quarta-feira, outubro 19, 2011

O bicho

- Bicho, mamãe!

Não, não! Sou eu! Olha com cuidado, filho. Não assusta a tua mãe. Querida, chega mais perto, por favor! Sei lá o que está acontecendo, caramba! Acordei desse jeito, pequenininho, parecendo um inseto, mas sou eu...

- Sai, bicho nojento, sai!

Para com isso, amor! Não consegue me ouvir? Tô gritando feito louco aqui. Porra, tu já viu bicho em formato de homem? É mais fácil homem parecer inseto, né? Lembra do Kafka?

- Arg, que nojo!

Oh, amor, fala assim não. Fica calma, tudo vai se arrumar. Posso não saber por que estou assim, se por bruxaria ou castigo divino, mas sei que voltarei ao normal e vamos acabar tranquilamente a conversa que tivemos ontem e arrumar o nosso relacionamento. Sim, sei que fui embora no meio da conversa, feito doido, e voltei depois sem que ninguém visse. Depois disso, apagou tudo de minha cabeça. Só lembro de acordar de manhã com você gritando…

- Sai, bicho asqueroso. Deixa a cama!

Amor, para com isso. Olha direito. Sou eu, o homem que você ama, ou amava, não sei. Já fiz tanta burrada que até entenderia, mas enfim, olha direito. Opa. Não olha tão feio assim, não. Sai, não chega tão perto com essa sandália. Afasta, amor, afasta. Tira essa sandália daí!

Plaft!

- Ai, que sujeira. O bicho tava cheio de sangue, filho. Agora vou ter que lavar os lençóis.

Um comentário:

Ágda Santos disse...

Nunca pensei por esse ângulo quando lia Metamorfose. Mas talvez seja coisa de Latino. Mata logo que tudo se resolve.