Lembro-me como se fosse agora, como se tivesse acontecido no começo desta frase. Era uma da manhã e o bar estava quase vazio. A luz amarela realçava a fumaça dos cigarros e tornava os ocupantes das demais mesas seres desfocados.
Pedi mais uma dose. O dono do boteco disse que estavam fechando. Pedi mais uma dose. Ele repetiu a ladainha:
- Estamos fechando. Já é quarta-feira e até eu tenho que acordar cedo.
E eu perguntei alguma coisa sobre a vida dele? Ele por acaso não tinha percebido que um homem bebendo até de madrugada no meio da semana só possui três opções de vida: estar desempregado e depressivo, ser um bebum assumido (com ou sem grana) ou então sofrer do mal do amor não correspondido?
- Mais uma dose, por faaavoor, repeti, enfatizando bem a última palavra da frase.
De cara feia, o dono do bar não trouxe a dose e sim a conta. E eu pedi a conta? Se por acaso eu tivesse preocupado em pagar estaria pedindo mais uma?
Depois disso, só lembro de ver o seu João, 55 anos, havia 20 à frente de seu boteco, estirado no chão. Igualzinho às cenas de cinema, o sangue escorria de sua cabeça partida por mim com a cadeira de ferro que ele insistia em não trocar por outra mais confortável. Depois veio a polícia, a fuga, a prisão, a condicional, um novo amor, uma nova decepção e mais uma dose.
Lembro-me como se fosse agora...
Pedi mais uma dose. O dono do boteco disse que estavam fechando. Pedi mais uma dose. Ele repetiu a ladainha:
- Estamos fechando. Já é quarta-feira e até eu tenho que acordar cedo.
E eu perguntei alguma coisa sobre a vida dele? Ele por acaso não tinha percebido que um homem bebendo até de madrugada no meio da semana só possui três opções de vida: estar desempregado e depressivo, ser um bebum assumido (com ou sem grana) ou então sofrer do mal do amor não correspondido?
- Mais uma dose, por faaavoor, repeti, enfatizando bem a última palavra da frase.
De cara feia, o dono do bar não trouxe a dose e sim a conta. E eu pedi a conta? Se por acaso eu tivesse preocupado em pagar estaria pedindo mais uma?
Depois disso, só lembro de ver o seu João, 55 anos, havia 20 à frente de seu boteco, estirado no chão. Igualzinho às cenas de cinema, o sangue escorria de sua cabeça partida por mim com a cadeira de ferro que ele insistia em não trocar por outra mais confortável. Depois veio a polícia, a fuga, a prisão, a condicional, um novo amor, uma nova decepção e mais uma dose.
Lembro-me como se fosse agora...
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