quarta-feira, junho 01, 2005

Histórias de índio: estudos


A lembrança mais antiga que tenho da escola é a da professora Sônia pegando o meu gibi (em português) com uma historinha do Scooby Doo. A vaca nunca devolveu.
Quando era criança, toda tarde passava na emissora estatal Venezolana de Television, canal 8, um programa infantil comandado por uma mulher estúpida que sempre cantava algo parecido com ?estudar, estudar, vamos todos estudar?.
Cada vez que a música começava, pulava em direção ao aparelho para desligá-lo ou abaixar o volume. Caso contrário, dona Neide não perdoava: mandava parar tudo e ir estudar. Hoje sei que ela era uma vítima dos mass media, mas à época ainda não tinha noção da carga ideológica dos programas de TV.
Na Venezuela, a nota máxima é 20. Minha obrigação de filho único era bater, no mínimo, 18, e, nestes casos, preparar-me para compensar essa nota lá na frente. Uma vez, na terceira série (ou tercer grado), tirei 12....Alguém já apanhou por nota baixa?
Quando vim morar de vez no Brasil, cansado de ver meus colegas do Liceu encaminhando-se na vida nos cursos técnicos oferecidos em cidades próximas à minha, descobri que meus anos de leitura de Homem-Aranha, Mônica, Pato Donald e outras revistas em português não iam me adiantar muito.
A chegada foi num domingo e na segunda lá estava numa sala da oitava série da escola Vitória Mota Cruz, apanhando da história, da gramática e da literatura. Sabe-se lá como, em poucos meses já estava sendo escolhido como o aluno com a melhor redação da turma. Sinal de que o ensino público é uma droga.
Depois veio o ensino médio, a universidade, o trabalho, novamente a universidade, o trabalho, o blog...
Nessa história, só tenho certeza de duas coisas: mesmo sendo o único daquela turma da Venezuela que se formou, ler Seleções do Reader's Digest não ajuda em nada.
A outra é que não adianta ser rato de livros. Se não houver vivência, nem todo o conhecimento da legendária biblioteca de Alexandria fará diferença na vida.

segunda-feira, maio 30, 2005


Histórias de índio: sobrevivendo.


Meus pais são de Boa Vista. Ele é descendente de uma índia macuxi com um fazendeiro. Ela, de um paraense com uma bisneta de espanhol.

Namoraram desde os 15 anos de idade. Só casaram aos 21 porque meus avós não autorizaram a união deles aos 18.

Antes da maioridade, meu pai, seu Jucá, se embrenhou pelos caminhos de boi que levavam à Venezuela muito antes que fosse aberta a BR 174, que liga Manaus à Pacaraima, e conheceu os garimpos da região.

Depois de servir o Exército na fronteira com a Guiana, foi para Manaus, onde estava quando casou por procuração com dona Neide.

Apressado, nasci antes do tempo e fui parar numa incubadora. Mas antes de mim, houve três tentativas de gravidez frustradas pela natureza.

Na minha vez, rezaram e fizeram promessas para santos que nunca venerei mas que devem ter feito sua parte no processo.

Era tão pequenino que dona Neide me colocava numa almofada para mamar. Não fosse isso, escorregava entre seus braços.

Seu Juca só me viu depois de um mês de haver nascido, quando voltou para casa com uma bala no corpo e o desengano dos médicos. Salvou-se com os bons tratos da família.

Bebê ainda, quase morri queimado numa rede. Nos verões de antigamente sempre faltava combustível para a usina geradora, incêndios aconteciam comumente. Hoje, somos abastecidos pela energia elétrica da Venezuela e a termoelétrica foi desativada.

Aos seis anos, peguei hepatite. Amarelinho, fui também desenganado pelos médicos do hospital mais próximo, em Upata, a 100 quilômetros de casa. Queriam me deixar numa sala, separado de todos, mas dona Neide fez um escândalo, assinou todos os termos de compromisso que colocaram na sua frente e me tirou de lá.

Se é para morrer, vai morrer em casa, depois que eu fizer de tudo para salvá-lo, disse à época, quando me levou para nossa casa na rua Progreso, em Guasipati.

Curandeiros fizeram remédios estranhos, vizinhos fizeram promessas para santas que ficavam em capelas de cidades abandonadas, muita melancia com açúcar foi engolida e meses se passaram até que, por fim, amanheci um dia curado da hepatite.

Quer dizer, sou um sobrevivente.

Sendo assim, não vai ser o trabalho com um texto complicado de Lévi-Strauss que vai me derrubar. Não mesmo. Quem vai dançar será ele.

terça-feira, maio 24, 2005

Comerciais da fronteira

Música pernambucana de graça? Vai no site da banda Mombojo, que colocou, via Creative Commons, todo as canções de seu disco Nada de Novo a disposição do público.

Da música para a escrita. Só mais uma semana e termina o Concurso de micro-contos Mário-Henrique Leiria, lá de Portugal. Vamos correr.


Para finalizar, fotinha do dia 21 no flog de Carlotinha Cavalheiro.

segunda-feira, maio 23, 2005

Mundão velho sem porteira

A guerra contra as drogas financiada pelos americanos mata centenas de pessoas na América do Sul; a reforma agrária do governo Lula é uma piada; a Universidade Federal de Roraima prepara uma semana de exposições científicas e eu não tenho nada para apresentar; a cidade de Boa Vista está aquilo que costumamos chamar de fria aqui no norte; as chuvas incomodam tanto quanto o calor; ainda há quem resmungue por conta da inclusão dos arrozais na Terra Indígena Raposa - Serra do Sol; semana passada os brasileiros cumpriram o pagamento de sua cota anual de impostos; as fitas do governador de Rondônia e seus deputados corruptos mostram que o Brasil nunca foi paraíso dos inocentes; a carga de trabalho aumenta a cada dia no meu setor; a cada semana pegam um carregamento de cocaína na rodoviária e no aeroporto de Boa Vista; o Iraque continua um caos; e a vida na Europa é muito cara para tentar uma migração sem um bom reforço no bolso.

Tudo isso acontecendo, para lembrar da música, e eu aqui, pensando em como seria bom arranjar um tempo para ler HQs.

terça-feira, maio 17, 2005

Cenas reais



Eu te ouço,
Tu me lês.
Eu me perco,
Tu te encontras.
E do céu,
Estranhas figuras caem.
Eu te vejo,
Tu me choras.
Eu te espero,
Tu me adiantas.
E na noite,
Surgem filmes e canções.
Falam de heróis, de amores,
De tristezas e de paixões.
Eu te vejo e tu choras.
Eu rio,
Tu te envergonhas
E mensagens chegam pelo ar,
Falando de medos e lágrimas.

segunda-feira, maio 16, 2005

Promessas


Ela perguntou:
- Mas o que aconteceu conosco? Você não me prometeu ser normal caso um dia tudo terminasse?

Ele respondeu, seco, raivoso:
- Eu não prometi nada! Quem falou nessas bobagens foi você!

Frustrações, rancores e um silencioso afastamento os acompanharam a partir daquele dia.

quinta-feira, maio 12, 2005

Fahrenheit 451, a corrente

Odeio videoquê. Sobretudo se for em festa de aniversário.
Detesto bandas de forró, principalmente as desafinadas.
Tenho urticárias quando me convidam para fazer aqueles "bolões" de dinheiro, dizendo animados que é mais rápido que a poupança.
Mas o que não gosto mesmo é daquelas correntes do bem, do tipo "esta pobre criancinha precisa de sua contribuição ou morrerá em um mês se você depositar grana agora na conta XXXX", do gênero "repasse para sete amigos e me devolva caso você goste mesmo de mim", ou das ameaçadoras: "ou você repassa ou sua sexualidade, sua conta bancária, sua família, seus estudos e seu blog serão seriamente afetados."
Mas, para ficar de bem com a tia Luma, que ameaça processar, devido a uma ameaçadora nota, a Associação dos Índios Blogueiros da Amazônia Legal, Venezuela e Países Adjacentes, da qual sou sócio emérito, e para não desfazer do Alê, dono de um dos primeiros blogs que conheci, vou encarar uma corrente literária que nasceu lá em Portugal, salvo engano.

Mas antes, uma explicação: Fahrenheit 451, segundo demonstrou exaustiva pesquisa no google, é o nome de um filme de François Truffaut no qual rola uma queimação de livros semelhante às épocas mais sombrias da humanidade. O título é uma referência à temperatura em que os livros são queimados. Convertido para Celsius, esta temperatura equivale a 233 graus.


Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Nenhum. Se não pudesse sair, seria queimado como livro,o que, convenhamos, não é o sonho de nenhum livro.

Já alguma vez ficaste perturbado por um personagem de ficção?
Todas as vezes que leio Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Márquez, acontece isso. A saga dos Buendía é perturbadora.

O último livro que compraste?
Dois de uma só vez: Saturno nos Trópicos, do Moacyr Scliar, e o Livro do dessassego, de Fernando Pessoa.

Qual o último livro que leste?
O que é positivismo, João Ribeiro Jr., da Coleção Primeiros Passos. (Viva as obrigações acadêmicas!)

Que livro estás a ler?
Pra valer: História das Idéias Sociológicas, de Parson aos Contemporâneos, de Michel Lallement.
Pendurados na estante: uma coletânea de Pablo Neruda, o primeiro livro do poeta amazonense Thiago de Mello, outra coletânea do poeta Carlos Nejar e os de Pessoa e Scliar. Sem contar um do Che Guevara.

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
Se a estadia fosse curta, os que nunca li: Ulisses; um exemplar com seleção das melhores poesias de Paulo Leminski e outro de Baudelaire; algo de um escritor da geração beatnik; e Macunaíma.

A quem vais passar este testemunho (3 pessoas) e porquê?
Para o e-pistoleiro Avery, que sabe-se lá como arranja tempo para estudar, trabalhar e ler. Para a , que fazia tempo que não passava por aqui e sempre abre seus posts com um texto alheio creditado. O último felizardo será Luiz Valério, que ficou apaixonado pela escritora Ana Miranda e só fala em livros e blogs desde então.

quarta-feira, maio 11, 2005

Comentando os comentários

É surpreendente como a imaginação pode gerar vários finais para um texto. A história de Marisa e João teve de tudo.
Do cheiro nada excitante do alho a uma paixão que atravessou décadas, sentindo o gosto do que (talvez, não se pode afirmar nada) tenha sido a primeira vez do mocinho.
Melhor do que isso é ver como cada redator usa suas referências para traçar o destino do personagem. Para mim, a multiplicidade de versões é o melhor dos posts coletivos.
Mas o comentário off topic do Fabrício me fez perceber que não fui bem claro ao propor esta nova rodada de criação coletiva.
A intenção, não sei se todos entenderam, era criar vários finais para o texto. Ou seja, cada comentário seria uma finalização, diferente da proposta anterior (do mês passado, com Lady Laura e as cantadas do Ismael), que era cada um continuar a história até que o final surgisse naturalmente após dez participações (o naturalmente é ótimo quando pré-determinado, né?)
Bom, está aberto o espaço dos comentários para cada um falar do final do outro e do seu e sugerir uma normatização para posts coletivos do tipo "Faça seu final em um parágrafo" e do gênero "Continue a história por tantos posts".

segunda-feira, maio 09, 2005

Post coletivo II

Continuando as experiências que só a internet pode proporcionar, convido meus amigos a completarem este texto, com mais um parágrafo, escrevendo o final que desejarem.

.........


Me coma, garotinho,disse Marisa a um estupefato João, 15 anos, filho da vizinha, habitual observador de seus banhos vestida apenas com uma camiseta no quintal.

Anda, Joãozinho, vem aqui, repetiu a mulher, cerca de 30 anos, mãe de um garoto de sete que costumava brincar com o videogame de João.

Vem ou não, perguntou Marisa, levantando o vestido curto e mostrando que estava sem nada por baixo para o pequeno João, que ela havia visto de relance várias vezes observando-a pelos buracos do muro velho e rachado.

Hã, como,não entendi, gaguejou João, sentindo que algo crescia nele e não era nada parecido com coragem ou o medo de ser pego naquele momento por sua mãe, a esperá-lo na casa ao lado.

Você não me queria? Estou aqui, vem, disse a exuberante Marisa, pernas grossas, bunda modelada com muito exercício e um cabelo negro que terminava na cintura.

João, hipnotizado pela visão das nádegas de Marisa, que estava de costas para ele, mãos apoiadas na mesa e o vestido levantado, quase sem ar decidiu encarar o destino com firmeza. Depois daquela tarde, nunca mais seria o mesmo.

quinta-feira, maio 05, 2005

Dicas de bem viver

Para pensar positivo:

O seu dia está ruim? Imagine se você morasse no Iraque...

Para ser empreendedor:

Se a vida só te dá limões, vá vender caipirinha na praia.

terça-feira, maio 03, 2005

Madrugando

Foi assim, ele saiu de manhã.
Nas costas, o cansaço da despedida.
Na boca, o gosto da madrugada.
Antes de fechar a porta,
um olhar para o palco da batalha
E a vontade de contrariar o relógio.
Na saída, a lembrança de jogos,
Suores, olhares, sorrisos,
Promessas e comentários
Não repetíveis em público.
Ficaram para trás a penumbra.
Foi-se com ele a promessa
De mais uma noite para
Entender o destino que
Se escreve prosa pelas
Linhas da poesia.

sábado, abril 30, 2005

Sabadaço na XVI Feira de Livros do Sesc RR



A apresentação de sexta na XVI Feira de Livros do Sesc foi recheada de emoções. Velozes fugitivos de nossos empregos, Nei e eu chegamos cedo ao palácio Latife Salomão, onde rola a movimentação, para montar toda a parafernália necessária. Ainda bem.

Depois do Sesc trocar a CPU, que não tinha placa de fax-modem, disponibilizada para o estande da biblioteca, deu um tilt na conexão telefônica. Mexe aqui, mexe ali, reconfigura parte do computador, concluímos que o melhor seria resumir a apresentação. Nada de internet. Nada de visualizar blogs então. Corremos para o pagefront, fizemos uma página na hora com os tópicos e mandamos ver.

Dividimos as falas e apresentamos. Companheiro da correria, Luiz Valério deu pinta na feira e mandou bem na parte que lhe coube.

Falamos de interatividade, alcance, links, comunidades blogueiras, liberdade de expressão, potencialidades do blog, blá, blá, blá.

Hoje, lamentavelmente o Nei não poderá participar. Seu filhinho inventou de aniversariar justo durante a Feira. E como ele quer muito bem à sua pele e não deseja confusão com sua esposa, passou o dia inteiro carregando cadeiras e mesas para a festança que vai rolar na mansão dos Costa. E o pior é que o coisa não me passou o endereço certo...

quinta-feira, abril 28, 2005



Em 2002, encarei o os 2.875 metros do Monte Roraima. Facinho, facinho para um indiozinho. Neste final de semana, em companhia do Nei, vou encarar a XVI Feira de Livros do Sesc. Vamos escalar, ops..., falar sobre literatura virtual, blogs e coisas do tipo. No bolo, propaganda de graça de um monte de blogueiros. Por isso, caros, publiquem coisas legais para não nos fazer passar vergonha...

Ah, lá na Feira estaremos criando um blog para o Sesc. O endereço, valendo a partir das 20h de sexta (29 de abril) será www.pocoesdepoesia.blogspot.com . lá.

quarta-feira, abril 27, 2005

Da série Apropriações Indébitas

Tem que saber curtir.
O problema é a ressaca.

By Danilo, o Cara, sobre excessos aos finais de semana.

terça-feira, abril 26, 2005

Da Série Ouvidos na Rua

Na loja de sapatos, as duas vendedoras:

- Então, tu fez o que no final de semana?
- Ai, foi tão bom!
- Conta como foi.
- No sábado, depois do expediente, fui em casa tomar um banho e fui pra casa da minha irmã. Tava tendo um aniversário lá. Passei a tarde toda e um pedaço da noite da turma dela, jogando baralho e dançando. Menina, bebi e comi o tempo todo.
- Caraca, tava bom demais então!
- Meia-noite sumi com um gato que tava na festa. Precisava ver. Lindo. Branquinho, olhos azuis....Ai (suspiro), acordei tarde no domingo...


(E ainda tem gente que reclama da vida. Não sabe aproveitar como a moça, já viu.)

segunda-feira, abril 25, 2005

"Jazz é masturbação musical."

Jimmy Rabbitte, empresário da banda The Commitments, aquela do filme ?Loucos pela fama.? Quem nunca assistiu, corra. Está passando desde a semana passada no canal MGM.

"Mustag Sally
Guess you better slow your Mustang down

Mustang Sally, baby?"

quarta-feira, abril 20, 2005

Manifestação no Centro Cívico por conta da demarcação da reserva Raposa-Serra do Sol

Alugaram ônibus para transportar pessoas de graça; fecharam as portas de parte do comércio central; falaram (e como falaram) bobagens nas rádios; acusaram o governo Lula de vende-pátria; clamaram por justiça; alertaram sobre conflitos na reserva; disseram (sem me consultar) que o desejo de todos os roraimenses não era a reserva em área única; aproveitaram a deixa para sair do PT; escreveram sobre cidadania, direitos iguais entre desiguais, falta de compromisso da União com os esquecidos do Norte; teorizaram sobre o troco nas urnas; usaram fitas negras para simbolizar o luto do Estado; publicaram anúncios de página inteira expressando sua revolta; pintaram um futuro negro para Roraima; e como se estivéssemos em outro mundo, avisaram que a economia voltaria a depender do pagamento do funcionalismo público.

Mas ninguém explicou como é que viramos território federal em 1962, passamos a Estado em 1988 e nunca conseguimos superar o discurso de "agora sim, vamos progredir."

terça-feira, abril 19, 2005

Dia do índio em Roraima

Aqui, onde missionários e outros conquistadores fizeram a feira com aldeamentos e escravizações dos indígenas;
onde a história oficial nega que alguma vez houve conflitos durante o processo de ocupação das terras;
onde meninas índias eram (e ainda são) trazidas para as cidades para estudar e viravam domésticas e brinquedinhos sexuais dos patrões;
onde predomina o preconceito contra quem vive nas aldeias;
onde há morte e violência constante no campo;
onde fazendeiros plantam em terras demarcadas mesmo sabendo da ilegalidade do ato e são considerados vítimas;
onde os interesses da maioria chocam-se com os da minoria;
onde a minoria não se entende na hora de definir quais são seus interesses;
onde a elite diz que ser culpada por alguma coisa é estratégia de entreguistas da nação para beneficiar índios que não querem ser isolados;
onde o governador decreta luto oficial de sete dias por conta da demarcação da reserva Raposa-Serra do Sol;
onde a mídia simplesmente ignora quem apóia a demarcação e concede espaços privilegiados a quem a combate;
onde dizem que direitos históricos se confundem com interesses obscuros;
onde todos perguntam para que tanta terra para tão pouco índio;
onde até o vendedor de picolés diz ser contra a demarcação mesmo nunca tendo tido um pedaço de terra na região;
onde o discurso dos direitos da minoria já encheu a paciência;
onde discuti-los é pior do que falar sobre religião e política;
e onde o Estado cancelou todas as programações referentes à data em protesto contra a demarcação;
bem, aqui, eu, como neto de uma macuxi que foi casada com um fazendeiro, vou exigir o meu pedaço de terra, trabalhar com agricultura e ecoturismo e ficar rico. Afinal, eu também tenho direitos!!! Fui!!!!!!!

sexta-feira, abril 15, 2005

Taí o resultado do post coletivo. Agora, é cada um ler e fazer suas avaliações do conjunto. De preferência, compartilhando.
Posso dizer que nunca havia feito nada parecido. Escrever sempre foi uma ação solitária justamente para não entrar em conflito de idéias. O que imaginava para a história não tem nada a ver com o que resultou. Mas gostei da experiência.
Valeu, caros Ismael, Rah, Luma, Avery, Patrício, Luis Ene, Nanda, Nora e Nei.
Depois fazemos de novo.


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O dia havia sido agitado. Correria no trabalho, correria no almoço. De repente, no final do expediente, a ligação, relembrada no balcão da lanchonete:
- Olha, vou falar contigo na marra. Não gosto de você. Mas mesmo. Aliás, te odeio.
Ao que ele respondeu, calmo e sorridente:
- Você me odeia? Então, pega tua ficha e entra na fila para não atrapalhar os outros.

Seus colegas riram. Boa história para o começo de uma noite de sexta-feira.

Bateu o telefone e ficou esperando nova chamada. Quando atendeu foi logo gritando:- Você não tem nada melhor pra fazer além de incomodar quem está trabalhando? Minha vida era bem melhor antes de você. Quer saber? Vá lamber sabão, junte-se aos Médicos Sem-fronteira ou raspe a cabeça e vire Hare Krishna. Cansei, veja se... mamãe?!

- Não mãe, era brincadeira minha com o pessoal aqui, é claro que estou lembrado de pegar a sua amiga no aeroporto. Inventou qualquer desculpa e desligou rápido antes de se transformar em piada permanente do escritório como o filho da careca hare krishna. Já passava das 19h e era uma boa distância até o aeroporto que ficava fora da cidade. Não sabia por que deixava sua mãe convencê-lo de fazer estes favores desconfortáveis para estranhos. E agora esta maluca telefonando do nada, não havia hora mais inoportuna.

Preparava-se para arrancar para o aeroporto quando o celular tocou. "Te odeio. Mas mesmo. Você nem imagina quanto." Era ela de novo. Ficou a olhar para o ecrã que dava indicação que a chamada terminara. Nem conseguira dizer coisa alguma. Mas agora tinha o seu número...

No caminho do aeroporto torcia para que a amiga de sua mãe fosse ao menos uma loba enxutinha, charmosa. Gostava de mulheres mais velhas, e vez por outra fantasiava um sexozinho com a Malú, amiga de adolescência da mãe. Esperou o telefone tocar novamente, mas nada aconteceu...

O Trânsito devia estar horrível...seria uma boa desculpa para se atrasar na ida para o aeroporto. Mentir é uma habilidade social? Sim. Neste caso. Com a certeza absoluta que ela ainda o amava, senão, não iria se preocupar em dizer tantos "eu te odeio" e ela estaria ali por perto...

Por perto, talvez não seja esta a definição.Ele está dentro dela, preenchia-a as entranhas com amor e carinho e depois exigiu que ela terminasse com esse sentimento.Ela lutava contra ele e contra si.Tentava transformar aquele ódio em amor. E estava conseguindo.

Como não as alternativas não eram muitas, resolveu que aproveitaria ao máximo essa tarefa. subiu no carro e pegou seu cd do 'frank jorge', presente de lady laura, uma ex-amante gaúcha dona de grande cultura musical e grande habilidade no sexo oral. enquanto enfrentava o congestionamento, relembrava do dia que a conheceu em porto alegre, numa festa na casa de um amigo em comum.

Talvez esse fosse o motivo. Tudo dele era imediato e cômodo. E uma mentirinha de vez em quando não ia mudar sua vida. É, quando ela é aceita e impressa pode virar um romance e se é passada na tv, vira novela. Mas como se chamava na vida real? Ele começou com a certeza e acabou na dúvida. Ah, se ela se contentasse com a dúvida, acabaria tudo certo.

Mas não. Ela e suas certezas. Ela e suas grandes aspirações, seus filmes complicados, suas neuroses allenianas. Talvez fosse melhor fingir suicídio e voltar para o único lugar que ela jamais lhe procuraria: aquela aldeia tutsi onde se conheceram. Ali sim, talvez encontrasse a paz. Ou um grupo de hutus enfurecidos.

Quase perdeu a entrada do aeroporto enquanto fingia não estar esperando mais uma vez o telefone tocar. No desembarque não havia muitas pessoas e assim teve certeza que estava muito atrasado, mas favores nem sempre são perfeitos e certamente a tal amiga saberia apreciar sua boa vontade. Em segundos ficou boquiaberto ao perceber sua passageira diante do carro. Não era uma loba, era uma pantera na casa dos trinta.

De sopetão ele se apaixonou. Os olhares se cruzaram e ele sentiu um pulsar forte no peito e o suor frio escorrer por seu rosto ainda rubro. Já não esperava mais um telefonema e nem se lembrava de um passado tão próximo.

- Qual é o número da ficha, que não tenho tempo a perder com filas, baby!

Pensou: "Parece que ela é realmente apressadinha como eu" e estacionando o carro, saiu correndo para se apresentar. Entraram no carro e o telefone tocou. Desligou e disse: "A bateria está fraca". Deu-lhe um sorriso enviesado e ela idem. Pensou: "e aquela tonta a ligar...ah, os homens mentiriam menos se as mulheres fizessem menos perguntas". Preso nesses pensamentos, sentiu a necessidade de dizer algo: "Não sabia que minha mãe tinha uma amiga tão bonita. Vai ficar muito tempo?"

Ela olhou-lhe bem no fundo do fundo dos olhos e disse-lhe lentamente: "Não gosto de você. Mas mesmo. Aliás, te odeio." Ele sorriu, ia ser um excelente relacionamento.

Sorrindo meio provocador, com mais astúcia do que habilidade, arriscou: - Mas por que você me odeia tanto se ainda nem nos conhecemos direito? - Talvez pela cantada juvenil: "Não sabia que minha mãe tinha uma amiga tão bonita?!" Faça-me o favor, menino! Eu não sabia que minha amiga tinha um filho tão sem criatividade! Uma decepção! Um rapaz tão bonito!Mas o tiro saíra pela culatra. Se estava decepcionada era porque esperava outra coisa...

Ele se calou, mas ficou observando os gestos dela pelos cantos dos olhos. Notou o momento em que ela pegou o telefone e num movimento suspeito deixou-o cair sobre as suas coxas. Ele ainda tentou pegá-lo, mas não teve tempo.

O telefone havia sido engolido pela abertura das pernas da mulher. Ela o olhou e sorriu maliciosa, perguntando: se tocar, como te achei bonito, apesar de bobinho, deixo você pegá-lo. Ele sorriu, pensando em como seria bom que uma ligação de alguém declarando ódio eterno se repetisse logo, logo.Dirigiu impacientemente, esperando que sua mão ficasse boba quando fosse atender o xingamento.

quarta-feira, abril 13, 2005

A proposta é seguinte, meus amigos: continuem vocês a história a seguir.
As condições, para não virar uma bagunça, como a vida nas cidades fronteiriças geralmente é, são estas:
1) A cada comentário, o co-escritor terá direito a seis frases, incluindo aqui possíveis falas dos personagens que acrescentar.
2) Se quiser contribuir, mas não quiser colocar seu nome, tudo bem. Só não vale desqualificar as contribuições anteriores.
3) Para que não fique muito extensa ou muito curta, a história será encerrada no décimo comentário. Só peço que não fiquem esperando o décimo para poder participar.
4) Cada co-escritor poderá contribuir duas vezes no máximo. (Eu sei, parece ditatorial, mas só assim podemos controlar os mais afoitos.)
5) Conto com vocês para esta experiência. Beijos a todos.

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O dia havia sido agitado. Correria no trabalho, correria no almoço. De repente, no final do expediente, a ligação, relembrada no balcão da lanchonete:
- Olha, vou falar contigo na marra. Não gosto de você. Mas mesmo. Aliás, te odeio.
Ao que ele respondeu, calmo e sorridente:
- Você me odeia? Então, pega tua ficha e entra na fila para não atrapalhar os outros.

Seus colegas riram. Boa história para o começo de uma noite de sexta-feira.

(Continua nos comentários...)

segunda-feira, abril 11, 2005

História de uma concursada

Nesta segunda, às 17h, dona Gracineide e outras 1.059 pessoas serão empossadas como funcionários estaduais no ginásio estadual Hélio Campos.
O cargo de dona Gracineide quase lhe escapa. Se não fosse uma cunhada ligar avisando que havia sido convocada, não teria tomado ciência da chamada feita pelo governo.
Dona Neide, como é mais conhecida, está empolgada com a novidade.
Há alguns anos é somente dona-de-casa, esposa de seu Juca, assessora para assuntos médicos de seu pai, gerenciadora das obras de reforma de sua casa e do apertamento do filho, responsável pelo compra de material de uso permanente e administrativo dos dois lares, além de alfabetizadora de pelo menos quatro sobrinhos e criadora de alguns cães bravos que só.
Para relaxar, vai à Venezuela de vez em quando, assiste às novelas da noite e vende produtos dessas empresas que fazem distribuição pelos Correios. Nos intervalos, estudou em casa para o concurso público.
Dona Neide, aos 53 anos, é a viva prova de que o tempo é o senhor esquecido dos recados atrasados.
Depois de muitos anos sem trabalho registrado, ao precisar do número do Pis-pasep, necessário para a lista enorme de documentos e exames médicos exigidos pelo Governo, dona Neide descobriu um recado grampeado na carteira de trabalho pela antiga patroa, Nilze Fligioli, quando deixou Manaus, lá na década de 1970.
A patroa, ao enviar sua carteira de trabalho para Boa Vista, escreveu um bilhete desejando muita sorte no parto e pedindo para procurá-la quando saísse da licença-maternidade. "O seu posto na empresa está aqui em Manaus, esperando por você."
28 anos depois, graças à necessidade criada pela exigência do governo, dona Neide finalmente leu o recado.
E depois ela reclama quando o filho esquece do nome das pessoas.

sexta-feira, abril 08, 2005

Depois de uma semana de trabalho, vejam só o que Zanny Adairalba, dona de lugar fixo na série Redatores da Fronteira, ainda é capaz de escrever. (Eu, quando chega a sexta, só atino a pensar que a coisa pode ficar pior.):


Liberdade!! Liberdade!!
Gritei logo ao acordar por meu peito doer
Mal pude vestir-me e corri às ruas
Bati nas portas
Percorri as calçadas
Gritei
Gritei
Ajoelhei-me no paralelepípedo e esperei resposta
A chuva caia
Era forte
A rua deserta
O riso era esperança
A fome
Era de vida
Os sonhos... confusos
Ninguém respondeu
Um poste
...uma lâmpada ainda ligada
o dia acabara de despertar
um lenço à mão
...vermelho
deitei-me ali mesmo
em frente a qualquer coisa
no meio de qualquer lugar
entre a rua e a calçada
os pingos da chuva eram conforto
um silêncio incomum abraçava o cenário
percebi que era o meu dia
meu dia de gritar
de chorar
de construir... assim mesmo...
no meio do nada...
uma resposta para minhas dúvidas
me fiz criança
feto envolvido no útero materno
molhado
medo
mas não um medo covarde
a busca da paz
do equilíbrio
da razão...
um momento como poucos
uma sensação de afogamento
e de emancipação conjugada
a rua de paralelepípedos parece cantiga
de algum compositor buarquiano brasileiro
as lágrimas se misturam com a água vinda do céu
agora menos dolorosas
- liberdade!
... o sussurro de um riso meio louco
- paz!!
... é tudo o que queremos.
A chuva passa de repente...
As pessoas abrem suas portas...
Suas janelas...
Saem de suas casas e ...
Como se fosse música
Dançam felicidade.
Os raios de sol
Iluminam a velha ladeira da rua 19
Parece sonho
Brinquedo de menino
Desenho de graffiti
Uma mão estira a liberdade
Se ergue a verdade
Me levanto diante dela
A essência é companheira do saber
Me encontro e me transbordo de mim mesma
Cálice de vinho raro
Chegada de plenitude
O dia é partícula de eternidade
A vida... criação e criatura
Fruto de um ventre celestial
Livro escrito por anjos carnais
Liberdade.

terça-feira, abril 05, 2005

Os blogs na XVI Feira de Livros do Sesc



Nei Costa e este cronista participam nos dias 22, 23 e 24 de abril da XVI Feira de Livros do Sesc, um evento que reúne milhares de crianças, adolescentes e adultos todos os anos e que, pelas inovações de cada edição, é considerado modelo para o Sesc nacional.

Nossa tarefa será apresentar ao distinto público roraimense o conceito de literatura virtual. Durante três dias, teremos um estande, computador e projetor à disposição para exibir blogs e sites que estimulem a leitura e a interatividade.

Serão intervenções rápidas, de 40, 50 minutos, abordando os seguintes temas: o que é literatura virtual? blogs e sites na imprensa; interatividade; montagem de um blog; exemplos de blogs e sites voltados para a literatura infanto-juvenil e adulta; direitos autorais na internet; o perigo da facilidade dos resumos da net; e o texto na net.

Sendo assim, convido todos os queridos navegantes a contribuírem com o nosso trabalho, enviando links interessantes sobre algum dos temas.

Podem ser deixados na caixa dos comentários ou enviados para os nossos endereços. Correspondência para Edgar aqui. Para o Nei, aqui.

Ah, também vamos divulgar os nossos amigos, no mais puro estilo demagógico: para meus conhecidos tudo, para quem não conheço e não gosto, nada. É, nós somos bons, mas também sabemos ser maus.

segunda-feira, abril 04, 2005

Vivendo a história

Parece título dos programas do History Chanel, né? Mas é somente uma confirmação de que estamos contemplando momentos históricos, daqueles que daqui a 20 anos serão estudados ou relembrados por pesquisadores ou reportagens sobre o início do século XXI.
Quer ver como a história está passando diante de nossos olhos?
Onde você estava na sexta-feira passada, 1° de abril, quando foi anunciada a morte do Papa João Paulo II?
Onde você estava quando Lula ganhou a eleição presidencial, levando o PT a comandar o mesmo país que o recusou durante várias campanhas?
E na manhã do ataque às Torres Gêmeas, o 11 de setembro?
E quando começaram os bombardeios ao Afeganistão e ao Iraque, você estava fazendo o que mesmo?
E na eleição do Severino, o rei boquirroto do baixo clero parlamentar, você estava onde, alheio à desgraça que estava acontecendo?
Alguém lembra onde viu pela primeira vez a notícia dos gafanhotos de Roraima, do afastamento do governador roraimense Flamarion Portela por acusações de corrupção, da morte dos garimpeiros na reserva indígena Roosevelt, em Rondônia? Da reeleição de George W. Bush? Do lançamento dos mega-sucessos O Senhor dos Anéis e Matrix?
E no último grande show de rock de sua cidade?
É a história, passando bem em frente aos nossos olhos despreocupados.

sexta-feira, abril 01, 2005

O clima e a cultura - uma teoria feita ao som de reggae

Desde os tempos áureos da civilização grega, passando por todos impérios da humanidade, teorizou-se sobre a influência da clima e da geografia no desenvolvimento das sociedades. Com esse discurso, que favorecia geralmente os seus autores, legitimaram-se a escravidão, a conquista e o colonialismo de grupos menos complexos.
Posteriores mudanças paradigmáticas nas ciências sociais apontaram para outros fatores para explicar as diferenças entre os povos. Falou-se muito em evolucionismo, (alguém se lembra aí da conversa das raças?) difusionismo cultural e um monte de outras teorias. Hoje, sabe-se que não o clima não determina a cultura. Quem diz isso são os grandes estudiosos das ciências sociais.
Mas...
Deixa estar que na quinta-feira, antes do show do Cidade Negra aqui em BV (que fica em Roraima e não em Rondônia, como o Toni Garrido gritou no começo da apresentação, para corrigir-se lá pelo final), surgiu uma nova teoria aplicável somente a este pedacinho de Brasil.
Aqui, as movimentações artísticas incomuns influenciam o clima.
Vamos às explicações:
Do nada, depois de um dia absurdamente quente, desabou uma chuvarada espantadora. Assim, de repente, como se estivéssemos na época do inverno amazônico. A sexta-feira, ainda bem, amanheceu nublada.
Fato isolado? Não.
Em janeiro, mês de vacas ainda mais magríssimas no que se refere a teatro, shows e coisas do tipo em Boa Vista, grupos de Manaus e do Rio de Janeiro vieram à cidade trazendo teatro, dança e música erudita durante dois finais de semana. Trouxeram junto chuvas e queda na temperatura habitualmente alta nesta época do ano (e no restante também, para que ninguém se engane).
Se houvesse somente o show do Cidade Negra de atração nesta semana, talvez o clima continuasse igual.
Mas nesta sexta-feira tem um show da Banda Impacto Latino no Sesc Roraima, apresentando covers de bandas e cantores latinos. No sábado e no domingo, é a vez da banda Mr. Jungle, da qual fiz parte como assessor de imprensa, apresentar-se no teatro Carlos Gomes. Ou seja, é muita coisa boa em poucos dias. Tenho medo que neve ou aconteça uma catástrofe durante este período. Qualquer coisa, minha coleção de gibis deve ser entregue ao meu priminho Lucas quando ele estiver consciente de tudo o que gastei comprando e preservando as HQs.

quarta-feira, março 30, 2005

Hábitos



Ela perguntou:
Se te encontro e te descubro, onde estará então o encanto da surpresa?

Ele calou, como ela havia previsto.

terça-feira, março 29, 2005

Meia história de uma noite completa



Foi lá pelas duas da manhã, contou-me. Havíamos bebido cada um três copos de tequila, duas margueritas, três cervejas e dançado como loucos na festa de aniversário de uma moça amiga dos dois. A nossa adrenalina estava lá em cima.

Trabalhávamos no mesmo prédio. Eu no térreo, ela no primeiro andar. Na verdade, nunca pensei que isso fosse acontecer, confessou. Mas bateu uma coragem daquelas quando vi como o seu vestido preto balançava durante as danças, que pensei: é hoje ou nunca, completou.

Pena que foi só uma vez, disse, melancólico. O nome? Não, não posso dizer. Só quero compartilhar de leve uma história, não fofocar, reclamou, indignado com minha curiosidade.

Depois daquela noite, fingimos que nada havia acontecido e continuamos trabalhando normalmente, cada um em seu setor, continuou.

Quer dizer...(expressão de dúvida) agora que penso no caso, depois de misturar tequila, margueritas e cervejas, será que aconteceu mesmo ou imaginei tudo aquilo?

segunda-feira, março 28, 2005

Citações deterministas


Disse o traficante cristão ao consumidor em tratamento:

Do pó viestes e ao pó voltarás.

quarta-feira, março 23, 2005

Da série Redatores da Fronteira, produção antiga de Zanny Adairalba para ilustrar uma semana estranha de chuvas em Boa Vista. Aos frequentadores, boa semana santa.


Texto para alguém numa tarde chuvosa



Encosto na vidraça, olho pela janela de minha sala... aqui de cima o mundo parece pequeno. O enorme vidro, molhado, me traz a sensação dos banhos de chuva da infância. Não eram prédios sofisticados, como os que vejo agora, que decoravam meus dias ... casas humildes, por trás das calçadas quebradas... ruas razoavelmente grandes e alguns paralelepípedos incompletos. As ladeiras eram nossas belas corredeiras... e brincávamos como se o mundo nos pertencesse.
Barcos corajosos, feitos de papéis, enfrentavam a fúria das águas que quase sempre os levavam para um pequeno bueiro. Quando não, eram seqüestrados por gigantes malfeitores que, mais cedo ou mais tarde, se arrependiam do ato e os devolviam aos seus destinos. A chuva continua a cair... volto a encontrar meu presente. Os prédios... tudo parece tão pequenino! Não vejo nenhuma criança a brincar. (suspiro suave) - O Rio de Janeiro não era de todo tão mau!

Obs..: Acho que a sala é aquela (enorme) do primeiro texto que te mandei.
Obs.1: Acho que hoje, não estarei no bar onde os poetas se encontram. Devo iniciar algum livro... ou ligar pra ti e ficar falando horas a fio.

segunda-feira, março 21, 2005

Relatos de um final de semana de março

Sábado foi dia de São José para os católicos. 
Foi o fim do verão também. 
E das primeiras aulas de final de semana do semestre 2005.1 da universidade. Diz a tradição que no dia de São José sempre chove. 
No meu bairro caíram somente algumas gotinhas. Mas o dia foi nublado, para compensar. 
Aliás, desde sexta-feira à tarde, deliciosas nuvens cinzas cobriam Boa Vista. Voltando à tradição, antigamente os agricultores esperavam a chuva de São José para plantar o milho que colheriam para fazer as comidas das festas juninas. Coisas de um estado que já foi mais rural e preso a superstições religiosas. 
Depois da aula de sábado, entrei numa livraria procurando um livro de teorias sociológicas. 
Checa se tem, quando chega mesmo, valeu, vou esperar a ligação que o preço pela internet é quase o mesmo, fiquei olhando o acervo. 
Daí vem a seguinte cena: A vendedora: 
- Oi, posso perguntar uma coisa? O senhor já trabalhou no Sesc alguma vez? 
Eu: - Já, faz muito tempo. 
A vendedora: - Ah, então é de lá que lhe conheço. 
Eu: - Mas faz muito tempo mesmo, coisa de anos. Como prestador de serviços em eventos. 
A vendedora: - Isso! Eu era criança e me lembro de você numa dessas mostras que o Sesc faz sobre trânsito. 
Eu, achando-me o sujeito mais velho do mundo, forçando a memória e resgatando: - Acho que era "Sinal verde para a vida". Fizemos no Objetivo e numa outra escola. 
A vendedora: - Não. Foi na minha escola. Eu estava quieta e você me olhou sorrindo e disse: "ei, estás muito séria. Sorri para mim,vai." 
Eu, lembrando de quando a verba ganha nas mostras do Sesc me ajudava a bancar as apostilhas da universidade: - Isso foi em 1997! Mas não me lembro de ter sido feita em outra escola. 
A vendedora: - É isso mesmo. Eu lembro de você. 
Eu, pensando no que fazer: - ... 
A vendedora: - Poxa, bom lhe ver.
 Eu, pensando nos eventos Brincando nas Férias e Feira de Livros, quando atendíamos mais de 300 crianças por dia: - ... 
Quis, mas não perguntei o seu nome, o que havia feito de sua vida, se dirigia bem, se estava estudando, se a livraria pagava bem. 0Só fiquei pensando em como um sorriso e uma frase haviam ficado gravados na memória daquela jovem por sete anos. 
Deu até vontade de ser gentil com todas as pessoas e dizer bom dia todos os dias, como me recomendou uma amiga certa vez. 
Ainda bem que passou logo.

quinta-feira, março 17, 2005

Discussão

Ele disse:
Quer saber? F*&@-$#!!!!

Ela respondeu:
Como é?

Ele repetiu, furioso:
F*&@-$#!!!!

Calmamente, ela retrucou:
Olha, se você vai me xingar, seja pelo menos homem de fazê-lo sem usar essas escritas de histórias em quadrinhos. Tá bem?

quarta-feira, março 16, 2005

Coisas pessoais de março de 2005

Foi a manchete de um dos jornais locais hoje:
"Ex-presidiário é executado com um tiro fatal na cabeça"
Aí, alguém me diz: se foi executado, o tiro foi fatal, né, não?
Eu, tonto de tanto trabalho e cheio de coisas para fazer, balanço a cabeça e digo: "acho que sim. Assim como é natural que alguém morra depois de apanhar muito no pelourinho e seja deixado sem assistência médica."

No dia anterior....

Segundo dia de aula na Universidade Federal. Droga de curso de sociologia que nunca termina. Comparando, pelo tempo que investi, já estava formado da outra vez.
Em três anos também já havia decorado o nome de meus colegas de sala. Agora, pouco a pouco, aprendo o nome dos atuais. Tem o.... e a...., a....., ih, acho que ainda não aprendi todos.
Mas o nome dos professores do curso já estou quase decorando.
Contudo, isso não me preocupa mais. Posso colocar a culpa no histórico familiar. Dona Maria, minha avô, contou-meu que em 1988 lecionou corte e costura durante dois meses para uma moça cujo nome nunca conseguiu decorar. Quer dizer, a coisa pode estar nos genes. Certo?
Ou pode ser culpa do calor. Afinal, dois terços do ano torramos sob um sol inclemente, bom para as plantações de soja e arroz (alta produtividade por hectare, dupla ou tripla safra, muitas toneladas exportadas e coisas do tipo), mas insuportável para os humanos. Há dias em que a pele arde.
Andar nos quentes corredores da universidade, suado, depois de um dia de trampo e de pedalar algo como dois ou três quilômetros a partir de meu local de trabalho, não ajuda muito a ter preocupação por aprender o nome dos meus companheiros de estudo.
Mas também é só aqui que o reitor da universidade te dá uma mata-leão e pergunta como você está e como foi tua viagem para o Peru.
Ou pelas bandas de vocês também se faz isso?

segunda-feira, março 14, 2005

Cronista temporariamente sem histórias reais

ou ficcionais para contar some na maior

Da redação

Os leitores do site www.edgarb.blogspot.com estavam assim, meio de banda, com a falta de novas histórias no Crônicas da Fronteira. As reclamações iam da falta de atualização à péssima vontade de Edgar em responder os comentários ou visitar outros blogs, como mandam os bons costumes do cyberuniverso.


"É um folgado. Mô segunda-feira e nada de atualizar o blog. Deve estar de ressaca. E olha que não foi na minha cantina. É isso que me deixa mais irritado", declarou Nei Costa, chefe da Cosa Nostra em Boa Vista.

Blogueira de longa data, assídua visitante do Crônicas e mineirinha comedora de queijo com breja, Luma pisa no calo e quebra tudo: "na real, o Edgar nunca me enganou. Já havia reparado que só atualizava no máximo três vezes por semana. Mesmo assim, estou preocupada com o seu sumiço."

Nossa equipe de reportagem entrou em contato com o Avery, mas ele mandou avisar que estava desfrutando da brisa que bate em sua varanda e por isso não iria comentar o sumiço. "Só sei que fui um dos principais incentivadores do rapaz. Agora, o que ele faz com o domínio não é problema meu. Mas vou mandar uma epístola para ela", afirmou o pesquisador e cybernavegante inveterado.

A equipe de reportagem gastou dinheiro pra caraca afim de tentar achar o folgado do Edgar. Ligou até para os produtores do filme Inimigo de Estado pedindo emprestado aquele sistema loucão de fiscalização espacial, mas os caras pediram muitas garantias.

"Tão loucos. Imagina que vou hipotecar meu carro pra achá-lo. Aliás, quem foi mesmo que pautou meus repórteres pra fazer isso", interrogou Luiz Valério, editor do Linha de Frente, antes de quebrar a cabeça de seu chefe de redação.

A solução foi pagar uma extra para uns policiais de folga do serviço. Em dois tempos, os eficientes funcionários estavam com a localização do cronista. ?A casa é até bonitinha, mas se fosse eu mandava pintar de outra cor?, comentou um dos investigadores.

Edgar foi encontrado deitado numa rede, na casa de um parente. Questionado pelos repórteres sobre os motivos do sumiço, olhou para os profissionais, fez cara de sono e disse que o estavam desconcentrando. "Hoje tô muito cansado. Passei o dia inteiro vendo esse caracol andar na varanda. Agora quero descansar, meu rei, que estressei e o dia foi muito quente", bocejou, antes de avisar que ia tirar um cochilo no quarto. "Lá tem ar, sabe? É mais gostoso."

Com seu estilo mordaz, Ismael diz que ficou sabendo tarde da procura. Não fosse isso, teria colocado em seus comentários ácidos de toda segunda-feira. "Já vi blogueiros fazendo coisa pior. Deve ser o clima. Mas até abril deve voltar a chover", disse o dono de O Malfazejo.

A internautas que pretendam processar Edgar pelo consumo vão de impulsos eletrônicos, Rah, sua advogada, avisa das praias do Nordeste: "não se metam com o bichinho, não. Vão caçar encrenca com outra advogada, por favor. Se largar o meu coco, vocês vão ver."

Flogueira das mais gatonas da rede e correspondente de O Diarinho, jornal mais malcriado do mundo, Carlotinha Cavalheiro diz ser da mesma gangue da Rah. "Não se metam com meu indiozinho. Quem tocar no filho único de dona Neide e tio postiço do Bê, vai levar uns muque nos chifres."

quinta-feira, março 10, 2005

As aventuras de Chicão

A cantada


Chicão - Tenho algo para te dizer. Quando você está perto, não consigo deixar de notar a tua presença. Há algo em ti que te faz diferente, que chama a atenção e te destaca no meio de qualquer grupo de pessoas. Enfim, é impossível não te perceber.
Maria - Nossa! (suspiro) E o que é, Chiquinho?
Chicão - Teu mau hálito...

quarta-feira, março 09, 2005

Sob o sol

Pulsa intermitente, no peito do homem,
Legítima fúria de animal acuado.
Sob o sol das quatro da tarde
Chora no corpo da amante.
Dúvidas passam na cabeça do homem.
É fantasia maligna ou crueldade real?
Desvario da idade, garrafas a mais,
Efeito das marés ou do orgulho do possuir?
O medo cresce
Tomando membros e tronco do homem ajoelhado
Na poça de lama tingida de vermelho.
O vento traz mensagens
De espíritos vingativos e traiçoeiros.
O homem não as entende
É só tristeza o que forma as suas lágrimas.
Agora, a justiça deve ser concluída,
Murmuram fantasmas.
Esqueça felicidades passadas,
Risos, beijos, promessas.
Esqueça tudo o que disseram sobre amor,
Seja o divino, o próprio ou o dedicado aos outros.
Esqueça a beleza do amanhecer depois de uma noite de paixão,
Sussurram no seu ouvido zombeteiros deuses.
O vazio toma conta dos pensamentos do homem
E as palavras perdem o sentido original.
Agora tudo está fora de alcance
E pode ser visto apenas de relance.
Então, com apenas um movimento,
Rápido, brusco, surpreendente,
O homem consegue sua paz.
Pulsa, sufocando o ambiente,
Permanente e estranha paz sob o sol das quatro.

(publicado originalmente há muito tempo no Zhuada)

terça-feira, março 08, 2005

No Dia Internacional da Mulher, com todas as suas motivações históricas, sócio-econômicas e culturais, com todas as pessoas escrevendo belos poemas e loas, só me resta escrever isto:

Desejo do fundo de meu coração que todas as mulheres que são casadas, namoradas, amantes ou caçadoras tenham uma boa sessão de amor neste dia.
Desejo que nenhum chefe brigue com elas;
Desejo que tenham aumento de salário;
Desejo que possam comer o quanto quiserem de seu adorado chocolate sem medo de engordar;
Desejo que o biquíni as deixe mais bonitas;
Desejo que a autoconfiança as leve até onde quiserem chegar;
Desejo que se quebre o pulso de todos os homens que batem em mulheres;
E que a coragem de denunciar agressores tome conta das mulheres agredidas.

sábado, março 05, 2005

Da série Ouvidos na rua


Declarações a respeito de confiança e amizade, por duas adolescentes pedalando em uma só bicicleta.

- Ô, sua traíra, tu trairou comigo.
- Não, não. Nada a vê essa parada.
- Trairou sim. Mô trairagem que tu fez.

(E viva a flexibilidade da linguagem oral.)

sexta-feira, março 04, 2005

Latinidade

Uma amiga disse-me certa vez que todas as canções latinas eram de dor-de-cotovelo. Exageros descontados, é certo que por conta disso, separei alguns trechos de músicas de vários estilos para ver se a teoria bate.
Da Colômbia, Juan Pablo Valencia, compositor de vallenato, gravado por Carlos Vives, teorizando sobre confiança e amizades:

Como Dios en la tierra no tiene amigos
como uno no tiene amigos anda en el aire

O guatemalteco Ricardo Arjona, apesar de ser um romântico full time, também faz outros tipos de letra, questionando o que alguns chamam de imperialismo e outros de integração:

Las barras y las estrellas se adueñan de mi bandera
y nuestra libertad no es otra cosa que una ramera
y si la deuda externa nos robó la primavera
al diablo la geografía se acabaron las fronteras.

Outra aqui, para aqueles que gostam de ajudar e ser ajudados:

no es bueno el que te ayuda
sino el que no te molesta


Abrindo passagem para o romantismo de Shakira Mebarak:

cuántas veces he intentado
enterrarte en mi memoria
y aunque diga ya no más
es otra vez la misma historia
porque este amor siempre sabeh
acerme respirar profundo
ya me trae por la izquierda
y de pelea con el mundo


E para suas pragas jogadas contra aquele que a trocou por outra:

cuando las arrugas le corten la piel
y la celulitis invada sus piernas
volverás desde tu infierno
con el rabo entre los cuernos
implorando una vez más


E agora, um canto do panamenho Rubén Blades contra a opressão:


¿Adónde van los desaparecidos?
Busca en el agua y en los matorrales.
¿Y por qué es que se desaparecen?
Porque no todos somos iguales.
¿Y cuándo vuelve el desaparecido?
Cada vez que los trae el pensamiento.
¿Cómo se le habla al desaparecido?
Con la emoción apretando por dentro.

(Essa aqui é cantada pela banda Maná no Acústico MTV)

quarta-feira, março 02, 2005

Ando mais prosa que verso.
Correndo contra o tempo e perdendo sempre.
Ando mais verão que chuva.
Ou menos face que pensamento.
Menos letra que imaginação.
Se não ando, me arrasto.
E caio, e me lambuzo.
Enlameio.
Afogo.
E ressuscito.
Para nada.
Então...
Ando, apenas.

segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Almoço zen



Na seção de poesias, a moça do balcão pergunta se o senhor vai querer comprar alguma produção. Desiludido, responde que está a fim de um pedaço de sonetos. Bota também umas gramas do haicai mais barato que houver, completa.

Ah, este mundo cão, onde a imagem não vale mais o que custava antes do reajuste governamental. Agora o preço subiu. Imagem real, tanto; real, porém manipulada, tanto a mais.

Nem o sexo é como antigamente. O bom senhor, cuja única religião foi sempre um corpo de mulher, apela agora para uma simpática boneca inflável e umas pílulas que lhe perturbam o coração, na avaliação insistente do médico da família.

Com a poesia na sacola de plástico, pensa na filha, fugitiva de amor, cruzando o estado às pressas para entocar-se nos braços de um escritor liberal e dândi, autor de crônicas imorais, verdadeiros atentados à família, aos bons costumes e à gramática. Melhor, sobra espaço na casa.

Será que não teria sido melhor comprar um pouco de concretismo e versos alexandrinos?

Talvez hoje saia para fumar um cigarro com os outros bons senhores da vizinhança. Nada muito exposto, que não convém. Depois, um cineminha, pipoca, refrigerante e gritos para que ninguém assista ao filme em paz.

Vai fazer um belo almoço. No cardápio, tem poética, metafísica e religiosidade. Para temperar, pitadas de infantil crueldade cotidiana. Pensa até em escrever à editora do cunhado e mandá-lo para o inferno. Mas hoje não. Hoje não tem sobremesa, só um drinque de muito cinismo e descaramento.

Parece que vai ser bom.

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Às vezes

Às vezes, é melhor não fazer nada, esperando apenas que o tempo traga a sua resposta definitiva aos questionamentos. Só a idade, para exemplificar, mostra como muitos adolescentes comportam-se como idiotas enquanto pensam agir como senhores do mundo. Também te lembra que aquele cabelo estranho invejado por todos, hoje não passa de uma feia foto que se esconde na última gaveta.
Às vezes é melhor pensar mais antes de agir e reagir. É bom lembrar que o eu de hoje é diferente do eu de ontem e de anteontem. Por isso, não adianta mais falar ?se fosse em outro dia, você veria?.
Às vezes, é melhor ficar indiferente e não acreditar muito na humanidade, que alguma coisa ela fez para chegar aonde está. Esquecer que aquele a te afundar já recebeu tua ajuda para nadar. Ficar apenas lembrando do entardecer da cidade pequena, tão longe da fumaça de outras terras.
Às vezes, o bom mesmo é rir das palhaçadas do teu vizinho, do guarda que não sabe multar, da buzina estridente do carro daquele velho senhor. Sentir a vida valendo a pena mesmo quando a chuva prejudica o teu encontro com aquela pessoa especial.
Às vezes, as melhores conversas são as tidas sob a chuva, sem segundas intenções, sem cobranças de decoro ou excesso de intimidade, apenas no equilíbrio de um bom papo.
Às vezes, o melhor é terminar aquele caso de amor e deixar o coração correr livre, à procura de um novo porto, ouvir música clássica e beber vinho, permitindo-se a extravagância de colocar gelo na taça sem pensar na cara de horror dos amantes da bebida.
Às vezes, é melhor engolir o orgulho e pensar em como é bom pedir desculpas por aquela bobagem (no seu entender) que os outros consideraram grave ofensa.
Às vezes, bom mesmo é bater, é verdade, desprezando a teoria do amor ao próximo.
Todas as vezes, escrever um bilhete elogiando a ação do próximo é melhor do que telefonar para gritar pelos erros cometidos.
Às vezes, mas só às vezes, rir não é o melhor remédio e cantar não espanta os males.

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Da série Ouvidos na Rua

Florianópolis, janeiro de 2005, verão. Na loja da Americanas no centro da cidade, procuro discos em promoção. Atrás de mim:

- Ei, mulher tu tá sumida!
- Oi, meu amor! Tudo bem contigo?
- Nossa, como tás queimada, bronzeada.
- Pois é, querida. Vou todo dia à praia. Desempregada, mas em alto estilo.

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Classificados

Na seção de vendas do jornal, o anúncio de uma cama tubular branca sem nenhum arranhão, um colchão de boa espuma e travesseiros que adoçam o sono.
Na perspectiva de vender, João, que deseja livrar-se das recordações de seu último caso de amor. A cama, o colchão e os travesseiros ele adquiriu para ter conforto nas muitas horas que passariam juntos, mas não deu certo. Ele descobriu que toda a estrutura atendia não somente a ele, mas a terceiros, a quartos...
Bem, pensa João ao beber um copo de cerveja na mesa do bar, talvez não valha a pena desfazer-se de tudo. Afinal, a morena que está piscando para ele não vai querer conhecer seus beijos deitada no chão ou na rede da varanda.

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Figuras


É tão irritadiça que xinga o vento quando este desarruma seus cabelos na rua.


É tão calmo que só percebeu seu enfarte depois de três dias e uma briga com o vizinho.


É tão bonita que a maioria dos homens broxa quando vê o seu corpo nu.


Era tão rico que acendia seus charutos com notas de cem dólares.

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Histórias reais no dia do repórter


Atendimento nota 10

-ALÔ!!
- Oi, é da TV?
- É SIM!!
- Alô, sinal de fax, por favor.
- Quem?
- Sinal de fax, por favor
- Como?
- Si-nal de fax, por fa-vor?!
- Trabalha aqui não.

........................

Escambo

- Oi, tudo bem. Meu nome é fulano de tal. Quanto custam as aulas para tirar carteira de motorista?
- Tantos reais.
- Olha só. Fulaninho, jornalista do jornal TAL, quer saber se você não topa trocar umas aulas para uma jovem em troca de divulgação de teu negócio com notinhas elogiando o serviço daqui.
- Hum...pode ser. Quem é a moça?
- Ah, é uma afilhada dele. Já, já, te dou o nome. Você não vai se arrepender.

..........................

Solidariedade

- Oi, amigos! Tudo bem?
- Ahã.
- Poxa, queria pedir para vocês não filmarem a mulher do doutor. Poxa, olha para ela, tão abatidinha com a história dessa prisão. Imagina como deve estar a cabeça da coitada, sendo acusada de ser chefe de gafanhotos. São essas acusações escandalosas que envergonham nosso estado.

domingo, fevereiro 13, 2005

Segunda-feira, dia dos namorados no restante do mundo. Para celebrar a data e falar sobre relacionamentos, comentários de meus leitores, em mais uma edição da série Apropriações Indébitas:


Aprendi que romances românticos só existem nas pontas das canetas dos poetas, que o sexo do domingo começa na segunda pela manhã, que rotina é um fel na relação e uma profunda saudade na alma dos separados, que estar bem ou mal acompanhado depende do quanto vc bebeu, que estar sozinho depende do q vc tem por dentro, que amar sua vida e se valorizar é o melhor fortalecimento para qualquer relação e que comprar flores é tão importante quanto comprar feijão.
Anderson, no post Às mestras, de 3 de novembro de 2004



É cara, nesses últimos anos aprendi um monte de coisas. A principal foi descobrir que não há possibilidade de uma vivência de 17 anos com uma companheira sem que haja diálogo 60 segundos por minuto, 60 minutos por hora, 24 horas por dia, 365 dias por ano. E o mais gostoso é ver, no dia seguinte, que você conseguiu transpor mais algumas barreiras que tentavam impedir esse diálogo. Falô!!

Nei Costa, no mesmo post.


Eu acredito que o melhor amor é sempre o próximo, assim como as viagens. Agora para quem está com a mesma pessoa há vários anos, vale recordar o comentário de Albert Cammus, a saber: "o inferno é a rotina". Portanto,tomem cuidado!!!
Humberto Almeida, também no mesmo post


Mas sobre os romances que tive, apesar de fazer um tempinho que não tenho ninguém e nem pretendo algo daqui a pelo menos dois anos,sei que o que aprendi não sai.Aprendi a ser amiga e companheira, que as pessoas não são perfeitas e que nunca serão. Que ciúmes é uma grande bobagem e só quem não confia em si e no outro pode sentir tal sentimento.E conviver com as diferenças. Também veio as descobertas mais lógicas, como não é somente a mulher que é romântica e que gosta de cafuné na cabeça.Eles me ensinaram a ver a rotina como uma forma de amar. Também a ser menos exigente e menos ranzinza quando as coisas não saiam como eu queria.O melhor de tudo é que vou poder compartilhar tudo isso com meu esposo.
Adenice, na mesma leva.


Esses são os dramas dos nossos romances modernos. Não há entrega, não há vontade de se ir além, de se doar por inteiro. Hoje, isso é vergonha. Nenhuma garota fala disso com as amigas. Nem nós homens... Achamos isso uma frescura. falar de amor hoje é cafona, acreditem!!! Por isso acabamos ficando com a mesmice dos dias. Até que um dia nos damos conta de que a vida passou e não fizemos nada que realmente valesse a pena.Sábios e felizes são os que se dão conta disso a tempo

Ricardo Pcapuleto, no post Cenas Românticas, de 26 de novembro de 2004.

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Lembranças de sumpaulo


Depois de conhecer a Praça da República, com seus pintores, artesãos, loucos, velinhos conversando, capoeiristas (na verdade, esses eu vi outro dia) e espertalhões, atravessei a rua seguindo meu inesperado guia.
Caminhamos uma quadra, passamos por duas bancas de vendedores de CD?s piratas, o bolso coçando para comprar alguns, e paramos na esquina.

- E aí, tu sabes onde estás, perguntou Avery.
(pensei que ele estava zombando de mim, marinheiro de primeira viagem na maior cidade do país. Mesmo assim olhei para aquele cruzamento, com seus edifícios feios, seus carros barulhentos, seus mendigos e cineminhas pornôs).
- Não, Avery.
- Olha para cima. Lê a placa.

(na placa, os nomes que fazem daquele lugar a esquina mais famosa do país graças a uma música de Caetano)

- Quer dizer que foi por aqui que o baiano andou quando escreveu Sampa? Esperava mais da Ipiranga e São João.

E nesse momento descobri como é difícil ver poesia na cidade de São Paulo e como é fácil andar encantado pelas ruas do centro velho. Encantado com a novidade, certo, mas com as duas mãos no bolso para dificultar o roubo do relógio.

Update

Roraima é a terra das operações da Polícia Federal atrás dos figurões que passam a mão no dinheiro público usando a mesma tática: contratam seu Pedro por alguns milhares, mas ele só fica com algumas centenas. O restante é repassado para procuradores e empregadores. Os envolvidos são chamados de gafanhotos, caçados nas operações Praga do Egito e Faraó.
Agora, com a Operação Pretorium, que trata de um esquema no Tribunal Regional Eleitoral, surgiram os besouros (por conta da cor das togas dos juízes.)

Tudo isso só confirma uma teoria para detectar quando alguém pode estar envolvido em mutretagem: apareceu muito em coluna social, desconfie.

segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Histórias da folia

Num desses carnavais da vida passados e trabalhados em Boa Vista, comentei com o Tiago que, por mais que tentasse, nunca havia conseguido um amor na folia de Momo, dessas que todos meus amigos e amigas conseguiam por poucas horas. Ele, na maior naturalidade, explicou tudo.
- O problema é que tu és venezuelano e quer ficar conversando com elas. O negócio é chegar, puxar para dançar, dizer que quer beijar e pronto. Se não quiser, parte para outra. Simples assim.

Sobre essa dificuldade, acho que a melhor explicação para a falta de sorte no carnaval foi-me dada pelo meu primo Oliver, também venezuelano, na cidade de El Callao, onde se celebra a melhor festa do sul da Venezuela, com até 20 mil turistas pulando alucinados ao ritmo das comparsas tocando calipso.
Pouco mais de 30 minutos depois de chegados na cidade, ele já estava pendurado no pescoço de uma menina que nunca havia visto na vida. Sumiu com ela, transou e voltou para a folia. Na outra noite, passaram um pelo lado do outro como se nada. E essa facilidade para conquistar todo tipo de mulher ele tinha desde entrado na adolescência.
- Acontece que eu tenho carisma e tu não. Sem carisma, não se consegue nada.

Na mesma cidade de El Callao, talvez no mesmo carnaval, estávamos os dois esperando uma carona à uma da manhã para voltarmos às nossas casas em Guasipati. De repente, Oliver, que estava deitado no capô de um carro, saiu atravessou a rua e fez sinal para eu também fosse. Cansado, fiquei parado, olhando o dono do carro abrir o porta-malas e balbuciar algumas palavras em minha direção. De repente, puxou uma pistola prateada, de cabo preto, e a apontou para mim, que estava hipnotizado pela beleza da arma, pensando que o infinito estava concentrado no negro daquele cano.
- É assim que acabo com as ratazanas, disse-me o sujeito, que só não atirou na minha cara pq seu amigo o fez abaixar o braço, tirou a arma dele e me pediu para sair dali. Só fui perceber o quanto estive perto da morte no outro dia, quando comprava uma Pepsi-Cola.
E o pior é não ia ter carisma que desse jeito.




sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Da série "Ouvidos na rua"

(Contribuição de Zanny Adairalba)

Dois pedreiros, cada um em sua bicicleta, discutem, possivelmente, dificuldades dos relacionamentos amorosos. A frase:

- Rapaz, entre mulher e comida, fico com a comida, que a gente coloca no armário e fica quieta, sem aperriar ninguém.

(E aí, é isso mesmo?)

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Colóquios

Ela disse, apaixonada:
- Tu és muito lindo, meu amor.
Ele, modesto, porém fugitivo dos bancos escolares, respondeu:
- Que nada, tu que é daltônica.


segunda-feira, janeiro 31, 2005

Reflexões de segunda

Quem zomba do perigo é valente ou idiota?
Quem foge do perigo, é covarde ou precavido?
E se, em vez de zombar ou de fugir, o fulano fingir que não é com ele, como pode ser definido?

sexta-feira, janeiro 28, 2005

A morena desce a ladeira

Lá vem a morena, descendo a ladeira. Pensativa, como todos os dias a esta hora, enquanto olha o rio no final da rua e parece relembrar praias, festas, a adolescência bem vivida.
É mais um final de tarde, final de expediente. Pena que hoje é feriado e ela não vai receber nenhum extra pelo serviço. Mas isso agora já passou. Quem sabe da próxima?
A morena já dobrou a esquina. Do outro lado, olhares a seguem. Ninguém sabe assobiar para conseguir chamar a sua atenção. De repente, de trás do balcão surge um megafone. Passa de mão em mão e quando alguém descobre como usá-lo, ela já está distante, passando em frente à casa dos padres. E apesar de o mundo estar quase perdido, ainda há respeito pelos representantes da religião.
E então, como se fosse um passe de mágica, no mesmo momento em que a morena abre o portão de sua casa e olha para trás, o sol parece concentrar sua luz somente nela, ofuscando quem a acompanhou em pensamento.
É hora de esperar o final de outra tarde na ladeira.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Betão, o roqueiro light

Betão, metaleiro dos pesados, leitor de revistas de rock que sempre trazem alguém na capa fazendo pose de malvado, guitarrista solo de uma banda, devorador de madrugadas e inimigo das duplas sertanejas desde que tinha uns 9, 10 anos de idade, está mudado.
Não, o cabelo continua o mesmo. Também não engordou. Nenhuma nova tatuagem foi acrescentada às...(ih, o Betão é maus mas mora com os pais ainda e teve uma criação rígida. Por isso nunca quis tatuar-se).
A mudança foi mais profunda. No início, pensou-se em algo conjuntural, talvez apenas uma reação ao fim do namoro de três anos com Luciana, que o despachou depois de uma noite em que divergiram sobre ir a um show-tributo ao Megadeth ou assistir ao DVD novo do Alexandre Pires.
- Eu? Curtir essa porcaria de pagode? Parece que você não me conhece!!!
Pegou um pé na bunda por excessiva grosseria.
Depois do período da fossa e de muitas ligações para ver se reengatava o namoro, Betão desbundou. Aproveitou os shows da banda para descontar o tempo que esteve amorosamente preso. Bastava alguma garota olhá-lo por uns três minutos e ele já tratava de encostar a sua Fender Stratocaster na, segundo suas palavras, escolhida da noite.
Na faculdade, Betão aproveitou sua popularidade como roqueiro e orador da turma para dar uns apertos nas coleguinhas.
Até aí, ninguém estranhava nada. Mas o pior, quer dizer, a grande mudança no comportamento do moço ainda estava a chegar.
Um dia, Betão descobriu que no rock sempre apareciam as mesmas meninas e ele não estava mais a fim de repetir as mesmas bocas.
Pelos links do fotolog de sua banda, que se uniam a outros e outros e outros, chegou no log da Turma do Pagode. O novo paraíso.
Betão, agora fazendo questão de ser chamado de Roberto, passou a freqüentar a quarta, a quinta, a sexta e às vezes, a sexta do pagode dos bares da cidade. A bebida dentro dos limites, como bom roqueiro natureba. E entre foras e chega mais meu bem, salvavam-se todas as noites. Até aí, o seu comportamento foi considerado uma reação natural, como se fosse a descoberta tardia de um novo mundo, com letras de axé pedagógico, do tipo "encaixa, encaixa, encaixa..."
Mas o melhor ainda estava a caminho.
Uma manhã de janeiro, depois de voltar de outra cidade, onde havia tocado no final de semana, Betão chegou no seu trabalho (apenas uma parada antes de chegar ao estrelato nacional e à grana boa do show bussines, conforme diz), ligou seu computador e, como de costume, pôs um CD para rodar.
Pouco a pouco, a sala foi sendo tomada pelos acordes do disco ao vivo de Bruno e Marrone. Peraí, isso aí é Bruno e Marrone, aqueles de "dormi na praça", perguntaram os colegas, espantados. Betão, quer dizer, Roberto, apenas sorriu e até disse qual era a sua música preferida.
Depois que três dos colegas receberam alta do psiquiatra, que conversou com Roberto para que o mesmo evitasse dar esses sustos nos amigos, outros dois deram entrada no hospital. O motivo? Espanto quando ouviram, saindo das caixas de som de Betão, "Imortal", de Sandy e Júnior.
Há suspeitas que Roberto tenha sido hipnotizado, abduzido, seduzido por alguma componente das comunidades das quais faz parte no Orkut. Ou que sua nova paixão seja uma daquelas jovens demais para serem exibidas.
No mais, rola na internet um e-mail com uma fotografia do Betão, vestido com uma camiseta do Linki Park, comprando um disco do B´roz.

segunda-feira, janeiro 24, 2005

As noites de Luisa

Luisa reza para que ainda seja madrugada fora de seu quarto. Mas a luz que atravessa as brechas da porta e da janela não aponta para isso. É hora de sair da hibernação. A duras penas consegue deixar a cama. O corpo parece pesar o dobro do comum, a cabeça dói, a boca está como um deserto. Esse é o preço de uma noite de farra.
A empregada da família a olha estranhamente. Pergunta como amanheceu. Luisa não responde. Sempre achou que a mulher é muito intrometida. Come lentamente o seu café da manhã enquanto lê uma revista semanal e fica sabendo das notícias da semana passada.
Os pais estão trabalhando e a irmã mais velha deve estar na faculdade, na sua queridinha aula de medicina. Às vezes ela fica insuportável, contando como as professoras a elogiam pelo seu desempenho. Luisa não acredita muito na irmã. Sempre desconfiou de tanta aplicação e boas notas no colégio.
Dizem que frutas são o melhor alimento para quem pensa em recuperar-se de uma noitada. Ainda bem que há vários melões na geladeira. Comer enquanto ouve lounge é um dos passatempos preferidos da garota. No chat mais popular da cidade, já começa a fazer os contatos para a noite de hoje, que ninguém é tão mole que precise de repouso para farrear.
No começo da tarde, Luisa está assistindo ao seu seriado favorito quando o primo Beto chega para carregar uns móveis e levá-los para a loja de seu pai. Luisa sorri e lembra de quando eram mais jovens, lá pelos 13, 14 anos. A mãe dela quase os pegou em atos impróprios, daqueles que lembram casos de presidentes dos EUA, só que em situações invertidas. Não fosse aquela mesa coberta por uma toalha gigantesca, sob a qual ela escondeu o primo, a mãe teria estranhado a cabeça da filha tão fixa no colo do sobrinho.
Mas essas histórias são águas passadas, lembra, enquanto beija a bochecha do primo, de casamento marcado com uma amiga de infância. Ao sair, Beto pergunta se está tudo confirmado para a noite. Claro que sim, responde a menina, no mesmo local, mas com uma banda diferente, tocando blues a noite toda. Amanhã mudamos o ritmo e caímos no samba, complementa.
Já está anoitecendo quando Luisa chega da academia. Uma hora de leitura do Código Tributário que lhe garanta uma boa nota na prova do curso de direito e outra para o curso de italiano.
Pronto, Luisa está preparada para mais uma noitada na boate que a contratou como relações públicas. Conforme contaram suas amigas, não há melhor maneira de conhecer o homem com que ela vai namorar nas próximas horas. Mas isso só depois de dançar muito, que a festa promete.


sexta-feira, janeiro 21, 2005

Dá novíssima série Apropriações indébitas:

"Tóóóóíiiiinnnnnnnn."

Avery, zombando nas Crônicas da Fronteira do pobre protagonista do post Cenas românticas, de 26 de novembro de 2004 , desprezado pela sua namorada-mulher-amante mesmo depois de preliminares cheias de estilo.


quarta-feira, janeiro 19, 2005

Frases para serem ditas neste começo de ano por quem estiver apertado de grana

(pensadas depois de ler ontem O Malfazejo)


- Vai ao IPTU que te pariu!!
- Vai dar esse ISS em outro lugar, seu Imposto de Renda babaca!!
- Ô, seu filho da Serasa, te lasca!!
- Ei, vai ver se estou plantando IPVA na esquina.
- Ei! É! Tu mesmo, seu juros duma figa!!!


(Aceito contribuições para aumentar o estoque de ofensas)

terça-feira, janeiro 18, 2005

Imagem, segundo eles, é tudo

Quem acompanhou o diário de bordo sobre a viagem ao Peru agora tem a chance, se estiver a fim, claro,de ver algumas fotos nos fotologs de meus comparsas fotógrafos Tiago Orihuela e Bruno Garmatz.

segunda-feira, janeiro 17, 2005

Reflexões do mundo pop

"Até os monstros precisam de ar."

Smithers, do seriado Os Simpsons , para seu chefe, Sr. Burns, que estava assustado ao descobrir que a sua Liga do Mal havia se transformado em esqueletos empoeirados depois de anos trancafiada em uma sala ao lado de seu gabinete.
A Liga iria atacar Lisa Simpson, editora de um jornal alternativo que atacava o império jornalístico que o odiado dono da usina nuclear de Springfield havia montado para conquistar a simpatia da população da cidade.

quinta-feira, janeiro 13, 2005

Desgosto

Queria falar sobre o lançamento de uma coletânea musical feita na noite de quarta-feira pelo Sesc Roraima, integrando num único CD os grandes nomes da música local.
Depois lembraria do Nei Costa tomando quase um barril inteiro de choppe e devorando quase um quilo de queijo derretido na chapa depois do show.
Talvez, nessa vontade de mostrar para vocês a poesia dos compositores destas bandas, até colocasse letra de músicas como Roraimeira, o hino extra-oficial de Roraima; Canto das Pedras, uma declaração de amor a esta terra quente e muitas vezes injusta; ou Cidade do Campo, outra canção do tipo.
Mas o desconto no meu salário dobrou neste começo de ano, deixando-me preocupado com o futuro econômico da família e levando-me a pensar que vou ter de cortar coisas importantes na minha vida, como a Tv por assinatura ou a compra de minha futura bicicleta de 24 marchas e amortecedores em tudo o que seriam os canos de metais leves.
E ainda espero o desconto de imposto de renda aprovado pelo, como bem me avisou minha avó no dia da votação presidencial e eu não dei ouvidos, sapo barbudo do Lula.

quarta-feira, janeiro 05, 2005

O fim dos bons tempos

Então...a fantasia tem data certa para acabar.
Depois de quase um mês atravessando cinco estados brasileiros e dois países vizinhos, está na hora de voltar para casa e a rotina de trabalho-faculdade (só daqui a algumas semanas)-academia-televisão, apenas para parafrasear Renato Russo em "Eduardo e Mônica".
Na bagagem,fotos, bugigangas e muitas lembranças visuais de praias, montanhas nevadas, cidades históricas, viajantes e gente bonita. Tudo o que se precisa para encarar o cotidiano que não tem momento certo para acabar novamente.
Acredito que quem nunca viaja, pelo menos quando o faz, deve tratar de fazer algo diferente. Assim, fica a lembrança e a certeza de que o investimento em saúde mental valeu a pena.
E ainda é possível bolar frases de camisetas como esta: Estive em Floripa e não me lembrei de você. Afinal, tinha coisas mais importantes para fazer.

Que venha o dia-a-dia.

segunda-feira, janeiro 03, 2005

A natureza no dia 3 de janeiro de 2005

Devido à tsunami na Ásia, o número de mortos até esta segunda-feira (algo em torno de 150 mil pesssoas) equivale a mais da metade da população de Roraima, apenas para servir de referência.

No Rio Grande do Sul, 20 municípios estão em situação de emergência por causa da seca que atinge as regiões norte e nordeste do Estado.

Em Santa Catarina, dois tornados arrebentaram 70 casas em Cricíuma, sul do estado. Uma mulher morreu de enfarte quando viu a passagem de um deles.

A chuva castigou Floripa à noite.

Na semana passada, um dia antes de minha entrada no Brasil, um temporal havia alagado Corumbá.

Em Boa Vista, muitos cursos d'água são focos de transmissão de malária.

É a Terra cobrando o seu tributo dos homens e avisando que nem tudo pode ser usado à vontade sem que haja cobrança de algum tipo de imposto.

domingo, janeiro 02, 2005

Histórias rotineiras

Um dia ela retornou ao seu lar, depois de muitos anos viajando por terras estranhas, de costumes diversos, de línguas a se aprender e conhecer.
Mas seus amigos agora eram outros, sua vida era outra. O mundo estava mudado.
No começo, a redaptação, a alteração de costumes, as dficuldades.
Se ela já era diferente quando havia partido, neste novo tempo o era muito mais.
Às noites, frio e calor conforme as estações passavam.
Sem histórias válidas para sua situação, reconquistou o conhecido e dominou os imprevistos.
Um dia, acordou e percebeu como uma vida distinta tomava conta dela. E gostou do que viu.


terça-feira, dezembro 28, 2004

O fim da viagem

Então, depois de sobreviver a falhas mecânicas e humanas em dois países , percorrer milhares de quilômetros, há uma hora em que a falha deve ser nossa e não dos outros.
Leia mais e saberá do que se trata.
Mas antes, vamos traçar a rota da viagem à Machupicchu, que começou no dia 12 de dezembro de 2004.

Boa Vista (RR) a Manaus (AM): bus
Manaus a Tabatinga (fronteira do Brasil com a Colômbia e o Peru): avião
Tabatinga a Iquitos (Peru): barco rápido
Iquitos a Lima (capital do Peru): bus
Lima a Arequipa: bus
Arequipa, Vale do Colca, Arequipa: bus
Arequipa a Cuzco: bus
Cuzco, Vale Sagrado dos Incas, Cuzco: bus
Cuzco a Puno: bus

Até aqui, havia rodado uns 5.500 km. Após a última postagem, feita em Puno, passei o maior frio de toda a viagem. Puno gelou às 17h, com uma chuva fina que me obrigou a esconder-me no hostal bem cedo. Aproveitei para ler o livro de quadrinhos da Mafalda, ouvir rádio e deixar tudo pronto para o dia 24 de dezembro, quando começaria a viagem de volta ao Brasil.

24 de dezembro, Puno, 8h, em direção a La Paz.

Deixo para trás os ciclotáxis de Puno e embarco no bus com muitos europeus que vão ficar em Copacabana, a única escala da viagem.
Na fronteira do Peru com a Bolívia, troco dólares por bolivianos, dou entrada no país no mesmo dia que vencia minha permissão de 10 dias para estar no Peru (prazo que pedi para que sobrasse tempo e não propositadamente, vale dizer).
Avançamos pelo altiplano, tendo o lago Titicaca como companheiro ao lado esquerdo da estrada e o atravessamos de balsa num estreito.
Descubro tarde que o câmbio do lado boliviano é mais vantajoso (um dólar por oito bolivianos e não 1x7,8 como no Peru).
Em Copacabana, todos pagamos um boliviano de taxa de entrada à cidade. Sem exceção. Adiantamos os relógios em uma hora e recomeçamos a viagem às 13hh30, depois de 60 minutos de descanso.
Há crianças gritando por dinheiro e doces ao longo do caminho boliviano. Invejo um pouco a coragem e disposição de uma britânica, filha de uma filipina com um cretense, que fez o caminho do Inka, trilha que dura vários dias e reproduz o trecho que unia a capital do império inka, Cuzco, a Machupichhu.
Chegamos a La Paz às 17 horas. Procuro pelas ruas cheias de fumaça uma agência para comprar uma passagem de avião. Não quero passar mais quatro dias viajando. Tem um avião sim, para amanhã, me diz a moça da agência. Custa 350 dólares e vai para São Paulo. Outro mais barato? Sim, custa 330 dólares...
Saio para procurar a rodoviária desta poluída cidade que me parece uma Sampa sem ordem no trânsito, mas com muito menos oxigênio. As duas mochilas me cansam e o ar seco irrita minhas narinas, de onde sai catarro com sangue há dias. Na entrada da rodoviária, um boliviano treina um salto de um jeito conhecido. Sim, é capoeira e ele treina sozinho, me conta.
Passagem para Cochabamba somente no ônibus das 21 horas. Meu natal será na estrada. O meu e o de muitas outras pessoas.
É o primeiro natal que passo realmente sozinho, sem amigos ou familiares por perto. Não foi tão ruim, concluirei no outro dia, já em Cochama, como apelidam a cidade.
Saímos da rodoviária às 21 horas, como combinado, mas ficamos parados 80 minutos no subúrbio de Lima. Entram vendedores de chocolates e livros para tentar tirar o lucro da noite. Poucas vendas, apesar da boa oratória.

25 de dezembro, 4h40, Cochabamba

Os vendedores da empresa Expreso San Luiz gritam a toda voz que o próximo bus para Santa Cruz de la Sierra sai às 5h30, por apenas 50 bolivianos. Descubrirei na estrada que a passagem oscilou entre 30 e 50 pratas, dependendo do horário de compra.
O ônibus deixará a estação somente às 6h30, quebrará às 7h na saída de Cochama e o motorista e as duas crianças que o auxiliam nesta viagem de 495 km serão abordados pela polícia em seguida. Os responsáveis enviarão outro ônibus somente às 7h45 para recolher os passageiros e seguir viagem. Ao lado do motorista, um saco de folhas de coca.
Passamos pela serra da região do Chapare, onde o MAS, partido do deputado Evo Morales, liderança indígena boliviana, mantém uma luta para permitir que os agricultores possam continuar cultivando a planta da coca e manter uma tradição milenar. Como dizem no Peru, a coca é do bem, a cocaína, essa sim, é do mal.
Às 11 horas, já nos trópicos, o motorista e seu auxiliar, também um adolescente de não mais de 16 anos, aproveitam a parada de 60 minutos para o almoço e trocam todas as correias do motor.
Às 12h45, ao atravessar a ponte do rio Zapata, um dos pneus traseiros explodirá, sendo substituído por outro tão liso como um CD novo.
Na estrada, construções tomadas pela selva, cidadezinhas, plantações, fazendas, arvores frutíferas como só nos trópicos é possível. Pés de manga atiçam minha fome.
Chegamos vivos a Santa Cruz às 16h30.
Na estação de trem, filas imensas de turistas que vão passar o reveillon em Balneário Camburiu, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.
Não há passagem de trem, não há ônibus para Puerto Quijarro, as autoridades me recomendam não comprar as passagens oferecidas pelos cambistas e esperar até o próximo dia, quando talvez haja vagas nos vagões.
Decido arriscar com os cambistas se eles conseguirem me colocar dentro do trem, que sai às 17h30, ou seja, em menos de 20 minutos.
As propostas começam em 100 bolivianos. Outro me oferece uma passagem de janela por 80. Termino comprando pelo preço de balcão (52 bolivianos) e atravesso fácil pela fiscalização de documentos graças ao contato do cambista. Mas o medo sobreviverá até os fiscais do trem marcarem minha poltrona e me desejarem boa viagem.

26 de dezembro, Puerto Quijarro, 14 horas e 340 km e muitos ruídos de trem depois.

Para deixar a Bolívia, é necessário pagar 10 bolivianos. As moedas que seriam para a coleção acabam ficando na imigração.
Em Corumbá, a primeira grande marcada da viagem: esqueço de perguntar que horas são e quando percebo, meu ônibus já partiu há 30 minutos. O fuso agora está uma hora adiante do horário boliviano. Minhas atuais 14h são na verdade as 15h deste pedaço do Brasil
Ônibus, agora, só às 17h30, com previsão de chegada em Campo Grande à meia-noite.
Na estrada, uma boliviana fica assombrada quando digo que comprei passagens de trens na mão de cambistas. Segundo me conta, a venda oficial somente recomeçaria no dia 3 de setembro. Até lá, estavam todos os trens lotados.

20 minutos de 27 de dezembro, Campo Grande.

Como eu, há muitas pessoas querendo passagens para Santa Catarina.
Para ficar perto de Florianópolis, compro uma para Curitiba. Previsão de saída: 6h10 minutos. Não vale a pena dormir por cinco horas. Melhor ficar acordado e fazer a barba para tirar a barba de índio depois de 13 dias de estrada.
Deixamos Campo Grande às 8h. Por sorte (e pelos quase R$ 150 reais pagos) é um bus cama, o que garante o conforto.
Atravessamos plantações de soja e de milho, principalmente, e passamos por Londrina e outras cidades. Ao meu lado, um casal parece estar em lua-de-mel e disposto a fazer amor dentro do veículo.

30 minutos de 28 de dezembro, Curitiba, 1.000 km depois.

Curita está fria, apesar de ser verão por estas bandas.
Próximo ônibus para Floripa? À 1h30, com três vagas ainda.

Floripa, pela manhã

Chego em Florianópolis às 6 horas da matina e como bom filho único ligo para dar notícias e tranqüilizar minha mãe.
Totalmente desorientado pelos fusos horários, esqueço que em Boa Vista, cidade brasileira no hemisfério norte, ainda são 4 da matina. Melhor ligar de madrugada que ouvir que nunca dei notícias, acredito.
Agora, é descansar, pensar na volta para BV, desta vez em avião, e escrever minha tese de mestrado em transportes coletivos públicos.

quinta-feira, dezembro 23, 2004

Confusao entre Lima e La Paz

De Puno, a 3.827 msnm, margem do lago Titicaca

Depois de um dia inteiro em Machupicchu, conhecendo a cidade perdida e se metendo a conquistador de Waynapicchu, templo que fica no morro que sempre se ve nas clássicas fotos de MP (duas horas para subir e descer em ritmo de branco, 15 minutos em ritmo inka. E eu fiz em 1h45 em ritmo de índio que já subiu o Monte Roraima mas nao teve tanta acelarada de batimentos cardíacos), pegar o trem de volta para Cusco e perceber, depois de falar com alguns brazucas e peruanos, que as agencias deram o golpe em mais de 100 (bota mais) turistas enviando-nos para Ollantoytambo para pegar o trem (lucro médio de 50 dólares em cada um), peguei o bus para Puno.
Chegando aqui, cansado e com sono, troquei Lima por La Paz e comprei uma passagem de volta para Arequipa sem entender como a rota mais curta e barata poderia ser essa. Mas tudo bem...
Gracas ao guia turístico das ragazzas Paola e Fede, no qual checamos duas vezes a rota, decidi voltar para trocar a passagem por outra para Copacabana. Na rodoviária percebi como estava prestes a voltar ao ponto inicial da partida. Discute aqui, discute lá, deixa uns soles na mao do vendedor, compra outra passagem para La Paz e fica na boa. La Paz por Lima...acho que foi a letra L...

Nei, vc quer saber do Lago Titicaca? É água sem fim, com um horizonte cortado pelo totora, palha com a qual os Uros fazem as suas casas. A água é fria (9 graus em média)e é fascinante andar sobre as ilhas flutuantes.

MP? É de se parar e pensar o que levou os inkas a conquistarem uma montanha daquele tamanho, cujo acesso em microonibus demora 25 minutos por uma estrada de 8km ou uma hora pela trilha que nasce no povoado no pé da montanha, Águas Calientes.

Tocar nas pedras talhadas e lisas, perceber que eles moldaram uma montanha ao seu gosto e fizeram construcoes que sobrevivem até hoje, resistindo inclusive aos terremotos em Cusco, é a mágia do lugar. Entrar nos quartos,olhar o vale em frente e sentir o vento frio dos Andes no rosto, isso é fantástico.

Lá, encontrei dois catarinenses de Bombinhas (acho que o Orib já esteve lá mergulhando) que estao há um bom tempo excursionando pela América do Sul e já haviam estada em Boa Vista. Fotos e textos em wwww.expedicaotoriba.com.br, com o Raul e a Valquíria.

Agora, rumo a La Paz, na Bolívia.

terça-feira, dezembro 21, 2004

De novo, um imprevisto

Aí vc compra a viagem para MP numa agência, confiado que tudo vai rolar no esquema. Acorda 5 horas da madrugada fria de Cusco para estar na frente do hostal às 5h30. E o que acontece? Nada...
8h50, na agência, pronto para reclamar na Policia Turística do Perú caso nao fazam nada, fica a viagem adiada para o outro dia. Ainda bem que a hospedagem estava paga. O que resta é aproveitar para fazer um tour pelo Vale Sagrado dos Inkas e visitar seus templos , olhar seus relógios solares, a cruz inka, suas construcoes no pés de montanhas e se perguntar como os caras conseguiram fazer tudo isso há mais de 500 anos e como os espanhóis destruiram tudo para erguer sobre as bases das construcoes seus templos e casas.
O bom do dia é que o passeio foi compartido com as italianas Paola e Federica e com os chilenos Lisé e Osmar, conhecidos do city tour do dia anterior.
Na volta, a confirmacao da ida a MP e a saída para Puno, às margens do Titicaca na noite de quarta.
Enquanto isso, percebe-se que ser bilíngüe por aqui é o mínimo que se poder ser. Os turistas falam, em sua maioria, três linguas (a mae, o inglês e o espanhol, mas há quem fale até cinco).
Os guias, bom, deles nem se fala. Até os indígenas ambulantes falam ou arranham em três idiomas. A deles, o espanhol e o inglês.
E os brancos que os conquistaram é que eram espertos.


segunda-feira, dezembro 20, 2004

Cuzco, a um passo (e 95 dólares) de Machu-Picchu


A viagem ao Vale do Colca, onde esta o canyon mais profundo do mundo foi legal. Mas ver 1.200 metros de pedras, peruanas vendendo artesanado, lhamas, alpacas, conjuntos bolivianos cantando musica em idiomas indígenas, fazer caminhada à margem de um desfiladeiro, ver ao longe vulcoes e passar frio enche.
Cusco é pura história. É andar no meio da cultura inka (aqui se escreve assim) e espanhola.
Também é sentir que a indústria do turismo peruana nao perdoa. Te cobram tarifas para embarcar nos avioes e nos onibus. E nem pense em ter pelo menos o acesso ao banheiro garantido. Pague por isso ou fique na vontade.
Por isso, todo mundo entra logo no esquema de mochileiro. A pechincha é uma obrigacao.
Somente assim para encontrar um espanhol há 45 dias rodando no Perú ou uma francesinha que vai para 3 meses e meio rodando pelo Chile, Bolivia e Perú. Tudo na base do que for mais barato.
Pegar aviao é doideira aqui. Os precos quintuplicam e vc ainda tem que pagar uma taxa para a Infraero local. Por isso, os gringos viajam quase sempre de bus.
Bem, nesta terca MP e depois Puno, para ver as ilhas artificiais do Lago Titicaca.
Depois, bom, depois...Acho que La Paz. Um dia chego em Corumbá. Se a grana der.

Update

Entao...a galera cobra em dólares, mas depois que se passeia por construcoes inkas e se escuta a história de como fizeram seus templos, se toca em pedras talhadas há séculos e se olham altares onde eram feitos sacrifícios humanos, a inversao em cultura geral vale a pena.
Há também o prazer de encontrar os viajantes que se inspiraram em filmes como Diários da Motocicleta, como as italianas Paula e Frederica, que vao rodar pedacos do Perú e Bolívia só porque assistiram o filme.
E por hoje, depois de passear nas ruinas de Saqsaywama,, Q'enqo, Puka Pukara e Tambomachay, é bom lembrar de uma passagem de Diários: Tudo foi feito pelos inkas e destruído pelos espanhois, os incapazes.


sexta-feira, dezembro 17, 2004

Passando perrengue no Perú

De Arequipa, a 1003 km de Lima

Bem, somando Boa Vista - Manaus - Tabatinga - Iquitos - Lima - Arequipa, acho que já rodei uns 4 mil km em uma semana, via terra, ar e água.

Até agora já passei perrengue no Rio Amazonas, com o barco de motor ferrado, e no trecho para Arequipa, na beira do oceano Pacífico, quando o bus que faria a viagem em 14 horas (saída as 17h de Lima) teve de parar na rodovia Panamericana Sur por conta de uns desmoranamentos de pedras. Isso foi as 4 horas desta sexta. Saímos de lá as 9h (ainda nao encontrei a crase no teclado) e a 15 minutos de Arequipa, o carro pifou. Daí, espera para fazer baldeacao, chega aqui, o dia já todo perdido, corre para ver o que pode ser visto tao tarde, topa com centenas de gringos, a temperatura baixando para os 21 graus desta época, compra o boleto para fazer uma viagem ao Vale do Colca, com um dos canions mais profundos do planeta (3.400 metros no ponto máximo) e esperar para manha um chá de coca (aqui tem uns blusas legais que dizem algo como a "a coca é legal, ruim é a cocaina. Mas os caras nao querem vender duas por 15 soles, se nao levava para um amigo mal humorado daí).
Lima foi uma droga. Para os visitantes futuros: fiquem em Miraflores, a parte mais central e turística da cidade. Daí é possível chegar ao centro velho e pirar,entre outras coisas,com uma igreja franciscana e suas catacumbas cheias de ossos. É fantástico...Nada de ficar fora do Centro Velho ou de Miraflores, repito. Se nao, vao se dar mal na hora do deslocamento.
Em Miraflores, por acaso, há um sítio arqueológico chamado Museu de Pucllana. A entrada custa cinco soles. Fica bem no meio de um bairro residencial. Agora é que os arqueólogos estao fazendo as escavacoes. É gigantesco (tem seis hectares e uma altura, calculo, de 15 metros. De noite parece um depósito de areia. Mas antes tinha 20 hectares. É de uma cultura de 700, 800 antes de Cristo, os Lima).
Agora vou passar dois dias no Vale do Colca e depois, finalmente, encarar o que vim fazer aqui: Cusco e Machu-Picchu.
Ah, curiosidades. A empresa de onibus na qual vim (Cruz del Sur, mas tem um bocado fazendo essa rota) dá janta com refri (lembra a comida de aviao) promove bingos sorteando a passagem de volta para Lima (quase...só faltaram dois números) e vende água e salgadinhos. Zero água.
Por favor, dá para mandar mais energia positiva? Ou tá pouca a enviada ou os Andes estao bloqueando a transferencia.
Bjs a todos os que estao comentando. Fico feliz em te-los perto nem que seja virtualmente. Afinal, estar ligado virtualmente perto de casa é uma coisa. No teto das Américas é outra.