Adairalba)
Vou mudar
Vou mudar desde ontem
Vou colocar numa ata
Minhas dores e maldições
Vou esquecer do futuro
Vou construir meu presente
Ser mais presente que choro
Menos ausente nas lágrimas
Navegar meus lagos
Cantar mais alto no escuro
Deixar de pedir aprovação de outros
Impor minhas vontades
Rasgar um beijo no meio da sala
Colocar para passear meus pensamentos nus
Vou mudar
Vou afirmar minhas dúvidas
Minhas idas, minhas cantigas
Ser diversa, colorida, ser viagem sem fim
Ser começo, clichê e reprise.
Gotas de chocolate e canela numa taça de café
Música alta na madrugada
Concerto de música clássica
Bach, Vivaldi e tenores
Santidade ouvindo Scorpions
Velocidade furiosa, certeira calma
Calma...
Vou mudar
Vou mudar para o meu mundo
Pés descalços, vagabundos
Esperanças na mochila
Descobridora dos Andes,
Deusa das neves eternas
Vulcão em erupção
Vida, sobrevivência, majestade.
Pergunta amorosa no meio da estrada.
Sofás na calçada, bêbados sem nome
Segredos no ar, filme noir
Serei Alfredo, Josefa, Severina e Monalisa
Dançando solta na brisa
Aos quatro cantos do mundo vou gritar
Que é bem preciso ser louco
Para no meio do jogo
Dar xeque-mate e mudar.
(Escrito em parceria com Zanny Adairalba)
Vou mudar
Vou mudar desde ontem
Vou colocar numa ata
Minhas dores e maldições
Vou esquecer do futuro
Vou construir meu presente
Ser mais presente que choro
Menos ausente nas lágrimas
Navegar meus lagos
Cantar mais alto no escuro
Deixar de pedir aprovação de outros
Impor minhas vontades
Rasgar um beijo no meio da sala
Colocar para passear meus pensamentos nus
Vou mudar
Vou afirmar minhas dúvidas
Minhas idas, minhas cantigas
Ser diversa, colorida, ser viagem sem fim
Ser começo, clichê e reprise.
Gotas de chocolate e canela numa taça de café
Música alta na madrugada
Concerto de música clássica
Bach, Vivaldi e tenores
Santidade ouvindo Scorpions
Velocidade furiosa, certeira calma
Calma...
Vou mudar
Vou mudar para o meu mundo
Pés descalços, vagabundos
Esperanças na mochila
Descobridora dos Andes,
Deusa das neves eternas
Vulcão em erupção
Vida, sobrevivência, majestade.
Pergunta amorosa no meio da estrada.
Sofás na calçada, bêbados sem nome
Segredos no ar, filme noir
Serei Alfredo, Josefa, Severina e Monalisa
Dançando solta na brisa
Aos quatro cantos do mundo vou gritar
Que é bem preciso ser louco
Para no meio do jogo
Dar xeque-mate e mudar.
quinta-feira, setembro 08, 2005
Da série Ouvidos na Rua: bola de marca
Na avenida Jaime Brasil, centro de Boa Vista, a dupla:
- Que bola de basquete legal! Esse material é diferente, né?
- É, essa aqui é igualzinha à dos caras que apareceram final de semana na televisão, no campeonato de basquete de rua.
- Mas o preço era igual àquela outra da primeira loja?
- Mesma coisa. E a outra era podrona. Essa aqui é da Nike.
Alguns metros e na esquina aparece uma moça com uma comissão de frente de responsa:
- Nossa, o que é aquilo?
- Caraca, será que são de verdade ou não?
- Eu acho que são da Nike...
Na avenida Jaime Brasil, centro de Boa Vista, a dupla:
- Que bola de basquete legal! Esse material é diferente, né?
- É, essa aqui é igualzinha à dos caras que apareceram final de semana na televisão, no campeonato de basquete de rua.
- Mas o preço era igual àquela outra da primeira loja?
- Mesma coisa. E a outra era podrona. Essa aqui é da Nike.
Alguns metros e na esquina aparece uma moça com uma comissão de frente de responsa:
- Nossa, o que é aquilo?
- Caraca, será que são de verdade ou não?
- Eu acho que são da Nike...
terça-feira, setembro 06, 2005
Da deixa
Os dois estavam cansados. Haviam acabado de reencontrar-se depois de estarem muito tempo ausentes. Era o cheiro de um incrustando-se no outro, deixando suas marcas na pele, ampliando aquilo que Nelson Rodrigues chamou, com outras palavras, de nostalgia amorosa.
Aquela história havia começado assim, quase por acaso. Cheios de passado, não arriscavam dar-se totalmente. "Vá lá e a entrega vire uma arma mortal nas mãos desta figura", pensavam às escondidas.
Os cabelos da menina, cacheados, pretos e acariciados, grudavam na pele, como se fosse desleixo. Os olhos de ambos procuravam um tipo de verdade ? sempre faziam isso e nunca a achavam. "É incrível o tamanho do poço de mistérios cavado por uma pessoa sem que ninguém caia nele", lembravam ter lido em uma tabuleta pendurada na mureta de um bar. Costumavam repetir a frase durante conversas com seus amigos.
Era uma despedida. Ficara acordado: cada um procuraria o que fazer longe do outro. A cena era comum, pobre até, mas carregada de simbolismo. Dois corpos próximos pensando na distância.
"Do jeito que os relacionamentos terminam ou se estendem, as visões assumem tons surrealistas", filosofava o rapaz. A sua experiência, pouca mais válida, afirmava que sempre um dos que formam o romance desencanta-se e diz "tudo bem. Seremos bons amigos...". Entre parênteses e após as reticências, vem escrito em letras enormes: "talvez dentro de alguns anos!".
A menina lembrava de sua amiga mais querida. Ela sempre falava que quando há bom humor e um pouco de sordidez, rosas são enviadas aos alérgicos, acompanhadas de um cartão colorido, burlesco, com os seguintes dizeres em letras escandalosas: "lembranças de um passado inglório".
Não era este o caso deles. Casal jovem e bonito, decidiu acabar com o romance de uma maneira mais suave, como se fosse a queda de uma pétala, ato que não resulta em mágoas para a rosa ou para quem a admira. O motivo da deixa foi descoberto logo. Algo faltava entre os dois. Se era vivência, cumplicidade, sentimento, não conseguiram descobrir. Com pouco tempo para conversar sobre o futuro, só haviam achado espaço para debater o final de seu convívio.
Fora do quarto, a chuva caia. Por coincidência, tocava na rádio uma música antiga, dizendo "chove lá fora e aqui faz tanto frio...". Caras sérias, mãos tímidas, palavras pronunciadas suavemente. Parecia uma sessão inquisitorial, onde o juiz determina a morte do herege com total frieza, com a certeza de fazê-lo em nome de Deus e da moral. Se era assim, para que continuar?
Enquanto as lágrimas rolavam pelo rosto de um, o outro pensava como era possível gostar de alguém e não sentir a sua falta. Ele a puxou pelos braços e começou a beijá-la, com o mesmo desejo que um outro cantou: "venha me beijar, meu doce vampiro, à luz do luar...".
Tocaram-se, sentiram novamente o gosto do suor, disseram "até logo. Um dia a gente se cruza e comenta a nossa história, cheia de mentiras verdadeiras e verdades mentirosas".
Os dois estavam cansados. Haviam acabado de reencontrar-se depois de estarem muito tempo ausentes. Era o cheiro de um incrustando-se no outro, deixando suas marcas na pele, ampliando aquilo que Nelson Rodrigues chamou, com outras palavras, de nostalgia amorosa.
Aquela história havia começado assim, quase por acaso. Cheios de passado, não arriscavam dar-se totalmente. "Vá lá e a entrega vire uma arma mortal nas mãos desta figura", pensavam às escondidas.
Os cabelos da menina, cacheados, pretos e acariciados, grudavam na pele, como se fosse desleixo. Os olhos de ambos procuravam um tipo de verdade ? sempre faziam isso e nunca a achavam. "É incrível o tamanho do poço de mistérios cavado por uma pessoa sem que ninguém caia nele", lembravam ter lido em uma tabuleta pendurada na mureta de um bar. Costumavam repetir a frase durante conversas com seus amigos.
Era uma despedida. Ficara acordado: cada um procuraria o que fazer longe do outro. A cena era comum, pobre até, mas carregada de simbolismo. Dois corpos próximos pensando na distância.
"Do jeito que os relacionamentos terminam ou se estendem, as visões assumem tons surrealistas", filosofava o rapaz. A sua experiência, pouca mais válida, afirmava que sempre um dos que formam o romance desencanta-se e diz "tudo bem. Seremos bons amigos...". Entre parênteses e após as reticências, vem escrito em letras enormes: "talvez dentro de alguns anos!".
A menina lembrava de sua amiga mais querida. Ela sempre falava que quando há bom humor e um pouco de sordidez, rosas são enviadas aos alérgicos, acompanhadas de um cartão colorido, burlesco, com os seguintes dizeres em letras escandalosas: "lembranças de um passado inglório".
Não era este o caso deles. Casal jovem e bonito, decidiu acabar com o romance de uma maneira mais suave, como se fosse a queda de uma pétala, ato que não resulta em mágoas para a rosa ou para quem a admira. O motivo da deixa foi descoberto logo. Algo faltava entre os dois. Se era vivência, cumplicidade, sentimento, não conseguiram descobrir. Com pouco tempo para conversar sobre o futuro, só haviam achado espaço para debater o final de seu convívio.
Fora do quarto, a chuva caia. Por coincidência, tocava na rádio uma música antiga, dizendo "chove lá fora e aqui faz tanto frio...". Caras sérias, mãos tímidas, palavras pronunciadas suavemente. Parecia uma sessão inquisitorial, onde o juiz determina a morte do herege com total frieza, com a certeza de fazê-lo em nome de Deus e da moral. Se era assim, para que continuar?
Enquanto as lágrimas rolavam pelo rosto de um, o outro pensava como era possível gostar de alguém e não sentir a sua falta. Ele a puxou pelos braços e começou a beijá-la, com o mesmo desejo que um outro cantou: "venha me beijar, meu doce vampiro, à luz do luar...".
Tocaram-se, sentiram novamente o gosto do suor, disseram "até logo. Um dia a gente se cruza e comenta a nossa história, cheia de mentiras verdadeiras e verdades mentirosas".
sexta-feira, setembro 02, 2005
quarta-feira, agosto 31, 2005
terça-feira, agosto 30, 2005
Detrás dos vidros
A dona da dor
Esquece sua força e
Baixa a guarda.
Seus olhos, protegidos pelo vidro,
Mostram pedaços de fragilidade.
A postura continua a mesma
Por alguns segundos. De repente,
Deita a cabeça e ri. Riso triste,
Parecendo um grito de socorro.
Dona da sua dor, conversa
Sobre o presente.
Lembra do passado, desanimada com o porvir.
Escudos abaixados, coloca
As armas em riste - não esquece
Por completo a sua situação - e sorri.
Maliciosa, molha os lábios com
A ponta da língua e eu,
Que me julgava senhor,
Viro uma criança dominada
Pela dona e sua dor.
Making of:
Feito de um tiro só, numa aula de história da Amazônia no milênio passado, quando cursava Jornalismo, pensando numa conversa tida uns dias ou horas antes com uma menina que muito me atraia. Classificado e interpretado num concurso de poesia, o texto foi parar numa coletânea poética impressa pelo Sesi Roraima. A palavra dor é repetida várias vezes devido ao nome da menina: Maria das Dores.
segunda-feira, agosto 29, 2005
Coisas de Roraima
Domingo, 17h30, tarde tranqüila, vento frio, o verão deu uma recuada. Nas arvores à margem do igarapé Mirandinha, muitos papagaios fazem a sua arruaça vespertina enquanto se alimentam. Na rua sem tráfego, voltando para casa, apenas eu, eles e o vento frio.
Muitas vezes é bom estar aqui.
Domingo, 17h30, tarde tranqüila, vento frio, o verão deu uma recuada. Nas arvores à margem do igarapé Mirandinha, muitos papagaios fazem a sua arruaça vespertina enquanto se alimentam. Na rua sem tráfego, voltando para casa, apenas eu, eles e o vento frio.
Muitas vezes é bom estar aqui.
quinta-feira, agosto 25, 2005
Pensamentos
Ela disse, brincalhonamente manhosa:
- Faz tempo que não te dou prejuízo nem dor de cabeça, né, amor?
Ele respondeu carinhosamente:
- É, querida. Faz tempo que você não me dá prejuízo ou dor de cabeça.
E pensou, triste e ressentido:
- Na verdade, faz tempo que você não me dá nada...
terça-feira, agosto 23, 2005
segunda-feira, agosto 22, 2005
quinta-feira, agosto 18, 2005
Atentado
Foi assim: saquei a grana na terça à noite para tocar um pouco do muito que falta do mês. Na quarta, 18h, procurando um número de telefone na carteira, o vazio. Em vez das cédulas, o nada, o agoniante nada, a maior agressão ao corpo humano que se conhece na história.
O golpe certeiro, calculado, foi frio. A carteira estava dentro de uma pochete, que estava dentro de uma mochila. Nada estava fora do lugar.
A única alegria é que não foi no começo do mês, senão o ladrão ia levar muito mais que os R$ 120 da semana.
Foi assim: saquei a grana na terça à noite para tocar um pouco do muito que falta do mês. Na quarta, 18h, procurando um número de telefone na carteira, o vazio. Em vez das cédulas, o nada, o agoniante nada, a maior agressão ao corpo humano que se conhece na história.
O golpe certeiro, calculado, foi frio. A carteira estava dentro de uma pochete, que estava dentro de uma mochila. Nada estava fora do lugar.
A única alegria é que não foi no começo do mês, senão o ladrão ia levar muito mais que os R$ 120 da semana.
terça-feira, agosto 16, 2005
terça-feira, agosto 09, 2005
segunda-feira, agosto 08, 2005
Coisas de Roraima
1- Motoristas fazem protesto na rodovia que liga Boa Vista à Venezuela. Motivo: As autoridades estão reprimindo o contrabando de gasolina, que lá no outro país custa cerca de 10 centavos de real o litro. O combustível é transportado em pampas com tanque duplo ou carros com tanques adulterados e vendido a um real ou a R$ 1, 50 aqui na cidade. Os ?pampeiros?, como são chamados, dizem que a fiscalização atrapalha, que assim não dá.
2- O governo estadual anunciou que vai fechar 171 escolas por falta de alunos. Deve ser o único Estado do Brasil onde todo mundo já passou pelas salas de aula. O número, entretanto, é sugestivo e lembra outra coisa.
3- O governo estadual investe alto na manutenção dos empregos públicos. Depois de aprovar uma reforma administrativa que extinguiu várias secretárias, decidiu continuar pagando o salário dos secretários das pastas defuntas sob alegação que a reforma havia sido muito repentina e que alguns projetos devem ter continuação. Tipo namoro estica-e-puxa: a gente termina mas continua se beijando e passeando de mão dada.
4- Três guianenses, um adulto e dois adolescentes, se envolveram em um acidente de trânsito e foram pegos com 4,647 kg de maconha recém-colhida, o que estragou o final de semana do trio e dos futuros compradores. A República Cooperativista da Guiana é a grande fornecedora da erva para o mercado local. Muitos pais não entenderam o motivo de tanto desânimo.
1- Motoristas fazem protesto na rodovia que liga Boa Vista à Venezuela. Motivo: As autoridades estão reprimindo o contrabando de gasolina, que lá no outro país custa cerca de 10 centavos de real o litro. O combustível é transportado em pampas com tanque duplo ou carros com tanques adulterados e vendido a um real ou a R$ 1, 50 aqui na cidade. Os ?pampeiros?, como são chamados, dizem que a fiscalização atrapalha, que assim não dá.
2- O governo estadual anunciou que vai fechar 171 escolas por falta de alunos. Deve ser o único Estado do Brasil onde todo mundo já passou pelas salas de aula. O número, entretanto, é sugestivo e lembra outra coisa.
3- O governo estadual investe alto na manutenção dos empregos públicos. Depois de aprovar uma reforma administrativa que extinguiu várias secretárias, decidiu continuar pagando o salário dos secretários das pastas defuntas sob alegação que a reforma havia sido muito repentina e que alguns projetos devem ter continuação. Tipo namoro estica-e-puxa: a gente termina mas continua se beijando e passeando de mão dada.
4- Três guianenses, um adulto e dois adolescentes, se envolveram em um acidente de trânsito e foram pegos com 4,647 kg de maconha recém-colhida, o que estragou o final de semana do trio e dos futuros compradores. A República Cooperativista da Guiana é a grande fornecedora da erva para o mercado local. Muitos pais não entenderam o motivo de tanto desânimo.
sexta-feira, agosto 05, 2005
Histórias de índio: sangue e frio
Madrugada do dia 24 de dezembro de 2004. Estou em Puno, cidade peruana que fica às margens do Titicaca, o mais alto lago navegável do mundo. São 3.827 msnm, muito mais que os 90 msnm de Boa Vista, pertinho da Linha do Equador.
Completo 10 dias de viagem pelo Peru. Daqui a pouco vou para La Paz, começando uma jornada que vai demorar quatro dias de muitos quilômetros em ônibus e trens até Florianópolis, onde desfrutarei de sol, praia, ostras e camarão à milanesa.
Puno foi a cidade mais fria que já encontrei nesta viagem. Iquitos, Lima, Cuzco, Arequipa e vários vilarejos não me empurraram às cinco da tarde para o quarto do hotel, fugindo da vento e da chuva.
Acordo com falta de ar. No banheiro, depois de assoar o nariz, vem uma mistura de sangue e muco que suja a pia. Consigo respirar melhor e volto a dormir.
Quando acordo, o nariz está entupido de novo. Mais sangue e muco. O bus me pega no hotel, pegamos a estrada, paramos em Copacabana e no final da tarde, com mais uma mudança de fuso horário, estou na capital da Bolívia, construída num vale e rodeada de favelas.
Mais um bus e amanheço em Cochabamba, numa região bem mais tropical, à qual estou acostumado. No caminho para Santa Cruz de la Sierra, não há mais sinal de nariz entupido. O melhor de tudo é que não tive soroche, o mal de altura causado pela falta de oxigênio.
Update: depois de estranhar que todos estivessem pensando no futuro, percebi que coloquei a data errada nestas Histórias de Índio. Foi em dezembro do ano passado. I'm sorry...:-(
Madrugada do dia 24 de dezembro de 2004. Estou em Puno, cidade peruana que fica às margens do Titicaca, o mais alto lago navegável do mundo. São 3.827 msnm, muito mais que os 90 msnm de Boa Vista, pertinho da Linha do Equador.
Completo 10 dias de viagem pelo Peru. Daqui a pouco vou para La Paz, começando uma jornada que vai demorar quatro dias de muitos quilômetros em ônibus e trens até Florianópolis, onde desfrutarei de sol, praia, ostras e camarão à milanesa.
Puno foi a cidade mais fria que já encontrei nesta viagem. Iquitos, Lima, Cuzco, Arequipa e vários vilarejos não me empurraram às cinco da tarde para o quarto do hotel, fugindo da vento e da chuva.
Acordo com falta de ar. No banheiro, depois de assoar o nariz, vem uma mistura de sangue e muco que suja a pia. Consigo respirar melhor e volto a dormir.
Quando acordo, o nariz está entupido de novo. Mais sangue e muco. O bus me pega no hotel, pegamos a estrada, paramos em Copacabana e no final da tarde, com mais uma mudança de fuso horário, estou na capital da Bolívia, construída num vale e rodeada de favelas.
Mais um bus e amanheço em Cochabamba, numa região bem mais tropical, à qual estou acostumado. No caminho para Santa Cruz de la Sierra, não há mais sinal de nariz entupido. O melhor de tudo é que não tive soroche, o mal de altura causado pela falta de oxigênio.
Update: depois de estranhar que todos estivessem pensando no futuro, percebi que coloquei a data errada nestas Histórias de Índio. Foi em dezembro do ano passado. I'm sorry...:-(
quarta-feira, agosto 03, 2005
Madrugada
Acordou de madrugada sem saber onde estava. Ao seu lado, uma pessoa sem nome. Corpo cansado, levantou e foi ao banheiro. Voltou para a cama e dormiu. Quando abriu novamente os olhos, estava só. No tórax, marcas de uma noite passada com alguém de unhas compridas. Ouviu Sunday Morning no rádio de um carro que passava na rua . Nunca soube o que aconteceu nas horas anteriores, mas a possibilidade de ter sido algo muito bom o atormentou até o último dia de sua vida.
Acordou de madrugada sem saber onde estava. Ao seu lado, uma pessoa sem nome. Corpo cansado, levantou e foi ao banheiro. Voltou para a cama e dormiu. Quando abriu novamente os olhos, estava só. No tórax, marcas de uma noite passada com alguém de unhas compridas. Ouviu Sunday Morning no rádio de um carro que passava na rua . Nunca soube o que aconteceu nas horas anteriores, mas a possibilidade de ter sido algo muito bom o atormentou até o último dia de sua vida.
terça-feira, agosto 02, 2005
Frases infantis
Na praça:
Adriana, você é sensacionalisticamente sensacional!
(Duvido alguém falar de primeira sem engasgar.)
Na rua, esperando um táxi para não pegar ônibus:
Mãe, não agüento mais essa tua mania de luxúria.
(Luxo, para maus entendedores.)
Na rua, comentando sobre a casa dos amigos:
A casa do Marcelo fica duas vezes depois do fim dessa rua.
(Sem comentários.)
Na praça:
Adriana, você é sensacionalisticamente sensacional!
(Duvido alguém falar de primeira sem engasgar.)
Na rua, esperando um táxi para não pegar ônibus:
Mãe, não agüento mais essa tua mania de luxúria.
(Luxo, para maus entendedores.)
Na rua, comentando sobre a casa dos amigos:
A casa do Marcelo fica duas vezes depois do fim dessa rua.
(Sem comentários.)
sexta-feira, julho 29, 2005
O belo...
Quinta-feira, mais uma edição do projeto Pixinguinha, que leva música de qualidade a todo o Brasil. Músicos de primeira no palco, Palácio da Cultura lotado, pessoas em pé, chegando apressadas ao espetáculo.
O show começa. Primeiro, Chico Saraiva, acompanhado de Verônica Ferriani. Um violonista de primeira e uma garota com uma voz maravilhosamente harmônica, cheia de nuances que encantam.
Depois, veio Kátia Freitas, com suas misturas de rock com ritmos do nordeste e outras influências. A noite já estava quente, o público encantado com a sonoridade já cantava ?Coca-colas e iguarias? como se fosse um grande sucesso e o cara do som insistia em atrapalhar a apresentação. Engraçado e irritante ver os músicos todos olhando para os bastidores, praticamente implorando para que tudo saísse bem.
A noite terminou com a energia de Marina Machado, mineirinha cheia de sonoridade, alegria e belas letras. E tudo isso sendo transmitido ao vivo para todo o Estado por duas emissoras de rádio, contribuindo para levar o show à grande parcela da população que não tem acesso a este tipo de evento.
...E o grotesco
Sexta-feira pela manhã, pronto-socorro estadual, visita a um amigo saído de um enfarte. Corredores do pronto-socorro cheios de macas e doentes. O cheiro insuportável do suor misturado com o de remédios. Papéis na parede do corredor dizem ?maca 1, maca 2, maca 2?, evidenciando a que ponto chegou a estrutura do Governo. A unidade semi-intensiva parece uma sala qualquer, suja e descuidada. Enfim, as cenas só reforçam minha aversão à hospitais.
Quinta-feira, mais uma edição do projeto Pixinguinha, que leva música de qualidade a todo o Brasil. Músicos de primeira no palco, Palácio da Cultura lotado, pessoas em pé, chegando apressadas ao espetáculo.
O show começa. Primeiro, Chico Saraiva, acompanhado de Verônica Ferriani. Um violonista de primeira e uma garota com uma voz maravilhosamente harmônica, cheia de nuances que encantam.
Depois, veio Kátia Freitas, com suas misturas de rock com ritmos do nordeste e outras influências. A noite já estava quente, o público encantado com a sonoridade já cantava ?Coca-colas e iguarias? como se fosse um grande sucesso e o cara do som insistia em atrapalhar a apresentação. Engraçado e irritante ver os músicos todos olhando para os bastidores, praticamente implorando para que tudo saísse bem.
A noite terminou com a energia de Marina Machado, mineirinha cheia de sonoridade, alegria e belas letras. E tudo isso sendo transmitido ao vivo para todo o Estado por duas emissoras de rádio, contribuindo para levar o show à grande parcela da população que não tem acesso a este tipo de evento.
...E o grotesco
Sexta-feira pela manhã, pronto-socorro estadual, visita a um amigo saído de um enfarte. Corredores do pronto-socorro cheios de macas e doentes. O cheiro insuportável do suor misturado com o de remédios. Papéis na parede do corredor dizem ?maca 1, maca 2, maca 2?, evidenciando a que ponto chegou a estrutura do Governo. A unidade semi-intensiva parece uma sala qualquer, suja e descuidada. Enfim, as cenas só reforçam minha aversão à hospitais.
quarta-feira, julho 27, 2005
Poesias venezuelanas
Na falta de tema próprio, poemas da poeta venezuelana Maria Jesús Silva Inserri, 83 anos. Quem não entender alguma palavra, é só perguntar.
Si nuestro amor es eterno
Entonces
¿Por qué tanta prisa?
...................
Sí
Te debo todo lo que soy.
No soy nadie
............................
No sé quién soy
Cuando me nombro.
Cuando me llamas me descubro
Na falta de tema próprio, poemas da poeta venezuelana Maria Jesús Silva Inserri, 83 anos. Quem não entender alguma palavra, é só perguntar.
Si nuestro amor es eterno
Entonces
¿Por qué tanta prisa?
...................
Sí
Te debo todo lo que soy.
No soy nadie
............................
No sé quién soy
Cuando me nombro.
Cuando me llamas me descubro
quinta-feira, julho 21, 2005
Cartesianos
Ela disse:
- Te dispenso.
Ele respondeu:
- Não concordo. Logo, insisto.
Racionalistas, encontraram seu vértice depois de avaliar suas exatidões.
terça-feira, julho 19, 2005
Reações
Ela disse, sedutora:
- Provoca-me e te devoro...
Ele respondeu, achando que era brincadeira:
- Êêê, vai brincar de jibóia, heim?
Nunca entendeu o porquê dela passar a chamá-lo de boboca depois daquele dia.
sexta-feira, julho 15, 2005
Dom da distância
O poeta fugitivo viaja pela terra
Escondido num carro,
Dentro de um trem cortador
De vales, serras e vales.
Seus amigos o esperam
Dentro de um bar,
Todos alegres com suas conquistas.
Mas nenhum
Consegue definir o conquistador
E o conquistado.
O homem e a sua poesia
Caminham por pontes,
Banham-se em rios, lagos
E banheiros imundos,
Desses colocados ao lado de uma lanchonete
De beira de estrada.
Seu grande amor muda a cara
Todos os dias.
Parece uma difícil canção
Com muitas notas,
Do tipo amada e odiada,
do tipo por todas escutada.
Com sua arte carregada nas costas,
O fugitivo poeta às vezes
Pensa na sua terra,
Nos amigos de infância
No motivo de sua fuga.
Pensa nos seus livros,
Nos seus discos,
Nos seus alguma coisa,
Em tudo.
Suas maiores conquistas
Resumiram-se a elogios.
Seus grandes fracassos
Construíram verdadeiramente
A vidinha levada naquele
Local chamado lar.
A inconformidade o fez sonhar.
Sua covardia o fez esperar
Sentado na cama.
O vivo poeta,
Transbordantemente melancólico,
Rascunha letras enquanto
Espera um ônibus,
Qualquer ônibus, desses
Que o levam a lugares
Mais alegres, mais tristes,
Sem flores ou corvos.
Sua pequena vida cabia
Naquele quarto horrível
Habitado por ele, seus irmãos,
Pais, amigos, amantes,
Inimigos e não sonhadores.
Ele não sente falta de nada.
O poeta prepara-se para fugir
Mais um dia,
Uma noite toda.
Sonha com a sua poesia,
Com o seu grande final.
Sonha, sobretudo, com
A manutenção da sua capacidade
De ser poeta e sonhar.
( Making off: escrito em 1998, foi parar numa coletânea de poesias do Sesi Roraima. Redigido no meu antigo quarto, vendo o pôr-do-sol pela janela, céu vermelho, lembrando de um filme sobre um sujeito que se descobre poeta depois de encarcerado e sonha em ter o seu bar para declamar as poesias. Há quem goste dele.)
O poeta fugitivo viaja pela terra
Escondido num carro,
Dentro de um trem cortador
De vales, serras e vales.
Seus amigos o esperam
Dentro de um bar,
Todos alegres com suas conquistas.
Mas nenhum
Consegue definir o conquistador
E o conquistado.
O homem e a sua poesia
Caminham por pontes,
Banham-se em rios, lagos
E banheiros imundos,
Desses colocados ao lado de uma lanchonete
De beira de estrada.
Seu grande amor muda a cara
Todos os dias.
Parece uma difícil canção
Com muitas notas,
Do tipo amada e odiada,
do tipo por todas escutada.
Com sua arte carregada nas costas,
O fugitivo poeta às vezes
Pensa na sua terra,
Nos amigos de infância
No motivo de sua fuga.
Pensa nos seus livros,
Nos seus discos,
Nos seus alguma coisa,
Em tudo.
Suas maiores conquistas
Resumiram-se a elogios.
Seus grandes fracassos
Construíram verdadeiramente
A vidinha levada naquele
Local chamado lar.
A inconformidade o fez sonhar.
Sua covardia o fez esperar
Sentado na cama.
O vivo poeta,
Transbordantemente melancólico,
Rascunha letras enquanto
Espera um ônibus,
Qualquer ônibus, desses
Que o levam a lugares
Mais alegres, mais tristes,
Sem flores ou corvos.
Sua pequena vida cabia
Naquele quarto horrível
Habitado por ele, seus irmãos,
Pais, amigos, amantes,
Inimigos e não sonhadores.
Ele não sente falta de nada.
O poeta prepara-se para fugir
Mais um dia,
Uma noite toda.
Sonha com a sua poesia,
Com o seu grande final.
Sonha, sobretudo, com
A manutenção da sua capacidade
De ser poeta e sonhar.
( Making off: escrito em 1998, foi parar numa coletânea de poesias do Sesi Roraima. Redigido no meu antigo quarto, vendo o pôr-do-sol pela janela, céu vermelho, lembrando de um filme sobre um sujeito que se descobre poeta depois de encarcerado e sonha em ter o seu bar para declamar as poesias. Há quem goste dele.)
quinta-feira, julho 14, 2005
Perfis
Era tão canalha que nem o diabo fazia negócios com ele.
......
Brigavam tanto que quando se encontravam perguntavam um ao outro se estavam de bem ou de mal.
......
Era tão fácil de levar para a cama que acabou como chefe da equipe de testes de uma fábrica de colchões.
.....
Escrevia tão mal que até o bilhete de suicídio ninguém conseguiu compreender.
(P.S.: O post anterior foi parar numa coluna do jornal mais malcriado do sul do Brasil, o megasucesso de vendas Diário do Litoral, no Vale do Itajaí, Santa Catarina. Culpa de Carlotinha Cavalheiro.)
Era tão canalha que nem o diabo fazia negócios com ele.
......
Brigavam tanto que quando se encontravam perguntavam um ao outro se estavam de bem ou de mal.
......
Era tão fácil de levar para a cama que acabou como chefe da equipe de testes de uma fábrica de colchões.
.....
Escrevia tão mal que até o bilhete de suicídio ninguém conseguiu compreender.
(P.S.: O post anterior foi parar numa coluna do jornal mais malcriado do sul do Brasil, o megasucesso de vendas Diário do Litoral, no Vale do Itajaí, Santa Catarina. Culpa de Carlotinha Cavalheiro.)
terça-feira, julho 12, 2005
Mala forte
A grana apreendida das malas da Universal do Reino de Deus somente num avião chega aos 10 milhões de reais. O dinheiro é fruto de apenas um culto especial realizado aqui do lado, no Amazonas. Fazendo uns quatro desses por mês, dá para sentir quanto rende por mês a fé e a caridade cristã.
Primeiro era só a mala do publicitário Marcos Valério de Souza abastecendo os partidos aliados do governo. Depois foi o irmão do José Genoíno pego com R$ 200 mil também numa mala e 100 mil dólares numa cueca. Agora foi o pastor/deputado da Universal/PFL. Começo a pensar que depois dos colchões e dos cofres bancários, mala é o melhor lugar para fazer dinheiro render.
Aliás, pelo perfil do dinheiro que voa de um lado ao outro do país em tantas malas, a profissão em alto no momento não é a de pastor de igrejas isentas de impostos, nem a de "agricultor" ligado a parente do presidente nacional do PT e muito menos a de publicitário do governo federal. O negócio é ser fabricante de malas.
FestRock, o final
Se a chuva fez um estrago na sexta e o público não apareceu como esperado na primeira noite do Sesc FestRock, o sábado foi de casa cheia, com o galpão, os corredores e a frente do prédio tomadas por pessoas vestindo roupa preta, muito couro e metal.
Não rolou confronto, apenas um desentendimento rapidamente contornado com a pressão dos próprios músicos sobre os brigões em potencial.
As meninas da banda Pink Rock, vindas de Manaus, deixaram a turma em alta. Pena que a acústica não ajudava muito a entender o que cantavam.
Para quem não agüenta mais ouvir axé, forró e brega, o festival foi uma redenção. Pena que as bandas limitaram-se a fazer cover, tocaram 99% das músicas em inglês e só houve espaço para o rock pesado. Uma ou outra que tocou composições próprias.
Mesmo assim, valeu.
A grana apreendida das malas da Universal do Reino de Deus somente num avião chega aos 10 milhões de reais. O dinheiro é fruto de apenas um culto especial realizado aqui do lado, no Amazonas. Fazendo uns quatro desses por mês, dá para sentir quanto rende por mês a fé e a caridade cristã.
Primeiro era só a mala do publicitário Marcos Valério de Souza abastecendo os partidos aliados do governo. Depois foi o irmão do José Genoíno pego com R$ 200 mil também numa mala e 100 mil dólares numa cueca. Agora foi o pastor/deputado da Universal/PFL. Começo a pensar que depois dos colchões e dos cofres bancários, mala é o melhor lugar para fazer dinheiro render.
Aliás, pelo perfil do dinheiro que voa de um lado ao outro do país em tantas malas, a profissão em alto no momento não é a de pastor de igrejas isentas de impostos, nem a de "agricultor" ligado a parente do presidente nacional do PT e muito menos a de publicitário do governo federal. O negócio é ser fabricante de malas.
FestRock, o final
Se a chuva fez um estrago na sexta e o público não apareceu como esperado na primeira noite do Sesc FestRock, o sábado foi de casa cheia, com o galpão, os corredores e a frente do prédio tomadas por pessoas vestindo roupa preta, muito couro e metal.
Não rolou confronto, apenas um desentendimento rapidamente contornado com a pressão dos próprios músicos sobre os brigões em potencial.
As meninas da banda Pink Rock, vindas de Manaus, deixaram a turma em alta. Pena que a acústica não ajudava muito a entender o que cantavam.
Para quem não agüenta mais ouvir axé, forró e brega, o festival foi uma redenção. Pena que as bandas limitaram-se a fazer cover, tocaram 99% das músicas em inglês e só houve espaço para o rock pesado. Uma ou outra que tocou composições próprias.
Mesmo assim, valeu.
sábado, julho 09, 2005
O rock não é mais como antes...
I Sesc FestRock. 23 bandas de rock tocando no espaço multicultural do Sesc Roraima no sábado e no domingo. É o grande encontro das tribos.
O show ainda não começou. Chove demais na cidade. Zanny e eu ilhados numa lanchonete, esperando o tempo passar e vendo América.
Diz Zanny: vamos embora na chuva mesmo. Estou com frio e ela não vai passar tão cedo.
Digo eu: calma, companheira. Tenha fé. Já vai diminuir.
Meia hora depois, diz Zanny: vai passar quando?
Digo eu: abre teu coração para Jesus, mulher de pouca fé. Já, já, passa.
Uns dez minutos depois saímos correndo debaixo da chuva. A água estava empoçando e cada carro que passava, ondas se formavam, lindas como se estivéssemos à beira do mar... O problema é que havia uma tampa de esgoto pertinho e a Zanny estava querendo vomitar...
No Sesc, a molecada toda de preto, alguns com o rosto pintado, piercings, outros com bandeiras, cantando músicas em inglês com solos de guitarra baterias pulsantes. Tatuadores, roupas de couro e metal. É algo diferente na terra onde tudo termina em forró ou axé sendo cantado por músicos desafinados.
Muito rock. Vocalistas com naipes diferentes, alguns com estilo, outros ainda pegando a manha do palco.
A molecada bebendo suco de laranja e um guitarrista parando a apresentação para dizer que as drogas fazem mal à saúde, que ele usou por 15 anos e quase morre, blá-blá-blá, fazendo do palco um confessionário e sendo muito aplaudido no final.
Definitivamente, o rock não é mais o que era antes. Pelo menos no que trata sobre as drogas entre a juventude. Ainda bem.
P.S.: Terminei de escrever às 13h24, hora local. E ainda chovia na cidade, claro que com menos intensidade. É culpa da pouca fé da Zanny.
I Sesc FestRock. 23 bandas de rock tocando no espaço multicultural do Sesc Roraima no sábado e no domingo. É o grande encontro das tribos.
O show ainda não começou. Chove demais na cidade. Zanny e eu ilhados numa lanchonete, esperando o tempo passar e vendo América.
Diz Zanny: vamos embora na chuva mesmo. Estou com frio e ela não vai passar tão cedo.
Digo eu: calma, companheira. Tenha fé. Já vai diminuir.
Meia hora depois, diz Zanny: vai passar quando?
Digo eu: abre teu coração para Jesus, mulher de pouca fé. Já, já, passa.
Uns dez minutos depois saímos correndo debaixo da chuva. A água estava empoçando e cada carro que passava, ondas se formavam, lindas como se estivéssemos à beira do mar... O problema é que havia uma tampa de esgoto pertinho e a Zanny estava querendo vomitar...
No Sesc, a molecada toda de preto, alguns com o rosto pintado, piercings, outros com bandeiras, cantando músicas em inglês com solos de guitarra baterias pulsantes. Tatuadores, roupas de couro e metal. É algo diferente na terra onde tudo termina em forró ou axé sendo cantado por músicos desafinados.
Muito rock. Vocalistas com naipes diferentes, alguns com estilo, outros ainda pegando a manha do palco.
A molecada bebendo suco de laranja e um guitarrista parando a apresentação para dizer que as drogas fazem mal à saúde, que ele usou por 15 anos e quase morre, blá-blá-blá, fazendo do palco um confessionário e sendo muito aplaudido no final.
Definitivamente, o rock não é mais o que era antes. Pelo menos no que trata sobre as drogas entre a juventude. Ainda bem.
P.S.: Terminei de escrever às 13h24, hora local. E ainda chovia na cidade, claro que com menos intensidade. É culpa da pouca fé da Zanny.
quinta-feira, julho 07, 2005
Um ano
Num ritmo cada mais corrido de trabalho, lembrei que há exatamente um ano, em 7 de julho de 2004, a dois dias do aniversário do município de Boa Vista, entrava no mundo dos blogs a primeira postagem do Crônicas do Fronteira.
Muchas gracias, Avery, por ter me ajudado a entrar neste mundo. Como sempre, fico te devendo.
Nesses doze meses, idade aproximada a que tinha quando bati essa fotinha aí, uma pá de coisas aconteceu na vida deste cronista.
Rapidamente, para ilustrar a inspiração para alguns textos aqui publicados, vai aí uma lista rápida de alguns fatos relevantes:
1) Três viagens à Venezuela.
2) Uma ao Peru, com passagem pela Bolívia, com direito a chá de coca.
3) Dois semestres concluídos no curso de Sociologia e mais dois pela frente para sair desse perrengue.
4) Algumas pessoas incomodadas com o conteúdo do Crônicas.
5) Muito calor, muita chuva.
6) Duas bikes roubadas.
7) Algumas amizades criadas e outras quebradas.
8) Um aumento salarial com a correspondente duplicação de responsabilidades.
9) Alguns shows de rock, música latina e outros gêneros.
10) Algumas bocas.
11) Uma namorada que criou coragem para mostrar o que escreve e decidiu tornar-se blogueira.
12) Raivas, risadas e etc. e tal.
13) Um computador pessoal que vive pifado.
14) Pequeno e irritante aumento da massa corporal.
15) Vocês.
Para comemorar, festas, bebidas, gandaia? Nãããooo. Uma prova, a última do semestre, justo das 20h às 22h. Se estudei? Nãããooo.
Vou deixar as comemorações para esta sexta,nesse evento aí, ô, desse cartaz aí embaixo.
A todos os que apareceram por aqui nos últimos 12 meses, valeu.
Num ritmo cada mais corrido de trabalho, lembrei que há exatamente um ano, em 7 de julho de 2004, a dois dias do aniversário do município de Boa Vista, entrava no mundo dos blogs a primeira postagem do Crônicas do Fronteira.
Muchas gracias, Avery, por ter me ajudado a entrar neste mundo. Como sempre, fico te devendo.
Nesses doze meses, idade aproximada a que tinha quando bati essa fotinha aí, uma pá de coisas aconteceu na vida deste cronista.
Rapidamente, para ilustrar a inspiração para alguns textos aqui publicados, vai aí uma lista rápida de alguns fatos relevantes:
1) Três viagens à Venezuela.
2) Uma ao Peru, com passagem pela Bolívia, com direito a chá de coca.
3) Dois semestres concluídos no curso de Sociologia e mais dois pela frente para sair desse perrengue.
4) Algumas pessoas incomodadas com o conteúdo do Crônicas.
5) Muito calor, muita chuva.
6) Duas bikes roubadas.
7) Algumas amizades criadas e outras quebradas.
8) Um aumento salarial com a correspondente duplicação de responsabilidades.
9) Alguns shows de rock, música latina e outros gêneros.
10) Algumas bocas.
11) Uma namorada que criou coragem para mostrar o que escreve e decidiu tornar-se blogueira.
12) Raivas, risadas e etc. e tal.
13) Um computador pessoal que vive pifado.
14) Pequeno e irritante aumento da massa corporal.
15) Vocês.
Para comemorar, festas, bebidas, gandaia? Nãããooo. Uma prova, a última do semestre, justo das 20h às 22h. Se estudei? Nãããooo.
Vou deixar as comemorações para esta sexta,nesse evento aí, ô, desse cartaz aí embaixo.
A todos os que apareceram por aqui nos últimos 12 meses, valeu.
segunda-feira, julho 04, 2005
Resumos da vida
O que os dois queriam era uma simples noite de sexo, mas alguma coisa deu errado. Casaram, tiveram filhos, pagaram a hipoteca de uma casa e ficaram bravos quando a filha mais velha decidiu largar os estudos para ser cantora numa banda de reggae chamada Os filhos de Maria Joana.
sábado, julho 02, 2005
O tempo sem luz
...E as luzes se apagavam enquanto o som diminuía.
As mulheres chamavam as suas crianças
E os homens largavam suas amantes.
Os padres oravam pelos demônios
Que ao lado dos mortais deliciavam-se
Com garrafões cheios de vinho.
O pecado parecia ser a ante-sala da
Da alegria mundana alojada naquela igreja.
A profanação seria lembrada como a maior de todas e os
Seus protagonistas cultuados como lendas por vários povos
E muitas gerações.
(Escrito na metade da década de 1990, quando ainda estava no ensino médio)
quinta-feira, junho 30, 2005
TV Câmara, duas da manhã, horário de Brasília
Às vezes, a insônia tem suas gratificações. Conhecer mais um pouco o Legislativo, via TV Câmara, é uma delas. Na sessão da madrugada de quinta-feira, quando os deputados tentavam votar a aprovação de uma medida provisória enviada às 19h pelo Governo para dar um crédito extraordinário de R$ 299 milhões para o Ministério da Defesa e para a rubrica "Encargos Financeiros da União".
Discurso vem, discurso vai, o Severino quase dormindo, me saem os deputados com esta conversa, às 1h58, horário de Brasília, depois que alguém perguntou ao presidente da Câmara quanto tempo ele ia deixar o painel em aberto para votação.
Severino Cavalcanti: Até as 3 horas.
Dep. Alberto Goldman (líder do PSDB): Presidente, nunca vi deixar o painel em aberto por mais de uma hora para votação.
Severino, o rei do baixo clero: Era preciso que o senhor visse. Eu sou a primeiro!
(Plano geral, os deputados falam e o som é captado pelos microfones.)
Roberto Freire (presidente do PPS): Isso é uma falta de respeito com os deputados.
Severino, cabra macho: Eu não preciso de seu respeito. Nunca precisei.
Freire: Nunca teve! Nunca teve desde a época do (fala confusa, não consigo entender. Os dois são pernambucanos e devem ter uma história pregressa.).
Goldman pega o microfone e responde ao Severino, em tom de quem um dia pretende voltar a ser situação: Vou me lembrar disso.
Aí desliguei a TV, frustrado por não ver os meus parlamentares ali, de madrugada, votando matérias importantíssimas para o futuro do País.
Às vezes, a insônia tem suas gratificações. Conhecer mais um pouco o Legislativo, via TV Câmara, é uma delas. Na sessão da madrugada de quinta-feira, quando os deputados tentavam votar a aprovação de uma medida provisória enviada às 19h pelo Governo para dar um crédito extraordinário de R$ 299 milhões para o Ministério da Defesa e para a rubrica "Encargos Financeiros da União".
Discurso vem, discurso vai, o Severino quase dormindo, me saem os deputados com esta conversa, às 1h58, horário de Brasília, depois que alguém perguntou ao presidente da Câmara quanto tempo ele ia deixar o painel em aberto para votação.
Severino Cavalcanti: Até as 3 horas.
Dep. Alberto Goldman (líder do PSDB): Presidente, nunca vi deixar o painel em aberto por mais de uma hora para votação.
Severino, o rei do baixo clero: Era preciso que o senhor visse. Eu sou a primeiro!
(Plano geral, os deputados falam e o som é captado pelos microfones.)
Roberto Freire (presidente do PPS): Isso é uma falta de respeito com os deputados.
Severino, cabra macho: Eu não preciso de seu respeito. Nunca precisei.
Freire: Nunca teve! Nunca teve desde a época do (fala confusa, não consigo entender. Os dois são pernambucanos e devem ter uma história pregressa.).
Goldman pega o microfone e responde ao Severino, em tom de quem um dia pretende voltar a ser situação: Vou me lembrar disso.
Aí desliguei a TV, frustrado por não ver os meus parlamentares ali, de madrugada, votando matérias importantíssimas para o futuro do País.
terça-feira, junho 28, 2005
segunda-feira, junho 27, 2005
Da série Ouvidos na rua: Roqueiros adolescentes
Na maioria das vezes, a adolescência é uma fase fantástica. Outras vezes é assustadora. Hormônios explodindo, pressão social, acne, o primeiro beijo de língua, o vestibular chegando, a vontade de conquistar o mundo ou simplesmente dormir até tarde sem ninguém perturbar.
A adolescência, na maioria das vezes, é também uma fase de falta de dinheiro. E isso é muito ruim se você quer ver um show de rock, por exemplo, e não tem a grana da entrada, criando cenas como a de sábado, quase às 23h.
- Quanto é?, pergunta o rapazinho, magro, cabeludo, camiseta preta, roqueiro total.
- Cinco reais, responde a mocinha que estava vendendo os ingressos.
- Aceita carteirinha?
- Hum...hum..., tá bom, responde a garotinha, com um sorriso amarelo.
O guri paga, pega o troco e vai saindo quando a mocinha pergunta pelo documento.
- E tem que mostrar?
- Claro!, diz a vendedora, rindo do meu sorriso.
- Ô, táqui, mas não tem foto...
- Hum...vê lá com o rapaz da entrada para ver se tu podes entrar, orienta a mocinha, com expressão de quem não acredita no que está ouvindo.
Se o guri entrou, não sei. Mas na saída do show havia uns 20 do mesmo naipe, só esperando liberarem a entrada.
Na maioria das vezes, a adolescência é uma fase fantástica. Outras vezes é assustadora. Hormônios explodindo, pressão social, acne, o primeiro beijo de língua, o vestibular chegando, a vontade de conquistar o mundo ou simplesmente dormir até tarde sem ninguém perturbar.
A adolescência, na maioria das vezes, é também uma fase de falta de dinheiro. E isso é muito ruim se você quer ver um show de rock, por exemplo, e não tem a grana da entrada, criando cenas como a de sábado, quase às 23h.
- Quanto é?, pergunta o rapazinho, magro, cabeludo, camiseta preta, roqueiro total.
- Cinco reais, responde a mocinha que estava vendendo os ingressos.
- Aceita carteirinha?
- Hum...hum..., tá bom, responde a garotinha, com um sorriso amarelo.
O guri paga, pega o troco e vai saindo quando a mocinha pergunta pelo documento.
- E tem que mostrar?
- Claro!, diz a vendedora, rindo do meu sorriso.
- Ô, táqui, mas não tem foto...
- Hum...vê lá com o rapaz da entrada para ver se tu podes entrar, orienta a mocinha, com expressão de quem não acredita no que está ouvindo.
Se o guri entrou, não sei. Mas na saída do show havia uns 20 do mesmo naipe, só esperando liberarem a entrada.
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