Histórias reais no dia do repórter
Atendimento nota 10
-ALÔ!!
- Oi, é da TV?
- É SIM!!
- Alô, sinal de fax, por favor.
- Quem?
- Sinal de fax, por favor
- Como?
- Si-nal de fax, por fa-vor?!
- Trabalha aqui não.
........................
Escambo
- Oi, tudo bem. Meu nome é fulano de tal. Quanto custam as aulas para tirar carteira de motorista?
- Tantos reais.
- Olha só. Fulaninho, jornalista do jornal TAL, quer saber se você não topa trocar umas aulas para uma jovem em troca de divulgação de teu negócio com notinhas elogiando o serviço daqui.
- Hum...pode ser. Quem é a moça?
- Ah, é uma afilhada dele. Já, já, te dou o nome. Você não vai se arrepender.
..........................
Solidariedade
- Oi, amigos! Tudo bem?
- Ahã.
- Poxa, queria pedir para vocês não filmarem a mulher do doutor. Poxa, olha para ela, tão abatidinha com a história dessa prisão. Imagina como deve estar a cabeça da coitada, sendo acusada de ser chefe de gafanhotos. São essas acusações escandalosas que envergonham nosso estado.
quarta-feira, fevereiro 16, 2005
domingo, fevereiro 13, 2005
Segunda-feira, dia dos namorados no restante do mundo. Para celebrar a data e falar sobre relacionamentos, comentários de meus leitores, em mais uma edição da série Apropriações Indébitas:
Aprendi que romances românticos só existem nas pontas das canetas dos poetas, que o sexo do domingo começa na segunda pela manhã, que rotina é um fel na relação e uma profunda saudade na alma dos separados, que estar bem ou mal acompanhado depende do quanto vc bebeu, que estar sozinho depende do q vc tem por dentro, que amar sua vida e se valorizar é o melhor fortalecimento para qualquer relação e que comprar flores é tão importante quanto comprar feijão.
Anderson, no post Às mestras, de 3 de novembro de 2004
É cara, nesses últimos anos aprendi um monte de coisas. A principal foi descobrir que não há possibilidade de uma vivência de 17 anos com uma companheira sem que haja diálogo 60 segundos por minuto, 60 minutos por hora, 24 horas por dia, 365 dias por ano. E o mais gostoso é ver, no dia seguinte, que você conseguiu transpor mais algumas barreiras que tentavam impedir esse diálogo. Falô!!
Nei Costa, no mesmo post.
Eu acredito que o melhor amor é sempre o próximo, assim como as viagens. Agora para quem está com a mesma pessoa há vários anos, vale recordar o comentário de Albert Cammus, a saber: "o inferno é a rotina". Portanto,tomem cuidado!!!
Humberto Almeida, também no mesmo post
Mas sobre os romances que tive, apesar de fazer um tempinho que não tenho ninguém e nem pretendo algo daqui a pelo menos dois anos,sei que o que aprendi não sai.Aprendi a ser amiga e companheira, que as pessoas não são perfeitas e que nunca serão. Que ciúmes é uma grande bobagem e só quem não confia em si e no outro pode sentir tal sentimento.E conviver com as diferenças. Também veio as descobertas mais lógicas, como não é somente a mulher que é romântica e que gosta de cafuné na cabeça.Eles me ensinaram a ver a rotina como uma forma de amar. Também a ser menos exigente e menos ranzinza quando as coisas não saiam como eu queria.O melhor de tudo é que vou poder compartilhar tudo isso com meu esposo.
Adenice, na mesma leva.
Esses são os dramas dos nossos romances modernos. Não há entrega, não há vontade de se ir além, de se doar por inteiro. Hoje, isso é vergonha. Nenhuma garota fala disso com as amigas. Nem nós homens... Achamos isso uma frescura. falar de amor hoje é cafona, acreditem!!! Por isso acabamos ficando com a mesmice dos dias. Até que um dia nos damos conta de que a vida passou e não fizemos nada que realmente valesse a pena.Sábios e felizes são os que se dão conta disso a tempo
Ricardo Pcapuleto, no post Cenas Românticas, de 26 de novembro de 2004.
Aprendi que romances românticos só existem nas pontas das canetas dos poetas, que o sexo do domingo começa na segunda pela manhã, que rotina é um fel na relação e uma profunda saudade na alma dos separados, que estar bem ou mal acompanhado depende do quanto vc bebeu, que estar sozinho depende do q vc tem por dentro, que amar sua vida e se valorizar é o melhor fortalecimento para qualquer relação e que comprar flores é tão importante quanto comprar feijão.
Anderson, no post Às mestras, de 3 de novembro de 2004
É cara, nesses últimos anos aprendi um monte de coisas. A principal foi descobrir que não há possibilidade de uma vivência de 17 anos com uma companheira sem que haja diálogo 60 segundos por minuto, 60 minutos por hora, 24 horas por dia, 365 dias por ano. E o mais gostoso é ver, no dia seguinte, que você conseguiu transpor mais algumas barreiras que tentavam impedir esse diálogo. Falô!!
Nei Costa, no mesmo post.
Eu acredito que o melhor amor é sempre o próximo, assim como as viagens. Agora para quem está com a mesma pessoa há vários anos, vale recordar o comentário de Albert Cammus, a saber: "o inferno é a rotina". Portanto,tomem cuidado!!!
Humberto Almeida, também no mesmo post
Mas sobre os romances que tive, apesar de fazer um tempinho que não tenho ninguém e nem pretendo algo daqui a pelo menos dois anos,sei que o que aprendi não sai.Aprendi a ser amiga e companheira, que as pessoas não são perfeitas e que nunca serão. Que ciúmes é uma grande bobagem e só quem não confia em si e no outro pode sentir tal sentimento.E conviver com as diferenças. Também veio as descobertas mais lógicas, como não é somente a mulher que é romântica e que gosta de cafuné na cabeça.Eles me ensinaram a ver a rotina como uma forma de amar. Também a ser menos exigente e menos ranzinza quando as coisas não saiam como eu queria.O melhor de tudo é que vou poder compartilhar tudo isso com meu esposo.
Adenice, na mesma leva.
Esses são os dramas dos nossos romances modernos. Não há entrega, não há vontade de se ir além, de se doar por inteiro. Hoje, isso é vergonha. Nenhuma garota fala disso com as amigas. Nem nós homens... Achamos isso uma frescura. falar de amor hoje é cafona, acreditem!!! Por isso acabamos ficando com a mesmice dos dias. Até que um dia nos damos conta de que a vida passou e não fizemos nada que realmente valesse a pena.Sábios e felizes são os que se dão conta disso a tempo
Ricardo Pcapuleto, no post Cenas Românticas, de 26 de novembro de 2004.
quinta-feira, fevereiro 10, 2005
Lembranças de sumpaulo
Depois de conhecer a Praça da República, com seus pintores, artesãos, loucos, velinhos conversando, capoeiristas (na verdade, esses eu vi outro dia) e espertalhões, atravessei a rua seguindo meu inesperado guia.
Caminhamos uma quadra, passamos por duas bancas de vendedores de CD?s piratas, o bolso coçando para comprar alguns, e paramos na esquina.
- E aí, tu sabes onde estás, perguntou Avery.
(pensei que ele estava zombando de mim, marinheiro de primeira viagem na maior cidade do país. Mesmo assim olhei para aquele cruzamento, com seus edifícios feios, seus carros barulhentos, seus mendigos e cineminhas pornôs).
- Não, Avery.
- Olha para cima. Lê a placa.
(na placa, os nomes que fazem daquele lugar a esquina mais famosa do país graças a uma música de Caetano)
- Quer dizer que foi por aqui que o baiano andou quando escreveu Sampa? Esperava mais da Ipiranga e São João.
E nesse momento descobri como é difícil ver poesia na cidade de São Paulo e como é fácil andar encantado pelas ruas do centro velho. Encantado com a novidade, certo, mas com as duas mãos no bolso para dificultar o roubo do relógio.
Update
Roraima é a terra das operações da Polícia Federal atrás dos figurões que passam a mão no dinheiro público usando a mesma tática: contratam seu Pedro por alguns milhares, mas ele só fica com algumas centenas. O restante é repassado para procuradores e empregadores. Os envolvidos são chamados de gafanhotos, caçados nas operações Praga do Egito e Faraó.
Agora, com a Operação Pretorium, que trata de um esquema no Tribunal Regional Eleitoral, surgiram os besouros (por conta da cor das togas dos juízes.)
Tudo isso só confirma uma teoria para detectar quando alguém pode estar envolvido em mutretagem: apareceu muito em coluna social, desconfie.
Depois de conhecer a Praça da República, com seus pintores, artesãos, loucos, velinhos conversando, capoeiristas (na verdade, esses eu vi outro dia) e espertalhões, atravessei a rua seguindo meu inesperado guia.
Caminhamos uma quadra, passamos por duas bancas de vendedores de CD?s piratas, o bolso coçando para comprar alguns, e paramos na esquina.
- E aí, tu sabes onde estás, perguntou Avery.
(pensei que ele estava zombando de mim, marinheiro de primeira viagem na maior cidade do país. Mesmo assim olhei para aquele cruzamento, com seus edifícios feios, seus carros barulhentos, seus mendigos e cineminhas pornôs).
- Não, Avery.
- Olha para cima. Lê a placa.
(na placa, os nomes que fazem daquele lugar a esquina mais famosa do país graças a uma música de Caetano)
- Quer dizer que foi por aqui que o baiano andou quando escreveu Sampa? Esperava mais da Ipiranga e São João.
E nesse momento descobri como é difícil ver poesia na cidade de São Paulo e como é fácil andar encantado pelas ruas do centro velho. Encantado com a novidade, certo, mas com as duas mãos no bolso para dificultar o roubo do relógio.
Update
Roraima é a terra das operações da Polícia Federal atrás dos figurões que passam a mão no dinheiro público usando a mesma tática: contratam seu Pedro por alguns milhares, mas ele só fica com algumas centenas. O restante é repassado para procuradores e empregadores. Os envolvidos são chamados de gafanhotos, caçados nas operações Praga do Egito e Faraó.
Agora, com a Operação Pretorium, que trata de um esquema no Tribunal Regional Eleitoral, surgiram os besouros (por conta da cor das togas dos juízes.)
Tudo isso só confirma uma teoria para detectar quando alguém pode estar envolvido em mutretagem: apareceu muito em coluna social, desconfie.
segunda-feira, fevereiro 07, 2005
Histórias da folia
Num desses carnavais da vida passados e trabalhados em Boa Vista, comentei com o Tiago que, por mais que tentasse, nunca havia conseguido um amor na folia de Momo, dessas que todos meus amigos e amigas conseguiam por poucas horas. Ele, na maior naturalidade, explicou tudo.
- O problema é que tu és venezuelano e quer ficar conversando com elas. O negócio é chegar, puxar para dançar, dizer que quer beijar e pronto. Se não quiser, parte para outra. Simples assim.
Sobre essa dificuldade, acho que a melhor explicação para a falta de sorte no carnaval foi-me dada pelo meu primo Oliver, também venezuelano, na cidade de El Callao, onde se celebra a melhor festa do sul da Venezuela, com até 20 mil turistas pulando alucinados ao ritmo das comparsas tocando calipso.
Pouco mais de 30 minutos depois de chegados na cidade, ele já estava pendurado no pescoço de uma menina que nunca havia visto na vida. Sumiu com ela, transou e voltou para a folia. Na outra noite, passaram um pelo lado do outro como se nada. E essa facilidade para conquistar todo tipo de mulher ele tinha desde entrado na adolescência.
- Acontece que eu tenho carisma e tu não. Sem carisma, não se consegue nada.
Na mesma cidade de El Callao, talvez no mesmo carnaval, estávamos os dois esperando uma carona à uma da manhã para voltarmos às nossas casas em Guasipati. De repente, Oliver, que estava deitado no capô de um carro, saiu atravessou a rua e fez sinal para eu também fosse. Cansado, fiquei parado, olhando o dono do carro abrir o porta-malas e balbuciar algumas palavras em minha direção. De repente, puxou uma pistola prateada, de cabo preto, e a apontou para mim, que estava hipnotizado pela beleza da arma, pensando que o infinito estava concentrado no negro daquele cano.
- É assim que acabo com as ratazanas, disse-me o sujeito, que só não atirou na minha cara pq seu amigo o fez abaixar o braço, tirou a arma dele e me pediu para sair dali. Só fui perceber o quanto estive perto da morte no outro dia, quando comprava uma Pepsi-Cola.
E o pior é não ia ter carisma que desse jeito.
Num desses carnavais da vida passados e trabalhados em Boa Vista, comentei com o Tiago que, por mais que tentasse, nunca havia conseguido um amor na folia de Momo, dessas que todos meus amigos e amigas conseguiam por poucas horas. Ele, na maior naturalidade, explicou tudo.
- O problema é que tu és venezuelano e quer ficar conversando com elas. O negócio é chegar, puxar para dançar, dizer que quer beijar e pronto. Se não quiser, parte para outra. Simples assim.
Sobre essa dificuldade, acho que a melhor explicação para a falta de sorte no carnaval foi-me dada pelo meu primo Oliver, também venezuelano, na cidade de El Callao, onde se celebra a melhor festa do sul da Venezuela, com até 20 mil turistas pulando alucinados ao ritmo das comparsas tocando calipso.
Pouco mais de 30 minutos depois de chegados na cidade, ele já estava pendurado no pescoço de uma menina que nunca havia visto na vida. Sumiu com ela, transou e voltou para a folia. Na outra noite, passaram um pelo lado do outro como se nada. E essa facilidade para conquistar todo tipo de mulher ele tinha desde entrado na adolescência.
- Acontece que eu tenho carisma e tu não. Sem carisma, não se consegue nada.
Na mesma cidade de El Callao, talvez no mesmo carnaval, estávamos os dois esperando uma carona à uma da manhã para voltarmos às nossas casas em Guasipati. De repente, Oliver, que estava deitado no capô de um carro, saiu atravessou a rua e fez sinal para eu também fosse. Cansado, fiquei parado, olhando o dono do carro abrir o porta-malas e balbuciar algumas palavras em minha direção. De repente, puxou uma pistola prateada, de cabo preto, e a apontou para mim, que estava hipnotizado pela beleza da arma, pensando que o infinito estava concentrado no negro daquele cano.
- É assim que acabo com as ratazanas, disse-me o sujeito, que só não atirou na minha cara pq seu amigo o fez abaixar o braço, tirou a arma dele e me pediu para sair dali. Só fui perceber o quanto estive perto da morte no outro dia, quando comprava uma Pepsi-Cola.
E o pior é não ia ter carisma que desse jeito.
sexta-feira, fevereiro 04, 2005
Da série "Ouvidos na rua"
(Contribuição de Zanny Adairalba)
Dois pedreiros, cada um em sua bicicleta, discutem, possivelmente, dificuldades dos relacionamentos amorosos. A frase:
- Rapaz, entre mulher e comida, fico com a comida, que a gente coloca no armário e fica quieta, sem aperriar ninguém.
(E aí, é isso mesmo?)
(Contribuição de Zanny Adairalba)
Dois pedreiros, cada um em sua bicicleta, discutem, possivelmente, dificuldades dos relacionamentos amorosos. A frase:
- Rapaz, entre mulher e comida, fico com a comida, que a gente coloca no armário e fica quieta, sem aperriar ninguém.
(E aí, é isso mesmo?)
quarta-feira, fevereiro 02, 2005
segunda-feira, janeiro 31, 2005
sexta-feira, janeiro 28, 2005
A morena desce a ladeira
Lá vem a morena, descendo a ladeira. Pensativa, como todos os dias a esta hora, enquanto olha o rio no final da rua e parece relembrar praias, festas, a adolescência bem vivida.
É mais um final de tarde, final de expediente. Pena que hoje é feriado e ela não vai receber nenhum extra pelo serviço. Mas isso agora já passou. Quem sabe da próxima?
A morena já dobrou a esquina. Do outro lado, olhares a seguem. Ninguém sabe assobiar para conseguir chamar a sua atenção. De repente, de trás do balcão surge um megafone. Passa de mão em mão e quando alguém descobre como usá-lo, ela já está distante, passando em frente à casa dos padres. E apesar de o mundo estar quase perdido, ainda há respeito pelos representantes da religião.
E então, como se fosse um passe de mágica, no mesmo momento em que a morena abre o portão de sua casa e olha para trás, o sol parece concentrar sua luz somente nela, ofuscando quem a acompanhou em pensamento.
É hora de esperar o final de outra tarde na ladeira.
É mais um final de tarde, final de expediente. Pena que hoje é feriado e ela não vai receber nenhum extra pelo serviço. Mas isso agora já passou. Quem sabe da próxima?
A morena já dobrou a esquina. Do outro lado, olhares a seguem. Ninguém sabe assobiar para conseguir chamar a sua atenção. De repente, de trás do balcão surge um megafone. Passa de mão em mão e quando alguém descobre como usá-lo, ela já está distante, passando em frente à casa dos padres. E apesar de o mundo estar quase perdido, ainda há respeito pelos representantes da religião.
E então, como se fosse um passe de mágica, no mesmo momento em que a morena abre o portão de sua casa e olha para trás, o sol parece concentrar sua luz somente nela, ofuscando quem a acompanhou em pensamento.
É hora de esperar o final de outra tarde na ladeira.
quarta-feira, janeiro 26, 2005
Betão, o roqueiro light
Betão, metaleiro dos pesados, leitor de revistas de rock que sempre trazem alguém na capa fazendo pose de malvado, guitarrista solo de uma banda, devorador de madrugadas e inimigo das duplas sertanejas desde que tinha uns 9, 10 anos de idade, está mudado.
Não, o cabelo continua o mesmo. Também não engordou. Nenhuma nova tatuagem foi acrescentada às...(ih, o Betão é maus mas mora com os pais ainda e teve uma criação rígida. Por isso nunca quis tatuar-se).
A mudança foi mais profunda. No início, pensou-se em algo conjuntural, talvez apenas uma reação ao fim do namoro de três anos com Luciana, que o despachou depois de uma noite em que divergiram sobre ir a um show-tributo ao Megadeth ou assistir ao DVD novo do Alexandre Pires.
- Eu? Curtir essa porcaria de pagode? Parece que você não me conhece!!!
Pegou um pé na bunda por excessiva grosseria.
Depois do período da fossa e de muitas ligações para ver se reengatava o namoro, Betão desbundou. Aproveitou os shows da banda para descontar o tempo que esteve amorosamente preso. Bastava alguma garota olhá-lo por uns três minutos e ele já tratava de encostar a sua Fender Stratocaster na, segundo suas palavras, escolhida da noite.
Na faculdade, Betão aproveitou sua popularidade como roqueiro e orador da turma para dar uns apertos nas coleguinhas.
Até aí, ninguém estranhava nada. Mas o pior, quer dizer, a grande mudança no comportamento do moço ainda estava a chegar.
Um dia, Betão descobriu que no rock sempre apareciam as mesmas meninas e ele não estava mais a fim de repetir as mesmas bocas.
Pelos links do fotolog de sua banda, que se uniam a outros e outros e outros, chegou no log da Turma do Pagode. O novo paraíso.
Betão, agora fazendo questão de ser chamado de Roberto, passou a freqüentar a quarta, a quinta, a sexta e às vezes, a sexta do pagode dos bares da cidade. A bebida dentro dos limites, como bom roqueiro natureba. E entre foras e chega mais meu bem, salvavam-se todas as noites. Até aí, o seu comportamento foi considerado uma reação natural, como se fosse a descoberta tardia de um novo mundo, com letras de axé pedagógico, do tipo "encaixa, encaixa, encaixa..."
Mas o melhor ainda estava a caminho.
Uma manhã de janeiro, depois de voltar de outra cidade, onde havia tocado no final de semana, Betão chegou no seu trabalho (apenas uma parada antes de chegar ao estrelato nacional e à grana boa do show bussines, conforme diz), ligou seu computador e, como de costume, pôs um CD para rodar.
Pouco a pouco, a sala foi sendo tomada pelos acordes do disco ao vivo de Bruno e Marrone. Peraí, isso aí é Bruno e Marrone, aqueles de "dormi na praça", perguntaram os colegas, espantados. Betão, quer dizer, Roberto, apenas sorriu e até disse qual era a sua música preferida.
Depois que três dos colegas receberam alta do psiquiatra, que conversou com Roberto para que o mesmo evitasse dar esses sustos nos amigos, outros dois deram entrada no hospital. O motivo? Espanto quando ouviram, saindo das caixas de som de Betão, "Imortal", de Sandy e Júnior.
Há suspeitas que Roberto tenha sido hipnotizado, abduzido, seduzido por alguma componente das comunidades das quais faz parte no Orkut. Ou que sua nova paixão seja uma daquelas jovens demais para serem exibidas.
No mais, rola na internet um e-mail com uma fotografia do Betão, vestido com uma camiseta do Linki Park, comprando um disco do B´roz.
Betão, metaleiro dos pesados, leitor de revistas de rock que sempre trazem alguém na capa fazendo pose de malvado, guitarrista solo de uma banda, devorador de madrugadas e inimigo das duplas sertanejas desde que tinha uns 9, 10 anos de idade, está mudado.
Não, o cabelo continua o mesmo. Também não engordou. Nenhuma nova tatuagem foi acrescentada às...(ih, o Betão é maus mas mora com os pais ainda e teve uma criação rígida. Por isso nunca quis tatuar-se).
A mudança foi mais profunda. No início, pensou-se em algo conjuntural, talvez apenas uma reação ao fim do namoro de três anos com Luciana, que o despachou depois de uma noite em que divergiram sobre ir a um show-tributo ao Megadeth ou assistir ao DVD novo do Alexandre Pires.
- Eu? Curtir essa porcaria de pagode? Parece que você não me conhece!!!
Pegou um pé na bunda por excessiva grosseria.
Depois do período da fossa e de muitas ligações para ver se reengatava o namoro, Betão desbundou. Aproveitou os shows da banda para descontar o tempo que esteve amorosamente preso. Bastava alguma garota olhá-lo por uns três minutos e ele já tratava de encostar a sua Fender Stratocaster na, segundo suas palavras, escolhida da noite.
Na faculdade, Betão aproveitou sua popularidade como roqueiro e orador da turma para dar uns apertos nas coleguinhas.
Até aí, ninguém estranhava nada. Mas o pior, quer dizer, a grande mudança no comportamento do moço ainda estava a chegar.
Um dia, Betão descobriu que no rock sempre apareciam as mesmas meninas e ele não estava mais a fim de repetir as mesmas bocas.
Pelos links do fotolog de sua banda, que se uniam a outros e outros e outros, chegou no log da Turma do Pagode. O novo paraíso.
Betão, agora fazendo questão de ser chamado de Roberto, passou a freqüentar a quarta, a quinta, a sexta e às vezes, a sexta do pagode dos bares da cidade. A bebida dentro dos limites, como bom roqueiro natureba. E entre foras e chega mais meu bem, salvavam-se todas as noites. Até aí, o seu comportamento foi considerado uma reação natural, como se fosse a descoberta tardia de um novo mundo, com letras de axé pedagógico, do tipo "encaixa, encaixa, encaixa..."
Mas o melhor ainda estava a caminho.
Uma manhã de janeiro, depois de voltar de outra cidade, onde havia tocado no final de semana, Betão chegou no seu trabalho (apenas uma parada antes de chegar ao estrelato nacional e à grana boa do show bussines, conforme diz), ligou seu computador e, como de costume, pôs um CD para rodar.
Pouco a pouco, a sala foi sendo tomada pelos acordes do disco ao vivo de Bruno e Marrone. Peraí, isso aí é Bruno e Marrone, aqueles de "dormi na praça", perguntaram os colegas, espantados. Betão, quer dizer, Roberto, apenas sorriu e até disse qual era a sua música preferida.
Depois que três dos colegas receberam alta do psiquiatra, que conversou com Roberto para que o mesmo evitasse dar esses sustos nos amigos, outros dois deram entrada no hospital. O motivo? Espanto quando ouviram, saindo das caixas de som de Betão, "Imortal", de Sandy e Júnior.
Há suspeitas que Roberto tenha sido hipnotizado, abduzido, seduzido por alguma componente das comunidades das quais faz parte no Orkut. Ou que sua nova paixão seja uma daquelas jovens demais para serem exibidas.
No mais, rola na internet um e-mail com uma fotografia do Betão, vestido com uma camiseta do Linki Park, comprando um disco do B´roz.
segunda-feira, janeiro 24, 2005
As noites de Luisa
Luisa reza para que ainda seja madrugada fora de seu quarto. Mas a luz que atravessa as brechas da porta e da janela não aponta para isso. É hora de sair da hibernação. A duras penas consegue deixar a cama. O corpo parece pesar o dobro do comum, a cabeça dói, a boca está como um deserto. Esse é o preço de uma noite de farra.
A empregada da família a olha estranhamente. Pergunta como amanheceu. Luisa não responde. Sempre achou que a mulher é muito intrometida. Come lentamente o seu café da manhã enquanto lê uma revista semanal e fica sabendo das notícias da semana passada.
Os pais estão trabalhando e a irmã mais velha deve estar na faculdade, na sua queridinha aula de medicina. Às vezes ela fica insuportável, contando como as professoras a elogiam pelo seu desempenho. Luisa não acredita muito na irmã. Sempre desconfiou de tanta aplicação e boas notas no colégio.
Dizem que frutas são o melhor alimento para quem pensa em recuperar-se de uma noitada. Ainda bem que há vários melões na geladeira. Comer enquanto ouve lounge é um dos passatempos preferidos da garota. No chat mais popular da cidade, já começa a fazer os contatos para a noite de hoje, que ninguém é tão mole que precise de repouso para farrear.
No começo da tarde, Luisa está assistindo ao seu seriado favorito quando o primo Beto chega para carregar uns móveis e levá-los para a loja de seu pai. Luisa sorri e lembra de quando eram mais jovens, lá pelos 13, 14 anos. A mãe dela quase os pegou em atos impróprios, daqueles que lembram casos de presidentes dos EUA, só que em situações invertidas. Não fosse aquela mesa coberta por uma toalha gigantesca, sob a qual ela escondeu o primo, a mãe teria estranhado a cabeça da filha tão fixa no colo do sobrinho.
Mas essas histórias são águas passadas, lembra, enquanto beija a bochecha do primo, de casamento marcado com uma amiga de infância. Ao sair, Beto pergunta se está tudo confirmado para a noite. Claro que sim, responde a menina, no mesmo local, mas com uma banda diferente, tocando blues a noite toda. Amanhã mudamos o ritmo e caímos no samba, complementa.
Já está anoitecendo quando Luisa chega da academia. Uma hora de leitura do Código Tributário que lhe garanta uma boa nota na prova do curso de direito e outra para o curso de italiano.
Pronto, Luisa está preparada para mais uma noitada na boate que a contratou como relações públicas. Conforme contaram suas amigas, não há melhor maneira de conhecer o homem com que ela vai namorar nas próximas horas. Mas isso só depois de dançar muito, que a festa promete.
Luisa reza para que ainda seja madrugada fora de seu quarto. Mas a luz que atravessa as brechas da porta e da janela não aponta para isso. É hora de sair da hibernação. A duras penas consegue deixar a cama. O corpo parece pesar o dobro do comum, a cabeça dói, a boca está como um deserto. Esse é o preço de uma noite de farra.
A empregada da família a olha estranhamente. Pergunta como amanheceu. Luisa não responde. Sempre achou que a mulher é muito intrometida. Come lentamente o seu café da manhã enquanto lê uma revista semanal e fica sabendo das notícias da semana passada.
Os pais estão trabalhando e a irmã mais velha deve estar na faculdade, na sua queridinha aula de medicina. Às vezes ela fica insuportável, contando como as professoras a elogiam pelo seu desempenho. Luisa não acredita muito na irmã. Sempre desconfiou de tanta aplicação e boas notas no colégio.
Dizem que frutas são o melhor alimento para quem pensa em recuperar-se de uma noitada. Ainda bem que há vários melões na geladeira. Comer enquanto ouve lounge é um dos passatempos preferidos da garota. No chat mais popular da cidade, já começa a fazer os contatos para a noite de hoje, que ninguém é tão mole que precise de repouso para farrear.
No começo da tarde, Luisa está assistindo ao seu seriado favorito quando o primo Beto chega para carregar uns móveis e levá-los para a loja de seu pai. Luisa sorri e lembra de quando eram mais jovens, lá pelos 13, 14 anos. A mãe dela quase os pegou em atos impróprios, daqueles que lembram casos de presidentes dos EUA, só que em situações invertidas. Não fosse aquela mesa coberta por uma toalha gigantesca, sob a qual ela escondeu o primo, a mãe teria estranhado a cabeça da filha tão fixa no colo do sobrinho.
Mas essas histórias são águas passadas, lembra, enquanto beija a bochecha do primo, de casamento marcado com uma amiga de infância. Ao sair, Beto pergunta se está tudo confirmado para a noite. Claro que sim, responde a menina, no mesmo local, mas com uma banda diferente, tocando blues a noite toda. Amanhã mudamos o ritmo e caímos no samba, complementa.
Já está anoitecendo quando Luisa chega da academia. Uma hora de leitura do Código Tributário que lhe garanta uma boa nota na prova do curso de direito e outra para o curso de italiano.
Pronto, Luisa está preparada para mais uma noitada na boate que a contratou como relações públicas. Conforme contaram suas amigas, não há melhor maneira de conhecer o homem com que ela vai namorar nas próximas horas. Mas isso só depois de dançar muito, que a festa promete.
sexta-feira, janeiro 21, 2005
Dá novíssima série Apropriações indébitas:
"Tóóóóíiiiinnnnnnnn."
Avery, zombando nas Crônicas da Fronteira do pobre protagonista do post Cenas românticas, de 26 de novembro de 2004 , desprezado pela sua namorada-mulher-amante mesmo depois de preliminares cheias de estilo.
"Tóóóóíiiiinnnnnnnn."
Avery, zombando nas Crônicas da Fronteira do pobre protagonista do post Cenas românticas, de 26 de novembro de 2004 , desprezado pela sua namorada-mulher-amante mesmo depois de preliminares cheias de estilo.
quarta-feira, janeiro 19, 2005
Frases para serem ditas neste começo de ano por quem estiver apertado de grana
(pensadas depois de ler ontem O Malfazejo)
- Vai ao IPTU que te pariu!!
- Vai dar esse ISS em outro lugar, seu Imposto de Renda babaca!!
- Ô, seu filho da Serasa, te lasca!!
- Ei, vai ver se estou plantando IPVA na esquina.
- Ei! É! Tu mesmo, seu juros duma figa!!!
(Aceito contribuições para aumentar o estoque de ofensas)
(pensadas depois de ler ontem O Malfazejo)
- Vai ao IPTU que te pariu!!
- Vai dar esse ISS em outro lugar, seu Imposto de Renda babaca!!
- Ô, seu filho da Serasa, te lasca!!
- Ei, vai ver se estou plantando IPVA na esquina.
- Ei! É! Tu mesmo, seu juros duma figa!!!
(Aceito contribuições para aumentar o estoque de ofensas)
terça-feira, janeiro 18, 2005
Imagem, segundo eles, é tudo
Quem acompanhou o diário de bordo sobre a viagem ao Peru agora tem a chance, se estiver a fim, claro,de ver algumas fotos nos fotologs de meus comparsas fotógrafos Tiago Orihuela e Bruno Garmatz.
Quem acompanhou o diário de bordo sobre a viagem ao Peru agora tem a chance, se estiver a fim, claro,de ver algumas fotos nos fotologs de meus comparsas fotógrafos Tiago Orihuela e Bruno Garmatz.
segunda-feira, janeiro 17, 2005
Reflexões do mundo pop
"Até os monstros precisam de ar."
Smithers, do seriado Os Simpsons , para seu chefe, Sr. Burns, que estava assustado ao descobrir que a sua Liga do Mal havia se transformado em esqueletos empoeirados depois de anos trancafiada em uma sala ao lado de seu gabinete.
A Liga iria atacar Lisa Simpson, editora de um jornal alternativo que atacava o império jornalístico que o odiado dono da usina nuclear de Springfield havia montado para conquistar a simpatia da população da cidade.
"Até os monstros precisam de ar."
Smithers, do seriado Os Simpsons , para seu chefe, Sr. Burns, que estava assustado ao descobrir que a sua Liga do Mal havia se transformado em esqueletos empoeirados depois de anos trancafiada em uma sala ao lado de seu gabinete.
A Liga iria atacar Lisa Simpson, editora de um jornal alternativo que atacava o império jornalístico que o odiado dono da usina nuclear de Springfield havia montado para conquistar a simpatia da população da cidade.
quinta-feira, janeiro 13, 2005
Desgosto
Queria falar sobre o lançamento de uma coletânea musical feita na noite de quarta-feira pelo Sesc Roraima, integrando num único CD os grandes nomes da música local.
Depois lembraria do Nei Costa tomando quase um barril inteiro de choppe e devorando quase um quilo de queijo derretido na chapa depois do show.
Talvez, nessa vontade de mostrar para vocês a poesia dos compositores destas bandas, até colocasse letra de músicas como Roraimeira, o hino extra-oficial de Roraima; Canto das Pedras, uma declaração de amor a esta terra quente e muitas vezes injusta; ou Cidade do Campo, outra canção do tipo.
Mas o desconto no meu salário dobrou neste começo de ano, deixando-me preocupado com o futuro econômico da família e levando-me a pensar que vou ter de cortar coisas importantes na minha vida, como a Tv por assinatura ou a compra de minha futura bicicleta de 24 marchas e amortecedores em tudo o que seriam os canos de metais leves.
E ainda espero o desconto de imposto de renda aprovado pelo, como bem me avisou minha avó no dia da votação presidencial e eu não dei ouvidos, sapo barbudo do Lula.
Queria falar sobre o lançamento de uma coletânea musical feita na noite de quarta-feira pelo Sesc Roraima, integrando num único CD os grandes nomes da música local.
Depois lembraria do Nei Costa tomando quase um barril inteiro de choppe e devorando quase um quilo de queijo derretido na chapa depois do show.
Talvez, nessa vontade de mostrar para vocês a poesia dos compositores destas bandas, até colocasse letra de músicas como Roraimeira, o hino extra-oficial de Roraima; Canto das Pedras, uma declaração de amor a esta terra quente e muitas vezes injusta; ou Cidade do Campo, outra canção do tipo.
Mas o desconto no meu salário dobrou neste começo de ano, deixando-me preocupado com o futuro econômico da família e levando-me a pensar que vou ter de cortar coisas importantes na minha vida, como a Tv por assinatura ou a compra de minha futura bicicleta de 24 marchas e amortecedores em tudo o que seriam os canos de metais leves.
E ainda espero o desconto de imposto de renda aprovado pelo, como bem me avisou minha avó no dia da votação presidencial e eu não dei ouvidos, sapo barbudo do Lula.
quarta-feira, janeiro 05, 2005
O fim dos bons tempos
Então...a fantasia tem data certa para acabar.
Depois de quase um mês atravessando cinco estados brasileiros e dois países vizinhos, está na hora de voltar para casa e a rotina de trabalho-faculdade (só daqui a algumas semanas)-academia-televisão, apenas para parafrasear Renato Russo em "Eduardo e Mônica".
Na bagagem,fotos, bugigangas e muitas lembranças visuais de praias, montanhas nevadas, cidades históricas, viajantes e gente bonita. Tudo o que se precisa para encarar o cotidiano que não tem momento certo para acabar novamente.
Acredito que quem nunca viaja, pelo menos quando o faz, deve tratar de fazer algo diferente. Assim, fica a lembrança e a certeza de que o investimento em saúde mental valeu a pena.
E ainda é possível bolar frases de camisetas como esta: Estive em Floripa e não me lembrei de você. Afinal, tinha coisas mais importantes para fazer.
Que venha o dia-a-dia.
Então...a fantasia tem data certa para acabar.
Depois de quase um mês atravessando cinco estados brasileiros e dois países vizinhos, está na hora de voltar para casa e a rotina de trabalho-faculdade (só daqui a algumas semanas)-academia-televisão, apenas para parafrasear Renato Russo em "Eduardo e Mônica".
Na bagagem,fotos, bugigangas e muitas lembranças visuais de praias, montanhas nevadas, cidades históricas, viajantes e gente bonita. Tudo o que se precisa para encarar o cotidiano que não tem momento certo para acabar novamente.
Acredito que quem nunca viaja, pelo menos quando o faz, deve tratar de fazer algo diferente. Assim, fica a lembrança e a certeza de que o investimento em saúde mental valeu a pena.
E ainda é possível bolar frases de camisetas como esta: Estive em Floripa e não me lembrei de você. Afinal, tinha coisas mais importantes para fazer.
Que venha o dia-a-dia.
segunda-feira, janeiro 03, 2005
A natureza no dia 3 de janeiro de 2005
Devido à tsunami na Ásia, o número de mortos até esta segunda-feira (algo em torno de 150 mil pesssoas) equivale a mais da metade da população de Roraima, apenas para servir de referência.
No Rio Grande do Sul, 20 municípios estão em situação de emergência por causa da seca que atinge as regiões norte e nordeste do Estado.
Em Santa Catarina, dois tornados arrebentaram 70 casas em Cricíuma, sul do estado. Uma mulher morreu de enfarte quando viu a passagem de um deles.
A chuva castigou Floripa à noite.
Na semana passada, um dia antes de minha entrada no Brasil, um temporal havia alagado Corumbá.
Em Boa Vista, muitos cursos d'água são focos de transmissão de malária.
É a Terra cobrando o seu tributo dos homens e avisando que nem tudo pode ser usado à vontade sem que haja cobrança de algum tipo de imposto.
Devido à tsunami na Ásia, o número de mortos até esta segunda-feira (algo em torno de 150 mil pesssoas) equivale a mais da metade da população de Roraima, apenas para servir de referência.
No Rio Grande do Sul, 20 municípios estão em situação de emergência por causa da seca que atinge as regiões norte e nordeste do Estado.
Em Santa Catarina, dois tornados arrebentaram 70 casas em Cricíuma, sul do estado. Uma mulher morreu de enfarte quando viu a passagem de um deles.
A chuva castigou Floripa à noite.
Na semana passada, um dia antes de minha entrada no Brasil, um temporal havia alagado Corumbá.
Em Boa Vista, muitos cursos d'água são focos de transmissão de malária.
É a Terra cobrando o seu tributo dos homens e avisando que nem tudo pode ser usado à vontade sem que haja cobrança de algum tipo de imposto.
domingo, janeiro 02, 2005
Histórias rotineiras
Um dia ela retornou ao seu lar, depois de muitos anos viajando por terras estranhas, de costumes diversos, de línguas a se aprender e conhecer.
Mas seus amigos agora eram outros, sua vida era outra. O mundo estava mudado.
No começo, a redaptação, a alteração de costumes, as dficuldades.
Se ela já era diferente quando havia partido, neste novo tempo o era muito mais.
Às noites, frio e calor conforme as estações passavam.
Sem histórias válidas para sua situação, reconquistou o conhecido e dominou os imprevistos.
Um dia, acordou e percebeu como uma vida distinta tomava conta dela. E gostou do que viu.
Um dia ela retornou ao seu lar, depois de muitos anos viajando por terras estranhas, de costumes diversos, de línguas a se aprender e conhecer.
Mas seus amigos agora eram outros, sua vida era outra. O mundo estava mudado.
No começo, a redaptação, a alteração de costumes, as dficuldades.
Se ela já era diferente quando havia partido, neste novo tempo o era muito mais.
Às noites, frio e calor conforme as estações passavam.
Sem histórias válidas para sua situação, reconquistou o conhecido e dominou os imprevistos.
Um dia, acordou e percebeu como uma vida distinta tomava conta dela. E gostou do que viu.
terça-feira, dezembro 28, 2004
O fim da viagem
Então, depois de sobreviver a falhas mecânicas e humanas em dois países , percorrer milhares de quilômetros, há uma hora em que a falha deve ser nossa e não dos outros.
Leia mais e saberá do que se trata.
Mas antes, vamos traçar a rota da viagem à Machupicchu, que começou no dia 12 de dezembro de 2004.
Boa Vista (RR) a Manaus (AM): bus
Manaus a Tabatinga (fronteira do Brasil com a Colômbia e o Peru): avião
Tabatinga a Iquitos (Peru): barco rápido
Iquitos a Lima (capital do Peru): bus
Lima a Arequipa: bus
Arequipa, Vale do Colca, Arequipa: bus
Arequipa a Cuzco: bus
Cuzco, Vale Sagrado dos Incas, Cuzco: bus
Cuzco a Puno: bus
Até aqui, havia rodado uns 5.500 km. Após a última postagem, feita em Puno, passei o maior frio de toda a viagem. Puno gelou às 17h, com uma chuva fina que me obrigou a esconder-me no hostal bem cedo. Aproveitei para ler o livro de quadrinhos da Mafalda, ouvir rádio e deixar tudo pronto para o dia 24 de dezembro, quando começaria a viagem de volta ao Brasil.
24 de dezembro, Puno, 8h, em direção a La Paz.
Deixo para trás os ciclotáxis de Puno e embarco no bus com muitos europeus que vão ficar em Copacabana, a única escala da viagem.
Na fronteira do Peru com a Bolívia, troco dólares por bolivianos, dou entrada no país no mesmo dia que vencia minha permissão de 10 dias para estar no Peru (prazo que pedi para que sobrasse tempo e não propositadamente, vale dizer).
Avançamos pelo altiplano, tendo o lago Titicaca como companheiro ao lado esquerdo da estrada e o atravessamos de balsa num estreito.
Descubro tarde que o câmbio do lado boliviano é mais vantajoso (um dólar por oito bolivianos e não 1x7,8 como no Peru).
Em Copacabana, todos pagamos um boliviano de taxa de entrada à cidade. Sem exceção. Adiantamos os relógios em uma hora e recomeçamos a viagem às 13hh30, depois de 60 minutos de descanso.
Há crianças gritando por dinheiro e doces ao longo do caminho boliviano. Invejo um pouco a coragem e disposição de uma britânica, filha de uma filipina com um cretense, que fez o caminho do Inka, trilha que dura vários dias e reproduz o trecho que unia a capital do império inka, Cuzco, a Machupichhu.
Chegamos a La Paz às 17 horas. Procuro pelas ruas cheias de fumaça uma agência para comprar uma passagem de avião. Não quero passar mais quatro dias viajando. Tem um avião sim, para amanhã, me diz a moça da agência. Custa 350 dólares e vai para São Paulo. Outro mais barato? Sim, custa 330 dólares...
Saio para procurar a rodoviária desta poluída cidade que me parece uma Sampa sem ordem no trânsito, mas com muito menos oxigênio. As duas mochilas me cansam e o ar seco irrita minhas narinas, de onde sai catarro com sangue há dias. Na entrada da rodoviária, um boliviano treina um salto de um jeito conhecido. Sim, é capoeira e ele treina sozinho, me conta.
Passagem para Cochabamba somente no ônibus das 21 horas. Meu natal será na estrada. O meu e o de muitas outras pessoas.
É o primeiro natal que passo realmente sozinho, sem amigos ou familiares por perto. Não foi tão ruim, concluirei no outro dia, já em Cochama, como apelidam a cidade.
Saímos da rodoviária às 21 horas, como combinado, mas ficamos parados 80 minutos no subúrbio de Lima. Entram vendedores de chocolates e livros para tentar tirar o lucro da noite. Poucas vendas, apesar da boa oratória.
25 de dezembro, 4h40, Cochabamba
Os vendedores da empresa Expreso San Luiz gritam a toda voz que o próximo bus para Santa Cruz de la Sierra sai às 5h30, por apenas 50 bolivianos. Descubrirei na estrada que a passagem oscilou entre 30 e 50 pratas, dependendo do horário de compra.
O ônibus deixará a estação somente às 6h30, quebrará às 7h na saída de Cochama e o motorista e as duas crianças que o auxiliam nesta viagem de 495 km serão abordados pela polícia em seguida. Os responsáveis enviarão outro ônibus somente às 7h45 para recolher os passageiros e seguir viagem. Ao lado do motorista, um saco de folhas de coca.
Passamos pela serra da região do Chapare, onde o MAS, partido do deputado Evo Morales, liderança indígena boliviana, mantém uma luta para permitir que os agricultores possam continuar cultivando a planta da coca e manter uma tradição milenar. Como dizem no Peru, a coca é do bem, a cocaína, essa sim, é do mal.
Às 11 horas, já nos trópicos, o motorista e seu auxiliar, também um adolescente de não mais de 16 anos, aproveitam a parada de 60 minutos para o almoço e trocam todas as correias do motor.
Às 12h45, ao atravessar a ponte do rio Zapata, um dos pneus traseiros explodirá, sendo substituído por outro tão liso como um CD novo.
Na estrada, construções tomadas pela selva, cidadezinhas, plantações, fazendas, arvores frutíferas como só nos trópicos é possível. Pés de manga atiçam minha fome.
Chegamos vivos a Santa Cruz às 16h30.
Na estação de trem, filas imensas de turistas que vão passar o reveillon em Balneário Camburiu, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.
Não há passagem de trem, não há ônibus para Puerto Quijarro, as autoridades me recomendam não comprar as passagens oferecidas pelos cambistas e esperar até o próximo dia, quando talvez haja vagas nos vagões.
Decido arriscar com os cambistas se eles conseguirem me colocar dentro do trem, que sai às 17h30, ou seja, em menos de 20 minutos.
As propostas começam em 100 bolivianos. Outro me oferece uma passagem de janela por 80. Termino comprando pelo preço de balcão (52 bolivianos) e atravesso fácil pela fiscalização de documentos graças ao contato do cambista. Mas o medo sobreviverá até os fiscais do trem marcarem minha poltrona e me desejarem boa viagem.
26 de dezembro, Puerto Quijarro, 14 horas e 340 km e muitos ruídos de trem depois.
Para deixar a Bolívia, é necessário pagar 10 bolivianos. As moedas que seriam para a coleção acabam ficando na imigração.
Em Corumbá, a primeira grande marcada da viagem: esqueço de perguntar que horas são e quando percebo, meu ônibus já partiu há 30 minutos. O fuso agora está uma hora adiante do horário boliviano. Minhas atuais 14h são na verdade as 15h deste pedaço do Brasil
Ônibus, agora, só às 17h30, com previsão de chegada em Campo Grande à meia-noite.
Na estrada, uma boliviana fica assombrada quando digo que comprei passagens de trens na mão de cambistas. Segundo me conta, a venda oficial somente recomeçaria no dia 3 de setembro. Até lá, estavam todos os trens lotados.
20 minutos de 27 de dezembro, Campo Grande.
Como eu, há muitas pessoas querendo passagens para Santa Catarina.
Para ficar perto de Florianópolis, compro uma para Curitiba. Previsão de saída: 6h10 minutos. Não vale a pena dormir por cinco horas. Melhor ficar acordado e fazer a barba para tirar a barba de índio depois de 13 dias de estrada.
Deixamos Campo Grande às 8h. Por sorte (e pelos quase R$ 150 reais pagos) é um bus cama, o que garante o conforto.
Atravessamos plantações de soja e de milho, principalmente, e passamos por Londrina e outras cidades. Ao meu lado, um casal parece estar em lua-de-mel e disposto a fazer amor dentro do veículo.
30 minutos de 28 de dezembro, Curitiba, 1.000 km depois.
Curita está fria, apesar de ser verão por estas bandas.
Próximo ônibus para Floripa? À 1h30, com três vagas ainda.
Floripa, pela manhã
Chego em Florianópolis às 6 horas da matina e como bom filho único ligo para dar notícias e tranqüilizar minha mãe.
Totalmente desorientado pelos fusos horários, esqueço que em Boa Vista, cidade brasileira no hemisfério norte, ainda são 4 da matina. Melhor ligar de madrugada que ouvir que nunca dei notícias, acredito.
Agora, é descansar, pensar na volta para BV, desta vez em avião, e escrever minha tese de mestrado em transportes coletivos públicos.
Então, depois de sobreviver a falhas mecânicas e humanas em dois países , percorrer milhares de quilômetros, há uma hora em que a falha deve ser nossa e não dos outros.
Leia mais e saberá do que se trata.
Mas antes, vamos traçar a rota da viagem à Machupicchu, que começou no dia 12 de dezembro de 2004.
Boa Vista (RR) a Manaus (AM): bus
Manaus a Tabatinga (fronteira do Brasil com a Colômbia e o Peru): avião
Tabatinga a Iquitos (Peru): barco rápido
Iquitos a Lima (capital do Peru): bus
Lima a Arequipa: bus
Arequipa, Vale do Colca, Arequipa: bus
Arequipa a Cuzco: bus
Cuzco, Vale Sagrado dos Incas, Cuzco: bus
Cuzco a Puno: bus
Até aqui, havia rodado uns 5.500 km. Após a última postagem, feita em Puno, passei o maior frio de toda a viagem. Puno gelou às 17h, com uma chuva fina que me obrigou a esconder-me no hostal bem cedo. Aproveitei para ler o livro de quadrinhos da Mafalda, ouvir rádio e deixar tudo pronto para o dia 24 de dezembro, quando começaria a viagem de volta ao Brasil.
24 de dezembro, Puno, 8h, em direção a La Paz.
Deixo para trás os ciclotáxis de Puno e embarco no bus com muitos europeus que vão ficar em Copacabana, a única escala da viagem.
Na fronteira do Peru com a Bolívia, troco dólares por bolivianos, dou entrada no país no mesmo dia que vencia minha permissão de 10 dias para estar no Peru (prazo que pedi para que sobrasse tempo e não propositadamente, vale dizer).
Avançamos pelo altiplano, tendo o lago Titicaca como companheiro ao lado esquerdo da estrada e o atravessamos de balsa num estreito.
Descubro tarde que o câmbio do lado boliviano é mais vantajoso (um dólar por oito bolivianos e não 1x7,8 como no Peru).
Em Copacabana, todos pagamos um boliviano de taxa de entrada à cidade. Sem exceção. Adiantamos os relógios em uma hora e recomeçamos a viagem às 13hh30, depois de 60 minutos de descanso.
Há crianças gritando por dinheiro e doces ao longo do caminho boliviano. Invejo um pouco a coragem e disposição de uma britânica, filha de uma filipina com um cretense, que fez o caminho do Inka, trilha que dura vários dias e reproduz o trecho que unia a capital do império inka, Cuzco, a Machupichhu.
Chegamos a La Paz às 17 horas. Procuro pelas ruas cheias de fumaça uma agência para comprar uma passagem de avião. Não quero passar mais quatro dias viajando. Tem um avião sim, para amanhã, me diz a moça da agência. Custa 350 dólares e vai para São Paulo. Outro mais barato? Sim, custa 330 dólares...
Saio para procurar a rodoviária desta poluída cidade que me parece uma Sampa sem ordem no trânsito, mas com muito menos oxigênio. As duas mochilas me cansam e o ar seco irrita minhas narinas, de onde sai catarro com sangue há dias. Na entrada da rodoviária, um boliviano treina um salto de um jeito conhecido. Sim, é capoeira e ele treina sozinho, me conta.
Passagem para Cochabamba somente no ônibus das 21 horas. Meu natal será na estrada. O meu e o de muitas outras pessoas.
É o primeiro natal que passo realmente sozinho, sem amigos ou familiares por perto. Não foi tão ruim, concluirei no outro dia, já em Cochama, como apelidam a cidade.
Saímos da rodoviária às 21 horas, como combinado, mas ficamos parados 80 minutos no subúrbio de Lima. Entram vendedores de chocolates e livros para tentar tirar o lucro da noite. Poucas vendas, apesar da boa oratória.
25 de dezembro, 4h40, Cochabamba
Os vendedores da empresa Expreso San Luiz gritam a toda voz que o próximo bus para Santa Cruz de la Sierra sai às 5h30, por apenas 50 bolivianos. Descubrirei na estrada que a passagem oscilou entre 30 e 50 pratas, dependendo do horário de compra.
O ônibus deixará a estação somente às 6h30, quebrará às 7h na saída de Cochama e o motorista e as duas crianças que o auxiliam nesta viagem de 495 km serão abordados pela polícia em seguida. Os responsáveis enviarão outro ônibus somente às 7h45 para recolher os passageiros e seguir viagem. Ao lado do motorista, um saco de folhas de coca.
Passamos pela serra da região do Chapare, onde o MAS, partido do deputado Evo Morales, liderança indígena boliviana, mantém uma luta para permitir que os agricultores possam continuar cultivando a planta da coca e manter uma tradição milenar. Como dizem no Peru, a coca é do bem, a cocaína, essa sim, é do mal.
Às 11 horas, já nos trópicos, o motorista e seu auxiliar, também um adolescente de não mais de 16 anos, aproveitam a parada de 60 minutos para o almoço e trocam todas as correias do motor.
Às 12h45, ao atravessar a ponte do rio Zapata, um dos pneus traseiros explodirá, sendo substituído por outro tão liso como um CD novo.
Na estrada, construções tomadas pela selva, cidadezinhas, plantações, fazendas, arvores frutíferas como só nos trópicos é possível. Pés de manga atiçam minha fome.
Chegamos vivos a Santa Cruz às 16h30.
Na estação de trem, filas imensas de turistas que vão passar o reveillon em Balneário Camburiu, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.
Não há passagem de trem, não há ônibus para Puerto Quijarro, as autoridades me recomendam não comprar as passagens oferecidas pelos cambistas e esperar até o próximo dia, quando talvez haja vagas nos vagões.
Decido arriscar com os cambistas se eles conseguirem me colocar dentro do trem, que sai às 17h30, ou seja, em menos de 20 minutos.
As propostas começam em 100 bolivianos. Outro me oferece uma passagem de janela por 80. Termino comprando pelo preço de balcão (52 bolivianos) e atravesso fácil pela fiscalização de documentos graças ao contato do cambista. Mas o medo sobreviverá até os fiscais do trem marcarem minha poltrona e me desejarem boa viagem.
26 de dezembro, Puerto Quijarro, 14 horas e 340 km e muitos ruídos de trem depois.
Para deixar a Bolívia, é necessário pagar 10 bolivianos. As moedas que seriam para a coleção acabam ficando na imigração.
Em Corumbá, a primeira grande marcada da viagem: esqueço de perguntar que horas são e quando percebo, meu ônibus já partiu há 30 minutos. O fuso agora está uma hora adiante do horário boliviano. Minhas atuais 14h são na verdade as 15h deste pedaço do Brasil
Ônibus, agora, só às 17h30, com previsão de chegada em Campo Grande à meia-noite.
Na estrada, uma boliviana fica assombrada quando digo que comprei passagens de trens na mão de cambistas. Segundo me conta, a venda oficial somente recomeçaria no dia 3 de setembro. Até lá, estavam todos os trens lotados.
20 minutos de 27 de dezembro, Campo Grande.
Como eu, há muitas pessoas querendo passagens para Santa Catarina.
Para ficar perto de Florianópolis, compro uma para Curitiba. Previsão de saída: 6h10 minutos. Não vale a pena dormir por cinco horas. Melhor ficar acordado e fazer a barba para tirar a barba de índio depois de 13 dias de estrada.
Deixamos Campo Grande às 8h. Por sorte (e pelos quase R$ 150 reais pagos) é um bus cama, o que garante o conforto.
Atravessamos plantações de soja e de milho, principalmente, e passamos por Londrina e outras cidades. Ao meu lado, um casal parece estar em lua-de-mel e disposto a fazer amor dentro do veículo.
30 minutos de 28 de dezembro, Curitiba, 1.000 km depois.
Curita está fria, apesar de ser verão por estas bandas.
Próximo ônibus para Floripa? À 1h30, com três vagas ainda.
Floripa, pela manhã
Chego em Florianópolis às 6 horas da matina e como bom filho único ligo para dar notícias e tranqüilizar minha mãe.
Totalmente desorientado pelos fusos horários, esqueço que em Boa Vista, cidade brasileira no hemisfério norte, ainda são 4 da matina. Melhor ligar de madrugada que ouvir que nunca dei notícias, acredito.
Agora, é descansar, pensar na volta para BV, desta vez em avião, e escrever minha tese de mestrado em transportes coletivos públicos.
quinta-feira, dezembro 23, 2004
Confusao entre Lima e La Paz
De Puno, a 3.827 msnm, margem do lago Titicaca
Depois de um dia inteiro em Machupicchu, conhecendo a cidade perdida e se metendo a conquistador de Waynapicchu, templo que fica no morro que sempre se ve nas clássicas fotos de MP (duas horas para subir e descer em ritmo de branco, 15 minutos em ritmo inka. E eu fiz em 1h45 em ritmo de índio que já subiu o Monte Roraima mas nao teve tanta acelarada de batimentos cardíacos), pegar o trem de volta para Cusco e perceber, depois de falar com alguns brazucas e peruanos, que as agencias deram o golpe em mais de 100 (bota mais) turistas enviando-nos para Ollantoytambo para pegar o trem (lucro médio de 50 dólares em cada um), peguei o bus para Puno.
Chegando aqui, cansado e com sono, troquei Lima por La Paz e comprei uma passagem de volta para Arequipa sem entender como a rota mais curta e barata poderia ser essa. Mas tudo bem...
Gracas ao guia turístico das ragazzas Paola e Fede, no qual checamos duas vezes a rota, decidi voltar para trocar a passagem por outra para Copacabana. Na rodoviária percebi como estava prestes a voltar ao ponto inicial da partida. Discute aqui, discute lá, deixa uns soles na mao do vendedor, compra outra passagem para La Paz e fica na boa. La Paz por Lima...acho que foi a letra L...
Nei, vc quer saber do Lago Titicaca? É água sem fim, com um horizonte cortado pelo totora, palha com a qual os Uros fazem as suas casas. A água é fria (9 graus em média)e é fascinante andar sobre as ilhas flutuantes.
MP? É de se parar e pensar o que levou os inkas a conquistarem uma montanha daquele tamanho, cujo acesso em microonibus demora 25 minutos por uma estrada de 8km ou uma hora pela trilha que nasce no povoado no pé da montanha, Águas Calientes.
Tocar nas pedras talhadas e lisas, perceber que eles moldaram uma montanha ao seu gosto e fizeram construcoes que sobrevivem até hoje, resistindo inclusive aos terremotos em Cusco, é a mágia do lugar. Entrar nos quartos,olhar o vale em frente e sentir o vento frio dos Andes no rosto, isso é fantástico.
Lá, encontrei dois catarinenses de Bombinhas (acho que o Orib já esteve lá mergulhando) que estao há um bom tempo excursionando pela América do Sul e já haviam estada em Boa Vista. Fotos e textos em wwww.expedicaotoriba.com.br, com o Raul e a Valquíria.
Agora, rumo a La Paz, na Bolívia.
De Puno, a 3.827 msnm, margem do lago Titicaca
Depois de um dia inteiro em Machupicchu, conhecendo a cidade perdida e se metendo a conquistador de Waynapicchu, templo que fica no morro que sempre se ve nas clássicas fotos de MP (duas horas para subir e descer em ritmo de branco, 15 minutos em ritmo inka. E eu fiz em 1h45 em ritmo de índio que já subiu o Monte Roraima mas nao teve tanta acelarada de batimentos cardíacos), pegar o trem de volta para Cusco e perceber, depois de falar com alguns brazucas e peruanos, que as agencias deram o golpe em mais de 100 (bota mais) turistas enviando-nos para Ollantoytambo para pegar o trem (lucro médio de 50 dólares em cada um), peguei o bus para Puno.
Chegando aqui, cansado e com sono, troquei Lima por La Paz e comprei uma passagem de volta para Arequipa sem entender como a rota mais curta e barata poderia ser essa. Mas tudo bem...
Gracas ao guia turístico das ragazzas Paola e Fede, no qual checamos duas vezes a rota, decidi voltar para trocar a passagem por outra para Copacabana. Na rodoviária percebi como estava prestes a voltar ao ponto inicial da partida. Discute aqui, discute lá, deixa uns soles na mao do vendedor, compra outra passagem para La Paz e fica na boa. La Paz por Lima...acho que foi a letra L...
Nei, vc quer saber do Lago Titicaca? É água sem fim, com um horizonte cortado pelo totora, palha com a qual os Uros fazem as suas casas. A água é fria (9 graus em média)e é fascinante andar sobre as ilhas flutuantes.
MP? É de se parar e pensar o que levou os inkas a conquistarem uma montanha daquele tamanho, cujo acesso em microonibus demora 25 minutos por uma estrada de 8km ou uma hora pela trilha que nasce no povoado no pé da montanha, Águas Calientes.
Tocar nas pedras talhadas e lisas, perceber que eles moldaram uma montanha ao seu gosto e fizeram construcoes que sobrevivem até hoje, resistindo inclusive aos terremotos em Cusco, é a mágia do lugar. Entrar nos quartos,olhar o vale em frente e sentir o vento frio dos Andes no rosto, isso é fantástico.
Lá, encontrei dois catarinenses de Bombinhas (acho que o Orib já esteve lá mergulhando) que estao há um bom tempo excursionando pela América do Sul e já haviam estada em Boa Vista. Fotos e textos em wwww.expedicaotoriba.com.br, com o Raul e a Valquíria.
Agora, rumo a La Paz, na Bolívia.
terça-feira, dezembro 21, 2004
De novo, um imprevisto
Aí vc compra a viagem para MP numa agência, confiado que tudo vai rolar no esquema. Acorda 5 horas da madrugada fria de Cusco para estar na frente do hostal às 5h30. E o que acontece? Nada...
8h50, na agência, pronto para reclamar na Policia Turística do Perú caso nao fazam nada, fica a viagem adiada para o outro dia. Ainda bem que a hospedagem estava paga. O que resta é aproveitar para fazer um tour pelo Vale Sagrado dos Inkas e visitar seus templos , olhar seus relógios solares, a cruz inka, suas construcoes no pés de montanhas e se perguntar como os caras conseguiram fazer tudo isso há mais de 500 anos e como os espanhóis destruiram tudo para erguer sobre as bases das construcoes seus templos e casas.
O bom do dia é que o passeio foi compartido com as italianas Paola e Federica e com os chilenos Lisé e Osmar, conhecidos do city tour do dia anterior.
Na volta, a confirmacao da ida a MP e a saída para Puno, às margens do Titicaca na noite de quarta.
Enquanto isso, percebe-se que ser bilíngüe por aqui é o mínimo que se poder ser. Os turistas falam, em sua maioria, três linguas (a mae, o inglês e o espanhol, mas há quem fale até cinco).
Os guias, bom, deles nem se fala. Até os indígenas ambulantes falam ou arranham em três idiomas. A deles, o espanhol e o inglês.
E os brancos que os conquistaram é que eram espertos.
Aí vc compra a viagem para MP numa agência, confiado que tudo vai rolar no esquema. Acorda 5 horas da madrugada fria de Cusco para estar na frente do hostal às 5h30. E o que acontece? Nada...
8h50, na agência, pronto para reclamar na Policia Turística do Perú caso nao fazam nada, fica a viagem adiada para o outro dia. Ainda bem que a hospedagem estava paga. O que resta é aproveitar para fazer um tour pelo Vale Sagrado dos Inkas e visitar seus templos , olhar seus relógios solares, a cruz inka, suas construcoes no pés de montanhas e se perguntar como os caras conseguiram fazer tudo isso há mais de 500 anos e como os espanhóis destruiram tudo para erguer sobre as bases das construcoes seus templos e casas.
O bom do dia é que o passeio foi compartido com as italianas Paola e Federica e com os chilenos Lisé e Osmar, conhecidos do city tour do dia anterior.
Na volta, a confirmacao da ida a MP e a saída para Puno, às margens do Titicaca na noite de quarta.
Enquanto isso, percebe-se que ser bilíngüe por aqui é o mínimo que se poder ser. Os turistas falam, em sua maioria, três linguas (a mae, o inglês e o espanhol, mas há quem fale até cinco).
Os guias, bom, deles nem se fala. Até os indígenas ambulantes falam ou arranham em três idiomas. A deles, o espanhol e o inglês.
E os brancos que os conquistaram é que eram espertos.
segunda-feira, dezembro 20, 2004
Cuzco, a um passo (e 95 dólares) de Machu-Picchu
A viagem ao Vale do Colca, onde esta o canyon mais profundo do mundo foi legal. Mas ver 1.200 metros de pedras, peruanas vendendo artesanado, lhamas, alpacas, conjuntos bolivianos cantando musica em idiomas indígenas, fazer caminhada à margem de um desfiladeiro, ver ao longe vulcoes e passar frio enche.
Cusco é pura história. É andar no meio da cultura inka (aqui se escreve assim) e espanhola.
Também é sentir que a indústria do turismo peruana nao perdoa. Te cobram tarifas para embarcar nos avioes e nos onibus. E nem pense em ter pelo menos o acesso ao banheiro garantido. Pague por isso ou fique na vontade.
Por isso, todo mundo entra logo no esquema de mochileiro. A pechincha é uma obrigacao.
Somente assim para encontrar um espanhol há 45 dias rodando no Perú ou uma francesinha que vai para 3 meses e meio rodando pelo Chile, Bolivia e Perú. Tudo na base do que for mais barato.
Pegar aviao é doideira aqui. Os precos quintuplicam e vc ainda tem que pagar uma taxa para a Infraero local. Por isso, os gringos viajam quase sempre de bus.
Bem, nesta terca MP e depois Puno, para ver as ilhas artificiais do Lago Titicaca.
Depois, bom, depois...Acho que La Paz. Um dia chego em Corumbá. Se a grana der.
Update
Entao...a galera cobra em dólares, mas depois que se passeia por construcoes inkas e se escuta a história de como fizeram seus templos, se toca em pedras talhadas há séculos e se olham altares onde eram feitos sacrifícios humanos, a inversao em cultura geral vale a pena.
Há também o prazer de encontrar os viajantes que se inspiraram em filmes como Diários da Motocicleta, como as italianas Paula e Frederica, que vao rodar pedacos do Perú e Bolívia só porque assistiram o filme.
E por hoje, depois de passear nas ruinas de Saqsaywama,, Q'enqo, Puka Pukara e Tambomachay, é bom lembrar de uma passagem de Diários: Tudo foi feito pelos inkas e destruído pelos espanhois, os incapazes.
A viagem ao Vale do Colca, onde esta o canyon mais profundo do mundo foi legal. Mas ver 1.200 metros de pedras, peruanas vendendo artesanado, lhamas, alpacas, conjuntos bolivianos cantando musica em idiomas indígenas, fazer caminhada à margem de um desfiladeiro, ver ao longe vulcoes e passar frio enche.
Cusco é pura história. É andar no meio da cultura inka (aqui se escreve assim) e espanhola.
Também é sentir que a indústria do turismo peruana nao perdoa. Te cobram tarifas para embarcar nos avioes e nos onibus. E nem pense em ter pelo menos o acesso ao banheiro garantido. Pague por isso ou fique na vontade.
Por isso, todo mundo entra logo no esquema de mochileiro. A pechincha é uma obrigacao.
Somente assim para encontrar um espanhol há 45 dias rodando no Perú ou uma francesinha que vai para 3 meses e meio rodando pelo Chile, Bolivia e Perú. Tudo na base do que for mais barato.
Pegar aviao é doideira aqui. Os precos quintuplicam e vc ainda tem que pagar uma taxa para a Infraero local. Por isso, os gringos viajam quase sempre de bus.
Bem, nesta terca MP e depois Puno, para ver as ilhas artificiais do Lago Titicaca.
Depois, bom, depois...Acho que La Paz. Um dia chego em Corumbá. Se a grana der.
Update
Entao...a galera cobra em dólares, mas depois que se passeia por construcoes inkas e se escuta a história de como fizeram seus templos, se toca em pedras talhadas há séculos e se olham altares onde eram feitos sacrifícios humanos, a inversao em cultura geral vale a pena.
Há também o prazer de encontrar os viajantes que se inspiraram em filmes como Diários da Motocicleta, como as italianas Paula e Frederica, que vao rodar pedacos do Perú e Bolívia só porque assistiram o filme.
E por hoje, depois de passear nas ruinas de Saqsaywama,, Q'enqo, Puka Pukara e Tambomachay, é bom lembrar de uma passagem de Diários: Tudo foi feito pelos inkas e destruído pelos espanhois, os incapazes.
sexta-feira, dezembro 17, 2004
Passando perrengue no Perú
De Arequipa, a 1003 km de Lima
Bem, somando Boa Vista - Manaus - Tabatinga - Iquitos - Lima - Arequipa, acho que já rodei uns 4 mil km em uma semana, via terra, ar e água.
Até agora já passei perrengue no Rio Amazonas, com o barco de motor ferrado, e no trecho para Arequipa, na beira do oceano Pacífico, quando o bus que faria a viagem em 14 horas (saída as 17h de Lima) teve de parar na rodovia Panamericana Sur por conta de uns desmoranamentos de pedras. Isso foi as 4 horas desta sexta. Saímos de lá as 9h (ainda nao encontrei a crase no teclado) e a 15 minutos de Arequipa, o carro pifou. Daí, espera para fazer baldeacao, chega aqui, o dia já todo perdido, corre para ver o que pode ser visto tao tarde, topa com centenas de gringos, a temperatura baixando para os 21 graus desta época, compra o boleto para fazer uma viagem ao Vale do Colca, com um dos canions mais profundos do planeta (3.400 metros no ponto máximo) e esperar para manha um chá de coca (aqui tem uns blusas legais que dizem algo como a "a coca é legal, ruim é a cocaina. Mas os caras nao querem vender duas por 15 soles, se nao levava para um amigo mal humorado daí).
Lima foi uma droga. Para os visitantes futuros: fiquem em Miraflores, a parte mais central e turística da cidade. Daí é possível chegar ao centro velho e pirar,entre outras coisas,com uma igreja franciscana e suas catacumbas cheias de ossos. É fantástico...Nada de ficar fora do Centro Velho ou de Miraflores, repito. Se nao, vao se dar mal na hora do deslocamento.
Em Miraflores, por acaso, há um sítio arqueológico chamado Museu de Pucllana. A entrada custa cinco soles. Fica bem no meio de um bairro residencial. Agora é que os arqueólogos estao fazendo as escavacoes. É gigantesco (tem seis hectares e uma altura, calculo, de 15 metros. De noite parece um depósito de areia. Mas antes tinha 20 hectares. É de uma cultura de 700, 800 antes de Cristo, os Lima).
Agora vou passar dois dias no Vale do Colca e depois, finalmente, encarar o que vim fazer aqui: Cusco e Machu-Picchu.
Ah, curiosidades. A empresa de onibus na qual vim (Cruz del Sur, mas tem um bocado fazendo essa rota) dá janta com refri (lembra a comida de aviao) promove bingos sorteando a passagem de volta para Lima (quase...só faltaram dois números) e vende água e salgadinhos. Zero água.
Por favor, dá para mandar mais energia positiva? Ou tá pouca a enviada ou os Andes estao bloqueando a transferencia.
Bjs a todos os que estao comentando. Fico feliz em te-los perto nem que seja virtualmente. Afinal, estar ligado virtualmente perto de casa é uma coisa. No teto das Américas é outra.
De Arequipa, a 1003 km de Lima
Bem, somando Boa Vista - Manaus - Tabatinga - Iquitos - Lima - Arequipa, acho que já rodei uns 4 mil km em uma semana, via terra, ar e água.
Até agora já passei perrengue no Rio Amazonas, com o barco de motor ferrado, e no trecho para Arequipa, na beira do oceano Pacífico, quando o bus que faria a viagem em 14 horas (saída as 17h de Lima) teve de parar na rodovia Panamericana Sur por conta de uns desmoranamentos de pedras. Isso foi as 4 horas desta sexta. Saímos de lá as 9h (ainda nao encontrei a crase no teclado) e a 15 minutos de Arequipa, o carro pifou. Daí, espera para fazer baldeacao, chega aqui, o dia já todo perdido, corre para ver o que pode ser visto tao tarde, topa com centenas de gringos, a temperatura baixando para os 21 graus desta época, compra o boleto para fazer uma viagem ao Vale do Colca, com um dos canions mais profundos do planeta (3.400 metros no ponto máximo) e esperar para manha um chá de coca (aqui tem uns blusas legais que dizem algo como a "a coca é legal, ruim é a cocaina. Mas os caras nao querem vender duas por 15 soles, se nao levava para um amigo mal humorado daí).
Lima foi uma droga. Para os visitantes futuros: fiquem em Miraflores, a parte mais central e turística da cidade. Daí é possível chegar ao centro velho e pirar,entre outras coisas,com uma igreja franciscana e suas catacumbas cheias de ossos. É fantástico...Nada de ficar fora do Centro Velho ou de Miraflores, repito. Se nao, vao se dar mal na hora do deslocamento.
Em Miraflores, por acaso, há um sítio arqueológico chamado Museu de Pucllana. A entrada custa cinco soles. Fica bem no meio de um bairro residencial. Agora é que os arqueólogos estao fazendo as escavacoes. É gigantesco (tem seis hectares e uma altura, calculo, de 15 metros. De noite parece um depósito de areia. Mas antes tinha 20 hectares. É de uma cultura de 700, 800 antes de Cristo, os Lima).
Agora vou passar dois dias no Vale do Colca e depois, finalmente, encarar o que vim fazer aqui: Cusco e Machu-Picchu.
Ah, curiosidades. A empresa de onibus na qual vim (Cruz del Sur, mas tem um bocado fazendo essa rota) dá janta com refri (lembra a comida de aviao) promove bingos sorteando a passagem de volta para Lima (quase...só faltaram dois números) e vende água e salgadinhos. Zero água.
Por favor, dá para mandar mais energia positiva? Ou tá pouca a enviada ou os Andes estao bloqueando a transferencia.
Bjs a todos os que estao comentando. Fico feliz em te-los perto nem que seja virtualmente. Afinal, estar ligado virtualmente perto de casa é uma coisa. No teto das Américas é outra.
quarta-feira, dezembro 15, 2004
Uma odisséia na água
(De Iquitos)
Resumindo: nunca fiquei tanto tempo perto de água. A viagem que duraria somente 9, 10 horas no máximo, transformou-se numa jornada de 27 horas, com direito a paradas em aldeias indígenas e vilarejos onde a energia elétrica é desligada quando batem as 21h30, batidas em troncos na noite no rio Amazonas, medo de naufragar na madrugada, barqueiros desorientados na nevoa do "cruzamento" dos rios Napo e Amazonas, canoas carregadas de pessoas e frutos que ultrapassam um barco considerado muuuuittto rápppiiiiiido como se fossem iates a jato.
Em Iquitos tem uns táxis que parecem aqueles "paxas" (acho que é assim que se escreve) indianos, só que puxados por motos. A parte central até que é bonita. Só o porto que é feio de se ver.
E o pior é que quando mais se navegava,mais parecia que tinha Amazonas para percorrer.
Bom agora é ir para Lima e depois para Arequipa e depois para Cusco, finalmente.
O bom deste tipo de atraso é que acabamos conhecendo pessoas que estao na estrada como a gente, seja a negócios, turismo ou trabalho. O barco, que pela averia foi trocado por uma lancha furreca, parecia um festival de sotaques da Amazonia.
Também se aproveita para refletir um pouco sobre a vida. Mas só um pouco, que cansa.
Bom, agora, da selva para os andes.
(De Iquitos)
Resumindo: nunca fiquei tanto tempo perto de água. A viagem que duraria somente 9, 10 horas no máximo, transformou-se numa jornada de 27 horas, com direito a paradas em aldeias indígenas e vilarejos onde a energia elétrica é desligada quando batem as 21h30, batidas em troncos na noite no rio Amazonas, medo de naufragar na madrugada, barqueiros desorientados na nevoa do "cruzamento" dos rios Napo e Amazonas, canoas carregadas de pessoas e frutos que ultrapassam um barco considerado muuuuittto rápppiiiiiido como se fossem iates a jato.
Em Iquitos tem uns táxis que parecem aqueles "paxas" (acho que é assim que se escreve) indianos, só que puxados por motos. A parte central até que é bonita. Só o porto que é feio de se ver.
E o pior é que quando mais se navegava,mais parecia que tinha Amazonas para percorrer.
Bom agora é ir para Lima e depois para Arequipa e depois para Cusco, finalmente.
O bom deste tipo de atraso é que acabamos conhecendo pessoas que estao na estrada como a gente, seja a negócios, turismo ou trabalho. O barco, que pela averia foi trocado por uma lancha furreca, parecia um festival de sotaques da Amazonia.
Também se aproveita para refletir um pouco sobre a vida. Mas só um pouco, que cansa.
Bom, agora, da selva para os andes.
segunda-feira, dezembro 13, 2004
Um Pemón na estrada
De Tabatinga, uma outra fronteira
Se fosse de barco, demoraria 3 dias para chegar aqui. Mas nada que um investimento numa passagem de avião não resolva para ser possível cobrir 1.105 km em linha reta em duas horas e meia. Por água, a distância sobe para 1.607, segundo o portal da cidade. Somando com o trecho de ônibus de Boa Vista a Manaus (mais ou menos 800 km), já fiz quase dois mil km. Ou seja, tô rodado.
Tabatinga é abafada, como todas as cidades amazônicas. Tem moto-táxis que rodam sem capacete, tem contrabando de um monte de produtos que vão para Letícia, a cidade a lado, como importação (ou seja, mais baratos) e voltam sem pagar impostos. O comércio de confecções é agitado. O porto também. Muitos índios pobres na beira do mar vendem farinha que trazem em "baldes" feitos de palmeiras. É outro mundo, o que me lembra que se metade do que o poder público alega investir fosse usado para melhorar a qualidade de vida das pessoas chegasse até elas, o mundo estaria melhor.
A passagem para Iquitos, a próxima parada, custa 50 dólares por barco, numa viagem que demora 12 horas. Tem uma empresa de aviação que faz a rota duas vezes por semana, mas não descobri o preço.
O barco sai às 5 da manhã. Tomara que não vire. Afinal, ainda não sei nadar e ainda quero chegar em Floripa para comer peixe na beira do mar...
Esta é a terceira cidade fronteiriça que conheço. Em todas, por coincidência, há uma grande concentração de indígenas. Mas aqui é difícil saber quem é colombiano, peruano ou brasileiro. Sei que todos são índios pelos traços, principalmento o nariz adunco. Isso me lembra como o conceito de nação e país é abstrato, mais ocidental de que outra coisa.
Me sinto no entroncamento do fim do mundo, mas próximo ao teto do mundo.
(Aos amigos que vão me ler e tem seus blogs e fotologs, vai ser complicado retribuir a gentileza. Mas espero que continuem mandando força positiva.)
De Tabatinga, uma outra fronteira
Se fosse de barco, demoraria 3 dias para chegar aqui. Mas nada que um investimento numa passagem de avião não resolva para ser possível cobrir 1.105 km em linha reta em duas horas e meia. Por água, a distância sobe para 1.607, segundo o portal da cidade. Somando com o trecho de ônibus de Boa Vista a Manaus (mais ou menos 800 km), já fiz quase dois mil km. Ou seja, tô rodado.
Tabatinga é abafada, como todas as cidades amazônicas. Tem moto-táxis que rodam sem capacete, tem contrabando de um monte de produtos que vão para Letícia, a cidade a lado, como importação (ou seja, mais baratos) e voltam sem pagar impostos. O comércio de confecções é agitado. O porto também. Muitos índios pobres na beira do mar vendem farinha que trazem em "baldes" feitos de palmeiras. É outro mundo, o que me lembra que se metade do que o poder público alega investir fosse usado para melhorar a qualidade de vida das pessoas chegasse até elas, o mundo estaria melhor.
A passagem para Iquitos, a próxima parada, custa 50 dólares por barco, numa viagem que demora 12 horas. Tem uma empresa de aviação que faz a rota duas vezes por semana, mas não descobri o preço.
O barco sai às 5 da manhã. Tomara que não vire. Afinal, ainda não sei nadar e ainda quero chegar em Floripa para comer peixe na beira do mar...
Esta é a terceira cidade fronteiriça que conheço. Em todas, por coincidência, há uma grande concentração de indígenas. Mas aqui é difícil saber quem é colombiano, peruano ou brasileiro. Sei que todos são índios pelos traços, principalmento o nariz adunco. Isso me lembra como o conceito de nação e país é abstrato, mais ocidental de que outra coisa.
Me sinto no entroncamento do fim do mundo, mas próximo ao teto do mundo.
(Aos amigos que vão me ler e tem seus blogs e fotologs, vai ser complicado retribuir a gentileza. Mas espero que continuem mandando força positiva.)
sexta-feira, dezembro 10, 2004
Alturas de Macchu Picchu,
do livro Canto Geral, de Pablo Neruda
Então na escada da terra subi
entre o emaranhado atroz das selvas perdidas
até a ti Macchu Picchu.
Alta cidade de pedras escalares,
por fim morada do que o terrestre
não escondeu nas adormecidas vestimentas.
Em ti, como duas linhas paralelas,
o berço do relâmpago e do homem
embalavam-se de espinhos.
Mãe de pedra, espuma de condores.
Alto arrecife da aurora humana.
Pá perdida na primeira areia.
.........................
Tomara que consiga pensar em alguma coisa parecida quando topar com as pedras escalares.
A cada viagem, sempre o receio:se alguma coisa ruim deve me acontecer, que seja depois e não antes ou durante a caminhada.
A cada viagem, o desconforto de deixar o conforto e a excitação de encarar o desconhecido.
A cada viagem, a tentativa de saber como retornarei, a fim de tentar validar a lei do Saramago: todo aquele que começa alguma coisa não é o que a começou.
A cada viagem, pensar na próxima viagem.
do livro Canto Geral, de Pablo Neruda
Então na escada da terra subi
entre o emaranhado atroz das selvas perdidas
até a ti Macchu Picchu.
Alta cidade de pedras escalares,
por fim morada do que o terrestre
não escondeu nas adormecidas vestimentas.
Em ti, como duas linhas paralelas,
o berço do relâmpago e do homem
embalavam-se de espinhos.
Mãe de pedra, espuma de condores.
Alto arrecife da aurora humana.
Pá perdida na primeira areia.
.........................
Tomara que consiga pensar em alguma coisa parecida quando topar com as pedras escalares.
A cada viagem, sempre o receio:se alguma coisa ruim deve me acontecer, que seja depois e não antes ou durante a caminhada.
A cada viagem, o desconforto de deixar o conforto e a excitação de encarar o desconhecido.
A cada viagem, a tentativa de saber como retornarei, a fim de tentar validar a lei do Saramago: todo aquele que começa alguma coisa não é o que a começou.
A cada viagem, pensar na próxima viagem.
segunda-feira, dezembro 06, 2004
Da série Redatores da Fronteira, Bruno Garmatz, tomador de chimarrão, escritor à procura de uma editora e zen foto-jornalista chefão do fotolog Veja Roraima.
Sumário
O que eu não gostava em você
Não eram os teus ataques histéricos
Nem teus porres homéricos
Nem teu jeito maluquinho de ser.
Também não eram tuas roupas esquisitas
E os cabelos vermelhos
E toda hora dando conselhos
Pelo telefone em conversas infinitas.
Nem tampouco os teus peneuzinhos
E o vício de mascar chicletes
Ou aqueles enormes joanetes
Que enfeitam teus pezinhos.
Também não era teu umbigo saltado
E nem a tua celulite
E essa tal sinusite
Que não saía do teu lado.
E nem as rugas do canto do olho
Que chamam de pés-de-galinha
E aquela tua comidinha
Sempre tão cheia de molho.
O que eu não gostava em você
Não era a tua mania de tirar sarro
E sim o maldito cigarro
Que você não conseguia esquecer.
Sumário
O que eu não gostava em você
Não eram os teus ataques histéricos
Nem teus porres homéricos
Nem teu jeito maluquinho de ser.
Também não eram tuas roupas esquisitas
E os cabelos vermelhos
E toda hora dando conselhos
Pelo telefone em conversas infinitas.
Nem tampouco os teus peneuzinhos
E o vício de mascar chicletes
Ou aqueles enormes joanetes
Que enfeitam teus pezinhos.
Também não era teu umbigo saltado
E nem a tua celulite
E essa tal sinusite
Que não saía do teu lado.
E nem as rugas do canto do olho
Que chamam de pés-de-galinha
E aquela tua comidinha
Sempre tão cheia de molho.
O que eu não gostava em você
Não era a tua mania de tirar sarro
E sim o maldito cigarro
Que você não conseguia esquecer.
quinta-feira, dezembro 02, 2004
Falando de uma viagem
Ao entrar na Venezuela, no posto de fiscalização, a revista do Guardia Nacional:
Desça de carro
Documentos
O que tem no bolso?
O que tem na pochete?
O que tem na carteira?
Que tipo de moeda você carrega?
De onde você vem, para onde vai?
Você é deste, daquele ou do outro estado? Parece.
O que você faz na vida e no Brasil?
Ok. Pode guardar. Fulano, vai checar o senhor? Sim, por ali, por favor.
Na tenda militar, quente e abafada:
Documentos
O que tem na pochete?De onde você, para onde vai?
O que você faz na vida e no Brasil?
Tem crachá? Posso ver?
Hum, jornalista é periodista? Tudo bem, pode ir. Nós levamos isso, quer dizer, eu levo em conta quando a pessoa tem uma profissão definida. Você sabe que tudo isto é procedimento rotineiro.
Na saída, depois que pego a bagagem, pela segunda vez neste ano ouço a frase, dita em tom de voz leve e esclarecedor aos outros Guardias: el chamo es periodista.
E aí eu lembro que a fronteira é uma rota de tráfico internacional de cocaína e me pergunto o que os Guardias fariam se fosse alguém sem um crachá, diploma ou profissão para ser referenciado.
Ao entrar na Venezuela, no posto de fiscalização, a revista do Guardia Nacional:
Desça de carro
Documentos
O que tem no bolso?
O que tem na pochete?
O que tem na carteira?
Que tipo de moeda você carrega?
De onde você vem, para onde vai?
Você é deste, daquele ou do outro estado? Parece.
O que você faz na vida e no Brasil?
Ok. Pode guardar. Fulano, vai checar o senhor? Sim, por ali, por favor.
Na tenda militar, quente e abafada:
Documentos
O que tem na pochete?De onde você, para onde vai?
O que você faz na vida e no Brasil?
Tem crachá? Posso ver?
Hum, jornalista é periodista? Tudo bem, pode ir. Nós levamos isso, quer dizer, eu levo em conta quando a pessoa tem uma profissão definida. Você sabe que tudo isto é procedimento rotineiro.
Na saída, depois que pego a bagagem, pela segunda vez neste ano ouço a frase, dita em tom de voz leve e esclarecedor aos outros Guardias: el chamo es periodista.
E aí eu lembro que a fronteira é uma rota de tráfico internacional de cocaína e me pergunto o que os Guardias fariam se fosse alguém sem um crachá, diploma ou profissão para ser referenciado.
segunda-feira, novembro 29, 2004
Manhã de segunda-feira. Calor em Boa Vista. Ar seco. Suor.
O calor me incomoda, me deixa enjoado. Mais de uma década depois, ainda não me acostumei com ele.
Na delegacia, o mau cheiro me deixa mal. Quase uma hora para registrar queixa.
O ambiente das delegacias e dos hospitais me deprime. Acho que não conseguiria trabalhar neles.
Na recepção e na sala onde se fazem os BOs, apenas um ventilador. Paredes sujas, descascando. Quero vomitar.
O policial é bom no atendimento, encaminha bem as coisas. O escrivão é educado, porém realista: vá comprar outra bike, meu rapaz. No tempo que estou aqui, nunca vi ninguém recuperar a sua.
Eu também, penso. É a quinta que me furtam desde que vim morar aqui. A mãe de uma amiga me orientava sempre a deixar preenchido o formulário de queixa. Agilizaria minha vida.
Já me levaram gravadores, tênis, sandálias, camisetas, bermudas, mochilas, livros...apenas para falar de objetos. Nunca os recuperei. Apenas para mencionar objetos.
Acho que não vou mais trilhar neste ano. Mais um da turma que entra de licença forçada.
Na rua, olho todos os ciclistas com mais atenção.
Perder é bom por isso. Os detalhes do mundo passam a ter mais importância.
A perda também quebra rotinas. Mas tudo o que não precisava nestas duas semanas era isso, assim como a necessidade de ir à Venezuela repentinamente.
O que desejo para o ladrão? Nada de mais. Não sou vingativo. Apenas que seja atropelado. Ou que um cachorro o morda na jugular na próxima vez que entrar no terreno alheio.
Acho que o calor me deixou irritado...
O calor me incomoda, me deixa enjoado. Mais de uma década depois, ainda não me acostumei com ele.
Na delegacia, o mau cheiro me deixa mal. Quase uma hora para registrar queixa.
O ambiente das delegacias e dos hospitais me deprime. Acho que não conseguiria trabalhar neles.
Na recepção e na sala onde se fazem os BOs, apenas um ventilador. Paredes sujas, descascando. Quero vomitar.
O policial é bom no atendimento, encaminha bem as coisas. O escrivão é educado, porém realista: vá comprar outra bike, meu rapaz. No tempo que estou aqui, nunca vi ninguém recuperar a sua.
Eu também, penso. É a quinta que me furtam desde que vim morar aqui. A mãe de uma amiga me orientava sempre a deixar preenchido o formulário de queixa. Agilizaria minha vida.
Já me levaram gravadores, tênis, sandálias, camisetas, bermudas, mochilas, livros...apenas para falar de objetos. Nunca os recuperei. Apenas para mencionar objetos.
Acho que não vou mais trilhar neste ano. Mais um da turma que entra de licença forçada.
Na rua, olho todos os ciclistas com mais atenção.
Perder é bom por isso. Os detalhes do mundo passam a ter mais importância.
A perda também quebra rotinas. Mas tudo o que não precisava nestas duas semanas era isso, assim como a necessidade de ir à Venezuela repentinamente.
O que desejo para o ladrão? Nada de mais. Não sou vingativo. Apenas que seja atropelado. Ou que um cachorro o morda na jugular na próxima vez que entrar no terreno alheio.
Acho que o calor me deixou irritado...
sexta-feira, novembro 26, 2004
Cenas românticas
Olhe para mim. Sinta minha fome de você.
Chegue mais.
Sorria, que eu te olho fascinado.
Cheiro teu rosto inteiro.
Se quiser rir, faça isso.
Ainda te cheiro, desta vez no cabelo. Minha mão direita na tua nuca.
Volto de teu cabelo, tocando teu rosto com meu nariz e minha boca.
As duas mãos na tua cintura.
Roço meus lábios nos teus e busco sentir tua respiração, teu hálito.
Os lábios se tocam, se molham.
O beijo, de fato.
As mãos, na nuca. As mãos no corpo.
O beijo lembra o primeiro do nosso namoro.
O restante é o de sempre. Você me lembra que hoje é quarta, diz que está com dor de cabeça e que prefere ler um livro. Eu vou pegar uma cerva enquanto te xingo mentalmente e depois ligo a TV para ver uma partida de futebol.
quarta-feira, novembro 24, 2004
Bomba mata promotor que investigava adversários de Chávez
"O promotor disse à agência de notícias Reuters há menos de duas semanas que esperava completar em breve o indicamento formal de todos os acusados."
..............................................
Na Venezuela, quem se mete a besta com as elites que dominaram o país durante 43 anos morre.
Foi esse o destino do promotor de justiça Danilo Anderson, que investigava as pessoas envolvidas no, por enquanto, último golpe de estado do país vizinho, em 2002.
O governo Hugo Chávez Frias, incluído no eixo do mal pelo reeleito Bush Júnior, já está adiantado na caça dos assassinos que explodiram uma bomba no carro de Danilo e movimenta sua bancada parlamentar para aprovar uma lei anti-terrorista que limite a ação dos paramilitares supostamente treinados pela CIA para desestabilizar a V República.
Alguns desses homens já foram presos neste ano a poucos quilômetros da residência oficial do presidente. E de vez em quando aparece um líder oposicionista dizendo que a solução para os problemas da Venezuela está numa arma de precisão com mira telescópica apontada para a cabeça de Chávez.
Chávez, falastrão e altaneiro quando se trata de defender o que considera ser o melhor para os venezuelanos, não poupa críticas à política externa dos Estados Unidos da América (sic) de levar a democracia e a paz a todos os rincões do planeta, citando sempre o Iraque, Afeganistão e Colômbia, entre outros países.
O que será do futuro político do país vizinho é uma incógnita.
De certo, só que na Venezuela se leva muito a sério o refrão "quien a hierro mata, a hierro muere", amaciado em português para "quem com ferro fere, com ferro será ferido."
"O promotor disse à agência de notícias Reuters há menos de duas semanas que esperava completar em breve o indicamento formal de todos os acusados."
..............................................
Na Venezuela, quem se mete a besta com as elites que dominaram o país durante 43 anos morre.
Foi esse o destino do promotor de justiça Danilo Anderson, que investigava as pessoas envolvidas no, por enquanto, último golpe de estado do país vizinho, em 2002.
O governo Hugo Chávez Frias, incluído no eixo do mal pelo reeleito Bush Júnior, já está adiantado na caça dos assassinos que explodiram uma bomba no carro de Danilo e movimenta sua bancada parlamentar para aprovar uma lei anti-terrorista que limite a ação dos paramilitares supostamente treinados pela CIA para desestabilizar a V República.
Alguns desses homens já foram presos neste ano a poucos quilômetros da residência oficial do presidente. E de vez em quando aparece um líder oposicionista dizendo que a solução para os problemas da Venezuela está numa arma de precisão com mira telescópica apontada para a cabeça de Chávez.
Chávez, falastrão e altaneiro quando se trata de defender o que considera ser o melhor para os venezuelanos, não poupa críticas à política externa dos Estados Unidos da América (sic) de levar a democracia e a paz a todos os rincões do planeta, citando sempre o Iraque, Afeganistão e Colômbia, entre outros países.
O que será do futuro político do país vizinho é uma incógnita.
De certo, só que na Venezuela se leva muito a sério o refrão "quien a hierro mata, a hierro muere", amaciado em português para "quem com ferro fere, com ferro será ferido."
segunda-feira, novembro 22, 2004
Da série "Redatores da Fronteira", um texto de Ricardo "Pcapuleto" Amaral, estudante de jornalismo da UFRR, jogador de futsal e integrante do Orkut, escrito num dia não muito distante de sua adolescência.
Depois de tudo, sempre viverei no limite
No limite extremo
Que a determinação me permite.
Com os olhos talvez perdidos
No desejo de querer-te,
Envoltos em lágrimas
Que escorrem pelo chão,
Formando um oceano infinito,
Mar de paixão...
Talvez nem mesmo me encontre
Neste labirinto,
Mistura de emoções que trituram meu coração,
E me fazem morrer por dentro...
Mesmo assim,
Talvez sem estarmos presentes
A esses encontros que duram para sempre...
Nossas almas persistam em viver
Nos desencontros casuais de nossos destinos...
Talvez nossos pensamentos se busquem mutuamente
Para juntos recordarem todos os momentos.
Lembranças guardadas junto de suas existências são como o tempo,
Nunca terminam e não morrem jamais.
Depois de tudo, sempre viverei no limite
No limite extremo
Que a determinação me permite.
Com os olhos talvez perdidos
No desejo de querer-te,
Envoltos em lágrimas
Que escorrem pelo chão,
Formando um oceano infinito,
Mar de paixão...
Talvez nem mesmo me encontre
Neste labirinto,
Mistura de emoções que trituram meu coração,
E me fazem morrer por dentro...
Mesmo assim,
Talvez sem estarmos presentes
A esses encontros que duram para sempre...
Nossas almas persistam em viver
Nos desencontros casuais de nossos destinos...
Talvez nossos pensamentos se busquem mutuamente
Para juntos recordarem todos os momentos.
Lembranças guardadas junto de suas existências são como o tempo,
Nunca terminam e não morrem jamais.
sexta-feira, novembro 19, 2004
Euzébio, o contador
(De G. Guarabyra, publicitário, jornalista e amante de futebol e da boa cozinha)
Em seu quarto alugado, Euzébio era o retrato da solidão. Sozinho desde que a mulher confessou, em lágrimas, que não agüentava mais aquilo, passou a viver com a metade do coração. Procurava um emprego, desesperadamente, ainda alimentando a esperança de que um dinheirinho - pouco, mas certo - seria o suficiente para arrumar as camisas no guarda-roupa e a vida nos trilhos. Calças e camisas amarrotadas se espalhavam sobre a cama sempre desarrumada, a pia do banheiro repleta de cuecas mergulhadas na água.
Acordara cedo, disposto a arriscar na passagem de ônibus os últimos trocados emprestados por um amigo. Não é possível que nessa cidade ninguém esteja precisando de um contador habilidoso e experiente com eu, injetava confiança em si mesmo. Tentava desamarrotar a camisa usando as mãos como se fossem um ferro de engomar.
A barriga não cabia mais dentro da calça. Em todas as peças romperam os botões. Havia encontrado um grande alfinete que servira para prender as fraldas da pequena Camila, quando ele, a filha e a mulher, Marilza, ainda viviam juntos. As duas partes da calça que precisavam ficar presas corriam para os lados, mas acabavam contidas pelo grande alfinete, uma peça formada por duas hastes de metal, uma delas presa por uma presilha na ponta.
Na parte mais abaixo o zíper permanecia aberto até o meio da braguilha, mas as bordas da camisa encobriam o alfinete, um detalhe, para ele, fundamental. A exibição daquele arranjo seria o mesmo que anunciar publicamente o estado de humilhação em que vivia. Por isso mesmo, habituara-se a caminhar pelas ruas sempre com uma das mãos segurando a camisa na altura do alfinete, de modo a impedir que um vento levantasse a roupa e expusesse aos passantes sua penúria.
Ônibus cheio, como sempre, ficou em pé bem no meio, pronto para avançar quando se aproximasse o ponto onde deveria descer. Uma mão segurando o suporte colado ao teto, a outra impedindo que a camisa levantasse muito.
- É um assalto!
O grito veio do fundo do ônibus. A freada brusca jogou algumas pessoas sobre Euzébio, ele segurou firme o corrimão do teto e, mais firme ainda, manteve a camisa no lugar. Duas portas de emergência foram abertas num piscar de olhos, passageiros caíam no asfalto e corriam em desespero, dois policiais militares surgiram não se sabe de onde, armas em punho, um entrando pela porta da frente, outro pela porta de trás.
No ônibus praticamente vazio os policiais avistaram Euzébio com uma cara suspeita. No empurra-empurra, ele percebeu que o alfinete se abrira. Rápido, meteu a mão por baixo da camisa para impedir que a calça fosse ao chão.
- Ele tá armado!
O cabo Oliveira, campeão de tiro da 8ª Companhia, não teve dificuldade para acertar um disparo bem no meio do peito gordo do contador.
- O elemento ia atirar, Oliveira!
- Se eu não sou ligeiro, hein, sargento!
(De G. Guarabyra, publicitário, jornalista e amante de futebol e da boa cozinha)
Em seu quarto alugado, Euzébio era o retrato da solidão. Sozinho desde que a mulher confessou, em lágrimas, que não agüentava mais aquilo, passou a viver com a metade do coração. Procurava um emprego, desesperadamente, ainda alimentando a esperança de que um dinheirinho - pouco, mas certo - seria o suficiente para arrumar as camisas no guarda-roupa e a vida nos trilhos. Calças e camisas amarrotadas se espalhavam sobre a cama sempre desarrumada, a pia do banheiro repleta de cuecas mergulhadas na água.
Acordara cedo, disposto a arriscar na passagem de ônibus os últimos trocados emprestados por um amigo. Não é possível que nessa cidade ninguém esteja precisando de um contador habilidoso e experiente com eu, injetava confiança em si mesmo. Tentava desamarrotar a camisa usando as mãos como se fossem um ferro de engomar.
A barriga não cabia mais dentro da calça. Em todas as peças romperam os botões. Havia encontrado um grande alfinete que servira para prender as fraldas da pequena Camila, quando ele, a filha e a mulher, Marilza, ainda viviam juntos. As duas partes da calça que precisavam ficar presas corriam para os lados, mas acabavam contidas pelo grande alfinete, uma peça formada por duas hastes de metal, uma delas presa por uma presilha na ponta.
Na parte mais abaixo o zíper permanecia aberto até o meio da braguilha, mas as bordas da camisa encobriam o alfinete, um detalhe, para ele, fundamental. A exibição daquele arranjo seria o mesmo que anunciar publicamente o estado de humilhação em que vivia. Por isso mesmo, habituara-se a caminhar pelas ruas sempre com uma das mãos segurando a camisa na altura do alfinete, de modo a impedir que um vento levantasse a roupa e expusesse aos passantes sua penúria.
Ônibus cheio, como sempre, ficou em pé bem no meio, pronto para avançar quando se aproximasse o ponto onde deveria descer. Uma mão segurando o suporte colado ao teto, a outra impedindo que a camisa levantasse muito.
- É um assalto!
O grito veio do fundo do ônibus. A freada brusca jogou algumas pessoas sobre Euzébio, ele segurou firme o corrimão do teto e, mais firme ainda, manteve a camisa no lugar. Duas portas de emergência foram abertas num piscar de olhos, passageiros caíam no asfalto e corriam em desespero, dois policiais militares surgiram não se sabe de onde, armas em punho, um entrando pela porta da frente, outro pela porta de trás.
No ônibus praticamente vazio os policiais avistaram Euzébio com uma cara suspeita. No empurra-empurra, ele percebeu que o alfinete se abrira. Rápido, meteu a mão por baixo da camisa para impedir que a calça fosse ao chão.
- Ele tá armado!
O cabo Oliveira, campeão de tiro da 8ª Companhia, não teve dificuldade para acertar um disparo bem no meio do peito gordo do contador.
- O elemento ia atirar, Oliveira!
- Se eu não sou ligeiro, hein, sargento!
quinta-feira, novembro 18, 2004
A casa dos barões continua caindo
Manhã agitada na sede da superintendência da Polícia Federal de Roraima. Por conta das investigações do Caso dos Gafanhotos, vários figurões de Boa Vista foram presos, entre eles um ex-secretário de Fazenda, o ex-responsável pelo Tesouro Estadual e os sócios da empresa que fazia os pagamentos dos servidores públicos.
Do lado de fora da superintendência, sob o sol, os representantes da imprensa, ávidos e de óculos escuros. Estavam acompanhados de algumas pessoas que gritavam 'ladrão", "bem feito" e coisas do tipo a cada sujeito que chegava na parte de trás dos camburões da Federal.
Das três rádios FMs da cidade (o sinal das AMs estava péssimo), apenas uma deu cobertura à movimentação. Em certo momento, uma delas falava sobre melancias e outra mandava abraços aos ouvintes.
Na emissora que ficou de plantão, comentários exaltados sobre a ladroagem, sobre a corrupção, sobre justiça sendo feita. Um radialista se revoltou por ter entrado no prédio da Federal algemado, depois que foi pego contrabandeando gasolina da Venezuela, mas não viu os figurões tendo o mesmo tratamento. Falaram em justiça desigual.
Outras pessoas falaram em fortalecimento da democracia, moral e ética.
Como de costume, também se falou (e vai ser escrito, com certeza) em vergonha para o Estado, exposição desnecessária, constrangimento.
Parece que todos querem ver presas as pessoas acusadas de desviar cerca de 230 milhões de reais dos cofres públicos, mas de preferência sem alarde, afinal, todos se conhecem em Boa Vista, todos freqüentam as mesmas festas e aparecem nas mesmas colunas sociais, têm a mesma pinta de boa gente, usam quase sempre as mesmas marcas de carros e motos importadas.
É sempre a mesma reação. Os servidores-fantasmas, ou gafanhotos, por serem os devoradores da folha de pagamento, não são uma novidade. Nas eleições de 1998, o extinto jornal O Diário, ligado intimamente ao governador Ottomar Pinto, publicou uma listagem dos deputados e secretários estaduais e a cota de gafanhotos de cada um. No outro dia, na mídia escrita, apenas as defesas do grupo do então governador Neudo Campos. Ninguém questionou muito, talvez para não perder as cotas de publicidade, talvez por acreditar que eram mentiras criadas pela imaginação de um grupo de descontentes.
E assim se faz a história em Roraima.
Manhã agitada na sede da superintendência da Polícia Federal de Roraima. Por conta das investigações do Caso dos Gafanhotos, vários figurões de Boa Vista foram presos, entre eles um ex-secretário de Fazenda, o ex-responsável pelo Tesouro Estadual e os sócios da empresa que fazia os pagamentos dos servidores públicos.
Do lado de fora da superintendência, sob o sol, os representantes da imprensa, ávidos e de óculos escuros. Estavam acompanhados de algumas pessoas que gritavam 'ladrão", "bem feito" e coisas do tipo a cada sujeito que chegava na parte de trás dos camburões da Federal.
Das três rádios FMs da cidade (o sinal das AMs estava péssimo), apenas uma deu cobertura à movimentação. Em certo momento, uma delas falava sobre melancias e outra mandava abraços aos ouvintes.
Na emissora que ficou de plantão, comentários exaltados sobre a ladroagem, sobre a corrupção, sobre justiça sendo feita. Um radialista se revoltou por ter entrado no prédio da Federal algemado, depois que foi pego contrabandeando gasolina da Venezuela, mas não viu os figurões tendo o mesmo tratamento. Falaram em justiça desigual.
Outras pessoas falaram em fortalecimento da democracia, moral e ética.
Como de costume, também se falou (e vai ser escrito, com certeza) em vergonha para o Estado, exposição desnecessária, constrangimento.
Parece que todos querem ver presas as pessoas acusadas de desviar cerca de 230 milhões de reais dos cofres públicos, mas de preferência sem alarde, afinal, todos se conhecem em Boa Vista, todos freqüentam as mesmas festas e aparecem nas mesmas colunas sociais, têm a mesma pinta de boa gente, usam quase sempre as mesmas marcas de carros e motos importadas.
É sempre a mesma reação. Os servidores-fantasmas, ou gafanhotos, por serem os devoradores da folha de pagamento, não são uma novidade. Nas eleições de 1998, o extinto jornal O Diário, ligado intimamente ao governador Ottomar Pinto, publicou uma listagem dos deputados e secretários estaduais e a cota de gafanhotos de cada um. No outro dia, na mídia escrita, apenas as defesas do grupo do então governador Neudo Campos. Ninguém questionou muito, talvez para não perder as cotas de publicidade, talvez por acreditar que eram mentiras criadas pela imaginação de um grupo de descontentes.
E assim se faz a história em Roraima.
terça-feira, novembro 16, 2004
Depois de uma semana de surrealismo político, O Crônicas da Fronteira tem o prazer de apresentar mais uma edição de sua série de maior sucesso: Escritos para mulheres especiais.
Acuerdo
(para ler ouvindo "Il postino" ou "Beatrice", da trilha sonora d?O Carteiro e o Poeta)
Hagamos un trato:
Si quieres me voy.
Si no, me pongo donde mandes,
Me vuelvo un polo sur
Uma aldea a orillas del Amazonas.
Hagamos un trato:
Yo me quedo tranquilo
Si me dejas dormir en paz
Acompañado solamente de la luna.
Acéptalo, por favor,
Mis lágrimas te lo imploran
Lo necesitam como cielo azul al sol
Como isla al oceano.
Déjame vivir lejos
O recibe mis poemas
Y leelos por las noches.
Cuando amanezca, miénteme
Si es necesario y dime que
Se parecen a los de Neruda.
Hagamos un trato:
Dime que trato quieres
Para arreglar esta situación
Y echar el barco al mar
Para ver en que lugar podemos navegar.
Hagamos la paz o la guerra
Hagamos distancia o amor.
Pero tiene que ser ahora.
Lo siento, pero soy así.
Como agua sin sed
Com letra sin papel.
Soy así, sin ti.
Por eso te lo pido
Por la vida, por Dios en el cielo,
Antes que sea tarde
Y todo sea imposible,
Hagamos un trato.
sexta-feira, novembro 12, 2004
De novo, política.
Não deu pra aguentar...Leia na tarde de sexta o que sairá no sábado n'O Globo. Depois, lá embaixo, clique no link que te leva para um artigo no site do Marlen sobre a situação da política roraimense. Até semana que vem.
(Sobre o post anterior, mudou tudo na Assessoria de Comunicação, com o descarte do nome anunciado em plena cerimônia de posse. É o jeito Ottomar de ser.)
Ottomar consegue recuperar R$ 12 milhões
desviados de convênios federais em Roraima
Humberto Silva
Especial para O GLOBO
BOA VISTA (RR). O novo governador de Roraima, Ottomar de Sousa Pinto (PTB), empossado na quarta-feira após decisão do Tribunal Superior Eleitoral que confirmou a cassação do mandato de Flamarion Portela (licenciado do PT) anunciou ontem que encontrou nos cofres do estado pouco mais de R$ 1 milhão, porém, numa operação entre a Secretaria da Fazenda e a rede bancária, conseguiu recuperar mais R$ 12 milhões, que segundo ele, ?através de manobra conseguiram desviar os recursos de convênio federal para fazer pagamentos que não correspondiam ao convênio?.
Ottomar disse que com a recuperação dos aproximadamente R$ 12 milhões, de convênios federais, recebeu o governo com um caixa de R$ 14 milhões. ?Tivemos que agir rápido para que não fossem descontadas as ordens bancárias?, afirmou o governador negando-se a informar em nome quem eram os pagamentos, para não atrapalhar a auditoria que determinou em todas as secretarias.
Dívidas
Além da tentativa de desvio de R$ 12 milhões, de convênios federais, Ottomar Pinto herda diversos acordos de renegociação de dívidas junto ao INSS, Eletronorte e ainda o empréstimo concedido pela CAF ? Corporação Andina de Fomento ? no valor de US$ 23 milhões, ainda na administração do ex-governador Neudo Campos, cujos recursos deveriam ser destinados a interiorização da energia de Guri.
A obra de interiorização não foi realizada na administração de Neudo Campos nem na de Flamarion Portela e a partir de 2004, o governo de Roraima tem que pagar duas parcelas por ano no valor de R$ 7 milhões cada, sendo uma em junho e outra em dezembro.
Junto ao INSS, antes de sair do governo, Flamarion Portela fez uma renegociação da dívida reconhecida no valor de R$ 232 milhões. Hoje o Estado paga R$ 600 mil por mês.
Além do empréstimo com a CAF e a renegociação com o INSS, Roraima tem outro acordo, junto com a Eletronorte e tem que desembolsar mensalmente R$ 1 milhão. Desde que o Estado foi implantado em 1991, nunca se pagou a energia consumida pelos prédios públicos.
Lula
Durante entrevista ao jornal O Globo Ottomar Pinto disse que vai ter uma relação respeitosa com o Palácio do Planalto, alertando que ?não vamos ser alinhados com tudo que o presidente Lula queira. Teremos relação respeitosa?, disse ele acrescentando após ter o levantamento das dívidas do estado com a União, vai buscar o Poder Central para discutir a situação.
Gafanhotos
Após a posse de Ottomar Pinto no governo de Roraima, o Tribunal Regional Eleitoral anunciou para o dia 23 de novembro o julgamento de uma Investigação Judicial Eleitoral impetrada por Pinto contra o ex-governador Flamarion Portela e mais cinco deputado reeleitos em 2002 ? Chico Guerra (atual vice-presidente da Assembléia), Mecias de Jesus (presidente da Assembléia), Berinho Bantin, Urzeni Rocha e Sérgio Ferreira, além 11 ex-deputados e um vereador de Boa Vista.
O processo é pautado no Escândalo dos Gafanhotos, que em novembro de 2003 levou mais de 57 pessoas para a prisão, inclusive o ex-governador Neudo Campos.
Na pauta da sessão do TRE-RR do dia 23 de novembro serão julgadas três Investigações Judiciais Eleitorais movidas por Ottomar Pinto contra Flamarion Portela, deputados e ex-deputados. O processo já está com relatório final elaborado pelo Corregedor-Eleitoral, desembargador José Pedro Fernandes que não se encontra em Boa Vista.
Na Investigação, os advogados de Ottomar Pinto acusam o ex-governador e parlamentares de sua base aliada de terem utilizado um grupo de 20 pessoas para receberem de janeiro a julho de 2002, por meio de procuração, o salário que o governo de Roraima pagou para 319 servidores ?fantasmas?.
O TRE-RR cassou em 2004 os mandatos dos deputados estaduais Flávio Chaves (PV) e Jálser Renier (PFL). Chaves conseguiu voltar ao mandato por decisão do Tribunal Superior Eleitoral que por sua vez manteve a cassação de Renier. Ambos foram acusados de compra de votos.
Juristas ouvidos no Tribunal Regional Eleitoral não adiantam qual pode ser a decisão de relator as investigações, antecipando apenas que no caso dos ex-deputados envolvidos a pena pode ser apenas de inelegibilidade. Quantos aos parlamentares detentores de mandatos, podem ser cassados.
..................................................................................................
Muito bem, já que vc aguentou a leitura e deve estar pensando como diabos Roraima chegou a este ponto, vale a pena ler a versão do Marlen:
E ASSIM TUDO COMEÇOU
Eduardo Levischi, então ex-diretor geral e todo poderoso do DER foi exonerado e abandonado pelo Reizinho de Coreaú. Estando entregue a própria sorte e tendo o Ministério Público em seu calcanhar, o matreiro Levischi tomou a decisão mais sensata para sua vida. Assim pensou...'entrego tudo o que sei e o que tenho de documentos, tendo em troca privilégios no processo do roubo de milhões de reais...'. (Leia o artigo completo)
Não deu pra aguentar...Leia na tarde de sexta o que sairá no sábado n'O Globo. Depois, lá embaixo, clique no link que te leva para um artigo no site do Marlen sobre a situação da política roraimense. Até semana que vem.
(Sobre o post anterior, mudou tudo na Assessoria de Comunicação, com o descarte do nome anunciado em plena cerimônia de posse. É o jeito Ottomar de ser.)
Ottomar consegue recuperar R$ 12 milhões
desviados de convênios federais em Roraima
Humberto Silva
Especial para O GLOBO
BOA VISTA (RR). O novo governador de Roraima, Ottomar de Sousa Pinto (PTB), empossado na quarta-feira após decisão do Tribunal Superior Eleitoral que confirmou a cassação do mandato de Flamarion Portela (licenciado do PT) anunciou ontem que encontrou nos cofres do estado pouco mais de R$ 1 milhão, porém, numa operação entre a Secretaria da Fazenda e a rede bancária, conseguiu recuperar mais R$ 12 milhões, que segundo ele, ?através de manobra conseguiram desviar os recursos de convênio federal para fazer pagamentos que não correspondiam ao convênio?.
Ottomar disse que com a recuperação dos aproximadamente R$ 12 milhões, de convênios federais, recebeu o governo com um caixa de R$ 14 milhões. ?Tivemos que agir rápido para que não fossem descontadas as ordens bancárias?, afirmou o governador negando-se a informar em nome quem eram os pagamentos, para não atrapalhar a auditoria que determinou em todas as secretarias.
Dívidas
Além da tentativa de desvio de R$ 12 milhões, de convênios federais, Ottomar Pinto herda diversos acordos de renegociação de dívidas junto ao INSS, Eletronorte e ainda o empréstimo concedido pela CAF ? Corporação Andina de Fomento ? no valor de US$ 23 milhões, ainda na administração do ex-governador Neudo Campos, cujos recursos deveriam ser destinados a interiorização da energia de Guri.
A obra de interiorização não foi realizada na administração de Neudo Campos nem na de Flamarion Portela e a partir de 2004, o governo de Roraima tem que pagar duas parcelas por ano no valor de R$ 7 milhões cada, sendo uma em junho e outra em dezembro.
Junto ao INSS, antes de sair do governo, Flamarion Portela fez uma renegociação da dívida reconhecida no valor de R$ 232 milhões. Hoje o Estado paga R$ 600 mil por mês.
Além do empréstimo com a CAF e a renegociação com o INSS, Roraima tem outro acordo, junto com a Eletronorte e tem que desembolsar mensalmente R$ 1 milhão. Desde que o Estado foi implantado em 1991, nunca se pagou a energia consumida pelos prédios públicos.
Lula
Durante entrevista ao jornal O Globo Ottomar Pinto disse que vai ter uma relação respeitosa com o Palácio do Planalto, alertando que ?não vamos ser alinhados com tudo que o presidente Lula queira. Teremos relação respeitosa?, disse ele acrescentando após ter o levantamento das dívidas do estado com a União, vai buscar o Poder Central para discutir a situação.
Gafanhotos
Após a posse de Ottomar Pinto no governo de Roraima, o Tribunal Regional Eleitoral anunciou para o dia 23 de novembro o julgamento de uma Investigação Judicial Eleitoral impetrada por Pinto contra o ex-governador Flamarion Portela e mais cinco deputado reeleitos em 2002 ? Chico Guerra (atual vice-presidente da Assembléia), Mecias de Jesus (presidente da Assembléia), Berinho Bantin, Urzeni Rocha e Sérgio Ferreira, além 11 ex-deputados e um vereador de Boa Vista.
O processo é pautado no Escândalo dos Gafanhotos, que em novembro de 2003 levou mais de 57 pessoas para a prisão, inclusive o ex-governador Neudo Campos.
Na pauta da sessão do TRE-RR do dia 23 de novembro serão julgadas três Investigações Judiciais Eleitorais movidas por Ottomar Pinto contra Flamarion Portela, deputados e ex-deputados. O processo já está com relatório final elaborado pelo Corregedor-Eleitoral, desembargador José Pedro Fernandes que não se encontra em Boa Vista.
Na Investigação, os advogados de Ottomar Pinto acusam o ex-governador e parlamentares de sua base aliada de terem utilizado um grupo de 20 pessoas para receberem de janeiro a julho de 2002, por meio de procuração, o salário que o governo de Roraima pagou para 319 servidores ?fantasmas?.
O TRE-RR cassou em 2004 os mandatos dos deputados estaduais Flávio Chaves (PV) e Jálser Renier (PFL). Chaves conseguiu voltar ao mandato por decisão do Tribunal Superior Eleitoral que por sua vez manteve a cassação de Renier. Ambos foram acusados de compra de votos.
Juristas ouvidos no Tribunal Regional Eleitoral não adiantam qual pode ser a decisão de relator as investigações, antecipando apenas que no caso dos ex-deputados envolvidos a pena pode ser apenas de inelegibilidade. Quantos aos parlamentares detentores de mandatos, podem ser cassados.
..................................................................................................
Muito bem, já que vc aguentou a leitura e deve estar pensando como diabos Roraima chegou a este ponto, vale a pena ler a versão do Marlen:
E ASSIM TUDO COMEÇOU
Eduardo Levischi, então ex-diretor geral e todo poderoso do DER foi exonerado e abandonado pelo Reizinho de Coreaú. Estando entregue a própria sorte e tendo o Ministério Público em seu calcanhar, o matreiro Levischi tomou a decisão mais sensata para sua vida. Assim pensou...'entrego tudo o que sei e o que tenho de documentos, tendo em troca privilégios no processo do roubo de milhões de reais...'. (Leia o artigo completo)
Ainda sobre o novo governo
(Infome da gerência: Voltaremos da surrealidade na próxima semana)
Em tempos de mudança de governo, o melhor informativo a ser lido não é da iniciativa privada, mas sim o Diário Oficial do Estado.
......................
Nem nas festas feitas pelo ex-governador Flamarion Portela tantos carros ficavam parados por tantas horas na área de estacionamento da sede do Executivo.
...............
O mundo da política não é lógico. Quem estava à frente, fica para trás. Quem estava nos bastidores, ganha um holofote só para ele. Ou, no caso, a Assessoria de Comunicação.
.............
Ottomar resgatou do ostracismo o dono do jingle mais lembrado das campanhas políticas de Roraima: Belgerrac Batista, que nas primeiras eleições diretas para governador de Roraima, no início da década de 90, com a slogam: tá tudo bem, tudo Bell!
........
O secretariado do novo governo é formado por antigos colaboradores e uma turma que se aliou e acompanhou o brigadeiro mais recentemente. Entre os cargos que já distribuiu, beneficiou um cunhado, a esposa (ex-senadora Marluce Pinto), um genro e um sobrinho. Alguém falou em nepotismo?
.........
O governador já disse a que veio: é sim candidato a reeleição e vai trabalhar para que a reserva Raposa ? Serra do Sol não seja homologada em área única, com seus 1,8 milhão de hectares. O CIR que se dane.
.............
O PT nacional disse à Agência Folha que aceitar Flamarion no partido foi um erro que poderia ter sido evitado, um alerta, para ser mais exato. Mas só agora eles perceberam, depois de dezenas de denúncias de corrupção, um ano de afastamento da sigla, vários julgamentos na Justiça e cassação do mandato do homem?
(Infome da gerência: Voltaremos da surrealidade na próxima semana)
Em tempos de mudança de governo, o melhor informativo a ser lido não é da iniciativa privada, mas sim o Diário Oficial do Estado.
......................
Nem nas festas feitas pelo ex-governador Flamarion Portela tantos carros ficavam parados por tantas horas na área de estacionamento da sede do Executivo.
...............
O mundo da política não é lógico. Quem estava à frente, fica para trás. Quem estava nos bastidores, ganha um holofote só para ele. Ou, no caso, a Assessoria de Comunicação.
.............
Ottomar resgatou do ostracismo o dono do jingle mais lembrado das campanhas políticas de Roraima: Belgerrac Batista, que nas primeiras eleições diretas para governador de Roraima, no início da década de 90, com a slogam: tá tudo bem, tudo Bell!
........
O secretariado do novo governo é formado por antigos colaboradores e uma turma que se aliou e acompanhou o brigadeiro mais recentemente. Entre os cargos que já distribuiu, beneficiou um cunhado, a esposa (ex-senadora Marluce Pinto), um genro e um sobrinho. Alguém falou em nepotismo?
.........
O governador já disse a que veio: é sim candidato a reeleição e vai trabalhar para que a reserva Raposa ? Serra do Sol não seja homologada em área única, com seus 1,8 milhão de hectares. O CIR que se dane.
.............
O PT nacional disse à Agência Folha que aceitar Flamarion no partido foi um erro que poderia ter sido evitado, um alerta, para ser mais exato. Mas só agora eles perceberam, depois de dezenas de denúncias de corrupção, um ano de afastamento da sigla, vários julgamentos na Justiça e cassação do mandato do homem?
quarta-feira, novembro 10, 2004
TSE nega recurso e governador de Roraima deve deixar cargo (Folha Online)
TSE afasta o governador de Roraima (Agência Estado)
Ottomar será diplomado à tarde no TRE e empossado à noite na ALE (Brasil Norte)
A queda do governador Flamarion Portela e o retorno de Ottomar Pinto ao governo estadual deixou muita gente suando em Roraima. E não foi por conta dos mais ou menos 40 graus de temperatura ambiente que estamos passando em Boa Vista.
Ottomar no poder significa a total reengenharia da política roraimense, com mudanças óbvias nos cargos de chefia do governo e o revigoramento do grupo do velho brigadeiro, que passou os últimos quatro anos à mingua e está com fome, muita fome.
Significa também que o foco dos investimentos estaduais deve mudar, com novas empresas sendo beneficiadas pelos contratos e novas prioridades sendo estabelecidas.
A decisão da justiça é um tapa na cara do PT local, partido do qual Flamarion estava licenciado desde o ano passado.
Com o novo governador, o PT perde a liderança do governo na Assembléia Legislativa e a chefia de secretarias importantes como a de Educação, com 900 cargos comissionados e 12 mil postos de trabalho.
O retorno doerá principalmente para algumas empresas de comunicação, a exemplo do grupo Folha de Boa Vista, cujo dono é irmão do ex-vice-governador Salomão Cruz e redator de uma coluna que nunca poupou críticas ao brigadeiro, além de desqualificar a batalha judicial vencida na noite de terça-feira.
Mas será fantástica para outras, como a retransmissora da Rede TV!, pertencente à esposa de Ottomar, ex-senadora Marluce Pinto. Quem sabe, até surja um novo jornal na cidade.
Este cronista só quer saber, caso não haja nenhuma reviravolta judicial:
1) Será que Ottomar, principal denunciante do esquema dos servidores fantasmas, vai montar cooperativas e criar novos cargos comissionados para contratar seus seguidores ou vai chamar com mais celeridade as pessoas que foram aprovadas no concurso de preenchimento das vagas do quadro funcional do Estado?
2) Quais serão as prioridades administrativas do novo governador, conhecido como homem de priorizar grandes obras?
3) Como será a relação com os deputados, que o renegaram desde que deixou o governo estadual em 1992, depois de eleger Neudo Campos, o herdeiro malvado?
4) Como fica a questão dos cargos federais à disposição do PT local (aliás, perderam nesta quarta a superintendência do Incra)?
5) Como será a disputa eleitoral daqui a dois anos, caso o grupo de Ottomar entre em confronto direto com o do senador Romero Jucá, atualmente o mais estruturado de Roraima?
6) Onde vão enfiar as caras aqueles que passaram dois anos andando de salto alto por conta dos postos e benefícios recebidos pelo governo de Flamarion Portela?
7) Será que o brigadeiro vai agüentar o tranco de governar um Estado que deve muitos de seus problemas a ele, conforme sempre disse a oposição?
8) Será que Flamarion continua vivendo no Estado?
TSE afasta o governador de Roraima (Agência Estado)
Ottomar será diplomado à tarde no TRE e empossado à noite na ALE (Brasil Norte)
A queda do governador Flamarion Portela e o retorno de Ottomar Pinto ao governo estadual deixou muita gente suando em Roraima. E não foi por conta dos mais ou menos 40 graus de temperatura ambiente que estamos passando em Boa Vista.
Ottomar no poder significa a total reengenharia da política roraimense, com mudanças óbvias nos cargos de chefia do governo e o revigoramento do grupo do velho brigadeiro, que passou os últimos quatro anos à mingua e está com fome, muita fome.
Significa também que o foco dos investimentos estaduais deve mudar, com novas empresas sendo beneficiadas pelos contratos e novas prioridades sendo estabelecidas.
A decisão da justiça é um tapa na cara do PT local, partido do qual Flamarion estava licenciado desde o ano passado.
Com o novo governador, o PT perde a liderança do governo na Assembléia Legislativa e a chefia de secretarias importantes como a de Educação, com 900 cargos comissionados e 12 mil postos de trabalho.
O retorno doerá principalmente para algumas empresas de comunicação, a exemplo do grupo Folha de Boa Vista, cujo dono é irmão do ex-vice-governador Salomão Cruz e redator de uma coluna que nunca poupou críticas ao brigadeiro, além de desqualificar a batalha judicial vencida na noite de terça-feira.
Mas será fantástica para outras, como a retransmissora da Rede TV!, pertencente à esposa de Ottomar, ex-senadora Marluce Pinto. Quem sabe, até surja um novo jornal na cidade.
Este cronista só quer saber, caso não haja nenhuma reviravolta judicial:
1) Será que Ottomar, principal denunciante do esquema dos servidores fantasmas, vai montar cooperativas e criar novos cargos comissionados para contratar seus seguidores ou vai chamar com mais celeridade as pessoas que foram aprovadas no concurso de preenchimento das vagas do quadro funcional do Estado?
2) Quais serão as prioridades administrativas do novo governador, conhecido como homem de priorizar grandes obras?
3) Como será a relação com os deputados, que o renegaram desde que deixou o governo estadual em 1992, depois de eleger Neudo Campos, o herdeiro malvado?
4) Como fica a questão dos cargos federais à disposição do PT local (aliás, perderam nesta quarta a superintendência do Incra)?
5) Como será a disputa eleitoral daqui a dois anos, caso o grupo de Ottomar entre em confronto direto com o do senador Romero Jucá, atualmente o mais estruturado de Roraima?
6) Onde vão enfiar as caras aqueles que passaram dois anos andando de salto alto por conta dos postos e benefícios recebidos pelo governo de Flamarion Portela?
7) Será que o brigadeiro vai agüentar o tranco de governar um Estado que deve muitos de seus problemas a ele, conforme sempre disse a oposição?
8) Será que Flamarion continua vivendo no Estado?
terça-feira, novembro 09, 2004
Conversas
Ela disse:
- Conta-me um segredo teu.
Ele respondeu:
- Eu não. Vai que o usas depois contra mim.
Ela retrucou:
- Não sou dessas. Quem age assim é jornalista ou político. Eu sou apenas uma psicóloga.
Ele sorriu:
-Então chega mais...
segunda-feira, novembro 08, 2004
Coisas de jornalismo
Ricardo Kotscho limpa as gavetas para deixar a Assessoria de Imprensa do governo Lula, mas ainda é possível encontrar nas bancas a edição da Caros Amigos com o jornalista falando sobre o seu trabalho nos últimos dois anos.
A Agência Câmara noticia a retirada de tramitação do projeto de lei que cria o Conselho Federal de Jornalismo, apoiado por quem acredita que alguma coisa deve ser feita para quebrar a censura praticada pelos barões da mídia e criticado pelos que acreditam que o governo quer apenas determinar o que é bom ou ruim para ser veiculado. Nos dois lados, perceba-se, o discurso do acesso livre à informação.
No site do Marlen, um artigo sobre o CFJ questiona se vale a pena que exista e também outros assuntos referentes à profissão de jornalista.
Em Roraima, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais elege nova diretoria.
Enquanto isso, uma nova revolução parece estar a caminho. É o jornalismo na web renovando-se, conforme o Observatório da Imprensa. Agora é a vez de um jornal planetário, multilíngüe e sem donos.
Ricardo Kotscho limpa as gavetas para deixar a Assessoria de Imprensa do governo Lula, mas ainda é possível encontrar nas bancas a edição da Caros Amigos com o jornalista falando sobre o seu trabalho nos últimos dois anos.
A Agência Câmara noticia a retirada de tramitação do projeto de lei que cria o Conselho Federal de Jornalismo, apoiado por quem acredita que alguma coisa deve ser feita para quebrar a censura praticada pelos barões da mídia e criticado pelos que acreditam que o governo quer apenas determinar o que é bom ou ruim para ser veiculado. Nos dois lados, perceba-se, o discurso do acesso livre à informação.
No site do Marlen, um artigo sobre o CFJ questiona se vale a pena que exista e também outros assuntos referentes à profissão de jornalista.
Em Roraima, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais elege nova diretoria.
Enquanto isso, uma nova revolução parece estar a caminho. É o jornalismo na web renovando-se, conforme o Observatório da Imprensa. Agora é a vez de um jornal planetário, multilíngüe e sem donos.
sexta-feira, novembro 05, 2004
quarta-feira, novembro 03, 2004
Às mestras
Olha só, se és daqueles que acha que blog bom é aquele que é asséptico como um jornal, melhor pular este post e ir direto para os que estão lá embaixo. Ou então fecha a janela. O texto a seguir é repreensivelmente pessoal.
Continuas aí? Então agüenta, que hoje está quase brega.
Depois de um final de semana esticado, de ler o Cláudio falando de seus 26 felizes anos de casamento e o Nei comentando no mesmo post sobre como os amores nos ajudam a transpor obstáculos; de tomar ciência que meus pais completam 31 anos de casados em dezembro (com uma pausa para o almoço, que ninguém é de ferro); que meus avós maternos já completaram 55 anos de união; e conhecer a De falando sobre experiências de vida, comecei a pensar no que aprendi com meus romances.
Percebi, finalmente, o quanto as mulheres que beijei são responsáveis por parte do que sou (nada como poder jogar a culpa de nossos erros em mais alguém além de nossos pais).
Se não fossem elas, como poderia saber que há momentos para amar ao som de Bach ou de Mozart e outros em que Zeca Baleiro, Alcione ou uma salsa das antigas fazem muito bem as honras da casa? Ou então, aprender que ciúme é coisa tola, de quem não tem confiança em si mesmo?
Houve romances que me deram lições de cidadania, mostrando-me na prática que vale a pena caminhar alguns metros e colocar o copo ou a garrafa vazia na lixeira e não jogá-los na rua. Outros demonstraram que dizer bom dia todos os dias vale a pena, mesmo quando não há reciprocidade.
De tanto ensinar-me a ouvir, aprendi com elas que um "não" às vezes não é um "sim" (contrariando a lógica popular), mas quem sabe um "talvez" e que para desfrutar de alguns amores é preciso dividi-los com outras pessoas. Afinal, nem tudo na vida é feito de exclusividade.
Estas moças-professoras me ensinaram que marcar encontros com duas pessoas distintas na mesma hora nunca dá certo e que beijar amigas pode ser bom, mas às vezes pode ser uma batalha na qual se perde a amiga e não se ganha a mulher.
Elas me mostraram ser o silêncio necessário em certas ocasiões, principalmente quando choram e desmancham a imagem construída de mulheres quase insensíveis.
Entre as lições mais difíceis, a necessidade da confiança, do saber baixar a guarda para dar uma chance aos outros, mesmo que isso signifique expor alguns medos e segredos. Entre as fáceis, descobrir que amor não é tudo e que para alguns relacionamentos basta haver um pouco de carinho em encontros esporádicos.
Os romances afetaram até meu paladar (ah, te vi agora pensando em cenas de morango e chantilly como as do filme 9 semanas e meio de amor. Tsc, tsc, pega leve, leitor), fazendo-me descobrir que vez ou outra é sempre bom abastecer a geladeira com frutas, torradas e gelatina Royal para espantar a fome depois de rir e brincar.
Enfim, pensando um pouco mais, lembraria de muitas outras contribuições (e de algumas mágoas, com certeza), mas, bah, o que nunca conseguiram foi ensinar-me a dançar.
E tu, me diz aí nos comments, o que aprendestes com teus romances?
Olha só, se és daqueles que acha que blog bom é aquele que é asséptico como um jornal, melhor pular este post e ir direto para os que estão lá embaixo. Ou então fecha a janela. O texto a seguir é repreensivelmente pessoal.
Continuas aí? Então agüenta, que hoje está quase brega.
Depois de um final de semana esticado, de ler o Cláudio falando de seus 26 felizes anos de casamento e o Nei comentando no mesmo post sobre como os amores nos ajudam a transpor obstáculos; de tomar ciência que meus pais completam 31 anos de casados em dezembro (com uma pausa para o almoço, que ninguém é de ferro); que meus avós maternos já completaram 55 anos de união; e conhecer a De falando sobre experiências de vida, comecei a pensar no que aprendi com meus romances.
Percebi, finalmente, o quanto as mulheres que beijei são responsáveis por parte do que sou (nada como poder jogar a culpa de nossos erros em mais alguém além de nossos pais).
Se não fossem elas, como poderia saber que há momentos para amar ao som de Bach ou de Mozart e outros em que Zeca Baleiro, Alcione ou uma salsa das antigas fazem muito bem as honras da casa? Ou então, aprender que ciúme é coisa tola, de quem não tem confiança em si mesmo?
Houve romances que me deram lições de cidadania, mostrando-me na prática que vale a pena caminhar alguns metros e colocar o copo ou a garrafa vazia na lixeira e não jogá-los na rua. Outros demonstraram que dizer bom dia todos os dias vale a pena, mesmo quando não há reciprocidade.
De tanto ensinar-me a ouvir, aprendi com elas que um "não" às vezes não é um "sim" (contrariando a lógica popular), mas quem sabe um "talvez" e que para desfrutar de alguns amores é preciso dividi-los com outras pessoas. Afinal, nem tudo na vida é feito de exclusividade.
Estas moças-professoras me ensinaram que marcar encontros com duas pessoas distintas na mesma hora nunca dá certo e que beijar amigas pode ser bom, mas às vezes pode ser uma batalha na qual se perde a amiga e não se ganha a mulher.
Elas me mostraram ser o silêncio necessário em certas ocasiões, principalmente quando choram e desmancham a imagem construída de mulheres quase insensíveis.
Entre as lições mais difíceis, a necessidade da confiança, do saber baixar a guarda para dar uma chance aos outros, mesmo que isso signifique expor alguns medos e segredos. Entre as fáceis, descobrir que amor não é tudo e que para alguns relacionamentos basta haver um pouco de carinho em encontros esporádicos.
Os romances afetaram até meu paladar (ah, te vi agora pensando em cenas de morango e chantilly como as do filme 9 semanas e meio de amor. Tsc, tsc, pega leve, leitor), fazendo-me descobrir que vez ou outra é sempre bom abastecer a geladeira com frutas, torradas e gelatina Royal para espantar a fome depois de rir e brincar.
Enfim, pensando um pouco mais, lembraria de muitas outras contribuições (e de algumas mágoas, com certeza), mas, bah, o que nunca conseguiram foi ensinar-me a dançar.
E tu, me diz aí nos comments, o que aprendestes com teus romances?
sábado, outubro 30, 2004
Sobre os concursados do governo de Roraima
Com toda a alegria que consegue transmitir por estar cumprindo suas obrigações, o governador Flamarion Portela (licenciado há cerca de um ano do PT , ou como diz o André, vítima de uma expulsão branca, por conta de um suposto envolvimento no Caso dos Gafanhofotos) convocou mil pessoas que havia sido aprovados no concurso público do Estado.
O total de vagas ofertadas no concurso passou das oito mil em diversas áreas. Com validade de dois anos, muitas pessoas têm medo de que o prazo expire e ninguém mais seja chamado.
O medo, a princípio injustificado se Roraima tivesse um histórico político diferente, baseia-se no aparente receio do governo em chamar os profissionais aprovados. As convocações vêm sendo feitas à base de pressão e reclamações, muitas reclamações na mídia.
Vale lembrar que Flamarion tem a seu favor o fato de ter quebrado com uma omissão que durava 12 anos. Os ex-governadores Ottomar Pinto e Neudo Campos (outro citado no escândalo dos servidores-fantasmas) preferiram deixar de lado essa bobagem de cumprir o que determina a lei e montar esquemas de contratações precárias que a Justiça considerou como feitos à medida para uso político-eleitoreiro.
Ao assumir e fazer o concurso, Flamarion ordenou uma limpa de mais de 12 mil nomes nos quadros do funcionalismo estadual, gerando revolta entre os aliados e os demitidos, mas encorpando o discurso do ajuste da máquina governamental ao que manda a Lei.
Mesmo assim, tem-se a impressão de que a coisa não foi bem assim.
Nesta semana, dois dias antes da convocação feita pelo petista licenciado, as informações de reportagem veiculada no jornal Folha de Boa Vista demonstram a quantas anda a vontade do governo em organizar a casa. Ou falta alguém que informe melhor e controle a secretária estadual de Educação, conhecida pela postura firme com que defende seus posicionamentos, na hora das entrevistas ou o concurso foi de fato uma balela.
Na matéria "Concursados denunciam ocupação ilegal de cargos na Educação", algumas pessoas reclamam da demora em serem chamados e da preferência dada a outras que sequer aprovaram no concurso e não teriam a escolaridade necessária para tanto.
Diz a matéria da Folha:
"Não fizemos concurso para quadro de reserva, mas para provimento de vagas", disse Matheus, lembrando que a elaboração do concurso público teve todo um custo para o Estado. "Inclusive, houve gastos com o assessor técnico que elaborou o planejamento por mais de R$ 250 mil, demonstrando a necessidade da contratação para o quadro do Estado", reforçou. "E agora dizem que não tem sequer local de trabalho para esses funcionários".
Aí vem a parte engraçada:
SECRETÁRIA - A Folha procurou a secretária estadual de Educação, Lenir Veras, que informou de início não ter nada a responder. Questionada sobre os direitos que estão pleiteando, ela disse que os concursados têm apenas "expectativa de direito".
Logo em seguida, a paulada:
Quanto à necessidade de mais servidores, Lenir disse que esse número está dentro do orçamento disponível na secretaria, embora tenha afirmado que o cargo sequer exista no quadro atual.
"Esse profissional será muito bem-vindo na secretaria, mas teremos que fazer algumas adaptações já que a função da qual eles fizeram o concurso não existe na secretaria, e acredito que farão mais o papel de assessoria", afirmou.
Sobre ao fato do concurso ter oferecido 201 vagas para essa função, Lenir Veras ressaltou que ela não estava à frente da secretaria e nem participou da comissão que aprovou o planejamento.
"Não sei qual o ânimo da comissão quando elaborou esse número, mas hoje o Estado tem a necessidade de diminuir o número de funcionários e de potencializar os recursos humanos, e uma pessoa fazer o serviço de dez", afirmou.
Ao ser questionada sobre as declarações de que funcionários estavam exercendo ilegalmente o cargo de analista educacional, ela foi incisiva: "Não existe ninguém, porque esse cargo não existe e não vamos inventar cargos para 201 pessoas", afirmou.
Diante das afirmações, ela foi indagada então do porquê de contratar os dez funcionários. "Por respeito à sociedade e à comissão que elaborou o planejamento. Mas que fique claro que não foi por pressão de ninguém e, como já falei, eles estão na expectativa de direito e temos que chamar alguém para dar satisfação à sociedade", frisou.
A matéria é isso. A parte interessante de tudo é esta declaração: "esse cargo não existe e não vamos inventar cargos para 201 pessoas", afirmou (a secretária).
Desorganização? Falta de comunicação entre quem pagou pelo concurso e as secretarias de Planejamento, Administração e Educação? Quem poderá saber, se todos estão satisfeitos com a convocação?
Em tempo, nenhum dos reclamantes na matéria está entre as 10 pessoas que foram convocadas pelo Governo para o tal cargo inexistente.
(este cronista foi um dos convocados. Mas como o salário é muuuiiiiiito baixo e não dá para bancar as contas fixas de cada mês, vai esperar a chamada para o cargo de nível superior em que foi aprovado. Outros jornalistas estão organizando uma campanha judicial para serem chamados rapidamente. Afinal, todas as vagas de Analistas de Comunicação Social estão ocupadas por não-concursados mas o atual governo insiste em falar que precisa primeiro organizar a casa para depois contratar quem vai tomar conta de sua imagem)
Com toda a alegria que consegue transmitir por estar cumprindo suas obrigações, o governador Flamarion Portela (licenciado há cerca de um ano do PT , ou como diz o André, vítima de uma expulsão branca, por conta de um suposto envolvimento no Caso dos Gafanhofotos) convocou mil pessoas que havia sido aprovados no concurso público do Estado.
O total de vagas ofertadas no concurso passou das oito mil em diversas áreas. Com validade de dois anos, muitas pessoas têm medo de que o prazo expire e ninguém mais seja chamado.
O medo, a princípio injustificado se Roraima tivesse um histórico político diferente, baseia-se no aparente receio do governo em chamar os profissionais aprovados. As convocações vêm sendo feitas à base de pressão e reclamações, muitas reclamações na mídia.
Vale lembrar que Flamarion tem a seu favor o fato de ter quebrado com uma omissão que durava 12 anos. Os ex-governadores Ottomar Pinto e Neudo Campos (outro citado no escândalo dos servidores-fantasmas) preferiram deixar de lado essa bobagem de cumprir o que determina a lei e montar esquemas de contratações precárias que a Justiça considerou como feitos à medida para uso político-eleitoreiro.
Ao assumir e fazer o concurso, Flamarion ordenou uma limpa de mais de 12 mil nomes nos quadros do funcionalismo estadual, gerando revolta entre os aliados e os demitidos, mas encorpando o discurso do ajuste da máquina governamental ao que manda a Lei.
Mesmo assim, tem-se a impressão de que a coisa não foi bem assim.
Nesta semana, dois dias antes da convocação feita pelo petista licenciado, as informações de reportagem veiculada no jornal Folha de Boa Vista demonstram a quantas anda a vontade do governo em organizar a casa. Ou falta alguém que informe melhor e controle a secretária estadual de Educação, conhecida pela postura firme com que defende seus posicionamentos, na hora das entrevistas ou o concurso foi de fato uma balela.
Na matéria "Concursados denunciam ocupação ilegal de cargos na Educação", algumas pessoas reclamam da demora em serem chamados e da preferência dada a outras que sequer aprovaram no concurso e não teriam a escolaridade necessária para tanto.
Diz a matéria da Folha:
"Não fizemos concurso para quadro de reserva, mas para provimento de vagas", disse Matheus, lembrando que a elaboração do concurso público teve todo um custo para o Estado. "Inclusive, houve gastos com o assessor técnico que elaborou o planejamento por mais de R$ 250 mil, demonstrando a necessidade da contratação para o quadro do Estado", reforçou. "E agora dizem que não tem sequer local de trabalho para esses funcionários".
Aí vem a parte engraçada:
SECRETÁRIA - A Folha procurou a secretária estadual de Educação, Lenir Veras, que informou de início não ter nada a responder. Questionada sobre os direitos que estão pleiteando, ela disse que os concursados têm apenas "expectativa de direito".
Logo em seguida, a paulada:
Quanto à necessidade de mais servidores, Lenir disse que esse número está dentro do orçamento disponível na secretaria, embora tenha afirmado que o cargo sequer exista no quadro atual.
"Esse profissional será muito bem-vindo na secretaria, mas teremos que fazer algumas adaptações já que a função da qual eles fizeram o concurso não existe na secretaria, e acredito que farão mais o papel de assessoria", afirmou.
Sobre ao fato do concurso ter oferecido 201 vagas para essa função, Lenir Veras ressaltou que ela não estava à frente da secretaria e nem participou da comissão que aprovou o planejamento.
"Não sei qual o ânimo da comissão quando elaborou esse número, mas hoje o Estado tem a necessidade de diminuir o número de funcionários e de potencializar os recursos humanos, e uma pessoa fazer o serviço de dez", afirmou.
Ao ser questionada sobre as declarações de que funcionários estavam exercendo ilegalmente o cargo de analista educacional, ela foi incisiva: "Não existe ninguém, porque esse cargo não existe e não vamos inventar cargos para 201 pessoas", afirmou.
Diante das afirmações, ela foi indagada então do porquê de contratar os dez funcionários. "Por respeito à sociedade e à comissão que elaborou o planejamento. Mas que fique claro que não foi por pressão de ninguém e, como já falei, eles estão na expectativa de direito e temos que chamar alguém para dar satisfação à sociedade", frisou.
A matéria é isso. A parte interessante de tudo é esta declaração: "esse cargo não existe e não vamos inventar cargos para 201 pessoas", afirmou (a secretária).
Desorganização? Falta de comunicação entre quem pagou pelo concurso e as secretarias de Planejamento, Administração e Educação? Quem poderá saber, se todos estão satisfeitos com a convocação?
Em tempo, nenhum dos reclamantes na matéria está entre as 10 pessoas que foram convocadas pelo Governo para o tal cargo inexistente.
(este cronista foi um dos convocados. Mas como o salário é muuuiiiiiito baixo e não dá para bancar as contas fixas de cada mês, vai esperar a chamada para o cargo de nível superior em que foi aprovado. Outros jornalistas estão organizando uma campanha judicial para serem chamados rapidamente. Afinal, todas as vagas de Analistas de Comunicação Social estão ocupadas por não-concursados mas o atual governo insiste em falar que precisa primeiro organizar a casa para depois contratar quem vai tomar conta de sua imagem)
quinta-feira, outubro 28, 2004
De Zanny Adairalba, inspirada no post anterior.
O suicida
Um homem prestes a cometer suicídio.
CENÁRIO:
Janela de um apartamento no 27º andar.
O PENSAMENTO:
Minha mulher não liga mais pra mim!!
Minha mãe não liga mais pra mim!!!
Minha amante não liga mais pra mim!!!
Meus amigos não ...
O TELEFONE TOCA:
Por coincidência está em cima de sua mesa de estudo; bem próximo de suas mãos.
O PENSAMENTO:
Bolas!!! Quem inventa de ligar pra mim numa hora dessas???
UMA VOZ DESCONHECIDA:
Sr Djalma??
Sim!!???
Aqui quem está falando é Karla, do Serviço de telemarketing SPS (Salvamento a Possíveis Suicidas ) NÃO VÁ AGORA. O CÉU É APENAS UMA POSSIBILIDADE. O INFERNO SIM É UMA CERTEZA S.A.
Se o senhor está tentando suicídio com arma de fogo, tecle o número 1. Se for com arma branca tecle o número três. Se for no trilho do trem, tecle o número 5. Se for pular de algum edifício, tecle o número 7. Para outras opções mais criativas, tecle o número 9.
UMA AÇÃO:
O dedo inquieto aperta imediatamente o número nove.
A MESMA VOZ DESCONHECIDA:
Aguarde um momento. Vamos encaminhar o senhor para uma de nossas atendentes.
A MÚSICA DE ESPERA:
Tururururururulalaalalrurururtututu
UMA VOZ:
Serviço de telemarketing SPS (Salvamento a Possíveis Suicidas ) NÃO VÁ AGORA. O CÉU É APENAS UMA POSSIBILIDADE. O INFERNO SIM É UMA CERTEZA S.A., Bete, Booooom diaaaa!!!
UM SUÍCIDA CONFUSO:
B-bom di-a.
A PERGUNTA:
No que posso lhe ajudar???
UM INDÍVÍDUO INDIGNADO:
Ma...Mas foram vocês que ligaram para mim, ué!!!!!
A FORMALIDADE DAS ATENDENTES DE TELEMARKETING
Com quem estou falando Sr, por gentileza??
A IRA:
Djalma!!!!!!
Sr. Djalma, a sua vizinha nos ligou dizendo que o senhor está prestes a cometer suicídio. O senhor confirma?
A CALMA:
Sim. É ... é verdade!!!!
O senhor pretende fazer isto como, Sr. Djalma??
Pulando da janela de meu apartamento, ué!!!
Sr Djalma, eu estou aqui para lhe ajudar .... o Sr. está me ouvindo bem???
A ÚLTIMA ESPERANÇA:
Sim, minha filha. Estou lhe ouvindo muito bem.
Sr. Djalma, não se desespere. Confie em mim.
AS LÁGRIMAS:
Minha filha... então me dê um bom motivo para eu continuar vivo!!Todos me abandonaram!!!
Sr Djalma. Tenha fé. Eu não vou lhe abandonar. Acre...
O SOM:
Tu tu tu tu....
UMA LIGAÇÃO QUE CAI
UM OLHAR DE DESESPERO
UMA ÚLTIMA FRASE:
Ninguém liga pra mim. E quando liga...desliga na minha cara.
O suicida
Um homem prestes a cometer suicídio.
CENÁRIO:
Janela de um apartamento no 27º andar.
O PENSAMENTO:
Minha mulher não liga mais pra mim!!
Minha mãe não liga mais pra mim!!!
Minha amante não liga mais pra mim!!!
Meus amigos não ...
O TELEFONE TOCA:
Por coincidência está em cima de sua mesa de estudo; bem próximo de suas mãos.
O PENSAMENTO:
Bolas!!! Quem inventa de ligar pra mim numa hora dessas???
UMA VOZ DESCONHECIDA:
Sr Djalma??
Sim!!???
Aqui quem está falando é Karla, do Serviço de telemarketing SPS (Salvamento a Possíveis Suicidas ) NÃO VÁ AGORA. O CÉU É APENAS UMA POSSIBILIDADE. O INFERNO SIM É UMA CERTEZA S.A.
Se o senhor está tentando suicídio com arma de fogo, tecle o número 1. Se for com arma branca tecle o número três. Se for no trilho do trem, tecle o número 5. Se for pular de algum edifício, tecle o número 7. Para outras opções mais criativas, tecle o número 9.
UMA AÇÃO:
O dedo inquieto aperta imediatamente o número nove.
A MESMA VOZ DESCONHECIDA:
Aguarde um momento. Vamos encaminhar o senhor para uma de nossas atendentes.
A MÚSICA DE ESPERA:
Tururururururulalaalalrurururtututu
UMA VOZ:
Serviço de telemarketing SPS (Salvamento a Possíveis Suicidas ) NÃO VÁ AGORA. O CÉU É APENAS UMA POSSIBILIDADE. O INFERNO SIM É UMA CERTEZA S.A., Bete, Booooom diaaaa!!!
UM SUÍCIDA CONFUSO:
B-bom di-a.
A PERGUNTA:
No que posso lhe ajudar???
UM INDÍVÍDUO INDIGNADO:
Ma...Mas foram vocês que ligaram para mim, ué!!!!!
A FORMALIDADE DAS ATENDENTES DE TELEMARKETING
Com quem estou falando Sr, por gentileza??
A IRA:
Djalma!!!!!!
Sr. Djalma, a sua vizinha nos ligou dizendo que o senhor está prestes a cometer suicídio. O senhor confirma?
A CALMA:
Sim. É ... é verdade!!!!
O senhor pretende fazer isto como, Sr. Djalma??
Pulando da janela de meu apartamento, ué!!!
Sr Djalma, eu estou aqui para lhe ajudar .... o Sr. está me ouvindo bem???
A ÚLTIMA ESPERANÇA:
Sim, minha filha. Estou lhe ouvindo muito bem.
Sr. Djalma, não se desespere. Confie em mim.
AS LÁGRIMAS:
Minha filha... então me dê um bom motivo para eu continuar vivo!!Todos me abandonaram!!!
Sr Djalma. Tenha fé. Eu não vou lhe abandonar. Acre...
O SOM:
Tu tu tu tu....
UMA LIGAÇÃO QUE CAI
UM OLHAR DE DESESPERO
UMA ÚLTIMA FRASE:
Ninguém liga pra mim. E quando liga...desliga na minha cara.
terça-feira, outubro 26, 2004
segunda-feira, outubro 25, 2004
Domingo de teatro na praça
Por pouco, a oficina de interpretação realizada pela turma do Erro Grupo não acabou na delegacia. Os catarinenses, que estiveram em Roraima a convite do Sesc, promotor do projeto Palco Giratório, levaram os alunos para mostrar na rua à noite o que haviam aprendido durante a tarde.
Após receberam chamadas de supostos pais inconformados com a performance do ator Anderson, um dos participantes da oficina, Policiais Militares e Guardas Municipais apareceram no Portal do Milênio, uma das praças mais freqüentadas de Boa Vista, para saber qual o motivo daquele rapaz estar deitado sem camisa no chão e gritando como um louco na noite de domingo.
Convencer os Guardas foi fácil. Eles só queriam saber se aquilo ali era mesmo teatro. Pergunta até justificável no contexto, pensariam, afinal, gritar é atuar? Uma das atrizes do Erro, a (ai, ai) bonitona Dayana Zdebsky, já enfezada com a discussão, ameaçou mostrar a registro da DRT para provar a verdade de sua profissão. Não precisou.
Ao lado, um dos rapazes do grupo, com uma barba à Los Hermanos, travava um debate com um dos sujeitos que aluga carrinhos elétricos para as crianças passearem na praça. O rapaz queria a retirada dos atores, alegando que estavam assustando as crianças e que os pais haviam reclamado da performance. Com a sensatez de quem estava perdendo fregueses para o teatro, invocou a bíblia para justificar seu pedido-ordem. "Isso é coisa do diabo. As crianças não podem olhar isso", disse. O catarina barbudinho, coitado, ainda tentou ter uma conversa racional, citando arte, liberdade de ir e vir, direito de escolha...
Nesse momento, dois Policiais Militares já estavam a perigosos centímetros do ainda deitado no chão e berrante Anderson, que espertamente olhava para a noite de lua crescente em vez de encará-los.
Os PMs queriam parar tudo, sob a alegação de perturbação da ordem pública. Mas quem havia reclamado, além dos donos dos carrinhos? Pais, vários pais, respondeu o policial, sem ter em conta que estava rodeado por adultos e crianças em êxtase querendo saber o que estava acontecendo. As mesmas crianças que alguém alegara estarem com medo minutos atrás.
É um projeto teatral, é arte, alguém explicou. Isso é arte?, inquiriu com um sincero ar de desconhecimento. A explicar que comedia dell arte não é Casseta & Planeta e coxia nunca foi parente de quibe, é melhor ser pragmático na argumentação. É sim, é o encerramento de um curso, responderam outro clone de Los Hermanos, ops, ator do Erro, e Rosana, do Sesc Roraima. "Ah, mas então vocês deviam avisar as pessoas, explicar o que estão fazendo. É melhor parar e explicar", pediu.
Dayana, você, que tem uma voz forte, pede um segundo para o Anderson parar e grita bem alto que isso aqui é teatro? Ah, não. Não tenho como fazer isso, respondeu a (ai, ai) enfezada bonitona.
Quase nesse momento, o berrante Anderson, que talvez nunca tivesse visto tantos pés e pernas em torno dele, levantou como se nada, saiu andando com calma, não sem antes fazer uma debochada pose de Madame Satã, e foi aplaudido por todos os presentes. Fim do espetáculo, que ficou mais rico com a participação dos representantes da lei.
As outras intervenções transcorreram tranquilamente. Ninguém ameaçou o Renato (louco orientador), a Lidiane e o Marcos (a chorosa e o filósofo), a Joelma (noiva abandonada), a Kywsi e a Carol (animadoras) ou o restante dos 17 participantes da oficina.
Conclusões:
Deveríamos ter deixado os PMs levar o Anderson e a turma do Erro. Ia ser engraçado ler/ouvir a justificativa da idiota prisão na mídia. Sem contar que poderia ter vendido a matéria para o Diário Catarinense (manchete: atores catarinas são presos em Roraima por apresentar-se na praça) ou para o Diarinho do Litoral (Fim do mundo: Em Roraima, meganhas enfiam caras do teatro catarinense no xadrez).
No final, foi concluído que tudo pareceu uma briga do capital contra a arte. Venceu a arte, graças a Deus.
Surpreendeu-me como as pessoas questionaram os atores sobre o conhecimento, fé e obediência às leis de Cristo. Pus-me a pensar que ou o Filho do Homem não gostava de teatro ou fazia performances muito melhores de que as apresentadas no domingo.
Por pouco, a oficina de interpretação realizada pela turma do Erro Grupo não acabou na delegacia. Os catarinenses, que estiveram em Roraima a convite do Sesc, promotor do projeto Palco Giratório, levaram os alunos para mostrar na rua à noite o que haviam aprendido durante a tarde.
Após receberam chamadas de supostos pais inconformados com a performance do ator Anderson, um dos participantes da oficina, Policiais Militares e Guardas Municipais apareceram no Portal do Milênio, uma das praças mais freqüentadas de Boa Vista, para saber qual o motivo daquele rapaz estar deitado sem camisa no chão e gritando como um louco na noite de domingo.
Convencer os Guardas foi fácil. Eles só queriam saber se aquilo ali era mesmo teatro. Pergunta até justificável no contexto, pensariam, afinal, gritar é atuar? Uma das atrizes do Erro, a (ai, ai) bonitona Dayana Zdebsky, já enfezada com a discussão, ameaçou mostrar a registro da DRT para provar a verdade de sua profissão. Não precisou.
Ao lado, um dos rapazes do grupo, com uma barba à Los Hermanos, travava um debate com um dos sujeitos que aluga carrinhos elétricos para as crianças passearem na praça. O rapaz queria a retirada dos atores, alegando que estavam assustando as crianças e que os pais haviam reclamado da performance. Com a sensatez de quem estava perdendo fregueses para o teatro, invocou a bíblia para justificar seu pedido-ordem. "Isso é coisa do diabo. As crianças não podem olhar isso", disse. O catarina barbudinho, coitado, ainda tentou ter uma conversa racional, citando arte, liberdade de ir e vir, direito de escolha...
Nesse momento, dois Policiais Militares já estavam a perigosos centímetros do ainda deitado no chão e berrante Anderson, que espertamente olhava para a noite de lua crescente em vez de encará-los.
Os PMs queriam parar tudo, sob a alegação de perturbação da ordem pública. Mas quem havia reclamado, além dos donos dos carrinhos? Pais, vários pais, respondeu o policial, sem ter em conta que estava rodeado por adultos e crianças em êxtase querendo saber o que estava acontecendo. As mesmas crianças que alguém alegara estarem com medo minutos atrás.
É um projeto teatral, é arte, alguém explicou. Isso é arte?, inquiriu com um sincero ar de desconhecimento. A explicar que comedia dell arte não é Casseta & Planeta e coxia nunca foi parente de quibe, é melhor ser pragmático na argumentação. É sim, é o encerramento de um curso, responderam outro clone de Los Hermanos, ops, ator do Erro, e Rosana, do Sesc Roraima. "Ah, mas então vocês deviam avisar as pessoas, explicar o que estão fazendo. É melhor parar e explicar", pediu.
Dayana, você, que tem uma voz forte, pede um segundo para o Anderson parar e grita bem alto que isso aqui é teatro? Ah, não. Não tenho como fazer isso, respondeu a (ai, ai) enfezada bonitona.
Quase nesse momento, o berrante Anderson, que talvez nunca tivesse visto tantos pés e pernas em torno dele, levantou como se nada, saiu andando com calma, não sem antes fazer uma debochada pose de Madame Satã, e foi aplaudido por todos os presentes. Fim do espetáculo, que ficou mais rico com a participação dos representantes da lei.
As outras intervenções transcorreram tranquilamente. Ninguém ameaçou o Renato (louco orientador), a Lidiane e o Marcos (a chorosa e o filósofo), a Joelma (noiva abandonada), a Kywsi e a Carol (animadoras) ou o restante dos 17 participantes da oficina.
Conclusões:
Deveríamos ter deixado os PMs levar o Anderson e a turma do Erro. Ia ser engraçado ler/ouvir a justificativa da idiota prisão na mídia. Sem contar que poderia ter vendido a matéria para o Diário Catarinense (manchete: atores catarinas são presos em Roraima por apresentar-se na praça) ou para o Diarinho do Litoral (Fim do mundo: Em Roraima, meganhas enfiam caras do teatro catarinense no xadrez).
No final, foi concluído que tudo pareceu uma briga do capital contra a arte. Venceu a arte, graças a Deus.
Surpreendeu-me como as pessoas questionaram os atores sobre o conhecimento, fé e obediência às leis de Cristo. Pus-me a pensar que ou o Filho do Homem não gostava de teatro ou fazia performances muito melhores de que as apresentadas no domingo.
sexta-feira, outubro 22, 2004
Declarações noturnas
Chega a noite na terra de ninguém
Batem sinos e botas. Hora de ir.
O cheiro de borracha mancha a mão.
Um velho fumante encosta a cabeça na parede.
Garrafas de aguardente tiram a sede.
Soldados com frio pagam por amar.
O som de carros vem de longe.
A moça mostra à irmã como enganar o pai.
Sorrisos falsos reforçam o combate.
Adjetivos declaram guerra a substantivos.
A queda d'água é como a queda da bolsa.
Crianças jogam basquete no cesto de lixo.
Completa-se a morte do sol.
Termina o tempo dos escritórios.
Gente contente mostra para todos:
Chegou a noite na terra de ninguém.
..........................
Comerciais da Fronteira
O companheiro Marlen Lima republicou o post "Conversas Possíveis" no seu site. Alguns comentários dos leitores deste blog estão lá, além de uns acréscimos que podem ajudar a desvendar um pouco sobre a personalidade de Orib Ziedson.
Ainda na linha divulgação gratuita, recomendo lerem o fotolog da Adenice, integrante do desfeito Trio Barraco, para lerem suas reflexões sobre minha querida pessoa.
quarta-feira, outubro 20, 2004
Histórias
Patrícia é uma garota de família decente. Nunca transa com estranhos. Por isso sempre pergunta antes o nome das meninas e meninos com quem se relaciona.
Airton é contumazmente religioso. Ele conta que cada vez que queima um baseado, está a conversar com Deus.
Pedro está decepcionado com a indisposição juvenil para o estudo. Há dias não consegue convencer nenhum rapaz a estudar sua anatomia.
Helena é um poço de dúvidas. Não sabe se volta para o antigo namorado ou assume o romance com o colega de trabalho. Na incerteza, optou pelo rapaz que conheceu no pagode de domingo.
Patrícia é uma garota de família decente. Nunca transa com estranhos. Por isso sempre pergunta antes o nome das meninas e meninos com quem se relaciona.
Airton é contumazmente religioso. Ele conta que cada vez que queima um baseado, está a conversar com Deus.
Pedro está decepcionado com a indisposição juvenil para o estudo. Há dias não consegue convencer nenhum rapaz a estudar sua anatomia.
Helena é um poço de dúvidas. Não sabe se volta para o antigo namorado ou assume o romance com o colega de trabalho. Na incerteza, optou pelo rapaz que conheceu no pagode de domingo.
segunda-feira, outubro 18, 2004
Aplausos na noite quente de Boa Vista
Calor. Boa Vista abafada. Os próximos se afastam. Os distantes morrem. Pouco a pouco. Ou de vez. Mas todos os dias e sem deixar saudade.
Baudelaire, Marx, Milton Santos. Um pouco de The Commitments, The Doors e cinema peruano.
Vírus de computador. Placas-mãe defeituosas. Filhos problemáticos. Arquivos e vidas corrompidas. Memórias apagadas.
Religião. Fé. Intermediações entre o abstrato e o real...player.
Interpretações. Correções. Ciência. Racionalização. Novos tempos.
Teorias. Pragmatismo. Evolucionismo. Positivismo. O nada coletivo. Etnocentrismo. E histórias fantasiosas sobre relações harmoniosas entre os desiguais nos lavrados de Roraima.
Projetos. Ambições. Preços. Cada um, um preço. De preferência em dólar ou em euro. Melhor proposta. Melhor negócio. Aplausos. Coletivas. Um ébrio na noite aplaudido pelas baratas.
E Boa Vista continua quente. Até nas madrugadas.
Baudelaire, Marx, Milton Santos. Um pouco de The Commitments, The Doors e cinema peruano.
Vírus de computador. Placas-mãe defeituosas. Filhos problemáticos. Arquivos e vidas corrompidas. Memórias apagadas.
Religião. Fé. Intermediações entre o abstrato e o real...player.
Interpretações. Correções. Ciência. Racionalização. Novos tempos.
Teorias. Pragmatismo. Evolucionismo. Positivismo. O nada coletivo. Etnocentrismo. E histórias fantasiosas sobre relações harmoniosas entre os desiguais nos lavrados de Roraima.
Projetos. Ambições. Preços. Cada um, um preço. De preferência em dólar ou em euro. Melhor proposta. Melhor negócio. Aplausos. Coletivas. Um ébrio na noite aplaudido pelas baratas.
E Boa Vista continua quente. Até nas madrugadas.
sexta-feira, outubro 15, 2004
Conversas possíveis
Para e inspirado em Orib Ziedson.
- Oi! Tudo bem? Passei alguns meses fora da cidade. Sentiu saudades de mim?
- Não.
................
- Fulana não gosta de ti. Diz que tu és muito arrogante e grosseiro.
- E eu com isso? Dependo dela por acaso?
......................
- E aí, como vão as coisas?
- Quer saber por quê? Tens alguma coisa a ver?
Para e inspirado em Orib Ziedson.
- Oi! Tudo bem? Passei alguns meses fora da cidade. Sentiu saudades de mim?
- Não.
................
- Fulana não gosta de ti. Diz que tu és muito arrogante e grosseiro.
- E eu com isso? Dependo dela por acaso?
......................
- E aí, como vão as coisas?
- Quer saber por quê? Tens alguma coisa a ver?
quarta-feira, outubro 13, 2004
(Para melhor compreensão, a gerência recomenda ler antes o post do dia 22 de setembro)
Me dê uma cerveja. Hum, muito bom matar a sede nesse calor, né? O senhor é o dono do bar? Bonito estabelecimento. Por acaso o senhor conversou com um rapaz parecido com o desta foto nos últimos dias? Quem sou eu? Eu trabalho para a família desse rapaz. Eles querem saber onde ele está metido. Afinal, há anos que não se tem notícias dele.
O senhor viu? Sim, claro, na foto ele está bem mais novo. Não, se ele falou que mantém contato periódico com a mãe, mentiu. A última vez que a pobre senhora ficou sabendo dele foi há uns oito anos.
Como eu cheguei aqui se ninguém sabe dele há tanto tempo? Ora, eu sou uma detetive muito bem treinada, filiada à Central Única Federal dos Detetives do Brasil - Ltda há vários anos. Venho na cola dele há umas vinte cidades. Já topei com ex-mulheres dele, com ex-patrões, com amigos. Todos têm uma história interessante para contar. Qual é a do senhor?
Como assim o senhor não revela as conversas com outros fregueses? O senhor é padre, por acaso? Desculpe, não quis ofendê-lo. Mas deixa eu adivinhar o que ele falou. Contou que largou os estudos, juntou um dinheirinho e foi rodar o mundo? Que já fez todo tipo de serviço para conseguir o dinheiro da próxima passagem? Certo, certo. Ele só não falou que é herdeiro de uma das maiores fortunas da América Latina, né? Nem tampouco que é considerado um gênio em física quântica pelos maiores doutores de vários países? Ele comentou que conseguiu o doutorado com menos de vinte anos de idade?
É, o homem é tudo isso. E um pouco louco, é claro. Largar os luxos da família para conhecer o mundo da maneira mais dura possível é coisa de quem estudou muito e ficou maluco.
Ele comentou para onde ia? Litoral? Estranho. Pelo jeito dele viajar nos últimos anos, água não deveria ser o próximo destino. Sim, eu tenho um banco de dados,com todas as informações cruzadas. Sei o que gosta de comer e de beber, tenho a média de permanência em cada lugar e...Como? No máximo, sete meses por cidade. Mas é o suficiente para arranjar confusões ou ser amado por todos. Ele é simpático, pelo que me disseram. Bonito eu sei que ele é.
Vai ser um prazer encontrá-lo. Mas me conte mais sobre a conversa que tiveram. Ele falou em algum livro também? Parece que vem com essa idéia há alguns anos. O engraçado é ele reclamar da falta de dinheiro para viabilizar a produção. Como assim o senhor não vai comentar nada? Tá bem, tá bem. Se eu pagar uma rodada para todo o bar, o senhor me diz pelo menos o nome da cidade para onde ele foi?
Me dê uma cerveja. Hum, muito bom matar a sede nesse calor, né? O senhor é o dono do bar? Bonito estabelecimento. Por acaso o senhor conversou com um rapaz parecido com o desta foto nos últimos dias? Quem sou eu? Eu trabalho para a família desse rapaz. Eles querem saber onde ele está metido. Afinal, há anos que não se tem notícias dele.
O senhor viu? Sim, claro, na foto ele está bem mais novo. Não, se ele falou que mantém contato periódico com a mãe, mentiu. A última vez que a pobre senhora ficou sabendo dele foi há uns oito anos.
Como eu cheguei aqui se ninguém sabe dele há tanto tempo? Ora, eu sou uma detetive muito bem treinada, filiada à Central Única Federal dos Detetives do Brasil - Ltda há vários anos. Venho na cola dele há umas vinte cidades. Já topei com ex-mulheres dele, com ex-patrões, com amigos. Todos têm uma história interessante para contar. Qual é a do senhor?
Como assim o senhor não revela as conversas com outros fregueses? O senhor é padre, por acaso? Desculpe, não quis ofendê-lo. Mas deixa eu adivinhar o que ele falou. Contou que largou os estudos, juntou um dinheirinho e foi rodar o mundo? Que já fez todo tipo de serviço para conseguir o dinheiro da próxima passagem? Certo, certo. Ele só não falou que é herdeiro de uma das maiores fortunas da América Latina, né? Nem tampouco que é considerado um gênio em física quântica pelos maiores doutores de vários países? Ele comentou que conseguiu o doutorado com menos de vinte anos de idade?
É, o homem é tudo isso. E um pouco louco, é claro. Largar os luxos da família para conhecer o mundo da maneira mais dura possível é coisa de quem estudou muito e ficou maluco.
Ele comentou para onde ia? Litoral? Estranho. Pelo jeito dele viajar nos últimos anos, água não deveria ser o próximo destino. Sim, eu tenho um banco de dados,com todas as informações cruzadas. Sei o que gosta de comer e de beber, tenho a média de permanência em cada lugar e...Como? No máximo, sete meses por cidade. Mas é o suficiente para arranjar confusões ou ser amado por todos. Ele é simpático, pelo que me disseram. Bonito eu sei que ele é.
Vai ser um prazer encontrá-lo. Mas me conte mais sobre a conversa que tiveram. Ele falou em algum livro também? Parece que vem com essa idéia há alguns anos. O engraçado é ele reclamar da falta de dinheiro para viabilizar a produção. Como assim o senhor não vai comentar nada? Tá bem, tá bem. Se eu pagar uma rodada para todo o bar, o senhor me diz pelo menos o nome da cidade para onde ele foi?
segunda-feira, outubro 11, 2004
12 de outubro.
Enquanto no Brasil, as atenções estão voltadas para as missas em homenagem a Nossa Senhora de Aparecida e para a entrega de presentes às crianças, a América espanhola rememora a chegada oficial dos espanhóis ao continente.
Foi em 1492 que as embarcações de Cristóvão Colombo atracaram na ilha denominada Guanahaní, rebatizada de San Salvador e atualmente ilha de Watling.
Como fariam os portugueses oito anos depois, quando "descobriram" o que hoje chamamos de Brasil, Colombo decretou a ilha como propriedade de um reino além-mar sem consultar seus habitantes, que olhavam admirados o brasão e a cruz, símbolos de seus novos governantes e de sua nova religião.
O resto da história, pelo menos em parte, todo mundo conhece.
Para ilustrar melhor o começo de tudo, uma canção do guatemalteco Ricardo Arjona, do disco Galeria Caribe:
Carabelas
Carabelas cargadas de malos presagios
emisarios de la trampa y de la colonización
tocan tierra provocando un gran naufrágio
cargados de demonios y una nueva religión
pisaron tierra de Guanahaní
bienvenida la desolación.
Esos sueños de estafa y de saqueo
ese gusto por el oro y esas ansias de poder
es el cáncer que aún enferma al heredero
es la historia de una tierra condenada a padecer.
Pero el negro, el indio y el español
se mezclaron para darle un gusto a Dios.
Pero el negro, el indio y el español
se mezclaron para darle un gusto a Dios.
Enquanto no Brasil, as atenções estão voltadas para as missas em homenagem a Nossa Senhora de Aparecida e para a entrega de presentes às crianças, a América espanhola rememora a chegada oficial dos espanhóis ao continente.
Foi em 1492 que as embarcações de Cristóvão Colombo atracaram na ilha denominada Guanahaní, rebatizada de San Salvador e atualmente ilha de Watling.
Como fariam os portugueses oito anos depois, quando "descobriram" o que hoje chamamos de Brasil, Colombo decretou a ilha como propriedade de um reino além-mar sem consultar seus habitantes, que olhavam admirados o brasão e a cruz, símbolos de seus novos governantes e de sua nova religião.
O resto da história, pelo menos em parte, todo mundo conhece.
Para ilustrar melhor o começo de tudo, uma canção do guatemalteco Ricardo Arjona, do disco Galeria Caribe:
Carabelas
Carabelas cargadas de malos presagios
emisarios de la trampa y de la colonización
tocan tierra provocando un gran naufrágio
cargados de demonios y una nueva religión
pisaron tierra de Guanahaní
bienvenida la desolación.
Esos sueños de estafa y de saqueo
ese gusto por el oro y esas ansias de poder
es el cáncer que aún enferma al heredero
es la historia de una tierra condenada a padecer.
Pero el negro, el indio y el español
se mezclaron para darle un gusto a Dios.
Pero el negro, el indio y el español
se mezclaron para darle un gusto a Dios.
quinta-feira, outubro 07, 2004
Cenas de bar
Duas da manhã. Éramos quatro, bebendo e ouvindo uma banda tocar velhos clássicos do rock. O balcão estava sujo. Na hora não percebi isso. Mas no dia seguinte, as provas estavam na manga comprida na camisa.
Nos intervalos entre uma música e outra, o burburinho predominava. E o cheiro de fumaça de cigarro industrial e de outros tipos tomava conta do ar. Estava quente. O calor só diminuía a cada cerveja. A necessidade de refrescar-se fazia que todos se aproximassem do nosso pedaço de balcão, congestionando o espaço.
Ele estava perigosa e estrategicamente bem posicionado entre o caixa e os garçons. Com a direita pegava a bebida e com a esquerda pagava. Quando saia do lugar, alguém ficava de guarda. Sempre o mais animado, estranhamente naquela noite era dono de uma calma que poderia ser chamada de melancólica ou perigosa.
Entre nós, as apostas sobre as coisas de sempre subiam. Mulheres para conquistar, garrafas a serem esvaziadas, o corpo da bailarina mais atraente.
E ele, quieto, apenas observando o movimento.
De repente, ela se aproximou do balcão. Vestido curto preto molhado de suor, cabelo longo e castanho, bonita. Cumprimentaram-se. Pareciam velhos amigos. As apostas agora haviam duplicado. Pelo estado de ânimo dele, joguei tudo no lance da conversa não durar mais uma canção.
Conversaram um de frente para o outro por três minutos, o tempo de um velho blues. Ele ainda aparentando distância. Eu, próximo de ganhar a aposta.
No intervalo, ela sussurrou uma frase no ouvido dele e sorriu. Ele respondeu, sorrindo também. Consegui ouvir ele dizendo "não me faz pensar bobagens. Há dias em que o coração de um homem está mais vulnerável que em outros e a cabeça e o corpo não se entendem."
Trocaram olhares e duas novas frases, afastaram-se do balcão, deixaram o bar e eu perdi a aposta.
Duas da manhã. Éramos quatro, bebendo e ouvindo uma banda tocar velhos clássicos do rock. O balcão estava sujo. Na hora não percebi isso. Mas no dia seguinte, as provas estavam na manga comprida na camisa.
Nos intervalos entre uma música e outra, o burburinho predominava. E o cheiro de fumaça de cigarro industrial e de outros tipos tomava conta do ar. Estava quente. O calor só diminuía a cada cerveja. A necessidade de refrescar-se fazia que todos se aproximassem do nosso pedaço de balcão, congestionando o espaço.
Ele estava perigosa e estrategicamente bem posicionado entre o caixa e os garçons. Com a direita pegava a bebida e com a esquerda pagava. Quando saia do lugar, alguém ficava de guarda. Sempre o mais animado, estranhamente naquela noite era dono de uma calma que poderia ser chamada de melancólica ou perigosa.
Entre nós, as apostas sobre as coisas de sempre subiam. Mulheres para conquistar, garrafas a serem esvaziadas, o corpo da bailarina mais atraente.
E ele, quieto, apenas observando o movimento.
De repente, ela se aproximou do balcão. Vestido curto preto molhado de suor, cabelo longo e castanho, bonita. Cumprimentaram-se. Pareciam velhos amigos. As apostas agora haviam duplicado. Pelo estado de ânimo dele, joguei tudo no lance da conversa não durar mais uma canção.
Conversaram um de frente para o outro por três minutos, o tempo de um velho blues. Ele ainda aparentando distância. Eu, próximo de ganhar a aposta.
No intervalo, ela sussurrou uma frase no ouvido dele e sorriu. Ele respondeu, sorrindo também. Consegui ouvir ele dizendo "não me faz pensar bobagens. Há dias em que o coração de um homem está mais vulnerável que em outros e a cabeça e o corpo não se entendem."
Trocaram olhares e duas novas frases, afastaram-se do balcão, deixaram o bar e eu perdi a aposta.
quarta-feira, outubro 06, 2004
Divagações sobre o existir
Existem sentimentos que são um embaraço de pernas, um emaranhado de cabelos, de dedos e toques, olhos e corpos...Porque há sentimentos que se confundem com o nosso próprio eu.
Érica Figueiredo, jornalista e mãe de Bia, afilhada querida.
Quando nos distanciamos de nós mesmos, devemos voltar às nossas origens, porque lá pode estar a resposta que precisamos para o nosso próprio reencontro.
Professor Roberto Ramos, doutor em Ciência Política e reitor da UFRR.
Existem sentimentos que são um embaraço de pernas, um emaranhado de cabelos, de dedos e toques, olhos e corpos...Porque há sentimentos que se confundem com o nosso próprio eu.
Érica Figueiredo, jornalista e mãe de Bia, afilhada querida.
Quando nos distanciamos de nós mesmos, devemos voltar às nossas origens, porque lá pode estar a resposta que precisamos para o nosso próprio reencontro.
Professor Roberto Ramos, doutor em Ciência Política e reitor da UFRR.
Assinar:
Postagens (Atom)