segunda-feira, dezembro 04, 2006
Diários da bicicleta
Então... para aqueles persistentes visitantes, que tantas mensagens deixaram e tantas vezes pensaram no que teria acontecido com este cronista, um fugitivo de suas atribuições blogueiras de escrever e ler com mais regularidade, vai aqui um pouco das aventuras de um índio acima do Equador.
A ultima postagem para valer foi o microconto da porta fechada, postada em primeiro de setembro, há mais de dois meses. Em tópicos, algumas das praias visitadas nestes dias:
- Mudei de emprego e de salário. Agora sou um jornalista a serviço da Universidade Estadual de Roraima.
- Entrei na fase da monografia. Fiz o projeto em duas semanas após o começo do meu ultimo semestre de sociologia na Universidade Federal de Roraima, arranjei o orientador que queria e empaquei na resenha e apresentação de um livro da Agnes Heller.
- Agora viajo quase toda semana para o interior do Estado. Fico surpreso com o que vejo em cada município, tanto para bem como para mal.
- Tirando o Lula, nenhum dos candidatos em que votei na eleição ganhou.
- Participei da comissão julgadora das composições inscritas na II Mostra de Música Canta Roraima, uma realização da Prefeitura de Boa Vista e do Sesc.
- Reaproveitei textos do Crônicas e os publiquei no Overmundo. Também escrevi algumas colaborações para divulgar na agenda do site o que se faz de arte por estas bandas de Boa Vista.
- Me inscrevi no 10º Concurso de Poesia do Sesi e não classifiquei, mas pelo menos fiquei feliz vendo a Zanny recebendo uma premiação na categoria escrita.
- Completamos aqui na oca dos Borges um ano da morte de meu primo (detalhes nos arquivos de novembro de 2005)
- Engordei um pouco...
- Cortei um pouco o cabelo...
- Não vejo há tempos minha afilhada Bia...
- Instalei um som com mp3 no carro e baixei 700 megas de música latina da net...
- Amigos foram embora, outros engravidaram e alguns resolveram entrar no MSN para conversar desde a Venezuela...
Assim, de supetão, é mais ou menos isso. Prometo pelo menos ser um ser semanal.
segunda-feira, novembro 20, 2006
sexta-feira, setembro 01, 2006
terça-feira, agosto 29, 2006
A morena Zanny Adairalba participou no final de semana de um evento promovido pela entidade Nós Existimos, que congrega diversos movimentos sociais. Zanny foi convidada para declamar uma poesia, mas a timidez não deixou.
Para suprir a falta de coragem de encarar o palco, convidou o músico George Farias para a leitura do texto.
George foi além e musicou o poema. Mas a morena não estava sabendo disso e tomou um susto ao ouvir a canção, a sua primeira composição mostrada em público.
A letra do poema é esta:
Vôo
Queria ser pássaro
Voar nas alturas
Romper as barreiras
Pousar nos lavrados
Planar sobre os campos
- Aroma de matos!
Subir as colinas
Banhar-me em seus lagos
Meus sonhos e encantos
Deixar na passagem
Ser ponto na imagem
De interrogação
- Que faz esta ave
tão livre no espaço
colhendo os pedaços
de tanta emoção?
- Que faz esta ave
de cor de alegrias
bailando nos dias
de minha canção?
Eu, para não ficar muito sério, dediquei ao seu poema estes singelos versos:
Queria ser menino
solto no campo
alegria no coração.
Queria ser menino
com boa pontaria
e um estilingue na mão.
(Zanny ficou deveras emocionada com a minha homenagem...)
sexta-feira, agosto 25, 2006
Conselhos
Acredite no destino ou na vontade
Dos homens de fé.
Lute e tente ser o melhor
Conquiste mundos, multidões, sucesso.
Viva como um rei, seja divino.
E com tudo isso acontecendo
Lembre-se a cada manhã
Caro amigo ou cruel oponente:
Todo amor acaba
E aquilo que em tudo te atrai
Uma manhã qualquer só te distrai.
Vá à lua ou passe as férias na praia
Beba até cair ou faça campanha contra
As guerras no Oriente Médio.
Execute a sua vontade e esqueça dos outros
Só porque é sempre assim:
Todo amor acaba
E aquilo que em tudo te atrai
Uma manhã qualquer só te distrai.
terça-feira, agosto 22, 2006
Vida na floresta amazônica
Serras ao norte, cerrado no centro e floresta tropical ao sul. Essas são as coberturas vegetais do estado de Roraima. A mais fria das regiões é na fronteira com a Venezuela, acima dos 1.000 metros de altitude, com um clima que varia de 10 0C a 27 0C.
Estas fotos foram batidas durante uma visita com a minha turma de Sociologia à vila de Campos Novos, um assentamento no meio da floresta do município de Iracema, sul de Roraima. A vila foi criada há dez anos e tem cerca de mil habitantes. Fica a uns 140 quilômetros da capital do Estado, Boa Vista.
Foi no meio da mata que os intrépidos alunos-pesquisadores estiveram buscando conhecimento. Essa aqui é uma das trilhas abertas pelos agricultores para chegar até suas propriedades e escoar a produção. Observe o tamanho das árvores.
Sem sucesso, a floresta parece querer resistir ao desmatamento. É surpreendente sair de uma área de mata fechada e surgir no meio de um capinzal, com o sol a pino.
Nas vicinais, sobrevivendo com muito trabalho e sem o conforto da energia elétrica, os agricultores vivem em casas de palha e de madeira.
No inverno, as picadas viram lamaçais e dificultam o escoamento. Em alguns pontos, a lama engole a metade da perna. Noutros, como nesse, parecem uma trilha de rali, pronta para engolir a sandália de desavisados como este cronista.
segunda-feira, agosto 21, 2006
Às vezes fica por dois, três dias, some, parece que nunca mais voltará.
De repente, ele amanhece esparramado, à vontade, faz da sua presença uma constante.
Às vezes fica o final de semana inteiro e some na segunda de manhã, mas antes das dez já está de volta, tocando, sentido, visto.
À noite, não deixa ninguém dormir tranqüilo. Fica ali, mexendo, provocando, fazendo suar, suar, suar...
Parece que setembro é o seu mês.
Quando setembro chegar, ele não sairá mais daqui. Talvez tire férias no ano que vem, lá por abril, maio, mas enquanto isso vai trabalhar muito. Até com mais intensidade que neste ano.
Maldito verão amazônico...
terça-feira, agosto 15, 2006
quarta-feira, agosto 09, 2006
Se bem que postar as fotos demora mais que postar texto....mas tudo bem.
Este é um dos principais monumentos da cidade: a Estátua do Garimpeiro. Fica bem no centro de Boa Vista. Poucas crianças nasceram e cresceram aqui sem bater uma foto com ele ao fundo. Eu tenho várias...
Essa é a fachada do Estádio Flamarion Vasconcelos, inaugurado na década de 70 pelo governo militar. O Canarinho é o palco dos cláááássicos do futebol da terceira divisão local....
E esta é uma mostra do grafitte local.
segunda-feira, agosto 07, 2006
quarta-feira, agosto 02, 2006
Fora os botecos de sempre com as mesmas horríveis bandas de forró, há semanas em que não acontece nenhum show em Boa Vista. E então, de repente, tudo explode. Agora, com a proximidade da seca e a diminuição progressiva das chuvas, as bandas e cantores voltam a ocupar espaço na night macuxi.
No final de semana passado, por exemplo, foi realizado o II Roraima Sesc Fest Rock, o maior festival do estilo em Roraima. 23 bandas se apresentaram de sexta a domingo no espaço multicultural do Sesc Centro, várias delas com repertório formado por músicas próprias, muito diferente do ano passado, quando a proposta autoral foi tímida. Bandas de Manaus (AM), a Pink Rock, e da Guiana, a Brutus, também deram o ar de seu rock em BV.
As fotos e o histórico das bandas podem ser conferidos aqui. Comentários e algumas entrevistas com as bandas podem ser conferidos aqui.
Na mesma sexta em que começou o Sesc Fest Rock, o cantor Neuber Uchoa lançou o seu mais novo CD, com o título ?Eu preciso aprender a ser pop?. Daí, como trabalhei até tardão, tive de escolher entre começar a noite no roquenrol ou na batida amazônica do Neuber. Já rolou um desencontro.
E agora, nesta sexta-feira (4), novamente o público vai ter de escolher e alguém vai perder nessa história. Na mesma noite, o Sesc promove um show com Helen Abad, uma professora de música que agora vai encarar os palcos com um repertório de MPB.
No mesmo horário, 21h, os roqueiros da Mr. Jungle fazem um show no teatro Carlos Gomes para lançar o seu single demo. E apenas para confundir mais a cabeça do público, Geraldo Azevedo (yes!) e Guilherme Arantes (arg!) apresentam-se no Iate Clube da cidade. Tudo ao mesmo tempo de agosto.
Na outra semana, a segunda edição do ano do projeto Sonora Brasil em Roraima traz o grupo curitibano Banza, para única apresentação no dia 11 de agosto no Espaço Multicultural Sesc Centro. No dia 13, é a vez dos Titãs tocarem no Iate Clube.
O problema agora é tempo e grana para comprar tanto ingresso.
Up date
Ahã, eu sabia que algo estava faltando. No sábado, a banda Garden comemora dez anos de estrada com um especial de O Rappa. No domingo, a Prefeitura de Boa Vista e o Sesc Roraima lançam o CD do projeto Canta Roraima (postei sobre ele em dezembro do ano passado), com 18 músicas, incluindo cantigas indígenas, rap e outros ritmos.
E onde estarei eu às 8h da manhã de sábado e domingo? Nas aulas da pós, feito um bom índio, até as 20h, pelo menos. Ou seja, nada de descanso para poder ir relaxado aos shows.
Up date 2
Às 20h deste sábado (5) começa a temporada de músicas eruditas do segundo semestre de 2006. Depois de apresentar-se com grande sucesso no 26º Festival de Música de Londrina (PR), a Orquestra de Câmara da Prefeitura de Boa Vista realiza novos concertos no Centro de Informações Turísticas da Intendência, localizado na Orla Taumanan, bem em frente ao rio Branco.
segunda-feira, julho 31, 2006
De repente, no meio do café da manhã, ele perguntou:
- Ei, tu teve um orgasmo ontem, não foi?
Ela ficou estática, chocada com o questionamento, e respondeu:
- Que tipo de pergunta é essa?
Ele, olhando para o seu pedaço de cuzcuz, disse:
- Nada não, é que passou no rádio que hoje é dia do orgasmo. E como tu gosta de ganhar presente por tudo, só quero te avisar que se tu teve um orgasmo ontem, te contenta com ele, que hoje estou cheio de serviço.
terça-feira, julho 25, 2006
Quando estava indo embora, ela disse:
- Gostei da noite. Quando quiser me ver de novo, liga neste número.
Ele, encabulado, preso à sua ética pessoal, respondeu, temeroso:
- Até que gostaria, mas você é a namorada de meu melhor amigo. E se perdermos o controle e algo a mais rolar?
Ela o olhou no fundo dos olhos, suspirou e cochichou em seu ouvido:
- Não quero parecer insensível, mas o que os olhos não vêem, o coração não sente. E se um não quiser, dois não se enrolam.
quarta-feira, julho 19, 2006
Nunca se perca de quem você gosta.
De vez em quando, ligue para uma pessoa amiga e diga-lhe o quanto gosta dela.
Sorria mais de quem só quer viver sério.
Ame. Ame nem que seja uma ave, mas ame e demonstre.
Viva o dia. E se for o seu perfil, a noite também.
Reúna-se de vez em quando com pessoas queridas e inteligentes. Faz bem à alma e ao cérebro.
Procure entender como é o outro, o desconhecido, e descubra novos matizes da existência.
...............
Agora, também brincando no Overmundo.
segunda-feira, julho 17, 2006
O blog está completamente às traças, com as baratas fazendo a festa e devorando os bits de cada texto. Ando trabalhando muito. Não estou reclamando disso. Pelo contrário, estou na melhor fase profissional da minha relativamente curta vida.
Ando meio sem vontade de escrever. Falta a dose certa de inspiração e gana de transpiração. Ando meio seleção brasileira, na real. Não são problemas pessoas. Aliás, se há algo do que posso me alegrar é da falta de grandes problemas pessoais. Nisso sou bem diferente de todas as pessoas que me rodeiam. Cada uma tem um drama para contar ou resolver. Eu, no máximo, me preocupo (quando lembro) da falta de um tema para a monografia.
Acho que é a saudade da aldeia, de pescar de noite no rio, brigar com jacaré, de ficar na rede quieto para evitar chamar a atenção do Canaimé, de acordar cedo para ir caçar...Ops, peraí, saudosismo não. Também não era tudo isso de bom a vida na maloca.
Bom, talvez seja só preguiça, sem tanta filosofia ou elucubrações. Por isso não escrevi nada no dia 7 de julho, quando o Crônicas da Fronteira completou dois anos de existência, ou no dia 9, quando meu querido município, Boa Vista, chegou ao 116º aniversário.
Para não deixar a poeira tomar conta do blog, resolvi colocar um texto tolo rabiscado no caderno entre as 22h e as zero horas, depois de uma aula de segunda ou quinta-feira.
Visitas? Assim que estiver mais folgado vou retribuir todas. Pode ser hoje ou amanhã. Quem sabe o que a vida nos guarda para daqui a algumas horas?
Beijos índios a todos.
Mão no queixo, silêncio.
A parede branca, mesa bagunçada.
Memórias, papéis velhos.
Maio se esvai, águas chegam.
Como se fala da inquietação?
Fotos, conchas do mar, canetas
Objetos e outras mil coisas se valor.
Notícias velhas, contas de energia.
É muito fácil pintar a inquietação.
Uma mosca, um copo d?água, calor.
Palavras para ler e guardar.
Um caminho sem sinalização de volta.
Uma foto do presente
Como escritores definem inquietação?
Jazz no canal de áudio.
Músicas com gaitas escocesas falam de rosas.
Substantivos, adjetivos, desconstruções gramaticais.
Traduções, induções, possessões.
Para quê tanta inquietação?
quarta-feira, julho 12, 2006
segunda-feira, julho 03, 2006
Porque Voltamos
...E naquela tarde ele já se sentira mal, os amigos ficaram apreensivos, e logo vazou...A equipe adversária soube, e um dos jogadores, que era seu amigo, ligou preocupado pra concentração...Não quiseram dar mais detalhes... "comeu um doce e passou mal..."...Só isso, mas foi o bastante...Era sexta-feira e provavelmente Saulinho não jogaria no domingo.
Exames para lá e repousos pra cá, e no fim, abatido, disse que queria jogar de qualquer maneira...Achava que devia isso ao povo. Foi aconselhado a pensar e só na hora do jogo decidiriam o que fazer. Ferreira estava muito aflito, era como se fosse com seu filho. Os nervos da equipe estavam em frangalhos. Matheus disse que por ele Saulinho não jogaria e caiu sobre os ombros do mais experiente e do jogador a difícil decisão. Jogar ou não jogar?
Faltando uma hora para o jogo, alguém põe um envelope embaixo da porta. Alguém leu e houve uma reunião a portas fechadas. Demorou muito até alguém quebrar o silencio. Então o maioral disse: - Temos que perder o jogo! Todos se perguntaram, e perguntaram aos outros...- Como???.....- Estamos obedecendo ordens!...Foi o que falou o "seu" maioral.
Na entrada do campo uns concordavam, outros não. Chamaram o Saulinho no canto, e lhe disseram algo...Ela acenou com a cabeça...- Que vergonha! ? pensou. Num jogo em que o time estava irreconhecível, nervoso, querendo gritar, o placar foi 3 x 0 para o adversário. Era inacreditável. Eles foram os campeões.
sexta-feira, junho 30, 2006
O Sérgio postou dia desses sobre onde e o que estava vivendo nos últimos mundiais de futebol. Desde o post da Luma, tentei me lembrar qual foi a copa que acompanhei com tanta atenção como esta. Resultado: nunca havia assistido a tantos jogos desta competição.
Daí comecei a pensar onde estava na final de cada mundial que rolou desde meu nascimento. A conta ficou assim:
Argentina 1978 - Com certeza, estava dormindo ou no seio de mamãe.
Espanha 1982 ? Não lembro, mas é provável que estivesse brincando com os meus bonequinhos no quintal ou no quarto.
México 1986 ? Estava na quarta série. Fiquei sabendo bem depois que a Argentina era campeã.
Itália 1990 ? Ah, essa final eu lembro. Um gol apenas da Alemanha contra a Argentina. Assisti na casa do meu amigo Gustavo. Alguém falou que final com placar tão magrinho não valia a pena pagar aposta.
EUA 1994 ? Assisti na varanda da casa de meus avós.
França 1998 ? Não lembro. Acho que estava dormindo. Mas depois acompanhei tudo...
Coréia do Sul & Japão 2002 ? Estava dormindo na final. Apenas ouvi os gritos de meus primos e tios na casa ao lado. É ruim de assistir jogo às 7h da madrugada!
E você, lembra onde estava nas últimas finais da copa do mundo?
segunda-feira, junho 26, 2006
(Rufar de tambores, histeria coletiva na blogosfera, milhões de acessos etc. etc. etc.)
Que a ficção de Luma ilumine a segunda-feira de todos nós.
Doce era a ilusão de segurança das rotinas. Prezava-as.
Mas aquele dia era um dia diferente.
O dia estava chuvoso, frio, e isso não a impediu de sair para a rua.
Vagueou sem destino até que entrou naquele mesmo café. Todos os dias era ali que ia almoçar e jantar.
Mal entrava e recebia um sorriso rasgado do garçom, que já nem perguntava, vinha apenas servir-lhe, com meia garrafa de água e meia garrafa de vinho.
Levava com ela um livro, fingia ler algumas páginas, mas essencialmente sonhava acordada. Pensava nele, na sua vida, alheia a tudo o que se passava a sua volta.
A chuva teimava em cair, fustigando as vidraças. Lá fora, viu gente que corria de um lado para o outro, tentando proteger-se.
Não reparou naquele homem, sentado à frente, que a olhou curioso.
Pagou e saiu. Não viu que o homem a seguiu.
Percorreu o caminho até a casa, cabeça baixa e olhar perdido.
Entrou no prédio e subiu as escadas. Não viu o homem....
Novamente saiu de casa e o destino levou-a ao mesmo café.
O garçom trouxe o jantar. A chuva estava suspensa e o negro da noite venceu a negritude daquele dia.
Repara num homem sentado à sua frente. Ele sorri, ela devolve o sorriso. Um sorriso triste, de alguém para quem a vida já nada significava.
Sem uma palavra, ele juntou-se a ela e acariciou-lhe uma das mãos. Mãos frias de um coração vazio....
Saíram juntos do café e percorreram as ruas da cidade.
E recostada a um carro, ela sonhou a sofreguidão de um grande amor.
Era o seu aniversário de casamento. Um casamento sem brilho, sem emoções, um fardo para a sua alma.
A partir desse dia, depois de muitos anos, sonha que vive um grande amor. Fantasia sobre a sua vida e revive, ainda que por breves momentos, o sabor da paixão.
Alguma coisa mudou dentro dela. Não olha mais os outros no café com olhar de indiferença, olha os outros clientes com uma curiosidade assanhada, como se pudesse beber deles a vida que não tinha: o casal de namorados a beijar-se; as três amigas que vinham desabafar suas mágoas e um casal de gays com ar culpado, que claramente tinham outras famílias em casa, mas que todos os dias se encontravam ali antes de subirem para um quarto do hotel ao lado.
Todos fantasiando a felicidade. Não se sentia mais só.
Tudo o que via, analisava, e o que não via, imaginava. Completava a realidade de cada um com os seus próprios sonhos e assim vivia feliz.
Saía dali somente quando começava a esvaziar, mas não ia ainda para casa.
Encostava-se em um carro. Rua vazia de vida naquela hora, via os carros que passavam e sentia a impressão que produzia neles. Muitos olhavam para ela como se fosse doida, com a curiosidade natural de ver uma mulher sozinha àquela hora da noite. Muitos homens solitários como ela, abrandavam, olhavam-na demoradamente, tentando percebê-la.
Às vezes, havia um que parava. Confundia-a com uma prostituta, perguntava-lhe o preço. Ela sorria, entrava no carro, fazia-lhe tudo e não levava nada.
O calor de um corpo, a intimidade, mesmo que falsa, para ela não tinha preço.
Separam-se, sem trocar um olhar ou uma palavra.
E com muito prazer,
Luma invadindo o espaço do Edgar
Beijus
sexta-feira, junho 23, 2006
Sem mais futebol, sem cheias de rios, sem dores ou febres na alma. Apenas algumas fotos do cotidiano de um índio em Boa Vista.
Ler, ler e ler. E ainda falta tanto...
Para ler, que tal uns óculos direto do Feirão do Garimpeiro?
Consciência pesada? Joga nessa balança importada da Venezuela.
Raízes...
Uma nega bonita chamada Zanny...
Um indiozinho chamado Edgar...
A família do índio, pintada pela artista plástica macuxi Carmézia Emiliano...
quarta-feira, junho 21, 2006
Céu vermelho no Norte
Há duas formas de chegar a Boa Vista: em avião ou pela BR 174. A capital de Roraima fica a 758 km de Manaus, capital do Amazonas. Se alguém quiser sair daqui para o sudeste ou nordeste por terra, a maneira mais segura para não quebrar o carro é pegar uma balsa em Manaus e passar dias navegando no rio Amazonas até chegar no Pará.
Em caso de pressa, a solução mais fácil é pegar um vôo. O que leva dias por terra e água leva apenas algumas horas no ar. É claro que se for uma saída de Florianópolis, por exemplo, o viajante acorda cedo, perde um dia inteiro e chega em BV somente depois da meia-noite.
Apesar de tudo isso e do preço exagerado das passagens, o povo estava acostumado a essas duas opções e à comidinha furreca dos aviões.
Agora, com a crise da Varig, chegou a péssima notícia: a rota para Boa Vista foi cancelada. A empresa anunciou nesta quarta-feira que manterá os vôos somente até Manaus. Outras cidades na lista de vôos que não continuarão a ser operados são Belo Horizonte, Goiânia, Natal, Petrolina e Vitória. Ao lado, os jornais desta quinta-feira, 22. Como diz o pessoal da revista Trip, a gente deu antes e gostou.
Uma das conseqüências do cancelamento é que vão acabar os passeios até tarde no hall do aeroporto de Boa Vista. Quem nunca tinha vindo à cidade, costuma ficar surpreso com o número de pessoas que esperam amigos e parentes para levar para casa ou simplesmente dar um abraço antes dos demais.
Outro costume local é dar adeus ou oi aos passageiros desde um balcão onde é possível acompanhar embarques e desembarques. É como se fosse um mirante de vôos.
Outra notícia dos céus é a chuva que cai por aqui. Boa Vista está no meio do chamado inverno amazônico. O rio Branco, em cuja margem direita nasceu a cidade, subiu quase nove metros. Estamos vivendo a maior cheia desde 1996. Segundo a Defesa Civil, O número de desabrigados e desalojados ultrapassou a 400 pessoas. Nos abrigos são 157 pessoas de 30 famílias. A cada dia aumenta o volume das águas do rio e dos igarapés que cortam a cidade. Em alguns bairros, o que era rua virou lago. É a força da natureza, contra a qual nem sempre há o que fazer.
A Orla Taumanan, principal ponto turístico da cidade, é a referência para quem quer saber como está o humor do rio.
Há quem a visite diariamente para saber quanto subiu ou quanto desceu o Branco.
Essa foto é do sábado passado. A água ainda não havia escostado na laje.
E o inverno está apenas começando. Até o lago do parque Anauá, na parte central urbana, já ultrapassou os limites que a mão humana tentou impor-lhe.
terça-feira, junho 20, 2006
Devia ter postado ontem, mas deu um pau na net local e não conseguia abrir nenhum blog, muito menos o blogger. Mesmo assim, aí vai, como se ainda fosse segunda:
2 X 0. O time caminha. Pesado, mas caminha. A Luma ganhou o prêmio do post anterior. Agora é ver se ela vai querer cobrar.
Está valendo a mesma promoção para o jogo de quinta-feira. Quem acertar o placar, leva o bolão da publicação. Mais barato que na promoção da Globo.
Manchete da Folha de S.Paulo: "Sem magia, Brasil vence e se classifica". A parte "e se classifica", em letras menores, parece um suspiro que vai da alegria ao muxoxo.
A parte boa da copa é que você pode ir para a casa dos parentes da namorada e empanturrar-se de graça com caldo e churrasco usando a desculpa da confraternização, do civismo esportivo e da socialização.
A parte ruim é ouvir piadas sobre o seu país de origem, que nunca se classificou para uma copa.
Dúvidas de todos os tipos podem te tomar ao ouvir o Galvão Bueno definir as cores do uniforme da Austrália como "um amarelo-fechado". Entre um pedaço de carne e outro, todos na sala perguntam: que cor é essa? E a da camisa brasileira, o que é então? Amarelo-aberto?
E no intervalo, o Faustão tirando onda com o resultado? Hilário.
Kaká. Até agora, esse é o cara da seleção.
Apesar da recuperação do fortucho Ronaldo, Robinho mandou bem melhor.
A ignorância é uma porcaria. Fred faz o gol e todo mundo pergunta: Fred? Quem é Fred?
Fred ficou tão empolgado que tentou levar a bola para casa, mas a Fifa não deixou.
O Miami Heat venceu o Dallas Mavericks por 101 a 100, na noite de domingo, e fez 3 a 2 na série melhor de sete da final da temporada 2005/06 da NBA. O próximo jogo está marcado para amanhã, e o último, se for preciso, será na quinta.
sexta-feira, junho 16, 2006
E aí, qual será o placar de domingo? Vamos fazer um bolão on-line de apostas sem fins lucrativos. Quem acertar, me manda um texto para publicação no Crônicas da Fronteira. Aposte, aposte, aposte e concorra a este fantástico prêmio!!!!!
A Holanda acaba de fazer um gol. (dei um ponto final lá embaixo, voltei para olhar de novo o texto e a Holanda já fez outro gol. Eficiência igualzi....A Costa do Marfim acaba de fazer o seu. Golaço. Isso é jogo. Continuando: Eficiência igualzinha à do time brasileiro.)
Igrejas alemãs exibem jogos para atrair fiéis, mas não vale xingar a mãe do juiz.
Os argentinos aplicaram a maior goleada da copa. A turma de Crespo e Tevez enfiou seis gols nos servo-montenegrinos. Aposto que a alegria dos platinos vai aumentar se o time do Brasil não mostrar um bom desempenho no domingo contra o time da Austrália, que entrará em campo com vários jogadores reservas.
Por bom desempenho, entenda-se pelos menos um placar com dois gols ou mais de diferença. Exatamente o que toda a turma de meu trabalho apostava que seria o resultado no primeiro jogo, disputado contra os croatas, que só levaram um gol.
Vocês já viram as roupas típicas alemãs? Como é que os homens vestiam aquelas roupas de jardineiro se dizem que lá faz tanto frio?
Neste jogo de domingo, o melhor time brasileiro desde 1982 (ou 86, estou confuso) tem a obrigação de mostrar entrosamento, alegria, espetáculo, qualidade, técnica, gols e dribles de todos os tipos. Não interessa como, não interessa que apesar de o Brasil ser o favorito, o futebol mundial esteja mais equilibrado a cada Copa.
E se não acontecer dessa forma, a culpa será dos Ronaldos. Tanto do gorducho-forte-pressionado Nazário, como do Gaúcho, o dentuço simpático que foi capa de todas as revistas semanais na semana passada.
Para quem está cansado de futebol, a pedida no domingo é relaxar vendo as finais da NBA. Ontem à noite, o Miami Heat venceu o Dallas Mavericks por 98 a 74, e empatou em 2 a 2 a série melhor de sete da final da temporada 2005/06 da NBA.
E se você está com pouca grana para o encontro de domingo, o Crônicas da Fronteira orienta: checa no site da Receita Federal se o teu nome saiu na lista da primeira restituição do Imposto de Renda. Quem sabe não voltou uma grana?
segunda-feira, junho 12, 2006
Histórias de índio: uma década e meia no Brasil (Ou: vamos acabar com a lenga-lenga para começar a falar da copa e do arraial Boa Vista Junina)
quarta-feira, junho 07, 2006
Histórias de índio: da infância à migração
segunda-feira, junho 05, 2006
Nasci apressado, antes dos nove meses de gestação. Para aprender a controlar a ansiedade, passei uns dias na incubadora.
Naquele dia, conta minha avó Maria José, chovia muito. Era junho, quando o inverno amazônico já está com tudo, elevando o nível dos rios e das lagoas.
Conta dona Neide que a minha primeira palavra escrita foi "Deus".
Ainda lembro daquele gibi do Scooby Doo em português que a professora pegou no jardim de infância e nunca mais devolveu.
Na Venezuela, todos me chamavam de "brasilerito". Quando vinha passar as férias no Brasil, me chamavam de "mira, muchacho".
Entre os seis e oito, acredito, tive hepatite e fui considerado caso perdido pelos médicos. Com muito carinho de mãe, ervas medicinais, frutas e uma promessa à Santa Virgen de la Pastora, sobrevivi.
Aos nove anos queria ser dono de uma banca de revistas.
Acho que entre os 10 e 11 anos era apaixonado pela Blanca num mês e pela Rocio no outro.
Quando moleque, lia e entendia bem o português. Pensava que falava bem, mas era uma ilusão.
Fui um moleque quieto demais, chorão demais, protegido demais.
Fui beijado na boca, com língua e tudo, pela primeira vez aos 10 anos. Fiquei de olho aberto para ver que história gostosa era essa. Foi bom...
quarta-feira, maio 31, 2006
Metade da vida em pais estrangeiro e um tantinho a mais em solo brasileiro.
Frio roraimense à noite...
O carro sai da oficina hoje.
Final de semana tem pós.
Prenderam 15 quilos de cocaína no final de semana na fronteira com a Venezuela. Desta vez foram pegos um colombiano e um cara da África do Sul.
Hoje tem show do Fagner.
Ando sem inspiração para fazer versos ou escrever prosa.
O pagamento saiu hoje. As contas já estão vorazes esperando por mim lá fora.
Quando chove, chove. Quando o sol abre, a pele arde.
Adília e Rodrigo, amantes amorosos e meus rivais no jogo Perfil 3, decidiram fazer mais do que amar-se e criaram um blog de poesias: Unir-versos.
O que te irrita mais: chegar aqui e ver a mesma postagem ou ler uma postagem meia-boca?
Alguém sabe como conseguir na net todo o texto da peça de Bertolt Brecht chamada "O declínio do egoísta Johann Fatzer"?
Na fronteira com a Venezuela abriram um posto que vende gasolina a um real por litro para brasileiros. Mesmo aumentando o preço em 900%, quando comparado com o valor cobrado aos venezuelanos, ainda é muitíssimo mais compensador que os R$ 2, 99 de Boa Vista. Pena que o posto fique a 220 quilômetros.
quinta-feira, maio 25, 2006
Divagações em uma aula
O novo não é eterno
Modernismo resposta processo
Acordos incorpora desejos
Estética recorte materno
Nostalgia fragmentos acesso
Contrários lamentos lampejos
Memórias pós-modernismo fé
Horários tempo palestinos
Lixeiras seios filosofia
Aves idéias touché
Regras bíblias destinos
Razões contexto maresia.
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E outros comentários
Chove, faz sol, esquenta, esfria...
O carro está na oficina. De carona para o trabalho e de bike para a universidade.
Projeto Pixinguinha no domingo. 45 minutos de atraso, as de sempre falhas no som e um espetáculo fantástico de música com Chico Aafa, Luiz Gayotto e o grupo instrumental paulista Qu4tro a Zero.
Editar uma revista para um evento não é fácil. Como será o nível de adrenalina dos editores das semanais?
O retorno à bike me leva a antigas paisagens que não via desde o ano passado. Como a dos carros estacionados dentro do parque Anauá depois das 21h e seus bancos abaixados.
O sol? Como é que anda esse tal de sol? A única prova que tenho de sua existência é uma brecha na cortina da sala.
Aulas de especialização, aulas de graduação. Estudar tanto deve valer a pena.
Minha afilhada aniversaria hoje. Onde está o número de minha comadre?????
Maio e junho, tempo dos geminianos. Aproxima-se mais um aniversário...deve ser por isso que as rugas e os cabelos brancos estão ganhando espaço...
quinta-feira, maio 18, 2006
Final de semana chegando, todos se preparam para fazer as compras. Vaí uma salada aí?
Estas fotos são da Feira do Garimpeiro, um mercado a céu aberto que se instala na avenida Ataíde Teive, a principal via de Boa Vista, nas manhãs de domingo. Milhares de pessoas passam pelo local.
Creio que cinco ou sete quadras são ocupados pelos comerciantes. Vende-se de tudo, até produto vencido a um real por gente desonesta.
terça-feira, maio 16, 2006
quinta-feira, maio 11, 2006
Músicas em espanhol e músicas em inglês.
Se você ouviu as duas, qual agradou mais?
O que você ouve?
terça-feira, maio 09, 2006
Em todos os dias de sua vida, desejou ser engraçado. Morreu como um impertinente.
Nunca declarou o seu amor àquela moça. Além da paixão reprimida, a Receita Federal o classificou como sonegador.
Dizia que era fácil de amar, bastava querer...e pagar o preço justo. Afinal, alguém tinha de sustentar os seus gostos.
Pediu perdão a Deus por todos os seus pecados. Na falta de resposta positiva, perguntou se havia possibilidade de pagá-los em suaves parcelas.
Era tão melancólico que achava animadas as músicas de motel.
sexta-feira, maio 05, 2006
Se não houvesse decidido vir morar no Brasil em 1991...
Se não houvesse reprovado um ano e largado outro no ensino médio...
Se tivesse afinidade com números ou tivesse escolhido letras em vez de jornalismo...
Se fosse herdeiro de uma fortuna, sem maior trabalho que descobrir como desfrutar meu dinheiro...
Se não conhecesse a Silvany e ela não me avisasse daquele estágio no jornal...
Se o chefe tivesse detestado o primeiro texto que lhe entreguei...
Se nunca aceitasse o convite para acompanhá-lo na nova função na prefeitura...
Se perdesse meu emprego quando mudou o gestor municipal...
Se houvesse aceitado uma daquelas propostas furadas de emprego que recebi...
Se a maldade lograsse sempre seus objetivos...
Se não houvesse conhecido a Zanny...
Se ela não prestasse serviço numa fundação ligada ao município...
Se ela não virasse minha namorada...
Se não fosse compromissado com o trabalho...
Se este ano não houvesse eleição e uma tal de desincompatibilização...
Se não tivesse sido promovido...
Se não houvesse arraial em junho...
Se a tal da revista do arraial fosse responsabilidade somente de outras pessoas...
Se tivesse desmarcado a reunião com Zanny e Chiquinho para falar da revista...
Se o motorista deles ficasse só um pouco mais depois das seis...
Se o motorista de meu setor avisasse quando vai embora...
Se tivesse deixado eles irem embora de táxi e ficasse até mais tarde como sempre...
Se o outro motorista respeitasse a preferencial e a placa de trânsito...
Se os dois dirigíssemos mais acelerados...
Se o Chiquinho não se fantasiasse de agente funerário, atraindo urucubaca...
Se não fosse o grito de alerta da Zanny...quem sabe...
Talvez não fosse apenas um acidente com danos materiais no meu pobre Gol...
quinta-feira, abril 27, 2006
Roraima no vídeo
Domingo, 30 de abril, a TVE apresenta o documentário "Nenê Macaggi - Roraima Entrelinhas", que aborda a vida de Nenê Macaggi, escritora e garimpeira, a cultura regional e as relações entre os pecuaristas, garimpeiros e indígenas.Quem quiser dar uma olhada nas imagens da fronteira, é só ligar o televisor às 23h, horário de Brasília, 22h em Boa Vista.
Desintrusão
No município de Pacaraima, norte de Roraima, está rolando confusão. Cerca de 300 agentes da Polícia Federal acompanham técnicos do Incra e Funai no processo de avaliação de benfeitorias nas fazendas e vilas que se encontram na área indígena Raposa-Serra do Sol, que tem cerca de 1,8 milhão de hectares e abriga cerca de 15 mil índios das etnias Macuxi, Taurepang, Wapixana e Ingarikó.
O governo federal quer concluir logo o processo de desintrusão da área, o que signfica retirar todos os não índios da reserva.
Esse processo gera desde a semana passada notícias, acusações, fotos e charges de todos os tipos nos veículos de comunicação locais (Podem ser acessados clicando aí ao lado, na lista "Mídia Roraima"). Os maiores reclamantes da retirada são os arrozeiros, capitaneados por Paulo Quartieiro, prefeito de Pacaraima e inimigo número um dos índios que defenderam a área contínua, e políticos que xingam o presidente Lula de "vendilhão", "entrega pátria", "capacho das potencias internacionais" e outras gentilezas que só se dizem em casa mas não se repetem na rua. Ou, no caso, em Brasília.
Para ter mais informações, clica nesta pesquisa do Google.
Leia aqui a opinião do site Rota Brasil Oeste sobre o processo:
"A homologação da reserva Raposa Serra do Sol coroa um processo de luta de mais de 30 anos que envolve as etinas que vivem na região, sociedade civil, organizações religiosas e muita disputa política. Ao longo dos anos, a grilagem de terras, a exploração da mão de obra e, principalmente, o preconceito ameaçam uma população de 15 mil índios - metade da população indígena de Roraima.
Mesmo com as chamadas ressalvas, esta pode ser considerada uma vitória dos direitos indígenas. Agora, por exemplo, terão que sair da região as fazendas de arroz. Os donos destas terras são acusados de grilagem, de degradar o meio ambiente e de aliciar índios para defenderem sua permanência na regiaõ.
No entanto, permanecem os desafios de assegurar na prática a terra aos índios, de diminuir a violência e estimular a integração e resgate cultural dessas comunidades. Para tanto, seguem como obstáculos as forças políticas do estado que fundaram enclaves como o município de Uiramutã, mantidos pela homologação feita pelo governo. A vila, construída ilegalmente depois que a reserva já estava demarcada, foi apenas uma das manobras de políticos locais para tentar evitar a homologação da reserva. "
....
Pois é, pois é, pois é. A homologação é um ato que gera conseqüências complexas, fáceis de serem analisadas de forma tendenciosa e passional. Por isso, os ânimos aqui estão exaltados e as discussões sobre o tema são comuns em todos os lugares, em todas as classes sociais. Em resumo, é a assunto da semana, muito mais importante que o deputado que pediu ressarcimento de R$ 60 mil da Câmara por gastos com combustível.
Bom, agora vou descansar que segunda é dia do trabalhador...
segunda-feira, abril 24, 2006
Em um dia de trânsito pesado, demoro seis minutos para sair de casa, atravessar quatro bairros e chegar ao trabalho. Quando ia de bicicleta para a universidade, o percurso era de cinco bairros em nove, dez minutos.
Terminou oficialmente o semestre 2005.2 da Universidade Federal de Roraima. O mesmo semestre que começou no ano passado. Ninguém agüentava mais ir à aula. E eu, que pensava estar quase concluindo sociologia, descobri que ainda faltam quatro disciplinas, incluindo a monografia. Achava que eram apenas duas.
Na sexta passada amanheceu chovendo. Sábado e domingo o sol imperou.
Domingo, enquanto espero na orla Taumanan que a missa da igreja matriz termine para levar a minha avó para casa, ouço uma revoada de garças na escuridão que cobre o rio Branco. Longe, fogueiras indicam que ainda há banhistas no banco de areia que chamamos de praia Grande.
segunda-feira, abril 17, 2006
Visite Roraima, dê um pulinho na Venezuela e suba o monte Roraima...
Pessoal, não fundei uma agência de turismo. É preguiça e falta de um bom assunto para escrever mesmo. Por isso, estou colocando estas fotos de uma trilha que fiz em 2002 para subir o Monte Roraima, onde as fronteiras da Venezuela, Brasil e República Cooperativista da Guiana se encontram. Mais dados sobre o acidente geografico no tio Google.
Como não estou conseguindo dar espaço e isto demorou mais do previsto, vão as fotolegendas deste jeito:
foto1: aldeia San Francisco de Yuruany, dos primos Pemóns. Tudo índio, tudo parente.
foto 2: Eu e o monte Roraima, faltando um dia e meio de caminhada.
foto 3: Rio Kukenan em primeiro plano. Montes Kukenan (e) e Roraima (d) ao fundo.
foto 4: Emoções aquáticas na travessia do rio...
foto 5: Faltam somente algumas horas e chegamos ao topo...
foto 6: Troço cansativo chegar aos mais ou menos 2.800 metros de altitude, guri...
foto 7: Marechal Rondom esteve nesse mesmo lugar no começo do século passado e fez a medição do marco tríplice das fronteiras. Aposto que não estava chovendo tanto...
terça-feira, abril 11, 2006
Visão oposta à foto anterior. Em primeiro plano, o rio Branco. Dá para ver o leque previsto no projeto de urbanização implantado na cidade na primeira metade do século passado. Depois, tudo cresceu de outro jeito. No meio, a praça do Centro Cívico.
Orla Taumanan, um dos principais pontos turísticos da cidade. Inaugurada em julho de 2004 pela ex-prefeita Teresa Jucá. Fica no mesmo local onde atracavam os barcos para deixar mantimentos na fazenda que deu origem à cidade.
Update
Muitas outras fotos aqui.
quinta-feira, abril 06, 2006
Bendita chuva
Choveu à noite. Quando o sol acordou, Boa Vista ainda sentia alegria com as gotas de água vindas do céu. O calor afastou-se um pouco, chateado por não ser mais o dono absoluto do pedaço.
No que é possível nas savanas amazônicas, a noite foi fria. Fria de um jeito nortista, claro. Nada parecida com uma Florianópolis tomada pelo vento sul, mas agradável.
Lá fora, pela manhã, o dia estava ligeiramente nublado. Adoro acordar em dias assim. Pena que não dá para ficar eternamente na cama.
terça-feira, abril 04, 2006
O tempo corre, mudanças aparecem, o universo se expande e a nave parece deslizar sobre ondas de poeira estelar.
Lá, bem longe, alguém passeia, outros riem, alguns apontam o dedo e jogam dardos em alvos imóveis.
A música aparece bem baixinho, sem incomodar ou ser incomodada. Ninguém diz que seria assim, mas também ninguém disse como seria. E o abismo caminha e pára. E as águas do rio Branco, onde à margem direita surgiu Boa Vista, parecem abrir-se apenas para ouvir uma risada de criança.
Aparece no jornal uma notícia para quem acredita na fé como modificadora de vidas e saúde. Aparece um fantasma na janela de casa. Pega uma pedrada na testa para deixar de ser enxerido.
Como já foi dito, é abril e o sol do meio-dia queima as almas e as costas de quem o desafia. Aqui dentro, as letras correm, se escondem e gritam bem alto por liberdade e paz. O universo expandido é infinito, imprevisível e agradável...
quarta-feira, março 29, 2006
Sim, eu sei, a casa está criando teias de aranha. Sim, eu sei. Quase não visito ninguém. Claro que sei que postar a cada seis ou sete dias não é legal. Afinal, quem gosta de ver uma e outra vez o mesmo post?
Mas o tempo anda tão curto...
E olha que minha mão (essa aí da foto) pouco tem saído de cima do teclado. Aliás, é tanto tempo sentado que estou ganhando peso de novo. Mas depois que vi como o ator principal da novela Bang-Bang está meio gordinho, posso dizer "Ok, estou sim com uma barriguinha ao estilo ator de novela da Globo" e não vou me sentir ridículo (muito).
Então é isso: o que a boca ventania, o corpo consciente.
segunda-feira, março 27, 2006
Renúncias
De repente, ela parou e disse:
- Tudo bem, já basta! A partir de hoje acabo com minhas atividades e prazeres ilícitos!
Ao seu lado, surpreso com a determinação, ele apenas balbuciou:
- Como assim? Quer dizer que...
No mesmo tom, ela repetiu:
- É isso mesmo! Por mais que seja bom, acabou. No more coisas ilícitas!
Ele apenas conseguiu dizer "mas, mas", enquanto a viu atravessar a rua cheia de certezas, deixando-o dono de dúvidas sobre quais eram essas coisas ilícitas e, principalmente, quem era aquela mulher.
quinta-feira, março 23, 2006
Vidas
Tentou passar incólume pela vida. Mal conseguiu atravessar a porta sem esbarrar no sofá.
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Esperou a vida toda por um amor fabuloso. Teve de se conformar com o que apareceu.
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Viveu tentando ser diferente. No fundo, foi igual a todo mundo.
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Sempre acreditou em um futuro melhor para o país. Na primeira boa oportunidade foi morar no estrangeiro.
sábado, março 18, 2006
Americanos jogam bombas nos rebeldes iraquianos
Estudantes franceses voltam às ruas para protestar contra uma lei que prejudica trabalhadores.
Gripe aviária. Também chamada de gripe do frango.
Conservação ambiental, moradores envolvidos, refúgio para ecoturistas.
Morte do ex-presidente da Iugoslávia. Imagens ao vivo da Sérvia. 50 mil choram o morte do "carniceiro dos Bálcãs".
Receita Federal libera mais um lote.
Como contribuir: simples ou completo?
PMDB em guerra interna por conta das prévias para escolher se sai com candidato próprio ao governo ou não.
PT discute o quadro político nacional e a crise com o Palocci, o conservador.
Encontro Nacional de Teatro de Rua em Angra dos Reis. Arte e alegria.
Acabou o jornal. Agora vou carregar as compras lá pra casa.
quinta-feira, março 16, 2006
O negócio tá corrido por aqui. Por conta do desmatamento para áreas de pastagens e plantio de soja e arroz, a caça está ficando cada vez mais distante. Daí, já viu, os homens da tribo estão saindo de manhã e retornando à noite, sem tempo para postar mais rotineiramente.
A cidade estava menos quente. Depois de um mês e pouco, choveu um pouquinho dia desses. Mesmo assim, às 8h já está insuportável o calor. É por isso que odeio dias de céu azul.
Minha avó completou ontem 80 anos de idade. A língua continua afiada e o corpo crescendo.
A Associação Cultural Angola Palmares conseguiu trazer de Salvador os mestres de capoeira Nô e Lázaro, manda-chuvas do grupo Palmares no Brasil, para uma semana de oficinas de movimentos, canto e instrumentos. Nô, com 61 anos de idade e 55 de roda, ainda agüenta jogar várias vezes seguidas com alunos dezenas de anos mais novos. É impressionante. Será sábado o VIII batizado e troca de cordas do grupo.
Já disse que está quente? É preço que se paga por morar na parte do hemisfério norte que fica perto da Linha do Equador.
A polícia continua fechando pontos de venda de gasolina venezuelana. Ano passado pegaram cerca de cem mil litros na estrada entre Santa Elena de Uairén e Boa Vista. Há quem ironicamente diga que todo esse trabalho coíbe o livre comércio entre os países e que assim não haverá Mercosul que agüente.
Acho que para postar com mais regularidade, vou assumir um costume antigo de homem branco: comprar a carne no açougue e restante da alimentação nos supermercados.
quinta-feira, março 09, 2006
Sou jornalista. Redator. Como não tenho boa dicção e carrego o sotaque da Venezuela, gosto mais das palavras escritas.
Ultimamente reviso mais do que escrevo.
Como revisor, edito diariamente diversos textos de meus colegas, além de outras coisas que chegam. Por isso estou sempre ocupado no MSN. (Sim, você trabalha e fica no MSN? Claro, uso-o com fins profissionais. É possível.)
Nenhum texto é intocável. No jornalismo não existe isso. Às vezes fico assustado com o quanto pode ser mexido numa matéria.
Aquela que há um minuto estava perfeita ou impossível de ser alterada, de repente, por diversos motivos, apresenta um enorme leque de possibilidades.
Tira, altera, acrescenta, ignora. Em caso de necessidade, consegue-se até driblar as leis da física, colocando letras onde não havia espaço.
Nessas horas, bate um orgulho do tipo "cara, foi f#%@ mas consegui!".
terça-feira, março 07, 2006
Corredor, intervalo entre uma aula e outra. O Paulinho, colega de sociologia, conta que roubaram sua bicicleta. Digo que já levaram seis minhas e relato cada situação. Pergunto onde o "dono" pegou a dele.
- Foi na biblioteca.
- Mas estava presa no bicicletário?
- Sim.
- Presa, com cadeado?
- Não.
- Pô, Paulinho! Assim também, né?! Pediu pra ser roubado!
- Mas, cara... A gente tá na universidade!
- Paulinho, ô, Paulinho! Fazer um curso superior não tira o instinto de ladrão de ninguém, cara!
- Hum...é mesmo...
(É duro ser o portador de más notícias.)
...................
No final da aula de Formação Sócio-Política e Econômica da Amazônia, o abaixo-assinado para pressionar o Congresso a aprovar um projeto de lei que criar juizados ou algo parecido para combater exclusivamente a violência contra a mulher.
- Ei, tu já assinou o abaixo-assinado?
- Do que é?
- Olha aqui, ô.
- Hum...Sim, vocês querem isso para que mesmo?
- Pra combater a violência contra a mulher. Pára com isso e assina logo.
- Eu não. Quer dizer que agora, além de não poder bater nos filhos, vão me privar do sagrado direito de relaxar com a minha mulher?
- Ai, eu não acredito que você está falando nisso.
- Tudo bem, eu assino. Mas com uma condição: façam um projeto de lei para o que o governo subsidie a compra de sacos de pancadas para todas as famílias.
(E lá fiquei eu, rindo de minha colega, obviamente irritada com o meu péssimo gosto para piadas politicamente incorretas. Do mesmo jeito que as minhas queridas visitantes devem estar agora.)
quinta-feira, março 02, 2006
Muito bem, a festa acabou, as colombinas voltaram para seus pierrôs e deve ter muita gente perguntando-se como foi que gastou todo aquele dinheiro na folia.
Em Boa Vista, o carnaval foi o mais tranqüilo dos últimos cinco anos. O policiamento ostensivo, câmeras de segurança e a proibição de vender caipirinha e bebidas em garrafas de vidro ajudaram muito para trazer paz à avenida do samba.
A festa começou na sexta e parou somente na terça-feira, quando desfilou a escola campeã. É, em Boa Vista temos escolas de samba que proporcionam verdadeiros espetáculos, fantásticos shows alegóricos somente comparáveis aos do Rio e Sampa, com tanta beleza que...Ok, exagerei nas tintas. São desfiles pobres, mas limpinhos. Falta organização às agremiações, falta mais iniciativa para deixar de depender dos repasses da prefeitura e do governo (que este ano chegaram a R$ 70 mil), faltam mulheres bonitas na pista, etc. etc.
Aliás, no concurso para escolher a rainha do carnaval, rolou um estresse entre as mães das candidatas. ?Sacumé, mãe de miss do samba também tem seus dias de glória e não vai ser a vagabunda da mãe daquela coisa horrorosa que vai atrapalhar isso?, poderia ter dito qualquer uma delas.
Da minha parte, foi apenas mais um carnaval de trabalho. Desde 1998 não folgo nestas datas. Desta vez, como estaria de plantão apenas no último dia da folia, até poderia ter escapado da cidade, mas a Zanny é da organização da festa e acabei indo todos os dias para tomar conta da morena, que fica eufórica neste período e gosta de cantar até ficar rouca e dançar até os pés incharem. A cada meio-dia, lá estava ela, prometendo, afônica, controlar seu gosto pela dança.
sexta-feira, fevereiro 24, 2006
Ação - Poema
Esconda sua pele embaixo da minha
Beije-me logo depois, fale algo obsceno e sorria.
Seja sincera como só é possível ser na cama
Tatue em minha nuca uma mordida que mostre como você me ama.
Seja minha, seja inteira, seja lua
Mexa-se à minha frente, solta, simplesmente nua...
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Para quem vai de festa, boa festa.
Para quem vai trabalhar, bom trabalho.
quarta-feira, fevereiro 22, 2006
Tanto trabalho que falta ar...E ainda vem o trampo no carnaval...Final de semestre na facul...A busca desesperada por um tema para a monografia...O dinheiro que não aumenta...As necessidades que aumentam... A boneca do livro, que não consigo reencontrar...Reaproximações em andamento de amigos afastados...Estudos extras...
segunda-feira, fevereiro 20, 2006
Recordações
Falando sobre o passado, ela comentou:
- Antigamente, no começo do namoro, o banco de trás do carro era um bom palco para as lutas de amor.
Ele disse, espantado com a revelação:
- É mesmo? Você era disso?
Com um sorriso tímido, ela complementou, :
- É. Já fui meio louca, sabe? Mas hoje, depois de algum tempo de casada e um filho, o banco traseiro é somente um bom depósito de livros, comida e roupa.
terça-feira, fevereiro 14, 2006
Em Boa Vista, compra-se gasolina contrabandeada da Venezuela a R$ 2,30. Nos postos, o combustível nacional custa entre R$ 2, 85 e R$ 2, 89. Na fronteira, a 230 quilômetros, os venezuelanos pagam o equivalente a 15 centavos de real por litro e os brasileiros, R$ 1, 50.
Em Boa Vista, consome-se muita cerveja Polar e Polar Ice, também trazida irregularmente da Venezuela. Há quem diga que causa dor de cabeça. Em quem bebe e em quem é pego pela polícia trazendo a mercadoria.
Boa Vista também importa produtos naturais. A turma da marijuana só consome erva vinda da Guiana, que no século passado só mandava porcelanas e coisas do lar para a cidade.
Já os que gostam de cocaína beneficiam-se de Roraima ser a porta de entrada no Brasil para parte da pasta que vai para a Europa via São Paulo. O produto é Made in Colômbia.
Outra fuga de divisas são as propinas pagas aos militares da Venezuela (e vez ou outra a policiais brasileiros lotados na fronteira) para passar esses produtos.
Roraima e Amazonas equilibram as importações mandando mulheres para serem prostitutas na Venezuela.
sexta-feira, fevereiro 10, 2006
Atitude
Parados em frente ao terreno baldio, ele fala para sua esposa:
- Bonita área, né? Foi uma compra e tanto.
- É meu amor, agora é só meter uma máquina para tirar esse mato.
Ele, num rompante de auto-afirmação masculina, afirmou:
- Que nada! Eu mesmo limpo isso aí. É rapidinho. Pra que pagar se posso dar conta?
Ela apenas o olhou de relance, sem falar nada, e ouviu imediatamente outra afirmação, dita enquanto ele, envergonhado, colocava a cabeça no seu ombro:
- OK, OK, tudo bem, é verdade! Não vou limpar nada mesmo. É muito mato e vou ter que pagar para isso!
Ela, carinhosa, o confortou:
- Isso, meu amor. A verdade é sempre a melhor coisa a se dizer.
quarta-feira, fevereiro 08, 2006
Gostos
Charmosa, aproximou-se de seu professor de inglês e disse:
- Teacher, sabia que eu acho um charme homem de óculos e que fala outra língua?
O professor parou de ler a sua revista, olhou para a moça e respondeu:
- Me too, baby. Me too.
sexta-feira, fevereiro 03, 2006
1991: welcome to the aldeia
Hoje completo 15 anos morando em Boa Vista. Cheguei na maior aldeia de Roraima no dia 3 de fevereiro de 1991. Era domingo e na rua de piçarra de minha casa redemoinhos de poeira se formavam.
No outro dia, já estava em sala de aula, cursando a oitava série sem conhecer ninguém e esforçando-me todos os dias para dominar o idioma. Desde então, visitar a Venezuela, só de ano em ano.
Daquele começo de década até este novo milênio muita coisa boa e ruim aconteceu.
O último laço com Guasipati, minha antiga cidade, foi cortado em dezembro de 2004, quando vendi a casa que tínhamos lá.
Fiz alguns amigos, ganhei muitas inimizades, engordei, emagreci, viajei pelo Brasil e parte da América, passei meses sem sair da cidade, virei jornalista e curso sociologia. (Recordando, jornalismo era a última das opções. As primeiras eram filosofia, psicologia e fisioterapia. Como à época não ofertavam esses cursos no Estado, fiquei dividido entre letras e comunicação social, escolhendo a última.)
Trabalhei como office boy, professor de espanhol, datilógrafo de trabalhos escolares e monitor dos projetos culturais do Sesc. Mas fui bom mesmo como desempregado profissional.
Depois de alguns anos economizando, comprei uma casa para meus pais, uma supermegahipermaxi bicicleta aluminum vermelho-linda com amortecedor frontal e um carro vagabundo para fazer o trecho casa-trabalho-faculdade e carregar as compras do supermercado. No balanço, acho que estou bem, levando em conta que nunca fui de planejar muito o futuro. Espero agora que venham outros dias, com muitas alegras e postagens agradáveis.
quinta-feira, fevereiro 02, 2006
Leiam esta historinha digital da Mônica numa viagem à ilha de Margarita, procurada todos os anos por milhares de brasileiros de Roraima e do Amazonas para desfrutar das delícias do Caribe.
A HQ peca quando mostra cenas da família da dentucinha passeando à vontade na área indígena waimiri-atroari. Neste trecho, os carros não podem sequer estacionar, o que é lembrado a cada centena de metros por placas enormes. Também não é permitido fotografar os animais. Depois das 18h, carros particulares não passam, somente ônibus. O tráfego é liberado de manhã.
De qualquer forma, valeu a intenção.
terça-feira, janeiro 31, 2006
Situações
Estava tão mal no mercado que quando tentou vender a alma, ainda teve que devolver algum ao comprador.
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Era um esforçado. A vida lhe deu limões e ele fez limonada para vender, mas não havia açúcar ou adoçante caindo do céu.
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Anunciou no jornal: procuro amor e trabalho. Sem experiência comprovada.
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Saiu correndo quando viu o rapaz com quem havia marcado um encontro às escuras. Conta que foi espanto a primeira vista.
quinta-feira, janeiro 26, 2006
Ocupado.
Cansado.
Estudando, depois do fim da greve da universidade.
Sem dinheiro (Quando se é assalariado e o pagamento sai antes do prazo, o mês fica mais longo...)
Sem tempo para sonhar, apenas trabalho e leituras de sociologia das organizações, planejamento urbano e formação sócio-econômica da Amazônia.
Fechando mais um informativo de meu local de trabalho.
Vendo a chuva cair em dias inesperados.
Agora no orkut.
Pensando.
Cancelando, por enquanto, os encontros da Confraria Lúpulo com Guaraná, formada pelos Três Mosquiteiros (Nei Costa, Luiz Valério e eu) e Dona Dartanhã (Zanny Adairalba).
A Confraria
terça-feira, janeiro 17, 2006
Roraima blues
De seus dedos, tocando-me, parece sair música. Danço o ritmo que ela quer. A angústia de sua chegada é como a angústia da partida.
Rio, choro, grito, maldigo seu efeito em mim. Não sou mais homem. Sou criança pedindo atenção, pássaro sem asas, sonhador rogando por imaginação.
Esfrega-se em mim e penso que Deus é justo, mesmo sem acreditar em divindades. Um riso em meu peito é um roce na pouca paz que ainda me resta. Depois me aperta, ajudando-me a não fugir de minha condenação. Fecho os olhos e acho que enfim sou feliz enquanto rabisca sua poesia para marcar em mim seu território. E a madrugada vira manhã, tarde, noite, infinito.
De repente, alma entregue, corpo submerso, navego, flutuo, deslizo até o vulcão. Queimo, rio, é janeiro e acho que chove lá fora.
quinta-feira, janeiro 12, 2006
Ligeiramente cambaleante, depois de ser medicada para normalizar a pressão, que estava em 20 x 10, dona Maria José me diz na saída do hospital, quando a pego pelo braço para irmos até o carro:
- Eu estou bem. Não sei pra que tanta gente me segurando como se eu fosse cair.
- Quer dizer que a senhora está bem? Então vai caminhando até chegar em casa. É só pegar o retão da avenida e pronto.
Língua afiada, mente rápida e corpo cansado, minha avó responde:
- Meu filho, eu iria, mas o médico insistiu que devo repousar...
segunda-feira, janeiro 09, 2006
Aperfeiçoamento
Ao reler seus antigos textos, ele comentou:
- Nossa, como mudei meu estilo de escrever!
Ela não percebeu o auto-elogio implícito na frase e deixou escapar, enquanto assistia a um vídeo-documentário:
- Para mal ou pior?
Um estranho e emburrado silêncio tomou conta da casa por algumas horas.
sexta-feira, janeiro 06, 2006
Oníricos
quarta-feira, janeiro 04, 2006
Depois de alguns meses, concluí a leitura de Pasajes de la Guerra Revolucionaria, coletânea de artigos escritos por Ernesto Che Guevara sobre o combate contra o regime batistiano em Cuba.
Encaro agora o Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa.
E quando dá tempo, pega minha megahipersuperbike de alumínio com amortecedores frontais e vou preparando o corpo para as primeiras trilhas deste ano.
E você, o que está lendo?
segunda-feira, janeiro 02, 2006
Agora que o ano começou, a euforia de um monte de pessoas já diminuiu e os carnês do IPTU, do IPVA e da escola particular de muito fulano já estão sendo impressos, causando pavor no orçamento, agora sim vale a pena estabelecer metas realistas a cumprir nos próximos dozes meses:
1) Concluir o curso de sociologia. Depois, farei como FHC e me tornarei presidente do Brasil, criando uma nova moeda, derrotando o PT em toda eleição e privatizando o que restar de empresa pública.
2) Reatar laços com algumas pessoas que deixei para trás nos últimos dois anos, especialmente, e cuja convivência me fazia bem. Mas se elas não quiserem, que se danem. Até hoje me virei muito bem sozinho sem elas.
3) Conseguir publicar o meu livro de crônicas e poesias. Já tem o patrocínio no esquema (Salve o Sesc Roraima!) e falta só o Nei entregar a boneca impressa para fazer os últimos ajustes.
4) Comprar um imóvel e construir ou alugar, transformando-me em um miniempresário do setor imobiliário.
5) Reduzir ou pelo menos conter o avanço dos quilos a mais. Essa sim é uma briga entre o corpo e a mente.
Cinco é um bom número. Mais do que isso é exagero. Alguém me lembre delas em dezembro, please.
quarta-feira, dezembro 28, 2005
Crescimento
Ela disse:
- Amorzinho, vamos discutir o nosso relacionamento?
Ele respondeu, surpreso:
- Mas de novo? Toda semana é praticamente a mesma coisa!
Ela explicou sua atitude:
- Olha só: é tudo para o crescimento de nossa relação. Só isso.
Ele, olhando para baixo e sentando-se, resmungou:
- Se é para crescer, devias me chamar para jogar basquete ou vôlei...
segunda-feira, dezembro 26, 2005
Para o dia 25, o governo estadual prometeu fazer a distribuição de brinquedos para as crianças de famílias carentes. Anunciou isso nas TVs, rádios, jornais e em carros nas ruas.
Os portões do estádio Flamarion Vasconcelos seriam fechados às 8h30, mas desde as 5h30 haveria ônibus rodando pela cidade, catando aqueles que encarassem a fila.
Às 4h30, retornando de uma madrugada de conversa, vinho, água e churrasco na fazenda urbana de Nei Costa, Zanny e eu vimos que já havia fila para receber os mimos do governo.
O governador Ottomar Pinto, que tem o costume de distribuir pintos, biquínis, peixe, iogurte, material de construção e terrenos, chegou às dez horas para fazer a distribuição.
Ao meio-dia, sob o sol forte de um dia de Roraima (só quem esteve aqui, sabe o que isso significa em termos de temperatura e ardência na pele), centenas de pessoas esperavam em frente ao estádio a chance de pegar um ônibus que as levassem de volta aos seus bairros. Aproveitavam a sombra de pequenas árvores para refugiar-se. Sob suas cabeças, as redes serviam de chapéus.
Quando chegava um ônibus, lá estavam crianças e adultos, carregando brinquedos e redes de dormir, empurrando-se para garantir um lugar e o retorno às suas casas.
Na minha cabeça, algo semelhante às cenas de retirantes e vítimas de guerras.
Às 16h, ainda havia pessoas esperando que os ônibus e vans alugadas pelo populista governo roraimense os levassem de volta aos seus bairros.
Mas é claro que também estavam lá famílias de renda maior que a maioria, com seus carros e roupas mais caras, apenas pela mesquinhez de receber algo supostamente dado de graça.
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No mesmo dia 25, a família Borges reuniu-se na maloquinha de minha mãe para um almoço. Se não fosse um comentário solto de meu pai, ninguém teria lembrado que os dois completavam 32 anos de casados. Foi flecha para tudo quanto foi lado.
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Hoje, 26, é dia de comemorar os 14 anos de Sângela, minha afilhada. Amanhã é dia de missa de um mês de morte do irmão da garota. No último 18, o guri completaria 17 anos. O tempo anda e, como disse Sângela, de tudo temos que tirar uma lição ou a vida fica só naquela coisa besta de ser.
terça-feira, dezembro 20, 2005
sexta-feira, dezembro 16, 2005
Um ano lá, um ano aqui
Há um ano, às 16h45, estava em Lima, capital do Peru, entrando em um táxi para dirigir-me a uma estação de embarque da empresa de ônibus Cruz del Sur e viajar até a cidade de Arequipa, a caminho de Machu Picchu.
Passei uma noite e menos de um dia na capital peruana. Olhei pela primeira vez o oceano Pacífico, entrei em igrejas históricas, vi catacumbas cheias de ossos, caminhei no meio de uma cidade cerimonial da tribo Lima, no meio de um bairro residencial, e comi um prato sem gosto em um restaurante vagabundo.
Isso sem contar o péssimo negócio que fiz ao contratar um taxista como guia turístico. E foi um péssimo negócio em dólares.
E hoje, sexta-feira, exatamente um ano depois, estou aqui, numa pesquisa emocionante sobre a loja em que posso comprar latas de tinta por um preço mais baixo.
quinta-feira, dezembro 15, 2005
No sábado, na avenida Jaime Brasil, um dos centros comerciais da cidade, uma mulher com excesso de peso, saia branca curtíssima e botas de couro vermelhas chama a atenção às 10 horas da manhã.
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Um coral formado por 140 crianças e adolescentes indígenas, moradores de comunidades de outro município, apresenta canções em wapichana no Palácio da Cultura durante a 1ª Mostra de Música Canta Roraima. São aplaudidos de pé.
Na frente do palco, uma indiazinha morta de sono, está como se diz no norte, "pescando um tambaqui". Entre um bocejo e uma fechada de olhos, a menina quase dorme enquanto canta.
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A mulher sai da igreja, come um salgadinho, lava as mãos e volta para a missa, demonstrando como é limpinha. A água que tira a sua sujeira, por sinal, é a água benta dos fiéis. É ou não vandalismo religioso?
segunda-feira, dezembro 12, 2005
O governo estadual promoveu uma feira agropecuária em um parque de exposições que fica nas redondezas de Boa Vista. Além dos bois e carneiros, umas das atrações mais esperadas era o show de Zezé de Camargo & Luciano. A dupla cantou neste domingo à noite.
A vontade do boa-vistense de assisti-los de graça provocou filas literalmente quilométricas, com as pessoas demorando até duas horas para concluir um trecho feito geralmente em 15 minutos. E isso tanto na ida como no retorno.
Por azar, a instalação elétrica da feira não agüentou a produção do show da dupla.
Hoje pela manhã, ao chegar na lanchonete ao lado do trabalho em busca de um café da manhã rápido, ouço os comentários dos freqüentadores:
- Rapaz, os caras receberam R$ 300 mil para tocar na exposição.
- É mesmo? E só conseguiram tocar três músicas por conta do problema da energia.
- Com certeza, é o maior cachê do Brasil. Cem paus por música.
- Estou admirado. Tanto remédio que dava para comprar com esse dinheiro.
- Tá vendo? Quem manda não saber cantar. Tu não é um dos filhos de Francisco...
terça-feira, dezembro 06, 2005
Aos poucos, a rotina volta. Nunca ao normal, isso é impossível, mas volta.
A vida anda e as certezas tornam-se raras. As que sobram, bem, é preciso duvidar se vamos viver muito tempo ou se tudo acaba amanhã.
Enquanto isso, trabalho, muito trabalho. E processo nas costas do Estado, por colocar incapazes nas ruas para tomar conta da insegurança.
Aos poucos vou retomar as visitas aos amigos blogueiros.
Beijos a todos.
quinta-feira, dezembro 01, 2005
A morte de alguém próximo, além de dor, traz outras lições. Para mim, as mais importantes estão sendo valorizar cada momento passado com a família e perceber que é preciso passar mais tempo com ela.
Outra lição é mais uma confirmação sobre a fragilidade da vida.
Acima de todas elas, confirmo outra: pelos que ficaram e choram, é preciso continuar vivendo, caminhando em frente, mesmo sem saber o que nos espera na próxima esquina. Afinal, escreveu Fernando Pessoa, "viver não é preciso".